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segunda-feira, 9 de abril de 2012

Os "iguais" e os "mais iguais": ainda bem que Orwell nao entra...

Essa conversa de iguais é isso mesmo, uma conversa...
O resto é... realidade...
Paulo Roberto de Almeida

Em reunião com empresários nos EUA, Dilma propõe 'diálogo entre iguais'

Discurso animou empresários prejudicados pelo discurso antagonista aos EUA do governo Lula

08 de abril de 2012 | 22h 29
Denise Chrispim Marin e Vera Rosa, de O Estado de S. Paulo
WASHINGTON - Em reunião com 23 empresários brasileiros, na noite deste domingo, 8, a presidente Dilma Rousseff afirmou que seu governo pretende construir um "diálogo entre iguais" e uma relação mais ampla com os Estados Unidos. Em mais de uma hora de conversa, com um longo beija-mão ao final, Dilma salientou a oportunidade aberta pela recuperação gradual do mercado americano e por seu elevado potencial no campo da inovação tecnológica. Alertou os empresários, porém, sobre a necessidade de o Brasil recuperar os níveis históricos de exportação de manufaturas aos EUA, conforme relato de um participante da reunião.
Dilma recebeu empresários brasileiros no hotel onde está hospedada - Dida Sampaio/AE
Dida Sampaio/AE
Dilma recebeu empresários brasileiros no hotel onde está hospedada
Para a presidente, será imprescindível para o setor privado brasileiro aprofundar sua parceria com o americano. Sua mensagem animou especialmente os empresários mais prejudicados pelo discurso antagonista aos EUA do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. "O tom político mudou. Voltamos aos tempos anteriores ao Lula", festejou um empresário ao Estado. "O mundo está se dividindo em blocos regionais. Há o asiático e o europeu, e não nos resta alternativa senão integrar as Américas. A resistência do governo em se aliar aos EUA é ridícula", afirmou outro líder empresarial.
Dilma elogiou ainda a capacidade de os EUA enfrentar a crise econômica mundial e sair de turbulências e disse que, nesse capítulo, todos têm muito a aprender com os norte-americanos. Do lado dos empresários, Dilma ouviu queixas pelo menos cinco temas específicos. Em especial, um pedido para insistir, na conversa de segunda-feira, 9, com o presidente dos EUA, Barack Obama, na necessidade de conclusão do acordo para eliminar a bitributação das empresas.
O presidente da Coteminas, Josué Gomes da Silva, insistiu na demora no processo de emissão de patentes de novos produtos no Brasil e na inexistência de um acordo para evitar a bitributação entre os dois países. O primeiro depende da reforma dos procedimentos adotados pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), e o segundo diz respeito a uma negociação iniciada no final dos anos 90 e sem chances de ser concluída por impasse entre as posições da Receita Federal e do americano IRS.
Marco Stefanini, presidente da Stefanini IT, insistiu na necessidade de investimento em inovação no campo da tecnologia de informação. Mas, no debate, foi acentuada a via da maior presença das empresas nas pesquisas das universidades brasileiras e da mudança dos critérios para medir a produtividade dos cientistas. Dilma concordou e afirmou ser preciso o aumento do "apetite" das empresas por inovação . O presidente da Braskem, Fernando Musa, acentuou os benefícios do investimento, neste momento, nos EUA.
Descontraída, Dilma lembrou que participa dos  fóruns de altos executivos (CEOs) dos dois países desde que era ministra-chefe da Casa Civil, no governo Lula. Um empresário observou, então, que o fórum "dá sorte" porque Dilma era chefe da Casa Civil e hoje é presidente. Antônio Patriota, por sua vez, era embaixador do Brasil nos Estados Unidos na época e, agora, é o ministro das Relações Exteriores.
"Quando Lula esteve aqui, havia problema com o suco de laranja, que hoje não tem mais, e também da carne, que hoje está diminuindo", comentou o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade. "Hoje, o Brasil é a sexta economia do mundo e queremos que seja considerado como um país de primeira classe mundial."
 Para Andrade, a mensagem de Dilma foi a de que é preciso unir esforços com os Estados Unidos para enfrentar a crise econômica. "A América tem de liderar a recuperação mundial", argumentou Andrade.

