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domingo, 18 de junho de 2023

Os militares na política, sempre eles. Resenha de Fernando Mello Barreto: Os sucessores do Barão, 1964-1985 - Paulo Roberto de Almeida

 O livro não é tanto sobre os militares, mas sobre a diplomacia da era militar, focando das relações exteriores do Brasil, tal como conduzidas pelos chanceleres do período, dois politicos e quatro diplomatas, por sinal. Como a resenha já não está mais disponível em nenhuma das três revistas nas quais foi originalmente publicada, eu a reposto aqui, para acesso amplo: 

1682. “Sucessores bem-sucedidos? Um balanço realista (e completo) da diplomacia na era militar”, Brasília, 4 novembro 2006, 6 p. Resenha de Fernando de Mello Barreto: Os Sucessores do Barão, 2: relações exteriores do Brasil, 1964-1985 (São Paulo: Paz e Terra, 2006, 519 p.; ISBN: 85-7753-004-3). Revista Política Externa (São Paulo: vol. 15, n. 3, dez. 2006-fev 2007, p. 191-196; ISSN: 1518-6660). Versão resumida publicada, sob o título de “Diplomacia durante a ditadura”, na revista Desafios do Desenvolvimento (Brasília: ano 3, nº 29, dezembro 2006, p. 63). Plenarium (Brasília: Câmara dos Deputados; ano V, n. 5, maio 2008, p. 310-315; ISSN: 1981-0865). Relação de Publicados n. 728, 729.



Sucessores bem-sucedidos? 

um balanço realista (e completo) da diplomacia na era militar

 

 

Fernando de Mello Barreto: 

Os Sucessores do Barão2: 1964-1985 - relações exteriores do Brasil

(São Paulo: Paz e Terra, 2006, 519 p.; ISBN: 85-7753-004-3)

 

 

A exemplo do primeiro volume desta obra – que cobria, de fato, o período pós-Barão, ainda que de modo lato: Os Sucessores do Barão: relações exteriores do Brasil, 1912-1964 (Paz e Terra, 2001) –, Fernando Mello Barreto oferece, no presente livro, uma história das relações internacionais e da política externa do Brasil, em seu sentido mais amplo, cobrindo tanto os episódios diplomáticos, estrito senso, como o quadro mais abrangente da economia e da política mundiais. A perspectiva é linear, método já adotado no volume precedente: seis chanceleres (dois políticos e quatro de carreira) sucederam-se de 1964 a 1985 à frente do Itamaraty, ou seja, durante o regime autoritário, quando cinco generais do Exército e uma junta militar (au complet) ocuparam o poder no Brasil. 

Da intervenção na República Dominicana à Guerra das Malvinas, da recusa do TNP e do Acordo Nuclear com a Alemanha à “pacificação nuclear” com a Argentina, do apoio ao colonialismo português ao reconhecimento dos novos regimes surgidos depois da “revolução dos cravos”, passando pelos tratados de cooperação com os países vizinhos (Bacia do Prata, Amazônia, Itaipu, entre outros), os principais episódios da diplomacia brasileira são tratados de forma minuciosa, fazendo desta obra uma referência indispensável para o conhecimento e o enquadramento cronológico desses anos cruciais de transformações geopolíticas no plano mundial e de grandes mudanças econômicas no próprio Brasil. Um sintético epílogo retraça as mudanças mais relevantes, na fase recente, em relação ao período militar, como por exemplo a aceitação do TNP e a inserção nos mecanismos de controle de tecnologias sensíveis. 

O prefácio de Rubens Ricupero já levanta uma primeira questão, pertinente, quanto ao título desta obra em três volumes, que vai da morte do Barão até a atualidade (estando seu autor ocupado agora na feitura do terceiro). Compreende-se a designação de “sucessores” para aqueles que ocuparam, na primeira metade do século XX, a chefia da chancelaria brasileira, quando a presença de Rio Branco era uma sombra gigantesca a apequenar a obra dos que lhe seguiram imediatamente. Mas, como atribuir a mesma classificação aos condutores das relações exteriores em meados da segunda metade desse século, quando os problemas regionais e internacionais enfrentados pelo Brasil eram bastante diferentes daqueles que tinham mobilizado a atenção do grande chanceler? Recorda Ricupero, a esse propósito, a frase de um humorista argentino sobre “los venidos a más”, como a sugerir que todos os chanceleres, depois do Barão, terão sido meramente “suplementares”. 

