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quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

RBPI 2-2014: Nota Editorial - Antonio Carlos Lessa e Paulo Roberto de Almeida


Editorial – RBPI 2/2014 – Os sessenta anos do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais
Antonio Carlos Lessa e Paulo Roberto de Almeida
Talvez – e aqui vai um pouco de imaginação – o punhado de intelectuais, de acadêmicos, de burocratas de alto coturno (entre eles vários diplomatas e magistrados), de vários outros mandarins públicos e privados da República de 1946, que se reuniu no velho Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, no final do mês de janeiro de 1954, para fundar o Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (IBRI), talvez esse pequeno grupo de desbravadores de um terreno ainda inexplorado no Brasil estivesse pensando no modelo do Council on Foreign Relations, dos Estados Unidos, como uma fonte de inspiração para a fundação, o estabelecimento oficial e o funcionamento prático da nova instituição que então surgia de forma inédita no país, no governo constitucional de Getúlio Vargas.
Pode ser. É legítimo supor que aquelas personalidades bem informadas, todas elas cosmopolitas, abertas aos ares do mundo, conhecessem o trabalho do Conselho de Nova York, provavelmente pela existência de seu principal instrumento de análise, de reflexões e de prescrições sobre a política internacional e para a diplomacia americana, a Foreign Affairs, sobretudo porque a revista havia completado seu primeiro quarto de século pouco tempo antes, e seu editor havia feito um Reader comemorativo na ocasião. Ela já era intensamente lida nesses meios conectados às realidades da política mundial na era da Guerra Fria, e o volume especial, reunindo os textos mais significativos dos 25 anos anteriores, tinha sido publicado justamente quando certo Mr. X, o diplomata George Kennan, ainda baseado em Moscou, havia publicado um artigo intrigante sobre as fontes do poder soviético, que constituiria não só a base conceitual, mas também a legitimação política para a doutrina do containment, que seria rigorosa e religiosamente aplicada pelos EUA no meio século seguinte, até praticamente a derrocada da União Soviética.
Talvez. Não sabemos, de fato, qual era o pensamento dominante entre aqueles visionários, que queriam colocar o Brasil no mapa da análise, da reflexão, e da ação em temas de política internacional, conceito que acabou sendo impresso no título da revista que surgiria pouco mais de quatro anos depois, período extremamente movimentado sob qualquer critério que se examine no contexto de nossa história republicana: suicídio do presidente incumbente – do qual, aliás, vários dos fundadores do IBRI eram assessores diretos –, seguido da sucessão tumultuada de três outros presidentes, de golpes e contragolpes, com a participação de militares, de uma campanha eleitoral e da posse de um presidente contestada como inconstitucional pelo principal líder da oposição – e que depois seria um dos mentores do golpe de 1964 –, de todo um clima de efervescência geral no país, de otimismo pela promessa dos “cinquenta anos em cinco”, mas também um período permeado por mais tentativas de sublevações militares, marcado por um rebrote preocupante da inflação, bastante empurrada pela construção de Brasília e pelas primeiras diatribes contra o FMI, então demonizado politicamente como um “obstrutor” do desenvolvimento brasileiro. Foi nesse ambiente febril que surgiu a Revista Brasileira de Política Internacional, que em breve também comemorará os seus 60 anos.
O Reader da Foreign Affairs, volume especial publicado pelo Council em 1947, já estava integrado à Biblioteca do Itamaraty, e seu artigo inaugural [de 1922] tinha sido assinado pelo então decano da diplomacia americana, Elihu Root, que tinha estado no Rio de Janeiro em 1906, para uma das conferências das repúblicas americanas, acolhida por Rio Branco, sob recomendação de Joaquim Nabuco, mas cujas posições pró-império já eram contestadas por um competidor de ambos, o historiador Oliveira Lima. Pode ser, ainda assim, que os “pais fundadores” do IBRI se inspirassem no modelo do Council, e da Foreign Affairs, e tomassem inspiração nas figuras de Rio Branco e de Elihu Root para impulsionar um projeto que não só sobreviveu às intempéries políticas que soem se abater sobre um país em estado de recriação permanente como é o Brasil. Mas é um fato que esse empreendimento desafiador foi mantido por mais de duas gerações, em duas capitais da República, por cosmopolitas dedicados, que têm a intenção de fazê-lo chegar ao seu primeiro centenário, da mesma forma como o fará, dentro de pouco mais de sete anos, o Council e a própria Foreign Affairs.
É certo que o IBRI não se converteu, nem poderia, num êmulo do Council, que pôde dispor, desde sua origem, dos enormes recursos da aristocracia endinheirada da costa leste dos Estados Unidos, do prestígio associado ao establishment acadêmico da região atlântica e do próprio cadinho cultural e cosmopolita de Nova York, a mais internacionalizada das metrópoles daquele país, até mesmo mais do que Washington, uma vez que a ONU, os bancos de Wall Street, os milhões de turistas estrangeiros e de imigrantes, antigos e recentes, fazem daquela cidade uma aglomeração multinacional por excelência. O IBRI, na verdade, sequer dispunha de locais apropriados, abrigado de favor aqui e ali, até se instalar, nos últimos anos, na Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, de onde foram trasladados alguns poucos arquivos quando de sua transferência, na verdade a sua recriação em Brasília, em 1993. Ele nunca dispôs de uma conta em banco que fosse minimamente capaz, como fazia o Council, de manter staff próprio, pesquisadores contratados, bolsistas convidados, e empreender projetos de certa magnitude. Os livros de sua pequena biblioteca – cedida para a FGV quando da despedida do Rio – foram obtidos em doações de seus associados, em intercâmbio com instituições estrangeiras e nacionais, ou adquiridos com os recursos de seus próprios membros.
A figura de Cleantho de Paiva Leite, depois do presidente inaugural do IBRI, Oswaldo Trigueiro, do diplomata Henrique Valle e do historiador José Honório Rodrigues, na RBPI, merece aqui uma menção especial, e uma reverência obrigatória, pois foi ele o animador principal, o editor “eterno” e o financiador pessoal do Instituto e de sua revista, que permanece como a realização principal, quase única, do IBRI. Escrevendo, no volume 35, n. 139-140 (julho-dezembro de 1992), ainda sob o impacto da morte de Cleantho, o Embaixador Sérgio Bath, um dos recriadores do IBRI e da RBPI em Brasília, disse que em todas as atividades em que ele se engajou,

Cleantho marcou sua presença pelo otimismo, a disposição para o trabalho, o espirito criativo; a seriedade de propósitos temperada por perene bom humor. Em toda parte, em muitos países fez numerosos amigos; no Itamaraty, no DASP, no BID, no BNDE, era uma figura carinhosamente respeitada. Conheceu bem a sua geração, e quando falava sobre o passado reconstruía com riqueza de pormenores e acentos pessoais a trama de muitas vidas, comentando-as com sorriso ameno, a percepção aguda de humor e empatia. Realista, compreendia e aceitava os defeitos alheios, que coloria com benevolência; mantinha-se conciliado com o mundo, acentuando sempre o melhor, em todos e em tudo. Cultivava intensa dedicação aos amigos, que fazia questão de servir. Nada o agradava mais do que receber a encomenda de um livro recém-publicado, dar um conselho, uma indicação útil. A amizade era para ele uma arte, que praticava com prazer.

