Confuso esse artigo, sobre o que se pretende, realmente. De toda forma, a designação de "guarda pretoriana", ainda que intelectual, é altamente inapropriada, como diriam os americanos, para um policy planning staff. Compreendo as intenções do autor, mas ele não toca nos problemas reais de formulação e execução da política externa brasileira, aliás, como de qualquer outra política pública.
Pode ser que o problema, justamente, seja o de existir uma guarda pretoriana, mas essa é a dos companheiros, jamais a dos diplomatas.
Confuso...
Paulo Roberto de Almeida
Guarda pretoriana para o chanceler
Matias Spektor
Folha de São Paulo, 12 junho 2013, p. A-11
Talvez a falta de interesse do Planalto seja coisa boa. Sem o calor dos holofotes, ganha-se latitude para pensar
A era de ativismo diplomático de Lula e FHC acabou. Dilma não investirá em novas iniciativas, nem dará mais do que atenção mínima àquelas em andamento.
Não se trata apenas de estilo. A economia e as contas públicas não ajudam. O ativismo dos últimos anos era um dividendo da casa em ordem. Agora, o sinal se inverte.
Quem acompanha a política externa na Esplanada dos Ministérios, nos quartéis, nas universidades ou nas redações de jornal resigna-se à retração.
Um dia, no entanto, a maré voltará a subir. E quando chegar a hora, quais conceitos estratégicos alimentarão a retomada?
Durante o governo FHC, a estratégia diplomática foi pensada pelo presidente em consulta informal com um grupo de embaixadores amigos. A documentação recém-aberta revela o grau em que eles discordavam entre si, gerando um verdadeiro menu de alternativas.
Lula concentrou a reflexão no seu círculo mais íntimo e em seu diálogo com Celso Amorim, o chanceler.
Para todos eles, pensar a política externa estrategicamente era mais que um mero exercício intelectual. Era uma forma prática de gerir os dilemas inevitáveis da diplomacia.
Queremos integração sul-americana, mas não queremos pagar custos elevados na região. Queremos multinacionais brasileiras possantes, mas não queremos ser vistos como potência imperial.
Queremos apoio americano para o Conselho de Segurança da ONU, mas não queremos seguir Washington e seus aliados a reboque.
Queremos um Atlântico Sul sem predadores, mas suspeitamos dos que podem oferecer proteção.
Queremos submarino nuclear, mas não queremos assustar os vizinhos. Queremos ser ouvidos sobre quase tudo, mas não queremos investir em quase tudo.
Esses problemas envolvem escolhas difíceis, por isso são dilemas.
O pensamento estratégico serve justamente para estabelecer prioridades, critérios e fazer opções. É uma narrativa sobre o melhor uso dos instrumentos diplomáticos disponíveis para promover os interesses brasileiros no mundo.
Lula e FHC pensavam política internacional estrategicamente por gosto e por instinto.
E agora? Talvez a falta de interesse do Planalto seja coisa boa. Sem o calor dos holofotes, ganha-se latitude para pensar mais livremente.
O celeiro natural para essa reflexão é a Secretaria de Planejamento Diplomático do Itamaraty.
O órgão nunca foi devidamente aproveitado. Via de regra, seus funcionários são excelentes, mas são poucos e ficam assoberbados com a redação dos discursos oficiais de cada dia. Quiçá seja hora de aproveitar a conjuntura para engordar o grupo. Hoje, são apenas seis.
A secretaria poderia fazer cenários, avaliar estratégias alternativas e desafiar reservada, mas criticamente, cada política adotada.
Poderia dialogar com os melhores intelectuais do mundo, garimpando ideias novas e sofisticando as velhas.
Seria espécie de guarda pretoriana intelectual do chanceler, prestigiada com incentivos e protegida de retaliações. Com um ano e meio de mandato pela frente, bem que dava. A pachorra é do Planalto.
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