A rigor, os “herdeiros involuntários” enfrentaram problemas similares: as relações sempre delicadas com os vizinhos da América do Sul, a começar pela Argentina; a indiferença das grandes potências em face das pretensões do Brasil no sentido de querer ocupar um espaço mais afirmado na cena internacional (ou seja, a busca de um statuspreeminente na Liga das Nações e, depois e ainda hoje, no CSNU); o acesso a tecnologias sensíveis, geralmente cerceado pelas mesmas potências; o aproveitamento dos recursos energéticos no entorno geográfico; a defesa contra choques adversos vindos do cenário internacional (no plano financeiro, no comercial e no do, então indispensável, petróleo); o alinhamento, enfim, com os pequenos (países em desenvolvimento) ou o “desalinhamento” com os grandes, como opções basicamente políticas, quando não de origem econômica e tecnológica. Esses mesmos problemas ocuparam todos e cada um dos “seguidores” do Barão, em intensidade variável segundo as épocas, com destaque para os formidáveis desequilíbrios e as carências temporárias – nossa tradicional “vulnerabilidade externa” – introduzidos a partir de 1929 e, sobretudo, no decurso da Segunda Guerra Mundial. 

Mas, as condições externas, o ambiente regional, as circunstâncias históricas e, sobretudo, a situação econômica e a política doméstica foram fundamentalmente diferentes, para esses “sucessores” do período militar, do que elas tinham sido para os titulares da chancelaria brasileira na primeira metade do século XX. Estes não cabiam nos “sapatos” do Barão, tão impressionante tinha sido a sua presença à frente do Itamaraty entre 1902 e 1912 – e certamente desde antes, na resolução de várias pendências lindeiras –, mas os segundos, constrangidos pela geopolítica algo maniqueísta do período militar, foram, mais do que sucessores, um conjunto heteróclito de herdeiros distantes do Barão do Rio Branco. A sucessão, se o termo se aplica, se justificaria, provavelmente, pelo que Ricupero chama de “paradigma Rio Branco” – uma agenda institucional fixada pelo próprio Itamaraty, raramente deixada, portanto, ao humor mutável de políticos ignorantes em política internacional – e a notável continuidade que isso implicou para a nossa política externa. De fato, o termo sucessores só se compreende nessa perspectiva, a de uma mesma linha de atuação ao longo do tempo, o que nem sempre foi o caso de nossos vizinhos mais voláteis politicamente e, em conseqüência, mais erráticos em suas respectivas diplomacias. 

Lido o prefácio de Ricupero e a introdução do autor – que ressalta os elementos principais da cronologia econômica e política desses anos –, recomenda-se ao leitor saltar ao epílogo, pois ali se faz uma síntese das diferenças e particularidades daquela época em relação às ulteriores, o que permitirá começar a ler os capítulos vinculados a cada chanceler com uma noção do que é permanente e do que foi diferente no tocante aos problemas enfocados, seja no plano sincrônico, seja em perspectiva diacrônica. Permito-me transcrever dois trechos importantes desse epílogo: “Apresentar balanço da política externa executada pelos Sucessores do Barão durante o regime militar brasileiro constitui tarefa complexa, pois a leitura dos fatos ocorridos no período entre 1964 e 1985 não permite julgamentos categóricos, uma vez que não houve uniformidade nas ações diplomáticas, embora tenham se apresentado algumas características constantes. A falta de uniformidade se evidencia quando se compara, por exemplo, de um lado a prioridade dada ao relacionamento com os Estados Unidos durante o governo Castello Branco (especialmente com Juracy Magalhães) e, de outro, a distância entre Washington e Brasília durante os governos de Geisel e Carter. As diferenças aparecem também no relacionamento com Portugal e territórios de expressão portuguesa, bem como na política com relação ao Oriente Médio que passou de eqüidistância para claro apoio a várias das teses árabes e palestinas” (p. 439). Fernando Mello Barreto chama a atenção, logo em seguida, para a constância do binômio “segurança com desenvolvimento”, que seria o mote do governo militar, manifestada na vertente externa pela defesa acirrada da soberania nacional, embora comprometida esta pelas nossas limitadas possibilidades de mudar, de modo sensível, o sistema internacional. 