O IBRI, em sua fase de Brasília, empreendeu diversos convênios, realizou muitos seminários – vários deles internacionais, em cooperação com universidades e instituições congêneres do exterior – e editou muitos livros, que hoje integram qualquer lista de referência na literatura especializada na área que é a sua, desde a origem. A RBPI constitui, sem qualquer sombra de dúvida, o mais belo fruto deste instituto, que nunca foi um impávido colosso, como seu êmulo de Nova York, mas que não deixa de ser a moldura institucional indispensável para que o projeto inaugurado em 1954 possa evoluir para etapas ainda mais brilhantes de um itinerário modestamente exemplar.
A RBPI, decana das revistas especializadas em Relações Internacionais no Brasil, e uma das mais tradicionais da América Latina, realmente desponta como o projeto mais constante do IBRI. A transferência para Brasília, juntamente com o IBRI em 1993, foi o mais importante passo da já longa trajetória da Revista, porque lhe permitiu a confirmação da sua identidade científica, a partir de então mantida e velada consistentemente por professores de Relações Internacionais da Universidade de Brasília.
O IBRI agora se prepara para celebrar também, em 2017, o sexagésimo aniversário da publicação do primeiro volume da Revista. Ao longo da sua história brasiliense, o IBRI e os professores e diplomatas que animam a instituição, não pouparam energias e recursos para manter a Revista como o seu grande empreendimento intelectual, que a essas alturas, já é um patrimônio de toda a comunidade brasileira de Relações Internacionais.

Referências bibliográficas
BATH, Sérgio. Cleantho de Paiva Leite (1921-1992). Revista Brasileira de Política Internacional, Vol. 35, No. 139-140, 1992.

Antônio Carlos Lessa, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, é editor-geral da Revista Brasileira de Política Internacional – RBPI;
Paulo Roberto de Almeida , diplomata de carreira, é editor-adjunto da Revista Brasileira de Política Internacional – RBPI;



sábado, 3 de janeiro de 2015

Foreign Affairs: best books in International Relations in 2014


Foreign Affairs' Reviewers Make Their Picks
Every year, ten scholars review dozens of recently published academic and popular nonfiction books for Foreign Affairs. As this year came to a close, the editors asked each of the reviewers to choose the three best of 2014.
Here they are, along with the editors' own selections for the year.

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Livro: o pacto diabolico entre os dois maiores assassinos do seculo XX: Hitler-Stalin


The Devils’ Alliance: Hitler’s Pact With Stalin, 1939–1941

A cartoon that appeared in London’s Evening Standard in September 1939 shows Adolf Hitler and Joseph Stalin tipping their hats and bowing to each other. “The scum of the Earth, I believe?” says Hitler. “The bloody assassin of the workers, I presume?” Stalin replies. A month earlier, the two leaders had concluded a pact promising not to interfere in each other’s aggressive military campaigns and devised a secret plan to divvy up the lands between their countries. Moorhouse captures the essence of the wretched deal better than anyone has before. As they ripped Europe apart, Berlin and Moscow danced an awkward ballet, straining to preserve their compact while mutual mistrust mounted and their armies deported large segments of the local populations in captured territories. Moorhouse concludes by tracing with new detail the stages by which Hitler ultimately decided to invade the Soviet Union and, on the other side, Stalin’s bewildered efforts to both deny and prepare for the double-cross.

Books Reviewed

Cover image
The Devils' Alliance: Hitler's Pact with Stalin, 1939-1941
By Roger Moorhouse
2014
BUY

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Revista Foreign Affairs: numero especial sobre o massacre da Praca da Paz Celestial, Beijing, 4 de junho de 1989

25 Anos se passaram depois que a mais longa ditadura do mundo contemporâneo -- só perde para a ditadura da Coreia do Norte, que é ainda mais cruel e assassina -- massacrou centenas, possivelmente mais de um milhar, de estudantes que se mobilizaram por democracia no grande império despótico.
A revista Foreign Affairs -- contra uma modesta assinatura de 19,95 -- oferece documentos e análises sobre esse evento definidor da China contemporânea. Ela vai chegar a democracia, mas esse processo é incompatível com a dominação do partido comunista. Vamos ter de esperar novas crises para isso...
Paulo Roberto de Almeida

Foreign Affairs

In June 1989, the Chinese government brutally suppressed masses of peaceful protestors in Beijing's Tiananmen Square.  A decade later, Foreign Affairs revolutionized the world's understanding of those events by publishing an exclusive trove of documents showing why China's leaders opted for violence that fateful day.  Now, 25 years after the crackdown, we are delighted to bring you Tiananmen and After, a special collection that couples those secret documents with a range of expert commentary on modern China's political evolution.

This collection traces just what happened back in June 1989, what it meant, and what has taken place since then.  It opens with a new introduction by Andrew Nathan, one of the key figures behind the publication of the secret documents (that have become known as "The Tiananmen Papers"), and includes pieces on China's rapid economic rise, its sluggish political reforms, and the multitude of challenges that lie ahead.  
The rise of China is one of the most important stories of our time, and Tiananmen and After is a wonderful guide to it for history buffs and news junkies alike.  Don't miss out— subscribe today!
Best,
Gideon Rose
Editor, Foreign Affairs

Inside the Issue:

"The Tiananmen Papers" by Andrew Nathan
These previously classified reports, spirited out of China by a sympathizer, provide a vivid picture of the battles between hardliners and reformers on how to handle the student protests that swept China in 1989. Now with a new companion piece by Nathan that takes the story up to the present, explaining why the crackdown was the turning point in modern Chinese history.

