Temas de relações internacionais, de política externa e de diplomacia brasileira, com ênfase em políticas econômicas, em viagens, livros e cultura em geral. Um quilombo de resistência intelectual em defesa da racionalidade, da inteligência e das liberdades democráticas.
O que é este blog?
Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;
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terça-feira, 5 de novembro de 2019
Quando a New Yorker ataca a Economist: um debate sobre o liberalismo, velho e atual
quarta-feira, 4 de setembro de 2019
Até a Economist falha na sua tradicional racionalidade: pretende "corrigir" o capitalismo
Ou estão sendo influenciados por economistas utópicos?
Trata-se, provavelmente, da primeira vez em mais de 160 anos que a Economist sai da sua proverbial circunspecção em torno das economias de mercado e dos sistemas democráticos para pretender ensinar aos capitalistas, políticos e povo em geral, como eles devem se comportar para "melhorar" o capitalismo.
O que está havendo com a Economist?
Seus editorialistas estão de porre?
Eles pretendem adjetivar o capitalismo, e dizer o que é bom, ou mau, para esse regime econômico. Acho que eles deveriam esquecer essa função pedagógica no sentido de corrigir tendências contra as quais eles não podem fazer nada.
Melhor falar de cultura...
Paulo Roberto de Almeida
O CAPITALISMO NÃO ANDA BEM!
(The Economist - O Estado de S. Paulo, 4/09/2019) O capitalismo não está funcionando como deveria. Empregos existem, mas o crescimento se arrasta, a desigualdade é alta e o meio ambiente está sofrendo. Seria de se esperar que os governos fizessem reformas para enfrentar esses problemas, mas a política anda travada ou é instável. Quem, então, vai se encarregar do resgate?
Um número grande de pessoas acredita que a resposta é confiar nas corporações. Mesmo os executivos americanos, conhecidos por ignorar limites, concordam. Na semana passada, mais de 180 deles, incluindo os chefes do Walmart e do JPMorgan Chase, derrubaram três décadas de ortodoxia para anunciar que o propósito básico de suas empresas não é mais beneficiar apenas os donos, mas clientes, funcionários, fornecedores e comunidade.
A motivação deles é tática e parte de uma mudança de atitude contra os negócios. Funcionários jovens querem trabalhar para firmas que adotem padrões morais e políticos em relação a questões atuais.
Por melhores que sejam as intenções, porém, essa nova forma de capitalismo coletivo terminará provocando mais males que benefícios. Há riscos de se formar uma classe de executivos inexperientes e sem legitimidade. Há também uma ameaça à prosperidade de longo prazo, condição básica ao sucesso do capitalismo.
Desde que os negócios ganharam confiança limitada na Grã-Bretanha e na França, no século 19, discute-se o que a sociedade pode esperar em retorno. No anos 1950 e 1960, Estados Unidos e Europa experimentaram o capitalismo gerencial, no qual empresas gigantes trabalhavam com governo e sindicatos e ofereciam aos trabalhadores segurança no emprego e benefícios. Mas, após a estagnação dos anos 1970, o enriquecimento dos acionistas passou a dominar, no processo de maximizar os lucros. Sindicatos entraram em declínio e o sucesso dos acionistas conquistou os Estados Unidos e em seguida a Europa e o Japão.
É esse modelo que está sob ataque. Como parte da investida, há um perceptível declínio na ética dos negócios. Empresas listadas em bolsas são acusadas de uma série de pecados, como obsessão por ganhos de curto prazo, investimentos irresponsáveis, exploração de funcionários, achatamento de salários e recusa em pagar por danos ambientais que criaram.
Algumas das advertências são verdadeiras. Consumidores frequentemente saem perdendo e a mobilidade social afundou. De qualquer modo, a reação popular e intelectual ao lucro a qualquer preço já está alterando a tomada de decisões. Líderes empresariais passaram a apoiar causas sociais populares entre clientes e funcionários. Empresas investem levando em conta não apenas eficiência. A Microsoft está financiando um projeto habitacional de US$ 500 milhões em Seattle.
Parece ótimo, mas o capitalismo coletivo enfrenta dois grandes problemas: ausência de responsabilidade ética e de dinamismo. Em relação à ética, não está claro como os executivos ficarão sabendo o que a “sociedade” espera de suas empresas. As probabilidades são de que políticos, lobistas e os próprios executivos venham a decidir, não dando voz às pessoas comuns.
