Maquiavel, Paulo Kramer, Murillo Aragão e eu mesmo, nessa ordem, gostaríamos de agradecer a presença do distinto público em nosso lançamento debate em torno deste livro:
O Moderno Príncipe:Maquiavel revisitado,
evento realizado na quarta-feira última, dia 18 de maio, as 19hs, na Casa Thomas Jefferson da Asa Sul de Brasília, e aproveitamos para agradecer aqui, também, o inestimável trabalho da Ana Maria Assumpção, Elizabeth Daniel de Almeida e Luiz Carlos Costa, respectivamente diretora, vice e coordenador de eventos daquela Casa.
Foi uma noite agradável, pelo menos para quem gosta de debates inteligentes como o que -- desculpem a falta de modéstia - ocorreu. O Brasil anda descendo tão baixo na escala dos debates públicos que as pessoas parecem se emocionar com a simples declaração de uma professora reclamando dos baixos salários, geralmente pelos motivos errados e propondo políticos totalmente erradas. Meu "Maquiavel revisitado" tentou debater algumas questões reais em torno dos nossos principais problemas, com base no pensador político mais iconoclasta que possa ter havido na história do pensamento ocidental. Coitado do Maquiavel, se ele retornasse ao nosso convívio, hoje, a única maneira de tentar influenciar o debate público seria fazendo concurso para ser funcionário de Estado (o que aliás ele já era, mas sem garantia de estabilidade, o que me parece correto, como norma geral).
Em todo caso, ao agradecer os presentes pela presença e participação, gostaria de transmitir, abaixo, um texto que deveria ter servido como "orelhas" do livro, mas que pelo fato de eu estar no China no momento da edição, não pude controlar todas as etapas da produção.
A capa, pelo menos, ficou bonita, embora não tivessem dado crédito ao artista que a fez, meu filho arquiteto, Pedro Paulo Palazzo de Almeida (hoje mesmo partindo para um congresso de arquitetos na Croácia, em Split).
Já que o Maquiavel ficou sem orelhas, aqui segue um texto que prolonga o debate:
O Moderno Príncipe: Maquiavel revisitado
Paulo Roberto de Almeida
O que nos separa de Maquiavel?
Se, por alguma fortuna histórica, Maquiavel retornasse, hoje, ao nosso convívio, com as suas virtudes de pensador prático, quase meio milênio depois de redigida sua obra mais famosa, como reescreveria ele o seu manual “hiperrrealista” de governança política? Seriam os Estados modernos muito diversos dos principados do final da Idade Média?
Este Maquiavel revisitado, voltado para a política contemporânea, dialoga com o genial pensador florentino, segue seus passos naquelas “recomendações” que continuam aparentemente válidas para a política atual, mas não hesita em oferecer novas respostas para velhos problemas de administração dos homens. Aqui, como em outros aspectos, a constância dos “príncipes” nos desacertos é notável. Essa capacidade de errar e de provocar danos aos cidadãos não parece ter evoluido muito, desde então.
De fato, Maquiavel permanece surpreendentemente atual – com o que concordariam os filósofos e cientistas políticos da atualidade –, mesmo (talvez sobretudo) nos traços malévolos exibidos pelos condottieri contemporâneos e pelos cappi dei uomine. Ainda que envenenamentos encomendados e assassinatos por adagas, tão comuns no Renascimento italiano, não estejam mais na moda – pelo menos fora do âmbito dos serviços secretos –, e que eles tenham sido substituídos por outros métodos para se desembaraçar de concorrentes e de adversários políticos, as técnicas para se apossar do poder e para mantê-lo exibem uma notável continuidade com aquelas descritas pelo experiente diplomata da repubblica fiorentina do Quatrocento.
O que pode estar ultrapassado, no seu “manual” de 1513, é meramente acessório, pois a essência da arte de comandar os homens revela-se plenamente adequada aos dias que correm, confirmando assim as finas virtudes de psicólogo político – avant la lettre – do perspicaz pensador do Cinquecento.
Este Príncipe Moderno representa, antes de tudo, uma singela homenagem ao diplomata italiano que “inventou” a ciência política, ainda que ele o tenha feito nas difíceis circunstâncias do ostracismo, na sua condição de funcionário de Estado “cassado” pelos novos donos do poder em Florença.
Obra de um momento político – talvez não muito diverso daqueles tempos vividos pelo segretario de cancelleria –, este novo Príncipe, que se pretende tão universal em seu escopo e motivações quanto seu modelo de cinco séculos atrás, oferece novos argumentos em torno dos velhos problemas da administração estatal. A bem refletir sobre a política contemporânea, pouco nos separa de Maquiavel, se não é algum desenvolvimento institucional e uma maior rapidez nas comunicações. Quanto aos homens, tanto os condottieri quanto o popolo, eles não parecem ter mudado muito...
Paulo Roberto de Almeida é cientista social e diplomata, com obras publicadas sobre temas de história diplomática, de relações internacionais e de política externa do Brasil.
www.pralmeida.org
Leia o prefácio, a dedicatória e uma carta a Maquiavel, neste link.
Os dois posts anteriores que convidavam ao debate-lançamento:
http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/05/maquiavel-teria-algo-dizer-sobre.html
http://diplomatizzando.blogspot.com/2011/05/maquiavel-pouco-maquiavelico.html
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comentários são sempre bem-vindos, desde que se refiram ao objeto mesmo da postagem, de preferência identificados. Propagandas ou mensagens agressivas serão sumariamente eliminadas. Outras questões podem ser encaminhadas através de meu site (www.pralmeida.org). Formule seus comentários em linguagem concisa, objetiva, em um Português aceitável para os padrões da língua coloquial.
A confirmação manual dos comentários é necessária, tendo em vista o grande número de junks e spams recebidos.