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terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

Os direitos "verdadeiramente" humanos dos governos Trump e Bolsonaro - Jamil Chade

EUA discutem redefinir direitos humanos no mundo; Brasil vê processo "útil"

Jamil Chade
UOL notícias, 18/02/2020
03.jan.2020 - Os ministros Henrique Mandetta (Saúde) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) durante apresentação da Campanha de Prevenção à Gravidez na Adolescência - Pedro Ladeira/Folhapress
03.jan.2020 - Os ministros Henrique Mandetta (Saúde) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) durante apresentação da Campanha de Prevenção à Gravidez na Adolescência Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress
O governo dos EUA prepara uma redefinição do que são os direitos humanos, num processo que pode ter um impacto global. Longe dos holofotes, a Casa Branca costura um esforço inédito para colocar limites às novas reivindicações dos direitos humanos e realizar a maior revisão do termo desde a assinatura em 1948 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma espécie de bússola da humanidade depois dos horrores da Segunda Guerra Mundial.
Em meados do ano passado, a Casa Branca criou a Comissão sobre Direitos Inalienáveis e seus dez membros ganharam o mandato de redefini-los.

Para os críticos e especialistas, o esforço de focar os trabalhos em "direitos inalienáveis" é, na realidade, uma tentativa de restringir os direitos que o governo tem a obrigação de proteger. Poderiam ser afetados direitos sexuais e a proteção de minorias, entre elas a comunidade LGBTQ e imigrantes.

A coluna apurou que o processo passou a ser acompanhado com grande interesse pelo Itamaraty e pelo Ministério dos Direitos Humanos. O governo brasileiro chegou a enviar representantes às reuniões do grupo, em Washington.
Procurado pela reportagem, o Itamaraty indicou que "as audiências são abertas ao público, inclusive para a participação de representações diplomáticas estrangeiras. Como diversos outros países, o Brasil recebeu convite para acompanhar as discussões".
Em dezembro do ano passado, o país enviou delegação à sessão que tratou de temas da pauta internacional. "O governo brasileiro entende que a comissão foi estabelecida para responder a questionamentos específicos dos EUA. Isso não obstante, considera que os trabalhos da comissão poderão ser úteis para o Brasil", confirmou o governo.
O Itamaraty fez questão de ressaltar que, conforme estabelecido na Declaração de Viena, o governo brasileiro "reitera o entendimento de que os direitos humanos são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados".

Mulher-forte do governo Bolsonaro

A representante do Brasil no evento foi a secretária nacional da Família do governo, Angela Gandra Martins, que viajou até a capital americana para acompanhar as reuniões.
Ela é considerada dentro da diplomacia brasileira como a pessoa que, de fato, determina e conduz a agenda de costumes e valores no governo, além de transitar com facilidade nos meios conservadores americanos. Damares Alves, a ministra, seria apenas uma figura popular para encabeçar essa agenda.
"O governo brasileiro acompanha com interesse os trabalhos da Comissão de Direitos Inalienáveis do Departamento de Estado dos EUA", declarou o ministério dos Direitos Humanos, numa nota enviada à reportagem." Os trabalhos da Comissão, contudo, visam subsidiar o secretário de Estado Mike Pompeo na condução da política externa dos EUA. Trata-se, portanto, de uma iniciativa interna do governo norte-americano, cujos resultados ainda são desconhecidos", insistem.
A pasta indica que, por se tratar de uma iniciativa interna do governo dos EUA, o ministério "não foi chamado a apoiar os trabalhos da Comissão". Mas deixa claro que está alinhado com o esforço.
"O governo brasileiro tem um compromisso fundamental com a defesa dos direitos humanos, entendidos como universais, indivisíveis, interdependentes e interrelacionados, e vê oportuna a necessidade de aprofundar neles para melhor compreensão diante de variadas mudanças, maior respeito a soberania dos Estados e melhor integração e solidariedade internacional em sua defesa", declarou. Angela Gandra Martins se reuniu em um jantar com Mary Ann Glendon, a pessoa escolhida pela Casa Branca para liderar o processo. O governo apenas explicou que a secretaria, por também ser professora de Filosofia do Direito, "conhecia já a presidente da Comissão devido a estudos em sua Universidade e jantou com ela".
Glendon é a ex-embaixadora do governo de George W. Bush junto ao Vaticano. Conservadora, ela causou polêmica no meio acadêmico ao recusar um título da Universidade de Notre Dame no ano em que o presidente Barack Obama faria um discurso sobre direitos reprodutivos.
Nos anos 90, ela teceu duras críticas às Nações Unidas. "Precisamos levantar a questão se essas organizações defendem as famílias ou se as famílias precisam ser defendidas contra elas", disse.
Uma década depois, ela apoiou a tentativa de Bush de aprovar uma emenda à Constituição americana para definir o casamento como um ato entre um homem e uma mulher. Num artigo, ela sugeriu que quem defende o casamento homossexual usa os "direitos civis" como forma de obter "preferências especiais".
Segundo ela, ao aceitar o casamento gay, a sociedade estaria criando uma discriminação contra todos aqueles que participam de uma religião que é contrário ao ato. Nos últimos anos, a professora de Harvard também causou indignação de ativistas ao sugerir a flexibilização dos direitos universais para acomodar tradições locais.

