quinta-feira, 24 de junho de 2010

Procura-se: o modo de producao socialista...

Ninguém sabe, ninguém viu, ninguém tem ideia de onde pode ter ido parar o tal de socialismo. Parece que sumiu por ai...
Aliás, o que existe em Cuba ou na Coréia do Norte não é bem socialismo, apenas totalitarismo miserável (e bota miserável nisso...). Na China, segundo pude constatar, o que existe mesmo é capitalismo; tudo bem (ou tudo mau), com um partido único e restrições diversas às liberdades individuais, mas capitalismo mesmo assim.
Acho que vamos ter de pedir à Interpol, fazê-la passar um mandado de busca e apreensão, para tentar encontrar esse tal de socialismo que simplesmente desapareceu, como nos informa o jornalista abaixo...
Paulo Roberto de Almeida

Cadê esse socialismo que nunca emplaca?
Marco Antonio Rocha
O Estado de S.Paulo, 21 de junho de 2010

Muitos políticos, quase todos, se dizem socialistas, até os de direita. Dezenas de partidos políticos no mundo ostentam no nome a palavra socialista. O socialismo é bandeira de inúmeros governantes ? há décadas. Por que, então, não há nenhum regime socialista solidamente instalado e consolidado? Haveria uma boa explicação sobre por que o socialismo não emplaca?

Há países ditos "socialistas" que não passam de ditaduras mesmo: de um só homem, como é o caso de Cuba; de um partido, como a China; de uma quadrilha, como a Coreia do Norte; de um bufão, como a Venezuela ou o Irã. É isso, então, o socialismo? Uma ditadura? Ou uma bouffonerie?

Claro que não, dirão os socialistas de toda parte. Então, por que não existe?

Todos os socialistas são contra o capitalismo na economia e contra o liberalismo na política, e parecem constituir maioria por toda parte. Então, o capitalismo já deveria ter sido extinto ou estar em extinção. Mas é o capitalismo que existe em tempo real e parece cada vez mais forte. Por quê? E o liberalismo, por que funciona?

Na semana passada, Dilma Rousseff encontrou-se em Paris com a secretária-geral Martine Aubry, do Partido Socialista (PS) francês, o maior partido da esquerda francesa. Desde Leon Blum, na década de 30, o PS francês já governou a França diversas vezes, sem nunca ter implantado o socialismo, ou algum regime que pudesse ser inequivocamente reconhecido como socialista. Por quê? Por que não é um partido revolucionário? Por que não sabe exatamente como implementar o socialismo? Por que não é socialista a não ser no nome? A propósito, Dominique Strauss-Kahn, do Partido Socialista francês, é também diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional ? o maior guardião, segundo a esquerda, do capitalismo internacional. São fatos que justificam a suspeita de que todos os socialistas, quando estão no poder, praticam mesmo o bom e velho capitalismo. E até o administram melhor, em muitos casos, do que os capitalistas empedernidos.

As duas senhoras ? Dilma e Martine ? apareceram em belas fotos, trocando beijos e abraços. Em reunião fechada devem ter renovado mútuas juras de lutar pelo socialismo, de combater o capitalismo e o neoliberalismo.

A líder socialista francesa assegurou que há grande identidade política entre o PS e o PT. Deve haver, pois é suposto que Dilma seja socialista, já que militou numa agremiação guerrilheira de esquerda. Se bem que aquele era um grupo que, antes de mais nada, lutava para derrubar a ditadura militar. Não se sabe se a guerrilheira Dilma já era socialista. Na verdade, parece que nem petista é.

Depois de Martine, Dilma foi se encontrar com o presidente da França, Nicolas Sarkozy, um empedernido capitalista, cuja maior fama nasceu do fato de ser casado com Carla Bruni. Martine combate Sarkozy e garante que vai derrotá-lo nas eleições de 2012 ? com apoio da brasileira Rousseff: "Dilma nos disse que virá fazer a nossa (campanha), a do nosso candidato socialista", disse ela à imprensa, assegurando que também fará campanha por Dilma no Brasil. Temos aí a possível formação de uma nova internacional socialista ? a Quinta Internacional, Dilma-Martine. Talvez por isso o encontro de Dilma com Sarkozy foi bastante frio e menos socialista. O presidente Sarkozy só quer vender aviões, mais nada.

O socialismo, desde Saint-Simon, Fourrier, Louis Blanc, Robert Owen, Marx, Engels, nos séculos 18 e 19, até chegar em Florestan Fernandes no Brasil do século 20, parece um ovo: não ofende ninguém, é bonito de se olhar, harmônico e encerra uma boa promessa. Dos ovos reais, a gente sabe que saem aves ou répteis. Do socialismo não se sabe o que pode sair, porque ainda não rompeu a casca. Isso facilita a vida dos políticos. Podem se declarar socialistas à vontade. Não os compromete, pois ninguém sabe do que se trata ? mas parece que é uma coisa legal.

Já o capitalismo, não. Todos nós vivemos dentro dele. Sabemos que não é nada legal. Conhecemos todos os seus defeitos que os socialistas apontam: a busca do lucro pelo lucro; a vil exploração do trabalho humano ? contida, um pouco, pelas leis trabalhistas; a volúpia em transformar em mercadoria vendável até o coração dos namorados e das mães. Tudo isso é odioso e visível. Torna fácil odiar o capitalismo e preferir o que é contra ele. É fácil também aspirar ao reino dos céus, quando se vive cercado das misérias da Terra. Bem o sabem os profiteurs dos Evangelhos que infestam as redes de TV.

De qualquer forma, na política é assim que la nave vá. Não se deve ser realista, dizendo que se vai fazer apenas o que for possível, apresentando as dificuldades e as propostas para superá-las. Nem adianta fazer belos discursos: a ordem é twittar, dizer cretinices pomposas em 140 toques. Churchill não poderia ter twittado seus chamamentos ao povo inglês contra Hitler ? tinham mais de 140 toques. Dá mais lucro (político) twittar sonhos, como "construir o futuro", fazer o "Brasil de todos", "marchar para o socialismo". É o encanto da magia. Lula é o mago sedutor. Dilma, a auxiliar de palco, tentando ser sedutora sob as luzes da ribalta. Haja!

Um comentário:

  1. Paulo,

    Existem textos muito mais inteligentes e refinados que exploram muito melhor a questão, inclusive teus. No mais, é autoevidente que os regimes socialistas malograram e aqueles que os apoiam o fazem menos por um exame racional do que por uma profissão de fé apaixonadamente sustentada. O problema deste tipo de texto é que se põe a expressar obviedades e a tratar o capitalismo como algo perfeito, diferente de tudo aquilo que o homem faz (se não o faz, dá a entender). Sabemos que o capitalismo não conduz ao melhor dos mundos concebíveis; e que a economia de mercado e a democracia representativa nos possibilitam é o menos pior dos mundos e, mesmo assim, sempre se percorre um caminho branco entre dois rios - lançando-se mão de uma imagem budista - e o risco de desviar-se dele está sempre presente. Mas há quem se limite a fazer "contra-propaganda" infelizmente.

    Abraços!

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