A "relacao especial" que se especializou nos conflitos - Brasil-EUA visto pela Economist

A matéria abaixo, mais analítica do que simplesmente expositiva, toca nos pontos principais dessa relação que já se tentou fazê-la "especial" -- seja nos tempos do Barão, seja durante a ditadura militar, sempre de olho na Argentina -- e que, desde os anos Lula, derivou para gentilezas da parte americana e caneladas da parte brasileira.
Afinal de contas, foram os brasileiros que iniciariam o período de "American bashing" implodindo a Alca, mantendo relações estreitas com inimigos notórios do império como Cuba e Venezuela, fazendo de tudo, em geral, para afastar o império da América do Sul, em particular, e da América Latina, se possível. Foi a dupla Lula-Amorim quem decidiu criar todas as instituições atuais no âmbito sub-regional para que fossem exclusiva e excludentemente antiamericanas, "sem tutela externa", como se dizia na época, ou seja, contra o império.
Interessante seria descobrir o que o Brasil teria mais a ganhar com Venezuela, Cuba ou Irã, do que com o império, em termos concretos, tirando a ilusão de que se pratica uma diplomacia autônoma, "que não pede licença a ninguém" para suas iniciativas, como também se repetia muito nesses tempos de infantilidades anti-imperialistas.
O Brasil, atualmente, se tornou mais dependente da China do que jamais o foi dos EUA, e mesmo nessa "dependência" anterior havia um comércio extremamente diversificado e prometedor. Os companheiros enterraram tudo isso, pensando que a China era uma "aliada estratégica" e deu na situação de hoje, que nos obriga a praticar esse protecionismo tosco e tão míope que ele coloca a culpa nos países europeus e nos EUA, acusando um fantasmagórico "tsunami financeiro" e uma não menos imaginária "guerra cambial" (dos "ricos", entenda-se) como as fontes do problema, quando elas estão inteiramente no Brasil e são agravadas, sim, pelas práticas comerciais e cambias da China (mas disso não se fala um "pingo", o que é amplamente revelador da miopia acima referida).
Quando é que os companheiros vão crescer e aprender algo com o mundo?
Se os diplomatas ajudassem um pouco isso viria mais cedo, mas parece que a timidez de um lado e a ingenuidade de outro vão fazer com que continuemos a ouvir discursos absolutamente irrealistas para nossas relações econômicas internacionais...
Paulo Roberto de Almeida