"The Geography of Chinese Power" By Robert Kaplan
What geography says about China's natural sphere of influence, fron Central Asia and the Russian Far East to the South China Sea and the Indian Ocean.


"The Game Changer" by Elizabeth Economy
How Beijing is trying to rewrite the rules of the international relations game as its economic power grows.

"The Life of the Party" by Eric X. Li
How China's Communist leadership has managed to hang on to power and may find new life and energy in the decade to come.

domingo, 11 de maio de 2014

A forca ascensional da democracia, e o descenso dos Estados autoritarios - G. John Ikenberry (Foreign Affairs)

A ilusão da geopolítica
Putin ganhou pequenas batalhas, mas está perdendo a guerra; Rússia e China estão cercadas por democracias
G. John Ikenberry * 
Foreign Affairs - O Estado de S.Paulo, 11/05/2014

Walter Russell Mead pinta um retrato perturbador das mazelas geopolíticas dos EUA (em artigo republicado no domingo passado pelo Estado). Tal como ele as vê, uma coalizão cada vez mais formidável de potências não liberais - China, Irã e Rússia - está determinada a desmontar o acordo pós-Guerra Fria e a ordem global liderada pelos EUA que o sustenta.
Por toda a Eurásia, ele argumenta, esses Estados insatisfeitos estão propensos a construir esferas de influência para minar os fundamentos da liderança americana e a ordem global. Em vista disso, os EUA precisariam repensar seu otimismo, incluindo sua crença pós-Guerra Fria de que Estados não ocidentais em ascensão podem ser persuadidos a se unir ao Ocidente e jogar pelas suas regras. Para Mead, chegou o momento de enfrentar as ameaças desses inimigos geopolíticos cada vez mais perigosos.
O alarmismo de Mead tem base num equívoco colossal sobre a realidade das potências modernas. A ordem mundial existente é mais estável e expansiva do que Mead retrata. Ele se equivoca sobre China e Rússia, que não são potências revisionistas em plena escala, mas, na melhor das hipóteses, desmancha-prazeres em tempo parcial, tão desconfiadas uma da outra como são do mundo em geral.
É fato que elas buscam oportunidades para resistir à liderança global dos EUA e, recentemente, como no passado, elas a peitaram, particularmente quando confrontadas em suas próprias vizinhanças. No entanto, mesmo esses conflitos são alimentados mais por fraqueza - de seus líderes e seus regimes - do que por força. Elas não têm uma marca atraente. E, no que toca seus interesses dominantes, a Rússia e, em especial a China estão profundamente integradas na economia mundial e em suas instituições governantes.
Mead também caracteriza de maneira equivocada os fundamentos da política externa americana. Desde o fim da Guerra Fria, ele argumenta, os EUA ignoraram questões geopolíticas envolvendo territórios e esferas de influência. Adotaram uma ênfase excessivamente otimista na construção da ordem mundial. Mas essa é uma falsa dicotomia.
Os EUA não se concentram em questões de ordem global, como controle de armas e comércio, por supor que o conflito geopolítico acabou de uma vez por todas; eles empreendem tais esforços precisamente porque querem gerir a competição entre grandes potências. A construção da ordem não tem como premissa o fim da geopolítica, ela diz respeito a como responder às grandes questões da geopolítica.
Aliás, a construção de uma ordem global liderada pelos EUA não começou com o fim da Guerra Fria; ela venceu a Guerra Fria. Nos quase 70 anos desde a 2.ª Guerra, Washington empreendeu esforços contínuos para construir um abrangente sistema de instituições multilaterais, alianças, acordos comerciais e parcerias políticas.
Esse projeto ajudou a atrair países para a órbita dos EUA. Ele ajudou a fortalecer normas e regras globais que questionaram a legitimidade das esferas de influência, tentativas de dominação regional e roubos territoriais ao estilo do século 19. E deu aos EUA as capacidades, parcerias e princípios para enfrentar grandes potências estraga-prazeres e revisionistas de hoje, tal como são. Alianças, parcerias, multilateralismo, democracia - essas são as ferramentas da liderança americana e elas estão vencendo, não perdendo, as disputas do século 21 sobre geopolítica e ordem mundial.
Em 1904, o geógrafo inglês Halford Mackinder escreveu que a grande potência que controlasse o coração da Eurásia comandaria "a Ilha do Mundo" e, com isso, o próprio mundo. Para Mead, a Eurásia voltou a ser o grande prêmio da geopolítica. Nos extremos longínquos de seu supercontinente, ele argumenta, China, Irã e Rússia procuram estabelecer suas esferas de influência e desafiam interesses americanos, tentando lenta, mas inexoravelmente, dominar a Eurásia e, com isso, ameaçar os EUA e o restante do mundo. Essa visão desconsidera uma realidade mais profunda. Em questões de geopolítica (para não mencionar de demografia, de política e de ideias), os EUA têm uma vantagem decisiva sobre China, Irã e Rússia.
Embora os EUA algum dia certamente descerão do pico de hegemonia que ocuparam durante a era unipolar, seu poder continua sem rival. Sua riqueza e vantagens tecnológicas continuam muito fora do alcance de China e Rússia, que dizer do Irã. Sua economia em recuperação, agora fortalecida por novos e volumosos recursos em gás natural, lhes permite manter uma presença militar global e compromissos de segurança confiáveis. Aliás, Washington tem uma habilidade única para ganhar amigos e influenciar Estados.
Segundo um estudo chefiado pelo cientista político Brett Ashley Leeds, os EUA mantêm parcerias militares com mais de 60 países, enquanto a Rússia tem oito aliados formais e a China apenas um (Coreia do Norte). Como me contou um diplomata britânico, "a China não parece fazer alianças". Mas os EUA sim e elas pagam um dividendo duplo: não só fornecem uma plataforma global para a projeção do poder americano, como distribuem a carga de fornecer segurança. A capacidade militar agregada nesse sistema de alianças liderado pelos EUA sobrepuja qualquer coisa que China ou Rússia possam criar nas próximas décadas.
Era atômica. Depois, há as armas nucleares. Essas armas, que EUA, China e Rússia possuem (e o Irã está buscando), ajudam Washington de duas maneiras. Primeiro, graças à lógica da destruição mútua garantida, elas reduzem radicalmente a probabilidade de uma guerra entre grandes potência. Tais confrontos forneceram oportunidades para grandes potências do passado, incluindo os EUA na 2.ª Guerra, firmarem suas próprias ordens internacionais. A era atômica privou a China e a Rússia dessa oportunidade. Segundo, armas nucleares também tornarão China e Rússia mais seguras, dando-lhes uma garantia de que os EUA jamais as invadirão. Isso é uma coisa boa, porque reduz a probabilidade de que elas recorram a medidas desesperadas, nascidas da insegurança, que possam provocar uma guerra e solapar a ordem liberal.
A geografia reforça outras vantagens dos EUA. Como única grande potência não rodeada por outras grandes potências, o país pareceu menos ameaçador a outros Estados e conseguiu ascender dramaticamente ao longo do último século sem provocar uma guerra. Após a Guerra Fria, quando os EUA eram a única superpotência do mundo, outras potências globais, a oceanos de distância, nem sequer tentaram se equiparar a eles. Aliás, a posição geográfica levou outros países a se preocupar mais com abandono do que com domínio. Aliados na Europa, Ásia e Oriente Médio tentaram fazer os EUA jogar um papel maior em suas regiões. O resultado é o que o historiador Geir Lundestad chamou de "império por convite".
A vantagem geográfica dos EUA está plenamente evidente na Ásia. A maioria dos países da região vê a China como um perigo potencial maior - em razão de sua proximidade - do que os EUA. Tirando os EUA, toda grande potência do mundo vive numa vizinhança geopolítica apinhada onde mudanças no poder rotineiramente provocam contramedidas.
