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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Que tal se os ministros ministrassem? - Jose Neumanne

JOSÉ NÊUMANNE
O Estado de S.Paulo, 17/07/2013

Os ministros da Educação, Aloizio Mercadante, e da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo, têm abandonado seus expedientes rotineiros para exercerem os cargos informais de espírito santo de orelha e papagaio de pirata de sua chefe, a presidente Dilma Rousseff. Nessa condição têm produzido sesquipedais ideias de jerico, tais como o golpinho sujo da Constituinte exclusiva para uma reforma política que ninguém pediu e da qual só os políticos, particularmente os petistas, se beneficiariam; e a empulhação do plebiscito prévio com igual objetivo. O máximo que conseguiram até agora foi a adesão da oposição, incompetente e alienada, que aceita a embromação de um referendo.

Melhor seria para os dois, para o governo a que servem, para a presidente a que obedecem e, sobretudo, para a sociedade, que paga com sacrifício seus salários com impostos escorchantes, que eles se dedicassem à rotina comezinha de suas funções públicas. O economista Mercadante, que se recusa a usar o sobrenome do pai, o general Oliva, serviçal da ditadura militar que assolou o país por 21 anos, de 1964 a 1985, faria um bem enorme às gerações futuras de brasileiros se resolvesse uma equação perversa que as condena à ignorância e a perder a competição na guerra planetária pelo conhecimento.
De acordo com levantamento feito pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), composta pelos 34 países mais ricos do mundo, o Brasil investe em educação pública 5,8% do produto interno bruto (PIB), praticamente o mesmo que Estados Unidos, Espanha e Coreia do Sul. Mas ocupa o 53.º lugar no ranking do desempenho escolar, conforme o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), exame que avalia habilidades em leitura, matemática e ciências, aplicado pela própria OCDE. Ou seja, embora mais recursos para o setor sejam bem-vindos, estes não são imprescindíveis para aprimorar a educação. Para tanto urge melhorar a gestão, e isso o ministro pode fazer já.
Não será um trabalho fácil. Mas não é uma tarefa impossível. Como difíceis, mas também possíveis, são algumas das missões de que seu colega no primeiro escalão do governo federal petista, o causídico Cardozo, não dá conta. Pode-se dar-lhe o benefício da compreensão das dificuldades que a Polícia Federal (PF), sua subordinada hierárquica, deve enfrentar para ter de desvendar crimes de toda natureza, particularmente os de colarinho branco. Mas tampouco se pode omitir o fato de que a instituição às vezes tem um desempenho exemplar em casos muito mais difíceis do que em outros, na aparência, bem mais simples, mas cuja solução tem sido adiada para as calendas.
Um exemplo desse paradoxo é o escabroso caso da compra pela Petrobrás de uma refinaria que pertencia à empresa Astra Oil em Pasadena, no Texas (EUA). Os belgas a adquiriram por US$ 42,5 milhões em 2005. Em 2006 a empresa, presidida por um ex-funcionário da estatal brasileira, vendeu metade do controle acionário dela à Petrobrás por US$ 360 milhões. O convívio entre os sócios foi perturbado pela necessidade de aporte de US$ 1,5 bilhão para a pequena refinaria, com capacidade para ínfimos 150 mil barris/dia, poder refinar o petróleo pesado extraído de poços brasileiros. Os belgas processaram a sócia e esta encerrou a questão na Justiça americana desembolsando mais US$ 839 milhões para assumir o controle total da refinaria. Ou seja, a Astra Oil embolsou, ao todo, US$ 1,199 bilhão: US$ 1,154 bilhão e quase 30 vezes mais que os US$ 42,5 milhões pagos por ela oito anos antes. O Ministério Público Federal no Estado do Rio resolveu investigar essa óbvia fraude e talvez a PF, sob as ordens do dr. Cardozo, desse uma extraordinária contribuição à pátria se, ao cabo de uma investigação rigorosa, descobrisse quem recebeu a bilionária (em dólares) “comissão”.
Outra tarefa rotineira a ser desincumbida pelo causídico Cardozo, se trocar as funções de Richelieu do Planalto por mais assiduidade no expediente no Ministério da Justiça, seria cobrar da PF a apuração rigorosa e imparcial das acusações feitas contra Rosemary Noronha na Operação Porto Seguro, que a própria PF encetou em novembro de 2012. Na ocasião, a PF informou ter flagrado as práticas de advocacia administrativa e tráfico de influência em altos escalões do governo federal. Entre os protagonistas do caso teve destaque a figura de Rosemary, dada como amiga muito íntima do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e flagrada interferindo pessoalmente na nomeação de quadrilheiros em cargos importantes da burocracia da União, inclusive uma direção da Agência Nacional de Águas. A então chefe de gabinete do escritório da Presidência da República em São Paulo, nomeada por Lula e mantida no cargo por Dilma a pedido do padrinho e antecessor, é acusada, entre outros malfeitos, de ter ajudado o ex-senador Gilberto Miranda a obter licenças para usar duas ilhas no litoral paulista. Essa ajuda teria sido recompensada com um cruzeiro (R$ 2.500), uma Mitsubishi Pajero TR4 (R$ 55 mil), uma cirurgia no ouvido (R$ 7.500) e móveis para a filha (R$ 5 mil).
Segundo a Veja, o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, homem de confiança de Lula, teria tentado atrapalhar a investigação que a presidente mandou a chefe da Casa Civil, Gleisi Hofmann, fazer a respeito de Rosemary. Carvalho tentou se explicar no Senado. Mas a PF teria de investigar por que oligarcas da republiqueta petista foram prestimosos e atenderam aos pedidos de uma secretária de luxo.