Dilma Rousseff's visit to America

Our friends in the South

Apr 7th 2012, 14:52 by H.J. | SAO PAULO
BRAZIL has probably never mattered more to America than it does now. America has probably never mattered less to Brazil. Not that relations are bad between the two countries—far from it; they are increasingly cordial and productive. But America has finally, belatedly, woken up to the fact there is a vast, stable country to its south as well as its north; a country, moreover, with a fast-growing and voraciously consuming middle class that seems to offer salvation to American businesses struggling in a moribund domestic market. Brazil, meanwhile, neither needs loans from American-dominated global financial institutions, nor is it otherwise beholden to the country. The United States is no longer even its biggest trading partner. China took that spot in 2009.
A more balanced relationship may be a more fruitful one too. Since Barack Obama’s visit to Rio de Janeiro and Brasília last year, America has delighted Brazil by removing import tariffs on its ethanol and piloting a scheme to make it easier for Brazilians to get visas—two long-standing bugbears. Brazil’s president, Dilma Rousseff, makes a return visit to Washington in the coming week, and there is much to talk about still. What Brazil wants from America above all is endorsement for a seat on the UN Security Council. Britain has already backed its bid, and during his visit to Brazil Mr Obama made baby steps in the same direction, acknowledging Brazil’s “aspiration”, though stopping short of full support.
That support is unlikely to be forthcoming, at least in the near future. Though Brazil is hardly geopolitically troublesome, its worldview—a hard-to-pin-down blend of pragmatism, relativism and a seemingly indiscriminate willingness to be friends with everyone—is unappealing to the United States. The previous president, Luiz Inácio Lula da Silva, was flexible enough to be “my man” to Barack Obama and “our brother” to Fidel Castro. In 2010 Lula stuck his neck out trying to co-broker, with Turkey, an anti-proliferation agreement with Iran’s president, Mahmoud Ahmadinejad. That infuriated countries far more important to Brazil’s strategic interests, and left Lula looking silly when Mr Ahmedinejad made no concessions in return. Ms Rousseff has rowed back from that friendship, but it reinforced an impression that Brazil is unpredictable and naive.
Mr Obama will surely want to know, too, what exactly Brazil means by its big new foreign-policy idea. That is to complement the UN’s justification for intervention in another country’s affairs under the rubric “Responsibility to Protect” with “Responsibility while Protecting” after it has gone in. Since Brazil tends not to support going in in the first place, when would it want to see this new responsibility kick in? Even some experienced and sympathetic diplomatic observers in Brasília say they have no idea what concrete difference this would make on the ground.
For America, trade, not diplomacy, will surely be top of the agenda. Judging from the number of American investors turning up in São Paulo every week, Mr Obama must hear about the glowing opportunities Brazil presents in just about every time he meets businessfolk. But with the most overvalued currency of any big economy, Brazil’s own industrialists are prodding the government to keep imports out. It has hiked already-high tariffs on many imports even further, and is taxing foreign-currency inflows increasingly heavily to keep out speculative inflows. Brazil has made it clear it only wants long-term investment, and is only interested in foreign businesses that are willing to make whatever it is they want to sell in Brazil.
If Mr Obama tries to argue for freer trade, he will get short shrift. Both Ms Rousseff and her finance minister, Guido Mantega, regard the floods of cheap money being pumped out by the Fed and the European Central Bank as a far worse trade distortion than Brazilian barriers, which they term “safeguards” rather than “protectionism”. Brazil’s drift towards protectionism is in fact becoming a problem for its own economy. But that is an argument for another day. Mr Obama will surely be aware there is still a lot of mileage to be got out of helping American companies to set up shop in Brazil.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

O emergente e o imperio: Dilma em Washington

Dois artigos sobre uma visita, que pode ser mais que uma visita, desde que não envolva lições de economia política que não caberia dar ao país que justamente sempre foi um parceiro interessado no progresso das relações econômicas.
Paulo Roberto de Almeida 

Financial Times, April 1, 2012 6:54 pm

Brazil-US relations near turning point

The case of cachaça, the stiff sugar cane spirit used in Brazil’s national cocktail, the caipirinha, is probably not the first thing on the mind of US President Barack Obama as he prepares for a visit from his Brazilian counterpart, Dilma Rousseff, next week.
But reversing a longstanding US refusal to recognise the Brazilian drink as distinctive from Caribbean rum – thereby subjecting it to adverse tax treatment on rum imports designed to protect producers in the US Virgin Islands and Puerto Rico – is one of several relatively easy “deliverables” that Mr Obama could offer Ms Rousseff when she arrives on April 9.

