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domingo, 3 de outubro de 2021

Paradoxos da contemporaneidade brasileira e mundial - Paulo Roberto de Almeida

Paradoxos da contemporaneidade brasileira e mundial

 

 

Paulo Roberto de Almeida

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

 

 

O que é que vocês preferem? 

Continuar com a roubalheira do Centrão, encastelado na direita, ou passar a ser tosquiados novamente pela esquerda, que também vai precisar do Centrão para governar? 

O povinho miúdo parece querer a volta dos justiceiros, mas a classe média ainda está relutante. 

Por enquanto, não apareceu nenhum Chapolim Colorado para nos salvar, nem vai aparecer. 

A salvação não está à vista: apenas uma longa e lenta via crucis no caminho de nossos equívocos passados, que nos trouxeram aos impasses do presente.

Olhando de longe para algumas das grandes potências, nações supostamente mais avançadas, constatamos que nem elas escapam das misérias da política, que é o aumento das desigualdades sociais e o derretimento do regime democrático (onde existiu, o que não é o caso de algumas).

Ou seja, a despeito de 10 mil anos de processo civilizatório, poucas nações no mundo alcançaram um patamar de equilíbrio político e social, com padrões elevados de bem-estar, de respeito aos direitos humanos e de pleno enquadramento num regime democrático que pode ser considerado estável e irreversível.

Uma das mais decepcionantes reversões do século XXI é a dos Estados Unidos, e a culpa não é apenas de Trump: ele é apenas o reflexo da degradação e da deterioração do mores social, que permitiu a ascensão e a aparente dominação de um mentecapto, racista, xenófobo, misógino, inepto, autoritário e perverso oportunista sobre frações consideráveis da população e sobre um velho partido conservador, que se tornou um joguete nas mãos de um delinquente reacionário e ignorante. Ou seja, o país que tem, ao que parece, as melhores universidades do mundo, tem também um dos povinhos mais tacanhos do planeta, exibindo praticamente 50% de antivacinais, o que me parece uma idiotice consumada, uma ignorância construída.

Trump apenas antecipou Bolsonaro, mas ambos foram precedidos por Erdogan, Modi, Orban, Duterte, enquanto muitos outros se alinham avidamente na maratona mundial da estupidez e do autoritarismo. 

Não cabe ter muitas esperanças: depois de contemplar os horrores dos totalitarismos na primeira metade do século XX, e de escrever sobre eles no início da segunda metade, Hannah Arendt refletiu sobre as “promessas da política”, com base na filosofia dos antigos gregos. Parece que não avançamos muito: a despeito de todos os alertas feitos por acadêmicos respeitáveis quanto aos perigos das tiranias, sempre tem eleitores dispostos a votar por um novo “tirano de Siracusa”. 

O próprio Brasil é um exemplo dessa involução democrática: parece que o preço a ser pago para nos libertar de um psicopata perverso, de um demente candidato a tirano, é aceitar a volta de um populista mentiroso e mafioso, mas que é um pouco mais esperto e benevolente do que o mentecapto no poder. 

A mediocridade continua sua marcha imperturbável…

Sorry por estas reflexões dominicais algo pessimistas. Minha honestidade intelectual não me permite visualizar boas saídas…

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 3992: 3 outubro 2021, 2 p.


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