A China está descobrindo essa dinâmica com a reação de Estados circundantes que em resposta a sua ascensão estão modernizando suas forças militares e reforçando suas alianças. A Rússia a conheceu há décadas e a enfrentou mais recentemente na Ucrânia, que nos últimos anos vinha aumentando seus gastos militares e tentando estreitar laços com a União Europeia (UE).
O isolamento geográfico também deu aos EUA razão para capitanear a defesa de princípios universais que lhe permitem acesso a várias regiões do mundo. O país promove há muito uma política de porta aberta e o princípio da autodeterminação, e se opôs ao colonialismo - menos por um senso de idealismo do que pelas realidades práticas de manter Europa, Ásia e Oriente Médio abertos ao comércio e à diplomacia.
No fim dos anos 1930, a principal questão que se colocava para os EUA era qual espaço geopolítico, ou "grande área", eles precisariam para existir como grande potência num mundo de impérios, blocos regionais e esferas de influência. A 2.ª Guerra deixou clara a resposta: prosperidade e segurança do país dependiam do acesso a cada região. E nas décadas seguintes, com algumas exceções importantes e danosas, como o Vietnã, os EUA adotaram princípios pós-imperiais.
Foi durante esses anos do pós-guerra que geopolítica e construção da ordem convergiram. Um arcabouço internacional liberal foi a resposta que estadistas como Dean Acheson, George Kennan e George Marshall ofereceram ao desafio do expansionismo soviético. O sistema que eles construíram fortaleceu e enriqueceu os EUA e seus aliados, em detrimento de seus oponentes não liberais. Também estabilizou a economia mundial e estabeleceu mecanismos para enfrentar problemas globais. O fim da Guerra Fria não mudou a lógica por trás desse projeto.
Felizmente, os princípios liberais que Washington promoveu gozam de um apelo quase universal, porque eles tenderam a se ajustar bem às forças modernizadoras do crescimento econômico e do progresso social. Como colocou o historiador Charles Maier, os EUA surfaram a onda de modernização do século 20. Mas alguns disseram que essa congruência entre o projeto americano e as forças da modernidade enfraqueceu nos últimos anos. A crise financeira de 2008, dizem, marcou um ponto crítico da história mundial no qual os EUA perderam seu papel de vanguarda na promoção do progresso econômico.
Mesmo que isso fosse verdade, não seria por isso que a China e a Rússia substituiriam os EUA como paradigmas da economia global. Nem Mead defende que China, Irã ou Rússia oferecem ao mundo um novo modelo de modernidade. Para essas potência não liberais realmente ameaçarem Washington e o restante do mundo capitalista liberal, elas terão de encontrar e surfar a próxima grande onda de modernização. É improvável que o façam.
Democracia. A visão de Mead de uma disputa pela Eurásia entre EUA e China, Irã e Rússia não leva em consideração a transição de poder mais profunda em curso: a crescente ascendência da democracia capitalista liberal. De fato, neste momento, muitas democracias liberais estão às voltas com lento crescimento econômico, desigualdade social e instabilidade política.
Mas a disseminação da democracia liberal pelo mundo, a partir de fins da década de 1970, acelerando-se após a Guerra Fria, fortaleceu dramaticamente a posição dos EUA e endureceu o círculo geopolítico em torno de China e Rússia.
É fácil esquecer como era rara a democracia liberal no passado. Até o século 20, ela estava confinada ao Ocidente e partes da América Latina. Após a 2.ª Guerra, começou a ir além desses domínios à medida que Estados agora independentes estabeleciam sua autodeterminação. Durante os anos 50, 60 e começo dos 70, golpes militares e novos ditadores frearam transições democráticas. Mas no fim dos anos 70, o que o cientista político Samuel Huntington chamou de "a terceira onda" de democratização varreu o sul da Europa, a América Latina e o Leste Asiático. Aí a Guerra Fria terminou, e uma legião de ex-Estados comunistas na Europa Oriental foram trazidos para o redil democrático. Em fins dos anos 90, 60% de todos os países haviam se tornado democracias.
Apesar de alguns retrocessos, a tendência mais significativa tem sido o surgimento de um grupo de potências médias democráticas, entre as quais Austrália, Brasil, Índia, Indonésia, México, Coreia do Sul e Turquia. Essas democracias ascendentes estão agindo como partes interessadas no sistema internacional: promovendo a cooperação multilateral, buscando maiores direitos e responsabilidades, exercendo influências por meios pacíficos.
Tais países levaram a ordem mundial liberal a novas alturas geopolíticas. Como observou o cientista político Larry Diamond, se Argentina, Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia recuperarem seu equilíbrio econômico e fortalecerem seu regime democrático, o G-20, que também inclui os EUA e países europeus, "se tornará um forte 'clube de democracias', deixando de fora apenas Rússia, China e Arábia Saudita". A ascensão de uma classe média global de Estados democráticos transformou China e Rússia em pontos fora da curva - e não, como Mead teme, legítimos disputantes da liderança global.
Aliás, o crescimento democrático foi extremamente problemático para ambos os países. No Leste Europeu, ex-Estados soviéticos e satélites tornaram-se democráticos e se uniram ao Ocidente. Por preocupantes que possam ter sido as medidas do presidente russo, Vladimir Putin, na Crimeia, elas refletem a vulnerabilidade geopolítica da Rússia e não sua força. Nas duas últimas décadas, o Ocidente foi paulatinamente se aproximando das fronteiras da Rússia.
Em 1999, República Checa, Hungria e Polônia entraram na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Juntaram-se a elas em 2004 outros sete antigos membros do bloco soviético e, em 2009, Albânia e Croácia. Nesse intervalo, seis ex-repúblicas soviéticas tomaram o caminho da participação ao aderir ao programa Partnership for Peace da Otan.
Mead dá muita importância às façanhas de Putin na Geórgia, Armênia e Crimeia. Apesar de Putin estar ganhando algumas pequenas batalhas, ele está perdendo a guerra. A Rússia não está em ascensão; ao contrário, está experimentando uma das maiores contrações geopolíticas de qualquer grande potência na era moderna.
A democracia também está cercando a China. Em meados dos anos 80, Índia e Japão eram as únicas democracias asiáticas, mas de lá para cá, Indonésia, Mongólia, Filipinas, Coreia do Sul, Taiwan e Tailândia entraram no clube. Mianmar deu passos cautelosos rumo a um regime pluripartidário - passos que vieram acompanhados, como a China não deixou de notar, de um aquecimento das relações com os EUA. A China vive hoje, decididamente, numa vizinhança democrática.
Essas transformações políticas puseram a China e a Rússia na defensiva. Considerem-se os recentes desdobramentos na Ucrânia. As correntes econômicas e políticas na maior parte do país estão fluindo inexoravelmente para oeste, uma tendência que apavora Putin. Seu único recurso foi pressionar a Ucrânia para resistir à UE e permanecer na órbita russa. Embora ele possa ser capaz de manter a Crimeia sob controle russo, seu domínio sobre o restante do país está diminuindo.
Como observou o diplomata da UE Robert Cooper, Putin pode tentar retardar o momento em que a Ucrânia "se filiará à UE, nas não pode impedi-lo". Na verdade, Putin pode nem ser capaz de fazer isso, pois suas medidas provocadoras só aceleraram a aproximação da Ucrânia da Europa.