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Stubborn trade disputes and differences in approach to geopolitics have traditionally clouded what is otherwise a mature if somewhat standoffish friendship between the dominant powers of the Americas. Brazil wants recognition from the US for its growing geopolitical clout, most importantly its bid for a permanent seat on the UN Security Council, but without sacrificing its neutrality in the process. Washington, meanwhile, wants a better idea of what Brazil, known for its pragmatism on foreign relations, actually stands for.
“Relations between Brazil and the US have historically been very broad but also relatively shallow,” said Paulo Sotero, director of the Brazil Institute at the Woodrow Wilson International Centre for Scholars in Washington.
Once tempted to treat Brazil as just another, if slightly more important, Latin American country, the US is increasingly being challenged to acknowledge its growing role as an international player on the back of its fast economic growth.
A surging middle class in Brazil has created new markets for US multinationals, ranging fromMcDonald’s and Pepsi to General Motors. But even as the total volume of trade has grown, the relative importance of the US to Brazil’s economy has declined. China has overtaken the US as Brazil’s biggest trading partner and new investor.
At the same time, Brazil has become increasingly concerned about what it sees as “unbalanced” trade with China, which imports Brazilian commodities but few of its manufactured goods. The US by contrast is one of the biggest markets for Brazilian aircraft maker Embraer, one of Latin America’s flagship industrial companies.
Relations between leaders of the US and Brazil have traditionally been warm – Mr Obama once called former Brazilian president Luiz Inácio Lula da Silva “the man”. But in practice, Brazil’s independent stance on foreign affairs – it regularly abstains in votes on sanctions against oppressive regimes in the Middle East and on other issues – has grated with the US. In particular, Mr Lula da Silva upset Washington when he led an attempt to forge an independent civilian nuclear deal with US arch-enemy Iran in 2010.
Yet while Mr Lula da Silva’s Iran adventure was politically costly in terms of relations with Washington, it was a sign of Brazil’s diplomatic coming of age, the Council on Foreign Relations think-tank said in a report last year. “Brazil’s participation alerted the major powers to its presence on global security issues and served notice that Brazil would remain a significant international actor,” the report, Global Brazil and US-Brazil Relations, said.
With the election of Ms Rousseff in late 2010, Mr Obama set out to repair the relationship. He visited Brasília three months after she took office, describing Brazil as an “equal” partner and acknowledging though not openly supporting Brazil’s aspiration for a permanent seat on the Security Council.
The challenge for both sides is where to take the relationship now. The US has already lifted a tariff on Brazilian ethanol imports – an important breakthrough. It could restart a US Air Force contract for 20 Embraer attack aircraft that it abruptly cancelled earlier this year. It is also making it easier for Brazilians to get visas. And it could also, of course, recognise cachaça as something distinctly Brazilian, rather than lumping it in with other Latin American rum.
Most significant, however, would be for the US to offer formal support for Brazil’s aspirations to join the Security Council. Proponents argue this would put the ball in Brazil’s court, forcing it to become a more responsible contributor to the world order. Indeed, some argue that this sort of acknowledgment as an equal partner is all that Brazil has ever really wanted from Washington.
“Brazil doesn’t want a trade deal from the US, it doesn’t want military co-operation,” says João Augusto de Castro Neves, political analyst at Eurasia Group. “It just wants recognition and that only costs a few words.”

