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domingo, 9 de maio de 2010

O grande teste do euro: a Grecia pode afundar o SME

O editorial abaixo do Estadão coloca os números na mesa, permitindo uma informação sobre a magnitude dos desafios a serem enfrentados pela Grécia.
Na verdade, o dinheiro que os europeus estão colocando no pacote de ajuda, deve reverter em benefício de seus próprios bancos, que emprestaram para a Grécia irresponsavelmente.

Uma sexta-feira dramática
Editorial - O Estado de S.Paulo
09 de maio de 2010

A devastação dos mercados financeiros da Europa foi interrompida pelo fim de semana - dois dias de calmaria para reavaliação da crise grega, da situação das dívidas soberanas e das perspectivas do euro. Na sexta-feira, as bolsas europeias continuaram em queda mesmo depois de anunciada a aprovação do pacote de ajuda pelo Parlamento alemão e pelas autoridades de vários outros países, incluída a França. No começo da tarde já estavam garantidos oficialmente mais de 60 bilhões, cerca de três quartos do auxílio de 80 bilhões prometidos pelos governos da união monetária para os próximos três anos. Sobre os 30 bilhões oferecidos pelo FMI não há dúvida. Além disso, o Legislativo grego havia sacramentado na véspera o programa de ajuste exigido como condição para a grande operação de socorro. As autoridades do país assumiram o compromisso de austeridade e reforma apesar dos combates de rua entre a polícia e milhares de manifestantes enfurecidos.

Não só os governos e o FMI se mobilizaram para socorrer a Grécia e tentar evitar o contágio de outras economias em condições fiscais também precárias. Bancos alemães e seguradoras decidiram contribuir com 8 bilhões para o pacote de ajuda e, além disso, prometeram manter linhas de crédito no valor de 3,3 bilhões, próximas de expirar, e congelar por três anos 4,8 bilhões em bônus gregos.

No fim do pregão, as bolsas europeias acumulavam a maior perda semanal desde novembro de 2008. No dia, as quedas ficaram na faixa de 3,3% na Alemanha e na Espanha a 4,6% na França. Ações de bancos estiveram entre as mais desvalorizadas, porque, apesar dos compromissos de ajuda, o temor de um calote continuou assombrando os mercados.

O primeiro teste ocorrerá no dia 19, quando o Tesouro grego enfrentará um vencimento de obrigações no valor de 8,5 bilhões. Se os governos europeus agirem com suficiente rapidez, liberando a primeira parcela da ajuda prometida, dificilmente as autoridades gregas deixarão de atender os credores. Falta ver, também, se o compromisso dos bancos alemães já beneficiará o governo da Grécia nesse primeiro vencimento. Mas o temor do calote envolve outras considerações, segundo analistas.

O pacote de ajuda combinado pelos governos da zona do euro e pelo FMI, argumentam, pode ser insuficiente para as necessidades da Grécia. Se executar com muita severidade seu programa de ajuste, o governo grego levará três anos para reduzir o déficit fiscal de cerca de 13,5% do PIB para algo próximo de 3%. O crescimento econômico será provavelmente muito limitado e a conta de juros continuará a crescer, inflando a dívida.

Dificilmente, dizem os mais pessimistas, as autoridades gregas poderão evitar uma renegociação dos débitos. O acordo entre o governo alemão, os bancos e as seguradoras do país, para um auxílio conjunto à Grécia, já produzirá um efeito semelhante ao de uma renegociação. Mas será um efeito parcial, poderão argumentar os mais pessimistas.

Nos próximos dias - depois do salutar intervalo do fim de semana - será possível avaliar mais claramente o efeito psicológico da oficialização do pacote pelas autoridades da zona do euro.

No meio do pânico da sexta-feira, ministros de Finanças do Grupo dos 7, formado por Estados Unidos, Japão, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido e Itália, improvisaram uma videoconferência para discutir a crise grega - ou, mais exatamente, a crise do euro.

Também na sexta-feira a chanceler alemã, Angela Merkel, convocou os governantes da zona do euro para aperfeiçoar as normas da união monetária, para maior controle dos governos e dos bancos. Será preciso enquadrar todos os governos mais severamente. Se a crise tivesse começado na Espanha, não na Grécia, o contágio de toda a região teria sido muito mais veloz.

As decisões anunciadas pelos governos de vários países e pelos bancos alemães foram as melhores notícias da semana. Falta conferir se serão suficientes para atenuar o nervosismo dos mercados e impedir uma nova onda de problemas bancários e eliminar o risco de uma recaída europeia na recessão. Isso custaria muito para todo o mundo.

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