Mini-reflexão sobre alguns dos momentos decisivos na vida da nação
Paulo Roberto de Almeida
A ampliação do número de armas livremente disponíveis no Brasil terá um efeito persistente no aumento dos homicídios e dos crimes violentos de maneira geral.
O país se tornará inevitavelmente mais “mortal” no longo prazo.
Este será o legado maldito de Bolsonaro: uma sociedade infelizmente mais violenta e muito mais conflitiva do que poderia ser, na ausência dessas medidas alucinadas e alucinantes (com a leniência das FFAA, que perdem, assim, parte de seu monopólio legítimo do uso da força).
Esta será sua “marca” histórica, tão negativa, na longa duração, quanto a preservação do tráfico na Independência, quanto a extrema relutância em abolir a escravatura, tão danosa para o conjunto da sociedade e para o destino da nação quanto a incapacidade das elites em distribuir terras na Lei Agrária de 1850, ou em criar uma educação pública de massas de qualidade quando se instalou a República.
Já estamos na sexta República e na sétima Constituição (oitava, se contarmos com as emendas de 1969), e ainda não logramos estabilizar institucionalmente o país.
Certas “decisões”, convenientes no curto prazo para seus proponentes, atendendo a interesses geralmente mesquinhos, possuem um “lasting effect”, que se amplia desmesuradamente por gerações sucessivas, impactando a trajetória futura da nação, se outro fosse o caminho adotado numa determinada bifurcação histórica.
O Brasil foi pródigo, no passado, em ações e omissões especialmente negativas do ponto de vista da construção de uma nação próspera e dotada de instituições sólidas.
Aparentemente, ele continuará a se arrastar penosamente em direção a um futuro incerto, de desigualdades estruturais e de injustiças sociais, porque suas elites dirigentes foram incapazes de diagnosticar e de equacionar os problemas mais elementares de todas as sociedades: infelizmente não soubemos sequer resolver o básico de uma sociedade sadia e ainda estamos longe de criar um Estado de Direito e uma nação de bem-estar social.
Chegaremos aos 200 anos de criação de um Estado nacional soberano com um balanço talvez, ou apenas, razoável no plano material, mas reconhecidamente frustrante no plano social e crescentemente miserável nas dimensões ética e moral, quando olhamos para aqueles que representam a nação no contexto internacional.
Termino por uma confissão vinculada à minha carreira profissional nas últimas quatro décadas: sinto profunda vergonha pela imagem que esses irresponsáveis do poder atual projetam do Brasil no mundo.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 21/02/2021
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