A transcrição do penúltimo parágrafo oferece um balanço honesto da diplomacia do período militar: “Apesar dos enormes obstáculos econômicos externos que enfrentou a diplomacia, sobretudo no final do período, a política externa do período militar alcançou os objetivos a que se propôs: o Brasil se manteve distante de conflitos internacionais (não enviou tropas ao Vietnã e sua ação militar se limitou à liderança de forças interamericanas na República Dominicana); aproximou-se de seus vizinhos (inclusive a Argentina no último governo do período); assegurou a cooperação amazônica; ampliou as exportações para além de fronteiras ideológicas; neutralizou as ações argentinas contrárias à construção de Itaipu; manteve o fornecimento de petróleo pelos países árabes e resistiu às pressões americanas contrárias ao acordo nuclear com a Alemanha” (p. 495-6). O autor relembra que algumas dessas posturas seriam revistas posteriormente – como a recusa do TNP, a aceitação do sionismo como uma forma de racismo e a resistência soberanista no tratamento das questões ambiental e dos direitos humanos –, objeto de um terceiro volume da obra, que ele fica nos devendo. 

Feito o balanço sumário e incorporada essa perspectiva abrangente da política externa no período militar, cabe agora ao leitor penetrar na leitura detalhada de cada um dos capítulos, que não são numerados nem datados, levando simplesmente os nomes dos titulares da chancelaria. Vasco Leitão da Cunha, da carreira diplomática, inaugura o período, com uma “nova política externa”, na verdade uma volta ao velho alinhamento diplomático com os EUA, política que se acreditava superada a partir da “política externa independente” de Jânio e Jango. Estávamos em plena Guerra Fria e o problema de Cuba dominou as relações interamericanas durante a maior parte da década. Juracy Magalhães, militar e político, foi o segundo chanceler da presidência Castello Branco, tendo ficado tristemente famoso pela frase segundo a qual “o que [era] bom para os EUA, é bom para o Brasil”, o equivalente, como lembra Ricupero, das “relações carnais” que o governo Menem quis ter com os EUA, de uma fidelidade canina ao chamado Ocidente.

O governo Costa e Silva introduz a “diplomacia da prosperidade”, conduzida pelo político e banqueiro Magalhães Pinto. Ocorre, então, uma volta a padrões autônomos de política externa, que, se não chega a ser tão “independente” quanto à do início da década, pratica o “desalinhamento” da recusa ao TNP e o desenvolvimentismo do início da NOEI, a “nova ordem econômica internacional”, que seria mais tarde enterrada por Reagan e Tatcher. A “nuclearização pacífica” do Brasil, prometida por Magalhães Pinto em abril de 1967, logo se chocaria com a realpolitik dos EUA: o Brasil mantinha a posição oficial de que explosões “pacíficas” poderiam ser empregadas em “grandes obras de engenharia, [para] interligar bacias fluviais, abrir canais e portos, consertar enfim a geografia” (p. 128).

Gibson Barboza, diplomata de carreira, foi o chanceler do presidente Médici, na fase mais dura do regime militar, também a de maior crescimento econômico. A despeito do fechamento do governo no binômio “segurança e desenvolvimento” e da disseminação de regimes militares na América Latina, o Itamaraty, paradoxalmente, nunca foi tão livre para conduzir uma diplomacia essencialmente profissionalizada e extremamente ativa, em quase todos os cenários abertos à sua atuação, entre eles o da África. Os EUA continuavam a se opor à política nuclear do Brasil, mas Nixon, de maneira infeliz, proclamou a liderança brasileira na região, o que certamente prejudicou muito os esforços então empreendidos pelo Itamaraty para a integração física do continente. 

Azeredo da Silveira, outro diplomata de carreira, ocupou a chancelaria sob Geisel, o mais desenvolvimentista dos presidentes e o mais interessado em política externa. Todo o governo foi marcado pelo primeiro choque do petróleo, pelo reconhecimento da China e pela guerra civil angolana, temas que mobilizaram intensamente a diplomacia, colocada sob a égide do “pragmatismo responsável”. Silveira presidiu à expansão do serviço exterior e aproximou-o ainda mais dos países em desenvolvimento, mesmo sob críticas internas de setores da direita. Fernando Mello Barreto caracteriza a política externa regional, nessa época, como de “dificuldades platinas e êxito amazônico” (p. 245), em alusão às disputas com a Argentina sobre o aproveitamento dos recursos hidroelétricos do Paraná e à conclusão do Tratado de Cooperação Amazônica. Persistiram os conflitos com os EUA, sobretudo depois da assinatura do acordo nuclear com a Alemanha (1975) e da cessação, por rompimento brasileiro, do acordo militar com os EUA (1977).