"Prioridades políticas questionáveis"

Ao lançar o projeto, o secretário de Estado norte-americano, Mike Pompeo, alerta que "nas últimas décadas, temos ficado confusos sobre direitos". "Apelos por direitos têm moldado nossos debates políticos. Mas não é sempre claro se estamos falando de direitos fundamentais e universais, ou de prioridades políticas questionáveis, ou apenas preferências pessoais", disse.
Segundo ele, a reivindicação por direitos "explodiu" nos últimos anos. Ele aponta que, entre a ONU e o Conselho da Europa, existem 64 acordos relacionados aos direitos humanos, com 1.300 itens.
"Órgãos internacionais designados a proteger os direitos humanos tem saído do caminho de suas missões ou foram corrompidos", criticou.
Sua visão e da Casa Branca é de que as escolas deixaram de ensinar os princípios sobre os quais os EUA foram fundados, um apelo ao passado. "Chegou a hora de fazer algumas perguntas", declarou.
Mas a Casa Branca não espera que o trabalho da comissão determine apenas o que existe dentro das fronteiras americanas. "Esperamos que ela (a comissão) gere um debate sério sobre direitos humanos que se estenda além das posições dos partidos e fronteiras nacionais", disse Pompeo, que aposta no trabalho dos especialistas para marcar o "legado americano" pelo mundo.
A coluna apurou que um dos focos do lobby americano é o governo brasileiro de Jair Bolsonaro, que acaba de ser eleito para mais dois anos no Conselho de Direitos Humanos da ONU. Por uma questão de defesa de Israel, a administração Trump decidiu se retirar do órgão. Mas deixou dentro da sala alguns de seus maiores aliados, entre eles o Brasil, Polônia e República Tcheca. Nos últimos meses, a Casa Branca já garantiu a presença do Brasil em declarações conjuntas que visavam questionar a reivindicação de "novos direitos", principalmente na área de saúde.
São governos que assumem uma postura sobre costumes e valores próximas às ideias da administração conservadora de Trump. Entre os pontos defendidos está o combate a qualquer brecha que se permita falar de "igualdade de gênero", direitos reprodutivos e mesmo educação sexual completa.

Processo não tem supervisão, dizem democratas

A iniciativa americana, porém, tem gerado duras críticas por parte de organizações que formam o pilar internacional dos direitos humanos. O temor é de que a nova comissão e as novas alianças internacionais caminhem para o estabelecimento do direito natural como base de uma ofensiva conservadora.
Numa recente audiência diante da comissão, o diretor-executivo da Human Rights Watch, Kenneth Roth, afirmou estar preocupado com o destino do trabalho encomendado pelo governo americano. Sua avaliação era de que o fracasso dos direitos humanos estava relacionado à incapacidade de governos de cumprir o que já estava estabelecido como tal. E não por conta da criação de novos direitos, como sugeria Pompeo.
Ele ainda alertou que o que saísse daquela comissão teria o potencial de ter um impacto global, principalmente depois que o Departamento de Estado deixou claro que as conclusões dos trabalhos ajudariam a nortear a diplomacia americana.
Num recente artigo escrito para o Washington Post, a escritora Katherine Marino alertou que a iniciativa era uma ameaça à igualdade sexual, direitos LGBTQ e saúde reprodutiva. Ela lembra que, para Glendon, nem todos os direitos das mulheres deve ser considerado como um direito universal.
Marino ainda advertia que tais posturas, uma vez assimiladas à política externa americana, legitimaria o corte de verbas do governo para programas no exterior que pudessem ser entendidos como pró-aborto.
Já a Anistia Internacional insistiu que simplesmente não existe motivo para rever o arcabouço dos direitos humanos. "Este governo tem trabalhado ativamente para negar e retirar as proteções de direitos humanos", disse Joanne Lin, representante da Anistia.
Dentro dos EUA, a iniciativa também gerou críticas. Senadores democratas enviaram uma carta atacando o fato de que o processo está ocorrendo sem a supervisão do Congresso. De acordo com o documento, uma parcela dos membros "tem opiniões hostis aos direitos das mulheres ou apoiam posições contrárias às obrigações do tratado dos EUA".
Ainda assim, o governo americano vai adiante com a ideia que tem o potencial de redefinir o conceito de direitos humanos no mundo.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Neste dia na Historia: Declaracao Universal dos Direitos do Homem, 1948 (NYT)