O segundo problema é o dinamismo. As empresas têm de abandonar pelo menos alguns participantes – um número necessário para enxugar uma empresa obsoleta e realocar capital.
O meio de fazer o capitalismo funcionar melhor não é limitar a responsabilidade ética e o dinamismo, mas aperfeiçoar ambos. Isso requer que os propósitos das empresas sejam estabelecidos pelos donos e não por executivos ou políticos. A maioria deles vai optar por maximizar valores de longo prazo.
Um bom modo de fazer empresas com mais responsabilidade ética é ampliar o número de proprietários. A proporção de famílias americanas ligadas ao mercado de ações é de apenas 50%. O sistema tributário deveria encorajar mais o compartilhamento da propriedade. Os beneficiários finais de planos de pensão e fundos de investimento deveriam poder votar em eleições de diretoria. Esse poder não deveria ser terceirizado para poucos barões da indústria de gestão de ativos.
Responsabilidade ética só funciona se houver competição. Isso faz baixar preços, impulsiona a produtividade e garante que empresas não consigam ter por muito tempo lucros fora do normal. Mais ainda: estimula as empresas a se anteciparem às mudanças – por medo de que um concorrente faça isso primeiro.
Infelizmente, desde os anos 90 a consolidação deixou dois terços das indústrias dos Estados Unidos mais concentradas. Ao mesmo tempo, a economia digital parece tender ao monopólio. Se os lucros das empresas estivessem em níveis historicamente normais, e os trabalhadores do setor privado usufruíssem os benefícios, os salários seriam 6% mais altos. Na lista dos 180 empresários americanos que se reuniram na semana passada, muitos estão em indústrias que são oligopólios – incluindo cartões de crédito, TV a cabo, farmacêuticas e empresas aéreas –, que cobram demais dos consumidores. Sem surpresa, ninguém estava ansioso para reduzir as barreiras para ingresso no clube.
Obviamente, uma economia competitiva e saudável requer um governo efetivo – para aplicar leis antitruste, reprimir lobismo e nepotismo excessivos, lidar com as mudanças climáticas. Essa política ideal não existe, mas dar poder a executivos de grandes empresas para atuar como substitutos não é a resposta. O mundo precisa de inovação, de um maior número de proprietários e de empresas que se adaptem às necessidades da sociedade. É esse realmente o tipo mais esclarecido de capitalismo.
terça-feira, 13 de novembro de 2018
O pensamento de Xi Jinping, nova disciplina universitaria - Economist
Essa coisa de "socialismo com características chinesas" seria um pouco como "tutu à mineira", ou "cuscus paulista", ou "feijoada carioca", ou "sarapatel à baiana"?
Acho que ultrapassa a dimensão culinária e vai muito mais longe. Uma longa marcha, enfim...
Paulo Roberto de Almeida
China is struggling to explain Xi Jinping Thought
Universities have been mobilised to help
Cartographic contortions
quinta-feira, 20 de setembro de 2018
A Economist se assusta com Bolsonaro, e o compara a outros ditadores da AL
Primeiro transcrevo a matéria do Estadão, depois o editorial da Economist.
Estadão (20/09/2018):
'The Economist' chama Bolsonaro de 'a mais recente ameaça da América Latina'
Revista britânica defensora do liberalismo traz candidato do PSL na capa, diz que governo de deputado seria 'desastroso' para o País e a região e cita experiência autoritária na Venezuela e na Nicarágua
Economist (September 20. 2018):
A mais recente ameaça da América Latina
Caso seja eleito, Jair Bolsonaro pode colocar a própria sobrevivência da maior democracia da América Latina em risco
Amargor brasileiro
A tentação pinochetista
sexta-feira, 2 de outubro de 2015
Economist: O caminho do desastre em toda a sua magnitude
sexta-feira, 8 de agosto de 2014
Los hermanos, again and again, deja vu, all over again...
Acho até que a Economist foi muito boazinha, complacente, compreensiva, com esse caso terminal. Ela está sendo muito otimista em relação à capacidade da Argentina (ou de seus líderes políticos) de adotar os remédios certos, e superar as dificuldades pela via do ajuste, não da embromação, do subterfúgio, do escapismo, das acusações externas, enfim, essas coisas que eles sempre fazem.