Saraiva Guerreiro, também de carreira, foi o último chanceler da era militar, atuando sob o impacto da segunda crise do petróleo e da crise da dívida externa, mas com certa independência, uma vez que o general Figueiredo não se envolvia muito em temas diplomáticos. A política externa foi então considerada como sendo “universalista”, mas o seu principal feito foi mesmo começar o período concluindo um acordo com a Argentina e o Paraguai em torno da questão de Itaipu (1979). Ainda mais surpreendente, foram assinados acordos de cooperação militar e nuclear com o vizinho platino, bases de todo o processo ulterior de cooperação e de integração. Como demonstra Mello Barreto, durante todo o regime militar o PIB brasileiro faria um progresso espetacular, ao passo que o argentino praticamente estagnou. A seção econômica nesse capítulo é a mais longa do livro et pour cause: nunca o Brasil enfrentou tantos problemas como nos anos 1980, com declínio do PIB e aumento da dívida externa. O fim do regime militar e a transição para a democracia no Brasil coincidiu, no plano mundial, com o início do fim do socialismo enquanto regime alternativo ao capitalismo: novos tempos e novas políticas, de que o autor tratará em seu terceiro volume. 

Ricupero sublinha com razão, em seu prefácio, a “solidez do levantamento cuidadoso do encadeamento dos acontecimentos”, a “linguagem clara, direta e sem obscuridades com que a narrativa articula os fatos e decisões mais importantes”, a “rica documentação que ampara e fundamenta cada etapa da construção da trama expositiva, com farta utilização dos mais expressivos e reveladores trechos de discursos e documentos da época, bem como a exaustiva fundamentação do texto em notas de origem ou elucidativas, as quais chegam, em certos capítulos, a mais de 600”. Não se pode deixar de concordar com ele em que se trata de “trabalho pioneiro sobre período histórico ainda próximo, e por isso mesmo, percebido confusamente como magma de lembranças sem forma definida”. Impossível, tampouco, não concluir com Ricupero: “Será, por muito tempo, creio, a obra insubstituível para encetar o estudo de um dos períodos da história da política exterior do Brasil com implicações mais determinantes para a fase que vivemos hoje”. Um importante instrumento de trabalho para os pesquisadores, o índice remissivo, ausente da maior parte dos livros publicadas no Brasil, completa este volume, que passa a figurar em plano elevado na bibliografia especializada. Que venha logo o terceiro volume!

 

Paulo Roberto de Almeida

[Brasília, 4 novembro 2006]

Revista Política Externa (São Paulo: vol. 15, n. 3, dez. 2006-fev 2007, p. 191-196; ISSN: 1518-6660). Versão resumida publicada, sob o título de “Diplomacia durante a ditadura”, na revista Desafios do Desenvolvimento (Brasília: ano 3, nº 29, dezembro 2006, p. 63). Plenarium (Brasília: Câmara dos Deputados; ano V, n. 5, maio 2008, p. 310-315; ISSN: 1981-0865).





segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Meu projeto de obra sobre o "pensamento diplomático brasileiro" no período militar (1964-1985) - Paulo Roberto de Almeida

 Um colega acadêmico descarregou um trabalho meu, na verdade um projeto de livro do qual eu NÃO pretendia participar, uma obra que daria continuidade à obra Pensamento Diplomático Brasileiro (1750-1964), da qual fui um dos proponentes e animadores.

Não pretendia participar pois pressenti que seria uma obra deformada, em 2016 provavelmente, e agora certamente. Mas, como insistiram comigo, uma vez que eu havia praticamente estimulado a obra acima referida, acabei preparando uma projeto, mas explicitando que NÃO iria colaborar com ela, pois já imaginava os problemas que teria uma obra sobre a diplomacia do regime militar feita principalmente por diplomatas (sempre subservientes ao poder e aos poderosos).