A China enfrenta um problema similar em Taiwan. Dirigentes chineses sinceramente acreditam que Taiwan faz parte da China, mas os taiwaneses não. A transição democrática na ilha tornou as pretensões de independência de seus habitantes mais profundamente sentidas e legítimas. Uma pesquisa de opinião em 2011 revelou que se os taiwaneses pudessem receber garantias de que a China não atacaria Taiwan, 80% deles apoiariam a declaração de independência. Como a Rússia, a China quer o controle geopolítico sobre sua vizinhança. Mas a disseminação da democracia para todos os cantos da Ásia tornou a dominação à moda antiga a única maneira de alcançar isso e essa opção é dispendiosa e autodestrutiva.
Enquanto a ascensão de Estados democráticos torna a vida mais difícil para China e Rússia, ela torna o mundo mais seguro para os EUA. Essas duas potências podem se considerar rivais dos EUA, mas a rivalidade ocorre num campo de jogo muito desigual: os EUA têm mais amigos e os mais capazes também. Washington e seus aliados respondem por 75% dos gastos militares globais. A democratização pôs China e Rússia numa caixa geopolítica.
O Irã não está cercado de democracias, mas é ameaçado por um movimento pró-democracia insubmisso em casa. Mais importante, o Irã é o membro mais fraco do eixo de Mead, com economia e capacidade militar muito menores do que os EUA e as outras grandes potências. Ele é alvo também do mais forte regime de sanções internacionais jamais montado, com ajuda da China e da Rússia.
A diplomacia do governo Obama para o Irã pode ter sido bem-sucedida ou não, mas não está claro o que Mead faria de diferente para impedir o país de conseguir armas nucleares. A abordagem de Obama tem a virtude de oferecer a Teerã um caminho pelo qual ele pode mudar de potência regional hostil para ser um membro não nuclear mais construtivo da comunidade internacional - um fator de mudança de jogo que Mead não analisa.
O revisionismo revisitado por Mead não só subestima a força dos EUA como a ordem que eles construíram. Ele também exagera no grau em que China e Rússia estão buscando resistir. Tirante suas ambições nucleares, o Irã parece um Estado empenhado mais em protestos fúteis do que numa verdadeira resistência, por isso não deve ser considerado próximo de uma potência revisionista.
Sem dúvida, China e Rússia desejam uma maior influência regional. A China exibiu pretensões agressivas a direitos marítimos e ilhas próximas contestadas. Embarcou num reforço de armamentos. Putin pretende reclamar o domínio da Rússia sobre seu "exterior próximo". As grandes potências se eriçam contra a liderança americana e resistem a ela quando podem.
Mas China e Rússia não são verdadeiras revisionistas. Como disse o ex-chanceler israelense Shlomo Ben-Ami, a política externa de Putin é "mais um reflexo de seu ressentimento com a marginalização geopolítica da Rússia do que um grito de guerra de um império em ascensão".
A China, é claro, é uma genuína potência em ascensão e isso convida a uma competição perigosa com aliados americanos na Ásia. Mas a China não está tentando romper essas alianças ou derrubar o sistema mais amplo de governança da segurança regional concretizado na Associação de Nações do Sudeste Asiático e na Cúpula do Leste Asiático. E mesmo que ela abrigasse ambições de eventualmente fazê-lo, as parcerias de segurança americanas na região são, no mínimo, mais fortes, não mais fracas.
China e Rússia são, na melhor hipótese, estraga-prazeres. Elas não têm interesses - para não mencionar ideias, capacidade ou aliados - para levá-las a subverter regras e instituições globais existentes.
Soberania e interesses. Aliás, embora se ressintam de que os EUA estão no topo do sistema geopolítico atual, elas adotam a lógica subjacente desse arcabouço, e por boa razão. A abertura lhes dá acesso a comércio, investimentos e tecnologia de outras sociedades. As regras lhes dão ferramentas para proteger sua soberania e seus interesses. Apesar das controvérsias sobre a nova ideia de "responsabilidade de proteger" (que só tem sido aplicada seletivamente), a ordem mundial atual só preserva normas antigas de soberania de Estado e não intervenção. Aqueles princípios westfalianos continuam sendo a base da política mundial - e a China e a Rússia amarraram neles seus interesses nacionais (apesar do irredentismo perturbador de Putin).
Não deve surpreender, portanto, que China e Rússia tenham se integrado profundamente na ordem internacional existente. Ambas são membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, com direito de veto, e ambas participam ativamente na Organização Mundial de Comércio (OMC), no Fundo Monetário Internacional (FMI), no Banco Mundial e no G-20. Elas são atores geopolíticos, participando de todos os organismos de peso na governança global.
A China, a despeito de sua rápida ascensão, não tem uma agenda global ambiciosa. Ela continua concentrada em sua situação interna, em preservar o regime do Partido Comunista. Algumas figuras políticas e intelectuais chineses, como Yan Xuetong e Zhu Chenghu, têm uma lista de desejos de objetivos revisionistas. Elas veem o sistema ocidental como uma ameaça e estão à espera do dia em que a China poderá reorganizar a ordem internacional. Mas essas vozes não vão muito além da elite política. Aliás, a liderança chinesa se afastou de seus primeiros apelos a uma mudança radical.
Em 2007, numa reunião de seu Comitê Central, o Partido Comunista Chinês substituiu propostas anteriores de uma "nova ordem econômica internacional" por apelos a reformas mais modestas centradas em equidade e justiça. O pesquisador chinês Wang Jisi argumentou que esse movimento é "sutil, mas importante", mudando a orientação da China para as de uma reformadora global. A China agora deseja um papel maior no FMI e no Banco Mundial, mais influência em fóruns como o G-20 e maior uso global de sua moeda. Essa não é a agenda de um país tentando revisar a ordem econômica.
China e Rússia também são membros em boa posição no clube nuclear. O centro do acordo da Guerra Fria entre os EUA e a União Soviética (e depois a Rússia) foi um esforço compartilhado para limitar armas nucleares. Apesar de as relações russo-americanas terem azedado depois disso, o componente nuclear de seu acordo se manteve. Em 2010, Moscou e Washington assinaram o tratado New Start, que dispõe sobre reduções mútuas em armas nucleares de longo alcance.
Antes dos anos 90, a China era uma estranha no clube nuclear. Apesar de ter um arsenal modesto, ela se via como uma voz do mundo em desenvolvimento não nuclear e criticava os acordos de controle de armas e proibição de testes. Numa mudança notável, a China passou a apoiar o conjunto dos acordos nucleares, incluindo o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares e o Tratado de Proibição Completa de Testes Nucleares. Ela tem afirmado uma doutrina de "não ser a primeira a usar", tem mantido pequeno seu arsenal e tirou da condição de alerta toda sua força nuclear. A China também jogou um papel ativo na Cúpula de Segurança Nuclear, uma iniciativa proposta por Obama em 2009, e entrou no "processo P5", um esforço cooperativo para proteger essas armas.
Em todo um amplo leque de questões, China e Rússia estão agindo mais como grandes potências estabelecidas do que como revisionistas. Elas com frequência optam por evitar o multilateralismo, mas isso também ocorre com os EUA e outras democracias poderosas. Pequim ratificou a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar; Washington não.
China e Rússia estão usando regras e instituições globais para defender seus próprios interesses. Suas disputas com os EUA referem-se a ganhar influência dentro da ordem existente e manipulá-la para servir a suas necessidades. Elas querem melhorar suas posições no sistema, mas não estão tentando substituí-lo. 
TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

