Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
sábado, 2 de outubro de 2010
Venezuela: construindo o autoritarismo
Artifício eleitoral deu a Chávez mais deputados que votos em três Estados
Luiz Raatz
Estadão.com.br, 02 de outubro de 2010
Redistribuição de distritos ajuda chavismo a conseguir mais cadeiras, mesmo com disputa apertada no voto popular
Uma mudança nas regras eleitorais venezuelanas feita em janeiro deste ano rendeu ao presidente Hugo Chávez mais cadeiras no Parlamento do que votos em ao menos três Estados nas eleições legislativas do último domingo, 26.
Em janeiro, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) anunciou o redesenho de alguns distritos em Amazonas, Barinas, Carabobo, Distrito Capital, Lara, Miranda, Táchira e Zulia. Após a eleição, os chavistas fizeram mais deputados em Miranda, no Distrito Capital (Caracas) e Carabobo, mesmo tendo menos votos.
Em Caracas, o Partido Socialista Unificado da Venezuela (PSUV) elegeu seis deputados distritais, contra apenas um da Mesa da Unidade Democrática (MUD). Estes candidatos receberam 50,65% dos votos totais contra 48,25% dos antichavistas.
Em Carabobo, o chavismo conseguiu cadeiras de cinco distritos contra duas do MUD, mesmo com 57 mil votos a menos. E em Miranda a oposição fez quatro deputados contra cinco do chavismo, com 368 mil votos a mais.
Em Táchira e Zulia, a oposição fez mais deputados distritais tendo mais votos. Nos demais Estados, o chavismo ganhou as cadeiras e também no voto popular.
Artifício eleitoral
Segundo o analista venezuelano Sadio Garavini Di Turno, da Universidade Central da Venezuela, como os diretores do CNE são nomeados por Chávez, a reforma foi um artifício para evitar a perda da maioria na Assembleia, uma vez que o chavismo vem recebendo cada vez menos votos.
"Eles mudaram os desenhos dos distritos de modo que os chavistas elegessem mais deputados, mesmo que o voto popular não os favorecesse", disse o analista em entrevista anterior à eleição.
Os distritos foram redesenhados para agrupar vizinhanças chavistas.
Ao mesmo tempo, circunscrições onde a oposição tinha pequena vantagem foram unificadas com regiões governistas. A justificativa para as mudanças é aproximar o eleitor de seu domicílio eleitoral.
Os números de cada distrito de Caracas divulgados pelo CNE mostram que na circunscrição onde obteve sua cadeira, a oposição teve uma vantagem de 80 mil votos. Nos distritos vencidos pelo PSUV, o chavismo teve em média 14 mil votos a mais.
A apuração final mostrou que, com 48,9% do voto popular, o PSUV fez no total 96 cadeiras contra 64 do MUD, que teve 47,7%. O Pátria Para Todos (PPT) terá dois deputados, e representantes indígenas, três.
Voto distrital
No sistema eleitoral venezuelano, os eleitores votam em uma lista partidária e no candidato de seu distrito. O número de deputados eleitos por circunscrição varia conforme a densidade populacional (de um a quatro deputados). No voto por lista cada eleitor escolhe apenas um partido, mas o número de deputados eleitos também varia conforme o tamanho da população (de dois a três).
Em países que adotam o voto distrital, discrepâncias podem aparecer entre o voto popular e o número de deputados eleitos. Um exemplo recente é o Partido Liberal Democrata, na Inglaterra, que obteve uma votação expressiva no voto popular, mas conquistou um número de assentos relativamente baixo comparado aos Trabalhistas e aos Conservadores no Parlamento na eleição de maio.
3 comentários:
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.
Os militares pelo menos eram diretos a assumiam o que faziam, com os seus senadores biônicos e prefeitos de capitais nomeados. É evidente que eram autoritários, até maldosos. Mas perto desses políticos de hoje em dia, mestres na arte de enrolar os cidadãos com jogos de palavras, os militares eram até meio ingênuos. Na época da ditadura militar existia o departamento de censura à imprensa. Se fossem mais espertos, usariam termos e meios de controle da imprensa como; democratizaçãos dos meios de comunicação, plano de direitos humanos e conselho federal de jornalismo.
ResponderExcluirBen.
Já inspirou. A Inglaterra, a França, o Brasil, os EUA...quantos votos Obama teve a mais que McCain? E em quantos Estados venceu? Bush não venceu com menos votos que seu oponente?
ResponderExcluirSeria fácil a imprensa ser dura com a esquerda latinoamericana, que faz um monte de burradas. Mas não. É necessário ser desonesto. Travestir de autoritarismo o que é obviamente uma eleição limpa com apuração confiável - com a finalidade aparente de manter a classe média amedrontada enquanto lê a Veja na piscina de casa.
Desculpe, mas não dá pra acusar o chavismo, nesse caso, de mais do que aproveitar a burrada da oposição, que apostou na radicalização ao boicotar as eleições de 2005. Entregue-se o congresso inteiro ao PSDB e vamos ver se eles se comportam como a liga das senhoras católicas ou se, por exemplo, não fazem uma emendazinha da reeleição.
A situacao na Venezuela é muito pior do que a gente pode imaginar, com o caudilho e seu partido amestrado distilando odio de classe e exercendo uma violencia institucional poucas vezes vista no Brasil.
ResponderExcluirLamentavelmente a Venezuela já não mais existe. Existe o caudilho e seus asseclas, que determinam o que se faz no plano governamental.
Nao resta dúvida que a situação ainda vai se deteriorar ainda mais, antes que esse parlamento com 95 oposicionistas tome posse em janeiro.
Triste Venezuela.
Paulo Roberto de Almeida