Um longo comentário de um leitor anônimo de meu blog Diplomatizzando, a uma postagem que fiz de resenha de im livro de Patrícia Crone sobre o mundo pré-moderno, que estou repostando na sequência.
Paulo Roberto de Almeida, 7/09/2024
Desconhecido comentou em "The Pre-Modern Order, by Patricia Crone; Book review by Arnold Kling"
7 de fev. de 2024
Esse é um livro nota 10, um dos meus favoritos e dos que eu mais gosto de recomendar.
A autora ter um viés medieval não é acidente e o papel central da antiguidade clássica e especialmente da república romana seguida pelo começo do imperio (o "principado") no ensino de história é parte do motivo desse livro ser elucidador pra muita gente. Essas sociedades eram muito atípicas: a guerra naval conduzida por remadores vindos das camadas mais pobres que se possivel iriam preferir lutar como infantaria (mas pra isso teria que poder bancar seu equipamento) é provavelmente a razão detras do surgimento desses varios microestados mais ou menos democraticos. Atenas e Rodes ambas polis gregas democraticas no seu periodo de auge naval mas Roma e Cartago não eram tão diferentes em sua organização política exceto por controlarem impérios muito maiores do que a velha liga de Delos. A primeira guerra Punica entre elas com 7 batalhas navais envolvendo centenas de navios e dezenas, por vezes centenas de milhares de homens permanece insuperada como maior guerra naval em termos de marinheiros envolvidos, e a próxima batalha naval em escala semelhante ocorreria de novo somente em Lepanto 1500 anos depois, logo antes da transição plena para canhoes o que desfavoreceu as velhas galés impulsionadas ppr remadores. Exércitos gregos frequentemente elegiam e destituiam seus lideres se assim quisessem mesmo numa expedição heterogênea como na famosa marcha dos 10 mil relatada por Xenofonte. Outra pratica pitoresca era a de exércitos cartagineses em campanha julgarem e crucificarem generais julgados como incompetentes. Bem mais tarde a Crise do Seculo Tres em boa parte foi causada pelos varios exercitos regionais "votando" em imperador apesar da comitia centuriata ter sido extinta por mais de 200 anos antes. Roma
durante a república realizava censos completos a cada 5 anos cobrindo boa parte, eventualmente toda a Itália, censos provinciais mais tarde embora raramente preservados tambem ocorreram, a exemplo do citado no Novo Testamento. A elevada idade no primeiro casamento tem origem nesse periodo, devido a prática de conscrição geral cidadãos romanos adiavam o casamento para depois de finalizarem seu serviço militar. Apesar do fim da conscrição na transição para o principado, a pratica persiste desde então e é exportada para regioes onde nunca tinha ocorrido. Nesse período também que a pirataria é eliminada nos litorais sob seu controle e durante a famosa paz romana quando o volume de comércio atinge niveis somente ultrapassados muito mais tarde, com a integração econômica entre as regiões do litoral mediterrâneo com vários exemplos arqueológicos de regiões inteiras se especializando em cultivos segundo vantagens competitivas de solo e clima: mais notavelmente a Itália substituindo cultivo de grâos por uvas e azeite apesar de já estar importando grão da África (atual Tunísia) desde pelo menos as guerras civis da república. Mesmo as redes de comercio de bens de luxo se expandiram com as vastas quantidades de moedas romanas na India e romanos chegando por mar na China no famoso caso do que provavelmente eram mercadores confundidos pelo historiador chinês com emissarios trazendo tributo.
A proximidade do litoral era um fator chave devido ao menor custo de transporte: o interior europeu onde o urbanismo era novidade foi mais afetado pela introdução do urbanismo e várias tradiçoes religiosas e filosoficas ao ponto que o cristianismo em questão de 100 anos entre a adoção por Constantino e o colapso do lado ocidental sob Honório era predominante e já estava se espalhando para regiões como a Irlanda e a Alemanha. 400 anos depois no tempo de Carlos Magno a fronteira do cristianismo era a mesma, terminando na Saxônia e tendo até recuado na europa oriental.
A autora ter um viés medieval não é acidente e o papel central da antiguidade clássica e especialmente da república romana seguida pelo começo do imperio (o "principado") no ensino de história é parte do motivo desse livro ser elucidador pra muita gente. Essas sociedades eram muito atípicas: a guerra naval conduzida por remadores vindos das camadas mais pobres que se possivel iriam preferir lutar como infantaria (mas pra isso teria que poder bancar seu equipamento) é provavelmente a razão detras do surgimento desses varios microestados mais ou menos democraticos. Atenas e Rodes ambas polis gregas democraticas no seu periodo de auge naval mas Roma e Cartago não eram tão diferentes em sua organização política exceto por controlarem impérios muito maiores do que a velha liga de Delos. A primeira guerra Punica entre elas com 7 batalhas navais envolvendo centenas de navios e dezenas, por vezes centenas de milhares de homens permanece insuperada como maior guerra naval em termos de marinheiros envolvidos, e a próxima batalha naval em escala semelhante ocorreria de novo somente em Lepanto 1500 anos depois, logo antes da transição plena para canhoes o que desfavoreceu as velhas galés impulsionadas ppr remadores. Exércitos gregos frequentemente elegiam e destituiam seus lideres se assim quisessem mesmo numa expedição heterogênea como na famosa marcha dos 10 mil relatada por Xenofonte. Outra pratica pitoresca era a de exércitos cartagineses em campanha julgarem e crucificarem generais julgados como incompetentes. Bem mais tarde a Crise do Seculo Tres em boa parte foi causada pelos varios exercitos regionais "votando" em imperador apesar da comitia centuriata ter sido extinta por mais de 200 anos antes. Roma
durante a república realizava censos completos a cada 5 anos cobrindo boa parte, eventualmente toda a Itália, censos provinciais mais tarde embora raramente preservados tambem ocorreram, a exemplo do citado no Novo Testamento. A elevada idade no primeiro casamento tem origem nesse periodo, devido a prática de conscrição geral cidadãos romanos adiavam o casamento para depois de finalizarem seu serviço militar. Apesar do fim da conscrição na transição para o principado, a pratica persiste desde então e é exportada para regioes onde nunca tinha ocorrido. Nesse período também que a pirataria é eliminada nos litorais sob seu controle e durante a famosa paz romana quando o volume de comércio atinge niveis somente ultrapassados muito mais tarde, com a integração econômica entre as regiões do litoral mediterrâneo com vários exemplos arqueológicos de regiões inteiras se especializando em cultivos segundo vantagens competitivas de solo e clima: mais notavelmente a Itália substituindo cultivo de grâos por uvas e azeite apesar de já estar importando grão da África (atual Tunísia) desde pelo menos as guerras civis da república. Mesmo as redes de comercio de bens de luxo se expandiram com as vastas quantidades de moedas romanas na India e romanos chegando por mar na China no famoso caso do que provavelmente eram mercadores confundidos pelo historiador chinês com emissarios trazendo tributo.
A proximidade do litoral era um fator chave devido ao menor custo de transporte: o interior europeu onde o urbanismo era novidade foi mais afetado pela introdução do urbanismo e várias tradiçoes religiosas e filosoficas ao ponto que o cristianismo em questão de 100 anos entre a adoção por Constantino e o colapso do lado ocidental sob Honório era predominante e já estava se espalhando para regiões como a Irlanda e a Alemanha. 400 anos depois no tempo de Carlos Magno a fronteira do cristianismo era a mesma, terminando na Saxônia e tendo até recuado na europa oriental.
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