* É COLABORADOR DA FOREIGN AFFAIRS E PROFESSOR DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS DA UNIVERSIDADE DE PRINCETON


sexta-feira, 2 de maio de 2014

Foreign Affairs resenha O Capital no Seculo XXI: imposto sobre ricos nao vai terminar com a desigualdade

Capital Punishment
Why a Global Tax on Wealth Won't End Inequality

Foreign Affairs, MAY/JUNE 2014 ISSUE

Capital in the Twenty-first Century
BY THOMAS PIKETTY. 
TRANSLATED BY ARTHUR GOLDHAMMER. 
Belknap Press, 2014, 696 pp. $39.95.
Every now and then, the field of economics produces an important book; this is one of them. Thomas Piketty’s tome will put capitalist wealth back at the center of public debate, resurrect interest in the subject of wealth distribution, and revolutionize how people view the history of income inequality. On top of that, although the book’s prose (translated from the original French) might not qualify as scintillating, any educated person will be able to understand it -- which sets the book apart from the vast majority of works by high-level economic theorists.
Piketty is best known for his collaborations during the past decade with his fellow French economist Emmanuel Saez, in which they used historical census data and archival tax records to demonstrate that present levels of income inequality in the United States resemble those of the era before World War II. Their revelations concerning the wealth concentrated among the richest one percent of Americans -- and, perhaps even more striking, among the richest 0.1 percent -- have provided statistical and intellectual ammunition to the left in recent years, especially during the debates sparked by the 2011 Occupy Wall Street protests and the 2012 U.S. presidential election.
In this book, Piketty keeps his focus on inequality but attempts something grander than a mere diagnosis of capitalism’s ill effects. The book presents a general theory of capitalism intended to answer a basic but profoundly important question. As Piketty puts it:
"Do the dynamics of private capital accumulation inevitably lead to the concentration of wealth in ever fewer hands, as Karl Marx believed in the nineteenth century? Or do the balancing forces of growth, competition, and technological progress lead in later stages of development to reduced inequality and greater harmony among the classes, as Simon Kuznets thought in the twentieth century?"
Although he stops short of embracing Marx’s baleful vision, Piketty ultimately lands on the pessimistic end of the spectrum. He believes that in capitalist systems, powerful forces can push at various times toward either equality or inequality and that, therefore, “one should be wary of any economic determinism.” But in the end, he concludes that, contrary to the arguments of Kuznets and other mainstream thinkers, “there is no natural, spontaneous process to prevent destabilizing, inegalitarian forces from prevailing permanently.” To forestall such an outcome, Piketty proposes, among other things, a far-fetched plan for the global taxation of wealth -- a call to radically redistribute the fruits of capitalism to ensure the system’s survival. This is an unsatisfying conclusion to a groundbreaking work of analysis that is frequently brilliant -- but flawed, as well.
THE RICH ARE DIFFERENT
Piketty derives much of his analysis from a close examination of an important but generally overlooked driver of economic inequality: in contemporary market economies, the rate of return on investment frequently outstrips the overall growth rate, an imbalance that Piketty renders as r > g. Thanks to the effect of compounding, if that discrepancy persists over time, the wealth held by capitalists increases far more rapidly than other kinds of earnings, eventually outstripping them by a wide margin. To measure this effect, Piketty focuses on the annual capital-to-income ratio, which expresses the size of a country’s total stock of wealth relative to the income generated by its economy in a single year. Capital wealth is generally much larger than yearly national income -- in the case of today’s developed economies, about five to six times as large.
Piketty expertly narrates the story of how that gap has played a major role in economic history since the dawn of the modern era. The peace and relative stability enjoyed by western Europe during the second half of the nineteenth century allowed for enormous capital accumulation. Unprecedented concentrations of wealth arose, boosting inequality. But two world wars and the Great Depression destroyed capital and interrupted that trend. Those cataclysms led to a new, more egalitarian era, shaped by postwar rebuilding, a strong demand for labor, rapidly growing populations, and technological innovation. The three decades between 1950 and 1980 were truly unusual; the constellation of economic and demographic variables that produced prosperity during that period will probably not be re-created anytime soon.
After 1980, ongoing capital accumulation, slower technological progress, and rising inequality heralded a regression to something akin to the conditions of the nineteenth century. But few notice the resemblance between now and then, especially in one crucial respect: the role of inherited wealth. So many nineteenth-century novelists were obsessed with estates and inheritance -- think of Jane Austen, George Eliot, or Charles Dickens -- precisely because receiving wealth from one’s parents was such a common way of prospering during that era. In nineteenth-century France, the flow of inheritances represented about 20–25 percent of national income during a typical year. According to Piketty’s calculations, the Western world is headed toward a roughly comparable situation. The relatively thrifty and wealthy baby boomers will soon begin to die off in greater numbers, and inheritance as a source of income disproportionately benefits the families of the very wealthy.
At the core of Piketty’s story are the tragic consequences of capitalism’s success: peace and a declining population bring notable gains, but they also create a society dominated by wealth and by income from capital. In essence, Piketty presents a novel and somewhat disconcerting way of thinking about how hard it is to avoid growing inequality.
Yet there are flaws in this tale. Although r > g is an elegant and compelling explanation for the persistence and growth of inequality, Piketty is not completely clear on what he means by the rate of return on capital. As Piketty readily admits, there is no single rate of return that everyone enjoys. Sitting on short-term U.S. Treasury bills does not yield much: a bit over one percent historically in inflation-adjusted terms and, at the moment, negative real returns. Equity investments such as stocks, on the other hand, have a historical rate of return of about seven percent. In other words, it is risk taking -- a concept mostly missing from this book -- that pays off.