O trabalho está disponível no seguinte link: 

https://www.academia.edu/38056037/Pensamento_Diplomatico_Brasileiro_o_periodo_autoritario_1964_1985_2016_

Abaixo transcrevo apenas o sumário e depois o esquema da obra (que obviamente NUNCA seria feita, e obviamente não segundo minhas sugestões). Algum desses dias eu faço essa obra, ao meu estilo.

Paulo Roberto de Almeida

Pensamento Diplomatico Brasileiro: o periodo autoritario (1964-1985) (2016)

2016, Pensamento Diplomatico Brasileiro: o periodo autoritario (1964-1985)
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Brasília, 14 de julho de 2016. 
(texto preliminar; sujeito a revisão substantiva) 
"A melhor tradição do Itamaraty é saber renovar-se." 
Antônio F. Azeredo da Silveira 

Os objetivos desde documento preliminar de planejamento são os de apresentar algumas reflexões em torno do conceito e da temática indicados no título e de formular, tentativamente, propostas de organização e um esquema para a possível composição de um segundo conjunto de textos vinculados sequencialmente à obra Pensamento Diplomático Brasileiro, formuladores e agentes da política externa, 1750-1964 (Brasília: Funag, 2013, 3 vols.; ISBN: 978-85-7631-462-2), organizada pelo ex-presidente da Funag (2012-2014), embaixador José Vicente Pimentel, da qual fui um dos primeiros propositores e um dos colaboradores, ao lado de diversos outros colegas de carreira e de representantes da academia. 
Trata-se da continuidade desse projeto exitoso, que parece ter encontrado vasto e positivo acolhimento por parte da comunidade brasileira trabalhando ou se exercendo academicamente na área, que justamente parece estar reivindicando o seu prosseguimento no período ulterior àquele da primeira obra, desta vez cobrindo as duas décadas do regime militar brasileiro. 
Este texto está dividido nas seguintes partes: uma primeira, de reflexões sobre a noção de "pensamento diplomático brasileiro", tal como suscetível de cobrir um amplo espectro de formulações e ações diplomáticas brasileiras, disseminadas por diferentes orientações de política externa, com atores diversos ao longo de um período bastante complexo-certamente excepcional-da história do Brasil; uma segunda, que busca capturar os elementos essenciais do período em questão (1964-1985), evidenciando alguns dos traços distintivos de sua política externa e da participação do estamento diplomático em sua formulação e execução; e uma terceira, que propõe um esquema preliminar sobre o que se poderia chamar de "índice de matérias" do que seria esse novo volume de um projeto que teve um início auspicioso, e que se espera possa apresentar continuidade adequada, antecipando, inclusive, uma possível continuidade (um terceiro volume) para o período subsequente, eventualmente chegando à atualidade. Segue-se uma bibliografia e uma cronologia.


Pensamento Diplomático Brasileiro: o período autoritário (1964-1985)

Esquema tentativo

 

1. Prefácio (apresentação da obra, conexões com PDB-1 e características deste PDB-2)

2. Introdução conceitual: existiu um “pensamento diplomático” específico à era militar?

 

Parte I: A diplomacia e a política externa antes da era militar

3. O Brasil, a América Latina e o mundo no início dos anos 1960: contextualizações

4. O desenvolvimento econômico brasileiro e suas principais conexões internacionais 

5. A Política Externa Independente e a diplomacia profissional antes do golpe militar

 

Parte II: A ruptura que deveria ser breve (1964-67)

6. O golpe militar no contexto da Guerra Fria: uma decorrência da revolução cubana?

7. Impacto inicial sobre a política externa e a diplomacia: principais mudanças

8. O alinhamento da primeira fase e o debate no Congresso e na sociedade

9. A diplomacia brasileira e o início do debate sobre a ordem econômica mundial

10. Os chanceleres Vasco Leitão da Cunha e Juracy Magalhães: perfis biográficos

 

Parte III: A radicalização política e a recuperação diplomática (1967-1971)

11. A política externa a partir de 1967: recuperação do desenvolvimentismo

12. A busca da autonomia nuclear, Tlatelolco e a recusa do TNP

13. A política comercial externa e os subsídios à exportação: a agenda do GATT

14. Capacitação científica e tecnológica e os parceiros da cooperação bilateral

15. O milagre brasileiro e a atração de capitais: IED e empréstimos externos

16. A questão nuclear na primeira fase do regime: Sérgio Correa da Costa

17. A diplomacia regional da primeira era militar: um continente em chamas?

18. A diplomacia do Prata e seus principais arquitetos diplomatas

 