O Brasil ainda não cansou de aguentar desaforos?
Paulo Roberto de Almeida
The palindrome of Kirchnerismo
Default gives Argentina’s president a political advantage, but not for long
Aug 9th 2014 | From the print edition /The Economist
IT IS a rainy Saturday morning, three days after Argentina defaulted on part of its foreign debt. In a damp and flimsy shack in Salas, a settlement of muddy lanes and foul streams on the outskirts of Buenos Aires, Ramon Gallardo and his neighbours listen attentively to staff from TECHO, a housing charity. They are briefing residents about the 15 one-room huts they will build in return for a nominal contribution of money and labour. TECHO has erected many of its sturdy, weather-proof huts in struggling Haiti. But there are takers in rich Argentina, too.
Many of them are among the 20-30% of Argentines who, according to unofficial estimates, live in poverty despite a decade of economic growth. Now Mr Gallardo is worried that his work as a casual building labourer will dry up. “They told me the job I’m on will stop because of the default,” he says.
Urban myth or not, this perception highlights the risk that President Cristina Fernández de Kirchner has run by choosing to scotch last-minute talks and defy an order by Thomas Griesa, a New York judge, to settle with hedge funds that are demanding full repayment of their Argentine bonds. As a result, Judge Griesa blocked a payment to some of Argentina’s foreign bondholders who took part in debt restructurings in 2005 and 2010 and hold 93% of the debt. That, in turn, precipitated the default on July 30th.
Ms Fernández and Axel Kiciloff, her inexperienced economy minister, rail that Argentina is once again being mistreated by speculative “vulture funds”, and by a judge who appears out of his depth. Some of these points have merit. But unlike the last time Argentina defaulted in 2001, it is not insolvent. Ms Fernández and her late husband and predecessor, Néstor Kirchner, could have dealt with the “hold-out” creditors years ago by quietly buying up their bonds. Even now, her officials have offered the judge no alternative solution and seem to have no clear negotiating strategy.
Instead, the president has opted to try to turn this battle into a nationalist epic. That offers an immediate, albeit slight, political dividend: her approval rating has crept up to over 40%. In this she is being true to type. In 11 years in power the Kirchners have preferred nationalism and confrontation to pragmatism and professional competence, while focusing relentlessly on the short term. When the economy was rebounding from the collapse of 2001-02, and was helped by a big rise in world prices for Argentina’s farm exports, “they discovered that they could govern for ten years solving each day’s problems,” says Luis Alberto Romero, a historian. “But now those problems are mounting up.”
Even before the default, the economy was set to contract by about 1.5% this year. Businesses are laying off workers, or cancelling overtime. The current account and the public finances are both in deficit. Inflation is at 39%, according to Elypsis, a consultancy. On the black market a dollar costs nearly 50% more than it does at the official exchange rate.
With foreign-exchange reserves dwindling, Ms Fernández had begun to settle the disputes with investors that prevent Argentina drawing on international credit. Her priority had seemed to be to reach the end of her term in December 2015 in reasonably good order. That now looks harder. How much worse the economy gets as a result of the default depends on how long it lasts. Many financial analysts assume that the government will settle in January (when a clause in the restructured bonds that makes this harder will expire). That may be too sanguine.
The uncertainty Ms Fernández has unleashed will curb investment. The government’s only Plan B is an $11 billion currency-swap facility with China which may slightly ease the pressure on the currency reserves (and thus on the exchange rate). But if more Argentines find, like Mr Gallardo, that default threatens their job, they may start to blame the president.
The Kirchners’ decade in power resembles “a palindrome”, according to Eduardo Levy Yeyati of Elypsis. It began with default, recovery, opening up and rising expectations, and then reversed the order. But not wholly so.
Three things mitigate Argentina’s mess. One is that the government’s child allowances, which many in the Salas settlement receive, mean the social desperation of 2002 ought not to be repeated. The second is that a better-advised and more pragmatic president would find it fairly easy to put the economy back on track and win foreign investment. And third, next year’s election is likely to produce this outcome. It is the knowledge that Ms Fernández is on the way out and that her populism is no longer affordable that is putting a floor under economic decline.