On This Day: December 10

NYT Front Page
On Dec. 10, 1948, the U.N. General Assembly adopted its Universal Declaration on Human Rights.

Human Rights Declaration Adopted by U. N. Assembly



By JOHN KENTON
Special to THE NEW YORK TIMES
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TWU Ousts 16 Leftist Organizers; Quill Admits '47 Subway Slowdown
Paris, Dec, 10--A universal Declaration on Human Rights nearly three years in preparation, was adopted late tonight by the United Nations General Assembly. The vote was 48 to 0 with the Soviet bloc, Saudi Arabia and the Union of South Africa abstaining.
[The draft text of the Declaration of Human Rights was published in The New York Times Dec. 7.]
The declaration is the first part of a projected three-part International Bill of Rights. The United Nations now will begin drafting a convention that will be a treaty embodying in specific detail and in legally binding form the principles proclaimed in the declaration. The third part will be a protocol for implementation of the convention possibly by such measures as establishment of an International Court of Human Rights and an International Committee of Conciliation.
The Assembly accorded an ovation to Mrs. Franklin D. Roosevelt when Dr. Herbert V. Evatt, the Assembly's president, after declaring the declaration adopted, paid tribute to the first chairman of the Human Rights Commission for her tireless efforts in the long process of drafting the document.
"She has raised a great name to an even greater honor," Dr. Evatt said of the United States delegate.
Dr. Evatt also singled out for praise Dr. Charles Malik of Lebanon, first rapporteur of the Human Rights Commission and chairman of this Assembly's Social, Humanitarian and Cultural Committee that spent nearly three months in word-by-word redrafting of the text.
Before the vote Deputy Foreign Minister Andrei Y. Vishinsky of Russia made a final effort to avert adoption of the declaration. He said that the document seemed to support the view that the conception of sovereignty of governments was outdated. He declared that only within the framework of government did human rights have a meaning.
Mr. Vishinsky urged adoption of a Soviet resolution submitted yesterday calling the declaration "unsatisfactory and requiring considerable amendment" and proposing to defer further consideration until the fourth Assembly next fall. Failing to get postponement, he asked the Assembly at least to accept a series of Soviet amendments to the text that would improve the declaration from the Russian viewpoint.
The Russian postponement resolution was rejected, 45 to 6, with 3 abstentions. Four Soviet amendments proposing new texts for the four articles to which the Russian bloc objected most strenuously were defeated by almost as decisive a margin.
The only amendment accepted was a British proposal to reword the declaration's colonial clause.
Article three of the declaration as completed by the Social Committee read: "The rights set forth in this declaration apply equally to all inhabitants of trust and non-self- governing territories." This was deleted and in its place substituted a second paragraph of Article 2, reading:
"Furthermore no distinction shall be made on the basis of political, jurisdictional or international status of the country or the territory to which a person belongs whether it be an independent, trust or non-self-governing territory or under any other limitation of sovereignty."
The Assembly then reached the stage of voting on the draft declaration itself and Dr. Julius Katz-Suchy of Poland asked for a vote article by article. Most articles simply were approved in silence when Dr. Evatt called for objections and the rest by a show of hands.
The final vote on the entire text was taken at four minutes before midnight.
"History will regard this proclamation as one of the outstanding achievements of the United Nations since its establishment," Dr. Evatt told the Assembly." During the past year there has been much unfair criticism of activities of the United Nations and in some quarters pessimism has been expressed as to its usefulness.
"This pessimism flows for the main part from difficulties which the United Nations has experienced in the political field. The Declaration on Human Rights is the result of two and a half years of unspectacular but important work in the social, humanitarian and cultural fields.
"This is the first occasion on which the organized international community of nations has made a Declaration on Human Rights and fundamental freedoms. It therefore has all the authority of a collective body of opinion of the United Nations as a whole. It is to this document that millions of men and women in countries far distant from Paris or New York will turn for hope and guidance and inspiration."