Impressionante: em nenhum momento, em qualquer trecho desta matéria que se presume fiel aos fatos, se trata de questões substantivas de interesse do país e de sua população. Nada, neca de pitibiribas: essas coisas prosaicas, que deveriam
supostamente melhorar as nossas vidas, simplesmente não existem.
Tudo ali trata apenas de chantagens recíprocas entre mafiosos das duas partes, com vistas a tratar de recursos para emendas parlamentares paroquiais ou garantir a base de apoio do governo.
Impressionante e inacreditável, o ponto a que chegamos na política do Brasil.
Talvez nem o reporter tenha percebido que ele nunca tratou dos fins da política nessa matéria.
Ele apenas tratou, única e exclusivamente, dos meios dos políticos.
Paulo Roberto de Almeida
Troca nos ministérios e promessas de liberação de emendas reduzem'blocão'
ERICH DECAT / BRASÍLIA
O Estado de S.Paulo, 15 de março de 2014
Com o destravamento da reforma ministerial e promessas de liberação de emendas parlamentares, o Palácio do Planalto conseguiu reduzir significativamente o chamado "blocão", grupo de partidos - a maioria da base aliada - criado em fevereiro a fim de aumentar o poder do Legislativo frente ao Executivo.
Das 11 legendas que compareceram ao jantar que selou o pacto entre os líderes de bancadas no dia 20 do mês passado, quatro já abandonaram o grupo: PSD, PP, PROS e PDT. Os próximos a fazê-lo serão o PR, o PT do B e o PRP. Com isso, o número de deputados do "blocão" cairá de 285 para 129 (veja quadro ao lado).
Nesta semana, a tropa rebelde de governistas comandada pelo PMDB se uniu aos partidos de oposição - PSDB, DEM e PPS - e impôs uma série de derrotas ao governo na Câmara dos Deputados, com a criação de uma comissão externa para apurar denúncias de corrupção da Petrobrás e a aprovação de convocações e convites de ministros a fim de que eles deem explicações sobre os mais variados assuntos no Congresso Nacional.
Ontem, o presidente nacional do PR, senador Alfredo Nascimento (AM), foi mais um dirigente partidário a se posicionar pelo fim do bloco. As reuniões feitas com a cúpula do partido, a bancada na Câmara e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, resultaram em um entendimento, segundo Nascimento.
Carta de crédito. "O PR sai do 'blocão'. Existia de fato uma insatisfação muito grande principalmente na Câmara dos Deputados. Mas tivemos reuniões de um grupo de deputados mais o ministro Mercadante. Todas as arestas não foram aparadas, mas algumas foram e acho que já tem condições de manter um diálogo com o governo, o que estava muito ruim", afirmou Nascimento. "Acho que o partido tem que dar ao Mercadante uma carta de crédito. Ele procurou se envolver pessoalmente", disse o dirigente do PR.
Sua posição, contudo, ainda precisa ser acatada pelo líder da legenda na Câmara, Bernardo Santana (MG). "Com todo o respeito que eu tenho pelo senador Alfredo Nascimento, ele fala pelo Senado, onde é líder, e fala pelo partido, mas quem fala pelos deputados federais sou eu, que sou líder da bancada na Câmara". No entanto, trata-se do mesmo movimento dos outros partidos que deixaram o bloco. Primeiro os dirigentes desautorizaram a presença deles no grupo, como Gilberto Kassab (PSD), Carlos Lupi (PDT) e CiroNogueira (PP). Dias depois, a orientação acabou sendo incorporada pela bancada.
Trégua. Além da iminente saída do PR, outro fator que deve enfraquecer o bloco é a trégua sinalizada pelo Planalto e pelo líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ). Um encontro entre o deputado e Mercadante está previsto para segunda-feira. Foi graças ao corpo a corpo do ministro com os líderes da base nesta semana - no qual fez promessas de liberação de emendas por parte do governo - e à retomada da reforma ministerial que o governo deu os primeiros passos para enfraquecer o "blocão".
No entanto, há ainda alguns pontos de desentendimento. Entre os itens da pauta nos quais a bancada do PMDB se posicionará contra o governo estão o texto que prevê a criação do Marco Civil da Internet e o veto da presidente Dilma Rousseff ao projeto que estabelece novos critérios para a criação de municípios.
Distensão. Cunha garante que se trata de assuntos em que a bancada já tinha tomado posições contrárias ao governo antes da criação do blocão. "Agora tem que distensionar o ambiente e caminhar para um ambiente normal, com as divergências colocadas de forma equilibrada. E essas divergências serão demonstradas no dia a dia no painel", afirmou o deputado, segundo quem a atual tensão na coalizão presidencial poderá deixar cicatrizes para a campanha de outubro. " Temo que toda essa situação de embate esteja produzindo os 'anticabos' eleitorais, que não jogam a favor, mas contra, numa campanha negativa", disse o peemedebista (mais informações abaixo).
Teatro. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, disse ontem que a tensão entre Executivo e Legislativo deve diminuir. Carvalho é alvo do "blocão". Ele foi convocado para prestar esclarecimentos sobre convênios de ONGs e a explicar o patrocínio do governo a um evento do MST que acabou em quebra-quebra em Brasília.
"Na vida política a gente vai aprendendo que é natural que ocorram tensões, momentos mais fortes, mais difíceis, a gente tem de ter maturidade e serenidade, como a presidenta teve, para suportar as interpretações, as ondas e contra ondas", disse Carvalho.
"O resto tem um pouco de jogo de cena, um pouco do teatro político, que é natural", afirmou. Ele participou do lançamento do edital do Programa de Fortalecimento e Ampliação das Redes de Agroecologia, Extrativismo e Produção Orgânica, no Palácio do Planalto. / COLABOROU RAFAEL MORAES MOURA
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