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terça-feira, 26 de abril de 2016

Itamaraty: a lista de candidatos no governo transitorio de Michel Temer aumenta: Senador Aloysio Nunes


Mais um "candidato", ou sugerido, para o Itamaraty, num governo de transição de Michel Temer, o atual presidente da CREDN-SF, senador Aloysio Nunes, junto com o embaixador Rubens Barbosa, atualmente presidente do Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior​, e do Conselho de Comércio Exterior da FIESP.
Paulo Roberto de Almeida

A vice-política externa


Em famosa carta endereçada à Dilma, mas enviada para todo o Brasil, Temer afirma: democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Em termos de relações exteriores, a frase é mais reveladora do que pode parecer. Temer já mobiliza nomes da oposição como os primeiros formuladores e executores de sua política externa. O primeiro chanceler do “vice-governo” Temer parace inclusive já ter sido escolhido, é o senador Aloysio Nunes
Por Tomaz Paoliello*
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A movimentação pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff demanda projeções sobre como seria um governo de seu vice-presidente, Michel Temer. Apesar da grande dose de incerteza dos tempos atuais, já é possível vislumbrar algumas das tendências do que seria, por exemplo, a futura política externa de Temer. Em famosa carta endereçada à Dilma, mas enviada para todo o Brasil, Temer afirma: democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Em termos de relações exteriores, a frase é mais reveladora do que pode parecer. Temer já mobiliza nomes da oposição como os primeiros formuladores e executores de sua política externa. O primeiro chanceler do “vice-governo” Temer parace inclusive já ter sido escolhido, é o senador Aloysio Nunes.

Na segunda-feira, 18 de abril, Nunes, presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, viajou a Washington, a pedido de Michel Temer, para empreender uma campanha de relações públicas internacional centrada na desconstrução da narrativa do golpe. Tanto Nunes quanto Temer reagiram negativamente às afirmações de de Luis Almagro, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), e Ernesto Samper, Secretário Geral da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) sobre falta de legitimidade neste processo em curso que pode culminar no afastamento da presidente. O Senador Nunes, em resposta ao Secretário Geral da OEA, afirmou que a viagem de Almagro ao Brasil teria sido um gesto oportunista, e que o uruguaio tem “completo desconhecimento sobre a situação política brasileira”. Vale nota sobre a biografia de Almagro: o Secretário Geral tem longa e reverenciada carreira diplomática, representou o Uruguai em diversas instâncias regionais e foi chanceler uruguaio de 2010 a 2015, na administração Mujica. Sua expertise a respeito da América Latina e a intimidade com a realidade brasileira são inquestionáveis.
Em coluna publicada na Folha de S. Paulo no dia 30 de março, Aloysio Nunes já denunciava que o governo supostamente utilizou a máquina pública para disseminar a narrativa do golpe. De acordo com o Senador, o governo estaria se valendo dos canais oficiais, ou seja, da diplomacia, com finalidades partidárias. A esquerda mobilizou, de fato, suas tradicionais redes internacionais, mas não através da diplomacia. Essas redes, compostas por políticos e partidos de esquerda, setores da academia, ativistas, jornalistas e estudantes, se juntaram internacionalmente à luta contra o impeachment. O nonsense de um processo de impedimento conduzido por deputados denunciados por corrupção contra uma presidente sob a qual não pesam processos na justiça, até o momento ,certamente facilitou a repercussão internacional majoritariamente negativa sobre o processo. A movimentação do Senador Nunes, em contrapartida, tenta dar resposta aos receios de uma comunidade internacional justamente alarmada e busca mobilizar os possíveis parceiros de um futuro governo Temer. Não à toa, tenta diálogo com aqueles atores que historicamente se preocupam menos com a legitimidade política de seus parceiros e desejam apenas interlocutores que permitam seu acesso privilegiado às elites políticas e econômicas nacionais.
Os encontros de Aloysio Nunes em Washington miram interlocutores de duas naturezas: autoridades políticas e o empresariado. O Senador tem reuniões agendadas com o Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado dos EUA, o republicano Bob Corker, e com o antigo embaixador dos EUA em Brasília, Thomas Shannon, atual subsecretário de Assuntos Políticos do Departamento de Estado. O outro importante compromisso na agenda divulgada pela assessoria do parlamentar brasileiro é uma reunião com empresários norte-americanos e acontece no Albright Stonebridge Group. A consultoria que organiza a reunião é dirigida por Madeleine Albright, ex-Secretária de Estado no governo Bill Clinton, e Carlos Gutierrez, ex-Secretário de Comércio no governo George W. Bush. O empresariado norte-americano pode ser um aliado importante, visto que historicamente se preocupou muito pouco com a natureza política de seus parceiros, como chegou ao poder e o que fez para se manter nele. Sempre valeu mais a estabilidade política e um bom ambiente de negócios do que o regime político. Quanto aos prospectos políticos, a viagem de Nunes se dedica a democratas e republicanos, mas parece dar ênfase a uma aproximação com quadros próximos a um futuro governo Hillary Clinton. De uma forma ou de outra, oferecer boas oportunidades de negócios ao empresariado parece uma aposta certa.