Parte IV: A diplomacia brasileira e seus principais desafios (1971-74)

19. A ideologia da segurança nacional e o desafio guerrilheiro: o problema cubano

20. Direitos humanos e repressão política: os contenciosos internacionais

21. Intervenções clandestinas no entorno regional: contrariando a Constituição?

22. A economia política internacional do Brasil: comércio, finanças, investimentos

23. O primeiro choque do petróleo e a aposta no modelo de desenvolvimento

24. A diplomacia multilateral no início dos anos 1970: o fim de Bretton Woods

25. O chanceler Gibson Barbosa, a diplomacia africana e os grandes temas do Prata

26. O tratado de Itaipu Binacional, com o Paraguai, e as relações com a Argentina

 

Parte V: A diplomacia do pragmatismo responsável (1974-79)

27. Características gerais da mais dinâmica diplomacia do período militar

28. A diplomacia do presidente Geisel e do chanceler Silveira: perfis biográficos

29. Contexto internacional e regional da política externa brasileira na era Geisel

30. Os grandes projetos de desenvolvimento e sua interface externa

31. O estabelecimento de relações diplomáticas com a República Popular da China

32. O Acordo Nuclear com a República Federal da Alemanha e reações americanas

33. O reconhecimento da independência de Angola e suas implicações diplomáticas

34. A política comercial externa na era dos choques do petróleo

35. A controversa declaração de voto na ONU sobre o sionismo

36. Exportações de armamentos e cooperação com “estados vilões”

37. Memorando de Consultas Políticas com os EUA: uma relação especial?

38. Os direitos humanos e a denúncia do Tratado de Assistência Militar com os EUA

39. O Tratado de Cooperação Amazônica (1978) e seu significado regional

40. O esgotamento do modelo econômico e o caminho da abertura política

 

Parte VI: A diplomacia da transição numa era de crises econômicas (1979-1985)

41. O acordo tripartite Itaipu-Corpus (1979) e a diplomacia do equilíbrio hidrográfico

42. O segundo choque do petróleo e seus reflexos diplomáticos: a fragilidade brasileira

43. A crise da dívida externa e a diplomacia da dívida: a dependência brasileira

44. A América Latina começa a diversificar seus modelos de políticas econômicas

45. O despertar da China, o declínio soviético e seus reflexos na política mundial

46. O multilateralismo econômico: do fim de Bretton Woods às crises do GATT

47. O conflito das Malvinas e o fim da solidariedade hemisférica: como o Brasil reagiu

48. O protecionismo comercial brasileiro e as relações com o FMI

49. Transições democráticas e a mudança de padrões diplomáticos ao final do regime

50. Saraiva Guerreiro e seus principais assessores diplomáticos: breves perfis

 

Parte VII: Balanço da diplomacia e da política externa na era militar

51. Mudanças nos contextos internacional e regional dos anos 1960 aos 80

52. Alterações do ambiente econômico externo num período de duas décadas

53. A situação da América Latina em perspectiva internacional comparada

54. O declínio do dirigismo econômico, o neoliberalismo e a ascensão da Ásia

55. A diplomacia profissional brasileira, seu papel e status político na era militar

56. O que mudou, o que ficou? Continuidades e rupturas da política externa

 

57. Conclusões tentativas: o que foi o “pensamento diplomático” da era militar?

58. Fontes e bibliografia

59. Cronologia do período; chanceleres e secretários-gerais do Itamaraty

60. Notas sobre os autores e colaboradores

 


3012. “Pensamento Diplomático Brasileiro: o período autoritário (1964-1985)”, Brasília, 13 julho 2016, 43 p. Proposta de trabalho para a Funag, no seguimento do primeiro projeto, que cobriu o período 1750-1964. Entregue ao presidente da Funag, sem intenção de participar. Partes servindo de subsídio para redação de um capítulo sobre as relações internacionais do Brasil durante o regime militar brasileiro, para obra coletiva sob a direção de Jorge Ferreira e Lucilia de Almeida Neves Delgado Brasil Republicano (Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2003, 4 vols., várias edições e reimpressões). Projeto em curso. Utilizado para compor trabalho para a II Jornada de Pensamento Político Brasileiro (IESP-UERJ), em 2017 (n. 3112).