Dilma vai a Washington

06 de abril de 2012 | 3h 07
Paulo Sotero - O Estado de S.Paulo
Os presidentes Dilma Rousseff e Barack Obama têm boas notícias a compartilhar, mas também importantes diferenças a acertar quando se reunirem na Casa Branca, na segunda-feira. A líder brasileira chega para a conversa com sua autoridade consolidada e a popularidade reforçada em casa por seu desempenho no primeiro ano do governo, a despeito da desaceleração do crescimento econômico e dos sucessivos escândalos de corrupção que forçaram meia dúzia de ministros a pedir as contas. Obama, por sua vez, tem a exibir uma economia em recuperação e perspectivas favoráveis de reeleição em novembro. Isso significa que seu diálogo com a colega brasileira deve continuar por mais dois anos e meio, e quase o dobro disso se Dilma se reeleger em 2014.
É um horizonte de tempo suficiente para os dois líderes traduzirem em ações o desejo que dizem compartilhar de aprofundar as relações bilaterais, que são amplas, amistosas, povoadas de declarações de boas intenções, mas não passam disso. Na década que se encerrou no dia da posse de Dilma no Palácio do Planalto, o Brasil e os Estados Unidos se distanciaram. O fracasso, em 2003, das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), que os países copresidiram, a trombada no Irã em 2010 e a inconsequência dos muitos grupos de trabalho criados pelos dois governos foram os fatos marcantes. Nesse mesmo período, com a economia brasileira em crescimento puxado pela expansão do mercado interno e a demanda chinesa por commodities, as trocas entre os dois países aumentaram, mas a participação relativa dos Estados Unidos no comércio exterior brasileiro caiu de 24% do PIB para menos de 12%.
Cientes dessa realidade e de que o diálogo bilateral se encontra em fase de reconstrução, iniciada com a visita de Obama a Brasília em março do ano passado, os dois governos evitaram criar expectativas quanto aos resultados da viagem de Dilma. A ênfase dada pelo Planalto à cooperação bilateral em educação, ciência e tecnologia e as medidas que Dilma vem tomando para estimular a competitividade e o crescimento da economia brasileira sublinham sua compreensão sobre a oportunidade que tem nas mãos e põem os dois países em rotas convergentes.
Trata-se de completar a transformação histórica que o País iniciou com a democratização, em 1985, consolidou com a estabilização da economia dez anos depois, aprofundou com a redução da pobreza e a expansão da classe média na década seguinte e depende agora da execução de reformas estruturais que permitam a um Brasil ascendente na cena mundial livrar-se do peso do déficit público, aumentar a taxa de investimento e alcançar um novo patamar de desenvolvimento. É nesse quadro, que se tornará mais complexo nos anos à frente com a redução do crescimento da China, que Dilma parece atraída pela ideia de uma relação mais intensa com os Estados Unidos.
Há certamente dúvidas em Washington quanto à eficácia das políticas adotadas por Brasília a partir do anúncio do Plano Brasil Maior, em agosto passado, para aumentar a competitividade da indústria nacional. As medidas de caráter protecionista embutidas na estratégia são vistas como sintomas de uma política que trata mais dos efeitos que das causas do problema. Mesmo assim, o cenário promissor da economia brasileira nos anos à frente alimenta o interesse de Obama numa aproximação com o Brasil.
Contra esse pano de fundo, altos funcionários americanos e brasileiros se esforçaram nas últimas semanas para valorizar as relações bilaterais. O Brasil "é uma história de sucesso e um exemplo que inspira soluções em outros países", disse o subsecretário de Estado William Burns em recente visita ao País. E salientou que empresas dos dois países fabricam, inovam e avançam juntas: "Nos Estados Unidos, estamos cientes de que nosso sucesso dependerá de abraçar as complementaridades com parceiros inovadores e dinâmicos e o Brasil pode e deve estar no topo dessa lista." Em visita a Nova York, a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, destacou o empenho do governo brasileiro em atrair mais investimentos dos Estados Unidos e aprofundar as relações entre os dois países.
Declarações como essas não diminuem o ceticismo que prevalece em Washington e Brasília sobre as chances de a visita de Dilma a Obama produzir resultados. Fatos recentes e divergências em temas globais. A crítica que a presidente brasileira fez em reunião dos Brics, na semana passada, à estratégia de sanções contra o Irã, liderada pelo Estados Unidos, expôs uma diferença insuperável. Obama acredita que as sanções são a melhor alternativa a uma solução armada e estão produzindo o resultado desejado de forçar Teerã a negociar seu programa nuclear. Na mesma linha, há as críticas de Brasília, reiteradas por Dilma em Nova Délhi, ao "tsunami monetário" que os bancos centrais americano e europeu estariam produzindo para fazer frente à crise econômica, com efeitos colaterais nocivos para o valorizado real e as contas externas brasileiras. O fato de o Brasil omitir críticas à política de manipulação do câmbio praticada pela China torna a cobrança ainda menos aceitável em Washington. No lado brasileiro, causa perplexidade a relutância americana em dar ao País o mesmo reconhecimento que confere à India e apoiar formalmente a pretensão brasileira por uma cadeira permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Pesa, também, o mal explicado cancelamento pela Força Aérea americana da compra de 20 Super Tucanos que seriam usados no Afeganistão. A decisão, justificada como confusão burocrática, frustrou um negócio que constituiria o primeiro engajamento de natureza estratégica entre os dois países em décadas. Cabe a Dilma e Obama, em seu encontro, provar que os céticos estão errados.
*Jornalista, é diretor do Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Em boca fechada, nao entra... - Angela rebate Dilma...

Pois é, que chato heim?!
Tomar um pito público, assim, e nada de ciumeira pessoal, tudo por razões muito objetivas, de política econômica, que coisa mais sem graça, vocês não acham?
E isso não precisava.
Em primeiro lugar, posturas professorais, assume quem tem condições de assumir e isso implica: visão clara do problema; qualificação técnica, acadêmica, profissional e intelectual na área em questão; conhecimento preciso dos assuntos em pauta, com base numa qualificação científica desse campo do saber, com domínio das técnicas, metodologia, se possível amparado em algum doutorado ou notória especialidade; conhecimento das políticas da outra parte; numa atitude acadêmica verdadeira, ou seja, apresentando os argumentos de forma clara, consistente, com forte embasamento empírico e, sobretudo, na forma de recomendação, não de aconselhamento arrogante.
Enfim, quem se mete onde não é chamado, corre o risco de passar por metido, o que não fica bem entre chefes de Estado, ou de governo (no caso da Merkel).
Da próxima vez, conviria se aconselhar melhor entre os assessores (se estes forem especialistas, claro).
Aliás, no caso dessas políticas, creio que o essencial já foi tratado neste meu post, que trata de questões paralelas ou dessas mesmas.