A revanche de 2014
Aloysio Nunes foi o vice-presidente da chapa do também tucano Aécio Neves, derrotado no segundo turno das eleições de 2014. Os pontos principais do programa de Aécio Neves em 2014, apresentam coincidências impressionantes com o documento ‘Uma Ponte Para o Futuro’, formulado pelo PMDB e divulgado como um possível programa de governo Temer. O ponto central coincidente aos dois documentos é a ideia da construção de uma política externa focada na abertura comercial, com ênfase em acordos bilaterais e regionais em detrimento de diálogos de caráter multinacional, e uma postura declarada de desconfiança com relação ao Mercosul enquanto espaço privilegiado de formulação e execução de política externa para a região. Essa postura se opõe à opção da política externa de Lula e Dilma, que privilegiou a negociação comercial nas esferas multilaterais e teria transformado as organizações regionais no que tucanos se referem pejorativamente como “fóruns de discussão política e social” (http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/04/rubens-barbosa-acao-do-pt-no-exterior-e-pessima-para-o-brasil.html). A abertura comercial deve ter como foco, de acordo com ambos os documentos tucano e temerista, alguns parceiros privilegiados. Os dois documentos seguem coincidentes ao apontar quem seriam esses parceiros: o Brasil deve buscar se aproximar da Ásia, da Europa e principalmente dos EUA. O foco seria integrar a economia brasileira às “cadeias globais de valor”. (http://inter01.tse.jus.br/divulga-cand-2014/proposta/eleicao/2014/idEleicao/143/UE/BR/candidato/280000000085/idarquivo/229?x=1406050602000280000000085).
Cabe aqui a referência a uma outra figura pública que é personagem principal da construção dessa articulação PSDB-PMDB que tenta emplacar agora o que as urnas rejeitaram em 2014 em muitas agendas – inclusive no que tange à política externa. O principal assessor para política externa da chapa do PSDB, formulador da seção de política externa do programa de governo de Aécio, foi o Ex-Embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa. Barbosa, atualmente presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da FIESP, anunciou no último mês de março a criação de um novo think-tank, o Instituto de Relações Internacionais e Comércio Exterior (IRICE). Apesar de se declarar apartidário, o IRICE contou, em seu lançamento, com palestra do Governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin. O instituto, focado na agenda de comércio exterior, enfatiza os mesmos pontos do programa de governo de Aécio e do documento do PMDB, notavelmente a ideia de que o sucesso em política externa pode ser medido pela quantidade de acordos comerciais assinados. As consequentes críticas à política externa dos últimos anos vêm sempre associadas à opção brasileira sob governos do PT pelas relações com os países de sul global e a supostamente malfadada opção por negociações no âmbito da OMC. Apesar da ausência de dados sobre os financiadores do IRICE, o vínculo de Barbosa com a FIESP e a coincidência de discursos ajudam a revelar quais são os interesses articulados ao redor da iniciativa. E permitem inferências sobre de onde os recursos provém.
A política externa que se articula nas sombras do governo Dilma parece bastante clara quanto ao que veio: seu objetivo será aplicar, passo a passo, a ideia de relações exteriores derrotada nas eleições de 2014. Para isso, se utilizará das mesmas figuras, como Nunes e Barbosa; do mesmo referencial ideológico liberal; e do mesmo argumento, que associa as relações regionais, sul-sul, e multilaterais a uma política externa de cunho supostamente ideológica e partidária. Muitos têm receio de aderir à narrativa do golpe para se referir ao processo de impeachment. Mas a narrativa já tem a adesão de grandes veículos da imprensa internacional e mobiliza atores políticos relevantes no exterior. Os conspiradores o sabem, e parecem bastante preocupados em reverter o jogo, evitando a pecha que lhes cabe de golpistas aos olhos da comunidade internacional. Os esforços nesse sentido, contudo, deixam ainda mais evidentes as conspirações que protagonizam.

*Tomaz Paoliello é professor de Relações Internacionais da PUC (SP)
Fonte: Revista Fórum
www.revistaforum.com.br

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