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sábado, 8 de agosto de 2009
1269) Cuba, tempos dificeis (alguma novidade?)
Sangue, suor, lágrimas e bravatas
Nelson Motta
O Globo, 3.07.2009
O comandante Raúl Castro já avisou ao povo que a coisa está feia e que a crise mundial exige sacrifícios de todos. Não é novidade: é o que os cubanos já vêm fazendo nos últimos 50 anos. Os sábios do Partido, os grandes planejadores, os faróis do socialismo, concluíram que a única solução será arrendar 40% das terras férteis do Estado, que estão ociosas, e mandar o povo plantar o que comer. Patria o muerte!
Depois de 50 anos de reforma agrária, fazendas coletivas, cooperativas rurais, agricultura comunitária, todas as formas de coletivização agrícola socialista foram postas em prática — e resultaram em incontestável fracasso. Do contrário não haveria tanta terra ociosa, tanta gente desempregada e tanta escassez de alimentos na ilha, depois de 50 anos de “povo no poder”.
Os companheiros cubanos vão descobrir que uma agricultura produtiva não se faz com vontade politica e patriotismo, mas com máquinas modernas e tecnologia, e é movida pelo empreendedorismo e pela busca de remuneração para seus trabalhadores e investidores. Mas o perfeito idiota latino-americano é fiel ao modelo fidelista. Socialismo o muerte!
O comentarista de economia da TV estatal cubana, Ariel Terrero, na prática um porta-voz do governo, falou claro:
“O arrendamento de terras estatais a 80 mil pessoas, que afinal é colocar a propriedade estatal nas mãos dos produtores, poderia ser aplicado a outros setores, como os serviços alimentícios, o comércio varejista e outras áreas onde é realmente impossível, diante da diversidade e dos objetivos dos negócios, que o Estado administre diretamente. São necessárias fórmulas mais dinâmicas, mais inteligentes, de entender a propriedade, de administrar um serviço ou uma cafeteria.”
Levaram 50 anos de sangue, suor, lágrimas e bravatas, sobre multidões de mortos, para chegar ao óbvio. Logo vão descobrir que, como no Brasil, é o agronegócio bem-sucedido que multiplica e barateia os alimentos, cria empregos e gera divisas para o país importar os equipamentos de que precisa para se modernizar e crescer.
Se continuarem assim, os cubanos vão acabar caindo numa democracia.
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Comentando:
Discordo da última frase. Os oligarcas cubanos tem apenas intenção de criar um socialismo a la chinesa, com empresas livres, mas controle ditatorial do Partido para que eles possam continuar no poder.
No longo prazo, Cuba vai voltar a ser uma democracia, mas os esclerosados do PCC vão querer continuar no comando pelo tempo que for possivel...
PRA (8.08.2009)
3 comentários:
Concordo contigo, Paulo. Gente assim se encastela no poder e de lá não sai tão fácil(não só nesses regimes: vide Sarney - mas aí são outros quinhentos). Arriscas algum palpite em relação ao tempo em que ainda devem se perpetuar no comando da pobre ilha e de como poderia ser seu abandono das posições que conquistaram neste último meio século?
Abraços!
Meu caro Vinicius,
Nao ouso arriscar um palpite, por uma razao muito simples. Se Cuba estivesse entregue a sua propria sorte, o castelo de cartas teria ruido ha muito tempo. Tiveram a mamadeira sovietica durante muito tempo para se manter no poder, agora dispoem do apoio chavista.
Por outro lado, o nacionalismo cubano, em funcao do passado imperialista americano, é muito forte, o que torna os cubanos especialmente desconfiados do que pode parecer uma reabsorcao na esfera imperial, e é isso que deu sobrevida aos esclerosados dirigentes cubanos durante muito tempo, alem da bobagem do embargo, que parece responsavel por todos os problemas do socialismo cubano.
Pode cair rapido, assim que os dois irmaos Castro morrerem, como pode demorar mais um pouco, em funcao da interferencia dos "gusanos" de Miami no processo, o que acirraria a luta politica e o desejo de sobrevivencia dos encastelados no poder.
Nao tenho previsao, mas nao creio que dure muito tempo mais...
Caro Paulo,
Eu apenas substituiria a palavra democracia por capitalismo:...vão acabar adotando o capitalismo.
Seu comentário continuaria pertinente (a China é em grande parte capitalista), mas não discordaria da conclusão do autor.
Acho que o autor estava olhando o longo prazo, realmente não sei se os latinos conseguiriam usar a lógica chinesa.
Abraço,
Pedro Erik
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