That fact complicates Piketty’s argument. Piketty estimates that the general annual rate of return on capital has averaged between four and five percent (pretax) and is unlikely to deviate too far from this range. But in too many parts of his argument, he seems to assume that investors can reap such returns automatically, with the mere passage of time, rather than as the result of strategic risk taking. A more accurate picture of the rate of return would incorporate risk and take into account the fact that although the stock of capital typically grows each year, sudden reversals and retrenchments are inevitable. Piketty repeatedly serves up the appropriate qualifications and caveats about his model, but his analysis and policy recommendations nevertheless reflect a notion of capital as a growing, homogeneous blob which, at least under peaceful conditions, ends up overshadowing other economic variables.
Furthermore, even if one overlooks Piketty’s hazy definition of the rate of return, it is difficult to share his confidence that the rate, however one defines it, is likely to be higher than the growth rate of the economy. Normally, economists think of the rate of return on capital as diminishing as investors accumulate more capital, since the most profitable investment opportunities are taken first. But in Piketty’s model, lucrative overseas investments and the growing financial sophistication of the superwealthy keep capital returns permanently high. The more prosaic reality is that most capital stays in its home country and also has a hard time beating randomly selected stocks. For those reasons, the future of capital income looks far less glamorous than Piketty argues.
RICARDO REDUX
Piketty, in a way, has updated the work of the British economist David Ricardo, who, in the early nineteenth century, identified the power of what he termed “rent,” which he defined as the income earned from taking advantage of the difference in value between more and less productive lands. In Ricardo’s model, rent -- the one kind of income that did not suffer from diminishing returns -- swallowed up almost everything else, which is why Ricardo feared that landlords would come to dominate the economy.
Of course, since Ricardo’s time, the relative economic importance of land has plummeted, and his fear now seems misplaced. During the twentieth century, other economists, such as Friedrich Hayek and the other thinkers who belonged to the so-called Austrian School, understood that it is almost impossible to predict which factors of production will provide the most robust returns, since future economic outcomes will depend on the dynamic and essentially unforeseeable opportunities created by future entrepreneurs. In this sense, Piketty is like a modern-day Ricardo, betting too much on the significance of one asset in the long run: namely, the kind of sophisticated equity capital that the wealthy happen to hold today.
Piketty’s concern about inherited wealth also seems misplaced. Far from creating a stagnant class of rentiers, growing capital wealth has allowed for the fairly dynamic circulation of financial elites. Today, the Rockefeller, Carnegie, and Ford family fortunes are quite dispersed, and the benefactors of those estates hardly run the United States, or even rival Bill Gates or Warren Buffett in the financial rankings. Gates’ heirs will probably inherit billions, but in all likelihood, their fortunes will also be surpassed by those of future innovators and tycoons, most of whom will not come from millionaire families.
To be sure, outside the realm of the ultra-elites, the United States suffers from unfairness in terms of who gets ahead in life, and a lack of upward mobility profoundly affects the prospects of lower-income Americans. Still, the success of certain immigrant groups suggests that cultural factors play a more significant role in mobility than does the capital-to-income ratio, since the children and grandchildren of immigrants from those groups tend to advance socioeconomically even if their forebears arrived without much in the way of accumulated fortunes.
It is also worth noting that many wealth accumulators never fully diversify their holdings, or even come close to doing so. Gates, for example, still owns a lot of Microsoft stock -- perhaps out of a desire for control, or because of a sentimental attachment to the company he co-founded, or maybe just due to excessive optimism. Whatever the reasons, over time such concentrations of financial interest hasten the circulation of elites by making it possible for the wealthy to suffer large losses very rapidly.
And in the end, even the most successful companies will someday fall, and the fortunes associated with them will dissipate. In the very long run, the most significant gains will be reaped by institutions that are forward-looking and rational enough to fully diversify. As Piketty discusses, that category includes the major private U.S. universities, and indeed the list of the top schools has not changed much over many decades. Harvard and other elite universities might, in fact, emerge as the true rentiers of the contemporary era: as of 2008, the top 800 U.S. colleges and universities controlled almost $400 billion in assets.
DOING WELL, THEN DOING GOOD
Piketty fears the stasis and sluggishness of the rentier, but what might appear to be static blocks of wealth have done a great deal to boost dynamic productivity. Piketty’s own book was published by the Belknap Press imprint of Harvard University Press, which received its initial funding in the form of a 1949 bequest from Waldron Phoenix Belknap, Jr., an architect and art historian who inherited a good deal of money from his father, a vice president of Bankers Trust. (The imprint’s funds were later supplemented by a grant from Belknap’s mother.) And consider Piketty’s native France, where the scores of artists who relied on bequests or family support to further their careers included painters such as Corot, Delacroix, Courbet, Manet, Degas, Cézanne, Monet, and Toulouse-Lautrec and writers such as Baudelaire, Flaubert, Verlaine, and Proust, among others.
Notice, too, how many of those names hail from the nineteenth century. Piketty is sympathetically attached to a relatively low capital-to-income ratio. But the nineteenth century, with its high capital-to-income ratios, was in fact one of the most dynamic periods of European history. Stocks of wealth stimulated invention by liberating creators from the immediate demands of the marketplace and allowing them to explore their fancies, enriching generations to come.
