quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Uma nova, e diferente, história do Império britânico - Sathnam Sanghera


Empireland, de Sathnam Sanghera (Penguin) Determinadas histórias só podem ser contadas por estrangeiros, ou por “vítimas” de uma grande história, para escapar da cegueira, do orgulho ou da paixão inerentes aos originais. As melhores histórias sobre a Revolução francesa que eu li não foram escritas por franceses: les citoyens ainda não conseguiram se libertar das paixões que foram desencadeadas pela Convenção, pelo Diretório, pelo Terror jacobino, pelo Império napoleônico ou pela Restauração dos Bourbons trapalhões e ineptos (mas as cinco repúblicas também não foram magníficas, pois perderam três guerras para os alemães, e não conseguem se reformar). Aqui eu falo de um livro sobre o glorioso império britânico — o maior do mundo em 1913, onde o sol nunca se punha — mas escrito por um não britânico.
 Um “filho” do Império britânico fala da importância desse império para o mundo. Aproveito para confirmar que uma boa leitura complementar é o livro Empire, do historiador Niall Ferguson, atualmente nos EUA, uma das mais brilhantes realizações imperiais, como ele também estudou em Colossus (mas onde também lamenta que o rebento nunca quis vestir o manto imperial do criador).

Li, até onde foi possível pela oferta do editor, a introdução do autor, um filho de Indianos do Punjab, nascido na Inglaterra, mas que foi para a escola primária sem sequer falar inglês, e que depois se tornou um grande jornalista da mídia britânica. Era preciso um filho do Império britânico — o maior do mundo em toda a história — para falar, bem, desse grande império, que se tornou grande pelo tráfico de escravos e pelo comércio de mercadorias coloniais.

Uma história bem humorada, revelando coisas que os próprios britânicos desconhecem que são imperiais, ou coloniais. O império britânico já quase acabou, mas ofereceu grandes coisas ao resto da humanidade. Talvez, um quarto do que o mundo é hoje, em tudo, seja o produto do Império britânico, mas metade desse mundo é indiano e chinês, dois grandes impérios que foram subjugados, dominados e humilhados pelo primeiro. Coisas da vida e da história: em mais algumas décadas, o mundo será, de novo ou novamente, indiano e chinês. Esperem e verão: indianos e chineses serão os que, por sua vez, humilharão britânicos e "ocidentais", pela criatividade de seus povos respectivos. A História se vinga.

Paulo Roberto de Almeida

https://www.ebooks.com/en-br/author/sathnam-sanghera/503390/


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