DOMINGO, 25 DE MARÇO DE 2012

Em todo caso, da próxima vez, conviria pensar duas ou três antes de se pronunciar de forma sobranceira na casa dos outros.
Paulo Roberto de Almeida

Em entrevista, Merkel rejeita lição de Dilma

Em entrevista, Merkel rejeita lição de DilmaFoto: Divulgação

À REVISTA MANAGER-MAGAZIN, A CHANCELER ALEMÃ DIZ QUE, ANTES DE PEDIR PARA QUE PAÍSES RICOS REDUZAM O CHAMADO "TSUNAMI MONETÁRIO", DILMA DEVERIA REDUZIR OS JUROS NO BRASIL; "SE MEU POVO PODE GANHAR JUROS ABSURDOS LÁ NO PAÍS DELA, NÃO VOU PEDIR QUE NÃO FAÇA"

04 de Abril de 2012 às 08:47
247 – A chanceler alemã Angela Merkel deixou o tom diplomático de lado e atacou ontem os conselhos de Dilma Rousseff sobre a gestão da crise. "Essa senhora vem à Alemanha nos dizer o que temos que fazer? Ora, a Alemanha vai bem obrigado apesar de tudo. Mas eu vou aproveitar para dar um conselho a ela... antes de vir aqui reclamar das nossas políticas econômicas, por que ela não diminui os gastos do governo dela e diminui os juros que são exorbitantes no Brasil? Se eu posso emprestar dinheiro a juros baixos e o meu povo pode ganhar juros absurdos lá no país dela, não vou ser eu que direi ao meu povo para não fazer isso. Ela que torne a especulação no país dela menos atraente", disse Merkel em entrevista à revista Manager-Magazin.
A resposta da chanceler da Alemanha se refere às críticas da presidente do Brasil que acusou os países ricos, especialmente europeus e americanos, de estarem provocando um “tsunami monetário” com suas políticas expansionistas. Segundo Dilma, a ação provoca dois efeitos : torna os produtos dos países ricos mais competitivos artificialmente, e cria bolha de ativos. "Todo mundo vai tratar de tsunami (monetário) no mundo…eu, o Fundo Monetário Internacional (FMI), o BIS, que é o Banco de Compensações Internacionais, que mostra que é impossível com US$ 8,8 trilhões e no caso específico da União Europeia, com US$ 1 trilhão, o que acontece ? Acontece que a política monetária expansionista destes países produz um efeito extremamente nocivo, porque desvaloriza de forma artificial as moedas", disse Dilma.
Num discurso diante de uma platéia de empresários na abertura da maior feira de tecnologia do mundo – a CeBit, no início de março, Merkel rebateu as críicas na presença de Dilma: "Nós (ela e Dilma) vamos discutir a crise e as preocupações de cada uma. A presidente falou que está preocupada com um “tsunami de liquidez”. Do nosso lado, nós estamos olhando onde estão as medidas protecionistas unilaterais".
Agora, a Alemanha aponta o dedo para as deficiências do Brasil.


quinta-feira, 29 de março de 2012

Tentando entender, e nao entendendo: quem entender, me ajude, por favor...

Recolho, do pronunciamento da presidente na India, esta síntese feita pela imprensa, que traduz realidades que, sinceramente, não consegui entender.
Vejamos: 
Na cúpula dos Brics em Nova Délhi, criticou o que a Europa, os EUA, o Japão e a Inglaterra, sem citá-los, têm feito contra a crise global: as “medidas de austeridade fiscal” e as “políticas expansionistas que ensejam uma guerra cambial e introduzem, no mundo, novas e perversas formas de protecionismo”.


São medidas de austeridade, ou políticas expansionistas? 
Uma coisa não vai com a outra...
E se eles jogam dinheiro no mercado para desvalorizar suas moedas, e se tornarem assim mais pobres, como vão sustentar uma guerra cambial e o protecionismo ao mesmo tempo?
Ainda estou tentando entender...