Piketty’s focus on the capital-to-income ratio is novel and worthwhile. But his book does not convincingly establish that the ratio is important or revealing enough to serve as the key to understanding significant social change. If wealth keeps on rising relative to income, but wages also go up, most people will be happy. Of course, in the past few decades, median wages have been stagnant in many developed countries, including the United States. But the real issue, then, is wages -- not wealth. A high capital-to-income ratio might be one factor depressing wages, but it hardly seems central -- and Piketty does not claim, much less show, that it is.
Two other factors have proved much more important: technological changes during the past few decades that have created a globalized labor market that rewards those with technical knowledge and computer skills and competition for low-skilled jobs from labor forces overseas, especially China. Piketty discusses both of those issues, but he puts them to the side rather than front and center.
Of course, income and wealth inequalities have risen in most of the world’s developed nations, and those processes will likely continue and perhaps intensify in the immediate future. But for the world as a whole, economic inequalities have been falling for several decades, mostly thanks to the economic rise of China and India. Growth in those countries has depended in part on policies of economic liberalization, which themselves were inspired and enabled, to a certain extent, by capital accumulation in the West. The relative global peace of the postwar period might have bred inequality in rich countries, but it has also led to reform and economic opportunity in poorer countries. It is no accident that communism was the product of war and civil conflict.
TAXMAN
The final chapters of the book, which contain Piketty’s policy recommendations, are more ideological than analytic. In these sections, Piketty’s preconceptions lead to some untenable conclusions. His main proposal is a comprehensive international agreement to establish a progressive tax on individual wealth, defined to include every kind of asset. Piketty concedes that this is a “utopian idea” but also insists that it is the best possible solution to the problem. He hedges a bit on the precise numbers but suggests that wealth below 200,000 euros be taxed at a rate of 0.1 percent, wealth between 200,000 and one million euros at 0.5 percent, wealth between one million and five million euros at 1.0 percent, and wealth above five million euros at 2.0 percent.
Although he recognizes the obvious political infeasibility of such a plan, Piketty has nothing to say about the practical difficulties, distorting effects, and potential for abuse that would inevitably accompany such intense government control of the economy. He points to estimates he has previously published in academic papers as evidence that such a confiscatory regime would not harm the labor supply in the short term. But he neglects the fact that in the long run, taxes of that level would surely lower investments in human capital and the creation of new businesses. Nor does he recognize one crucial implication of his own argument about the power of nondiminishing capital returns: if capital is so mobile and dynamic that it can avoid diminishing returns, as Piketty claims, then it will probably also avoid being taxed, which means that the search for tax revenue will have to shift elsewhere, and governments will find that soaking the rich does not really work.
Piketty also ignores other problems that would surely stem from so much wealth redistribution and political control of the economy, and the book suffers from Piketty’s disconnection from practical politics -- a condition that might not hinder his standing in the left-wing intellectual circles of Paris but that seems naive when confronted with broader global economic and political realities. In perhaps the most revealing line of the book, the 42-year-old Piketty writes that since the age of 25, he has not left Paris, “except for a few brief trips.” Maybe it is that lack of exposure to conditions and politics elsewhere that allows Piketty to write the following words with a straight face: “Before we can learn to efficiently organize public financing equivalent to two-thirds to three-quarters of national income” -- which would be the practical effect of his tax plan -- “it would be good to improve the organization and operation of the existing public sector.” It would indeed. But Piketty makes such a massive reform project sound like a mere engineering problem, comparable to setting up a public register of vaccinated children or expanding the dog catcher’s office.
Worse, Piketty fails to grapple with the actual history of the kind of wealth tax he supports, a subject that has been studied in great detail by the economist Barry Eichengreen, among others. Historically, such taxes have been implemented slowly, with a high level of political opposition, and with only modestly successful results in terms of generating revenue, since potentially taxable resources are often stashed in offshore havens or disguised in shell companies and trusts. And when governments have imposed significant wealth taxes quickly -- as opposed to, say, the slow evolution of local, consent-based property taxes -- those policies have been accompanied by crumbling economies and political instability.
Recent wealth-tax regimes in the European Union offer no exceptions to this general rule. In 2011, Italy introduced a wealth tax on real estate, but Rome retracted the plan after the incumbent government was dealt a major blow in elections last year, partly owing to public dissatisfaction with the tax scheme. Last year, the government of the Republic of Cyprus imposed the equivalent of a tax on bank deposits, only to see the tax contribute to, rather than reverse, the island’s economic struggles.
The simple fact is that large wealth taxes do not mesh well with the norms and practices required by a successful and prosperous capitalist democracy. It is hard to find well-functioning societies based on anything other than strong legal, political, and institutional respect and support for their most successful citizens. Therein lies the most fundamental problem with Piketty’s policy proposals: the best parts of his book argue that, left unchecked, capital and capitalists inevitably accrue too much power -- and yet Piketty seems to believe that governments and politicians are somehow exempt from the same dynamic.
A more sensible and practicable policy agenda for reducing inequality would include calls for establishing more sovereign wealth funds, which Piketty discusses but does not embrace; for limiting the tax deductions that noncharitable nonprofits can claim; for deregulating urban development and loosening zoning laws, which would encourage more housing construction and make it easier and cheaper to live in cities such as San Francisco and, yes, Paris; for offering more opportunity grants for young people; and for improving education. Creating more value in an economy would do more than wealth redistribution to combat the harmful effects of inequality.