Risco do Brasil aumenta em relação a vizinhos
Natália Flach
Brasil Econômico, 19/06/2013
Desde maio, credit default swaps estão 50 pontos mais altos que Peru, México e Chile
O Brasil está se distanciando cada vez mais de seus vizinhos, quando o assunto é risco país. De janeiro de 2007 até dezembro do ano passado, os credit default swaps brasileiros — papéis que protegem os investidores contra calote e são usados como hedge dos títulos do Tesouro — andavam em linha com os títulos do Peru, Colômbia, Chile e México. Em janeiro, no entanto, esse cenário mudou. O spread entre os indicadores apresentou saltos de até 50 pontos, especialmente, em maio e junho, de acordo com dados da Tendências Consultoria obtidos com exclusividade pelo Brasil Econômico. Com isso, os papéis brasileiros, que já eram mais caros do que os dos pares latino-americanos, passaram a apresentar valores ainda mais altos.
“O que pautou essa abertura das curvas foi a diferença na condução da economia. O país está ficando mais parecido com a Argentina, o que aumenta a imprevisibilidade e afugenta os investidores. Porém, não há questionamentos sobre a solvência do Brasil”, comenta o economista Silvio Campos Neto.
Somente neste mês, o custo para proteger a dívida brasileira contra default por cinco anos aumentou 33 pontos-base, quase duas vezes mais que o da China e também superior ao da Rússia, segundo a Bloomberg. A mais recente escalada de preços começou com a revisão da nota de risco brasileira pela Standard & Poor’s (S&P). No entanto, na última semana, houve uma retração de 16,92% nos papéis. “A queda não é significativa, porque os CDS são bastante voláteis. A tendência ainda é de alta”, comenta. No ano, os papéis estão subindo quase 40%, segundo dados da Thomson Reuters. O EMBI Global, índice calculado pelo JP Morgan, aponta para o mesmo caminho. Ontem, caiu em cinco pontos-base — para 215 pontos-base — o rendimento adicional exigido pelos investidores para deter títulos do governo brasileiro em dólar em vez de títulos do Tesouro americano, de acordo com a Bloomberg.
Na contramão, estão os CDS americanos que praticamente não viram mudanças nas curvas de preço, mesmo com as declarações do presidente do banco central (Federal Reserve), Ben Bernanke, de que pode reduzir as compras mensais de títulos do governo.
“A economia está reagindo. Em breve, vão alterar a política monetária, inclusive, aumentando juros. O Brasil não vai conseguir se descolar desse cenário — tanto é que o dólar está subindo contra todas as moedas”, diz o consultor da Tendências. Ontem, a divisa americana voltou a subir ante o real apesar das ações do BC. Com isso, o dólar renovou as máximas dos últimos quatro anos, com os investidores ansiosos sobre a decisão do Fed, esperada para hoje, sobre a política de afrouxamento monetário.
A alta da moeda americana e a queda da bolsa também são reflexos da fuga dos investidores estrangeiros para ativos mais seguros. Foi neste cenário mais adverso que Odebrecht e Minerva anunciaram o adiamento de captação externa. “O apetite pelo crédito do Minerva era muito alto, mas por causa do momento de maior volatilidade do mercado e de aversão ao risco, o negócio provavelmente sairia mais caro”, disse Fernando Galletti, presidente da companhia, em entrevista à Bloomberg. “Não é só falta de apetite dos investidores. O risco cambial está maior. Se as empresas vão captar lá fora, precisam fazer hedge e isso pode fazer com que os custos da operação não compensem”, diz Neto.
Um comentário:
E pensar no tsunami de dólares.quanta arrogância.
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