Dilma na India: um discurso na linha tradicional

Nenhuma inovação conceitual, ou refinamento analítico, neste discurso pronunciado pela presidente na Índia: o mais puro diplomatês, combinado aos temas tradicionais do desenvolvimentismo defensivo, misturando várias questões num pout-pourri do déjà-vu.

Publicada quarta-feira, 28 de março de 2012, às 12:18

Em viagem à Índia, Dilma ataca protecionismo ‘perverso’

A presidente Dilma Rousseff retomou nesta quarta-feira seu tema recorrente em torno da crise internacional, ao condenar “políticas expansivas que ensejam uma guerra cambial e introduzem no mundo novas e perversas formas de protecionismo”.
É uma alusão à catarata de recursos que os bancos centrais dos países ricos estão despejando em suas economias para destravá-las, o que provoca sobra de dinheiro e, por extensão, a invasão de mercados, como o brasileiro, que oferecem juros atrativos.
Dilma chegou ontem (27) à Índia, onde fica até o dia 31 – Foto: Agência Brasil
Dilma chegou ontem (27) à Índia, onde fica até o dia 31 – Foto: Agência Brasil
A consequência é a valorização do real, o que atrapalha as exportações brasileiras – daí a menção à “formas perversas de protecionismo”.
O discurso foi pronunciado na cerimônia de entrega do título de “doutor honoris causa” pela Universidade de Nova Délhi, a capital indiana.
Meras medidas de austeridade
Vestida com a capa tradicional vermelha com bordados dourados, Dilma voltou a atacar, como o faz a cada viagem, o modelo de combate à crise por meio de “meras medidas de austeridade, consolidação fiscal e desvalorização da força de trabalho”, predominante na Europa.
A visão desenvolvimentista de que Dilma é adepta prega que o ajuste fiscal não deve ser feito isoladamente sem o apoio de estímulos para o crescimento econômico.
O discurso todo foi a reafirmação de pontos caros à diplomacia brasileira. Dilma defendeu, por exemplo, “o diálogo e a diplomacia” e rejeitou “as ações unilaterais e as doutrinas que enfatizam o uso da força, as atitudes preconceituosas e intolerantes”.
Defendeu ainda a reforma das instituições de governança global, “inclusive o Conselho de Segurança” [das Nações Unidas], que é o coração do sistema internacional.
Cobrou “a presença permanente de Brasil e Índia nos organismos que deliberam sobre a paz e a segurança global”, o que seria, segundo ela, “um consenso entre aqueles que prezam o multilateralismo”.
O Brasil reivindica há anos um lugar entre os membros permanentes do CS, hoje restrito aos vencedores da 2.a Guerra Mundial (Estados Unidos, China, Rússia, França e Reino Unido). São os únicos que têm poder de veto, o que acaba amarrando o sistema.
Ciência e inclusão social
Assuntos internacionais à parte, Dilma tocou também nos seus projetos mais acariciados.
Citou o programa “Ciência sem Fronteiras”, pelo qual o Brasil está enviando 100 mil estudantes e pesquisadores para formação em centros no exterior, “de primeira linha”.
Festejou o fato de que o governo da Índia, “país conhecido pela excelência de seus cientistas e de seus inovadores tecnológicos”, se associou ao Brasil na iniciativa.
A própria Universidade de Nova Déli, em que Dilma discursou, pôs-se à disposição para receber estudantes e pesquisadores brasileiros.
Não faltou a menção de praxe à inclusão social no Brasil: “Os 40 milhões de homens e mulheres incorporados à produção e ao consumo no Brasil neste período [10 últimos anos] asseguraram também grande dinamismo a nossa economia”. O número usualmente citado tanto por Lula como por Dilma em atos do gênero era 32 milhões.
Terminou com palavras do poeta indiano Rabindranath Tagore (1861/1941): “Deixe meu país despertar num paraíso de liberdade, onde a mente é destemida e a cabeça se mantém erguida, onde o conhecimento é livre, onde o mundo não foi fragmentado por paredes estreitas, onde as palavras emanam das profundezas da verdade”. (Folha.com)