Mini-reflexão sobre a alternância no poder (mais do que nunca necessária)
Paulo Roberto de Almeida
Na democracia vale a alternância; o velho método do ensaio e erro, no sentido popperiano do conceito.
Aos que dizem, “qualquer um, menos o PT”, eu agregaria: “desde que não seja o Bolsovirus”.
Ele, simplesmente, consegue ser pior, muito pior do que o PT: mais vulgar, mais indecente, mais autoritário, e ativamente comprometido com o que há de mais reacionário na cultura, na política, nos costumes; um saudosista explícito da ditadura militar, despreza a vida e os DH, corrupto, falso e mentiroso, capaz de elogiar torturador e dizer que o regime militar “matou pouco”.
De toda forma, 2022 não será como 2018, marcado por circunstâncias excepcionais, que não mais existirão.
Qualquer um seria capaz de vencer o degenerado, que já terá um alto índice de rejeição. Desde que as oposições não sejam burras (como frequentemente o são, geralmente nas esquerdas).
Fator decisivo será — como sempre foi, em qualquer eleição — o comportamento dessa ameba gigante que é a colusão (mais do que uma coalizão formal) entre os senhores do poder — vagamente associado ao Centrão — e os senhores do capital: ambos parecem preferir antes um presidente fraco, até mesmo medíocre, do qual podem extrair ganhos, vantagens e prebendas, do que um presidente forte, esclarecido, que tenha ideias próprias, e sobretudo que queira fazer reformas muito amplas, que coloquem em jogo seus privilégios mesquinhos (e aqui entram inclusive os mandarins do Estado, entre os quais eu me incluo).
O que mais horroriza essas medíocres elites brasileiras — desde sempre, e aqui incluo traficantes de escravos desde a era colonial, escravocratas durante todo o regime imperial, oligarquias diversas na República— é a perspectiva de que chegue alguém disposto a mudar as situações estabelecidas e faça reformas muito ousadas, que mexam com os mecanismos que transferem recursos de toda a sociedade, via Estado, para seus grupos e setores de interesse (e aqui eu coloco também os já citados mandarins do Estado, nos quais eu destaco os magistrados, o mais próximo que temos de aristocratas do Ancien Régime). São elites Lampedusa, segundo a velha e desgastada imagem.
Nessas condições, pedir o surgimento de um estadista, no Brasil, talvez seja pedir muito, a uma sociedade que se acomodou na mediocridade, e que por isso sofre agora de um lento e incontornável declínio. Esse processo tem dois marcos, dois pilares, dois fundamentos até aqui resistentes a qualquer correção, ambos históricos e tradicionais na formação social do Brasil: a má qualidade da educação de massa e a corrupção política, até aqui impermeáveis aos esforços de mudança.
Concluindo: na impossibilidade prática de se superar esses tremendos desafios, que pelo menos se substituam os medíocres no poder. Além de reacionários, eles são perversos, no limite da sociopatia.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 7/02/2021
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