O artigo abaixo é de um ex-funcionário da ONU, hoje aposentado, revelando sua decepção com o destino dado pelo “Prix Félix Houphouët-Boigny pour la recherche de la paix”, recebido pelo presidente Lula no último mês de julho, em Paris.
Na verdade, o mais estranho -- e que devemos perguntar antes de tudo -- é como um presidente africano, de um país supostamente pobre, pode deixar um prêmio assim generoso (o equivalente a 150 mil dólares), que já foi distribuido várias vezes.
O Alfred Nobel, pelo menos, era um industrial sueco que ficou arrependido com todo o dinheiro que tinha ganho fabricando explosivos, e quis se penitenciar um pouco....
-------------
Paulo Roberto de Almeida
17/08/2009
Lula e o prêmio da Unesco
Gostaria de compartilhar algumas informações com os amáveis leitores do jornal Gazeta do Sul com relação ao “Prix Félix Houphouët-Boigny pour la recherche de la paix” via l’Unesco (Prêmio Félix Houphouët-Boigny pela procura da paz outorgado pela Unesco). Como é do conhecimento dos caros leitores, a Unesco é a Agência das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, com sede em Paris, França.
Com relação ao prêmio nomeado pela Unesco de Félix Houphouët-Boigny – presidente durante décadas no século 20 do país africano Costa do Marfim, o qual teve sua formação acadêmica na França e foi sempre um grande instigador da paz em várias conferências mundiais da ONU em prol da paz e segurança no mundo moderno – ele é composto de um Certificado da Unesco assim como uma soma em dinheiro (normalmente US$
150.000,00).
Tendo me referido aos detalhes acima, gostaria de trazer ao conhecimento dos leitores (isto sem nenhuma pretensão, pois não é o objetivo de minha missiva ao jornal Gazeta do Sul) que eu sou gaúcho – hoje me considero um cidadão do mundo –, natural de Porto Alegre e moro em Santa Cruz do Sul já faz mais de sete anos. Carrego também comigo dois títulos históricos e motivo de honra e orgulho para qualquer cidadão, uma cópia personalizada do Prêmio Nobel da Paz de 1981 recebido pela minha organização, o ACNUR (Alto Comissariado da ONU para os Refugiados) pelo trabalho que efetuei juntamente com toda uma equipe de colegas no Vietnã, Camboda e Laos em 1980-81, durante a terceira guerra da Indochina com o desespero de milhares de vietnamitas, cambodianos que fugiam do Vietnã via o mar da China e eram chamados de “boat people”.
Os que têm hoje 60 anos seguramente se lembrarão dos fatos ocorridos no sudeste asiático. E o Prêmio da Paz Félix Houphouët-Boigny, da Unesco, foi conferido também ao ACNUR, em 1995, e do qual também tenho um certificado original e pessoal pelo trabalho que fiz com muitos outros colegas internacionais da ONU em prol dos refugiados do mundo
inteiro.
Finalmente, e aqui trata-se de minha opinião pessoal, fico muito magoado em tomar conhecimento via o nosso jornal Gazeta do Sul que o nosso presidente da República, sr. Luiz Inácio Lula da Silva, descarta a doação do prêmio em seu numerário de US$ 150.000,00, indo assim na contramão dos trâmites normalmente aplicados de cortesia e diplomacia internacionais nos quais o ganhador sempre, como uma praxe, oferece o
numerário para obras caritativas ou para outros “empreendimentos” educacionais ou de pesquisas. Este ato presidencial por parte do sr. Luiz I. Lula da Silva não traz tampouco um grande exemplo de postura a ser observada, pois com o ato de doação estaria assim homenageando com a sua ação (doação do prêmio pecuniário recebido) o conjunto da sociedade brasileira. Finalmente, o que mais deixa a desejar nesse
comportamento presidencial é sua falta de sensibilidade para tantas obras educacionais e urgentes que não são feitas por esse Brasil afora. Penso eu que com as pequenas ações e demonstrações positivas se fazem as grandes pessoas...
Desculpe, senhor presidente, mas estou em total desacordo com a sua conduta. Tenho dito.
Marco Antonio Martins Vieira/Funcionário aposentado da ONU
24 de julho de 2009
Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas. Ver também minha página: www.pralmeida.net (em construção).
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Postagem em destaque
Livro Marxismo e Socialismo finalmente disponível - Paulo Roberto de Almeida
Meu mais recente livro – que não tem nada a ver com o governo atual ou com sua diplomacia esquizofrênica, já vou logo avisando – ficou final...
-
Uma preparação de longo curso e uma vida nômade Paulo Roberto de Almeida A carreira diplomática tem atraído número crescente de jovens, em ...
-
FAQ do Candidato a Diplomata por Renato Domith Godinho TEMAS: Concurso do Instituto Rio Branco, Itamaraty, Carreira Diplomática, MRE, Diplom...
-
Países de Maior Acesso aos textos PRA em Academia.edu (apenas os superiores a 100 acessos) Compilação Paulo Roberto de Almeida (15/12/2025) ...
-
Mercado Comum da Guerra? O Mercosul deveria ser, em princípio, uma zona de livre comércio e também uma zona de paz, entre seus próprios memb...
-
Reproduzo novamente uma postagem minha de 2020, quando foi publicado o livro de Dennys Xavier sobre Thomas Sowell quarta-feira, 4 de março...
-
Itamaraty 'Memórias', do embaixador Marcos Azambuja, é uma aula de diplomacia Embaixador foi um grande contador de histórias, ...
-
Israel Products in India: Check the Complete list of Israeli Brands! Several Israeli companies have established themselves in the Indian m...
-
Pequeno manual prático da decadência (recomendável em caráter preventivo...) Paulo Roberto de Almeida Colaboração a número especial da rev...
-
O Brics vai de vento em popa, ao que parece. Como eu nunca fui de tomar as coisas pelo seu valor de face, nunca deixei de expressar meu pen...
Nenhum comentário:
Postar um comentário