A PF poderia ainda investigar denúncia da Folha de S.Paulo de ter a Caixa Econômica Federal liberado sem licença Bolsa Família na véspera da onda de boatos que causou corrida a agências da instituição, pela qual dignitários do governo e do PT, entre eles Dilma, acusaram adversários. É ou não é?

terça-feira, 23 de abril de 2013

Incompetencia petrolifera e gestao irresponsavel: a Petrossauro dos companheiros (Editorial Estadao)


Autossuficiência mais distante

22 de abril de 2013 | 2h 09
Editorial O Estado de S.Paulo
Sete anos depois de o ex-presidente Lula ter anunciado com estardalhaço a autossuficiência do Brasil em petróleo, o País precisa importar combustível para suprir a demanda interna. Por causa da gestão que o governo do PT impôs à Petrobrás, a autossuficiência durou pouco e sua reconquista demorará. Como admite a empresa, ela só será novamente alcançada em 2020, em termos plenos (incluindo derivados).
Como outros grandes atos do governo petista, a autossuficiência anunciada por Lula - com as mãos sujas de óleo, imitando o gesto com que, décadas antes, Getúlio Vargas comemorara a descoberta do primeiro poço da Petrobrás - no dia 21 de abril de 2006, na inauguração da Plataforma P-50, a 120 quilômetros do litoral fluminense, foi tema de intensa campanha publicitária. "Quando a Petrobrás foi criada, muitos não acreditavam que fosse viável", disse, em comunicado, o então presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli. "O fato é que, 53 anos depois, ela conquistou a autossuficiência para o Brasil."
Mas a administração que afirmou ter "conquistado" essa condição foi responsável também por "desconquistá-la", pois não conseguiu fazer a produção crescer em ritmo igual ou superior ao do aumento da demanda interna por combustíveis derivados de petróleo. Em 2012, a produção média da Petrobrás foi de 1,98 milhão de barris/dia, mas o consumo total alcançou 2,06 milhões de barris/dia de derivados, conforme dados da Agência Nacional do Petróleo. O consumo continua a subir, mas a Petrobrás continua a produzir menos. Em janeiro, a produção atingiu 1,96 milhão de barris/dia, menos do que a média de 2012, e, em fevereiro, caiu para 1,92 milhão de barris/dia.
A falta de manutenção adequada dos poços fez a produção cair mais depressa. A necessidade de reparos de maior porte, porque a manutenção não foi feita adequadamente, tem implicado a paralisação das operações por períodos mais longos, o que também contribui para fazer cair a produção global da empresa.
Do lado do refino, o que se constata é que, por terem sido definidos de acordo com critérios políticos e não técnicos, alguns projetos não saíram do papel e outros andam muito devagar, e a um custo muito maior do que o orçado inicialmente.
A construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, é uma espécie de síntese da política da Petrobrás na área de refino durante a gestão Lula. Para agradar ao então presidente bolivariano da Venezuela, Hugo Chávez, seu aliado político, o ex-presidente brasileiro colocou a estatal venezuelana PDVSA como sócia (com 40% de participação) da Refinaria Abreu e Lima. A sócia não investiu nenhum tostão na obra, que está muito atrasada e cujo custo, inicialmente orçado em US$ 2,3 bilhões, não ficará em menos de US$ 18 bilhões.
A estagnação da capacidade de refino, por causa do atraso na construção de refinarias, força a Petrobrás a importar derivados em quantidades crescentes, para atender à demanda interna. Com a produção do petróleo em queda e sem aumentar a capacidade de refino, a empresa quadruplicou seu déficit comercial no primeiro trimestre do ano, em relação aos três primeiros meses de 2012. De janeiro a março, a Petrobrás aumentou suas importações em 40,2%, mas suas exportações diminuíram 50,3%. O resultado foi um déficit comercial acumulado de US$ 7,4 bilhões.
A produção, reconhece a presidente da empresa, Graça Foster, só voltará a aumentar a partir de 2014. É possível que, no próximo ano, a produção de petróleo seja igual ou ligeiramente superior, em volume, ao consumo interno de derivados. No entanto, como a capacidade de refino não será aumentada, o País continuará importando derivados.
A autossuficiência de fato, incluindo petróleo bruto e derivados, só será alcançada em 2020, quando, de acordo com seu planejamento estratégico, a Petrobrás estará produzindo 4,2 milhões de barris de petróleo por dia, terá capacidade de refino de 3,6 milhões de barris/dia e o consumo interno será de 3,4 milhões de barris/dia.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Petrobras: triunfo (ilusorio) e tragedia (real) do lulopetismo...

A Petrobras conviveu, nos seus primeiros dez anos com presidências incompetentes, em sua maior parte, comandadas politicamente, e portanto com parcos resultados substantivos. Depois, tivemos duas décadas de regime militar, com gestão mais prussiana, mas também com resultados medíocres, em função de todo aquele stalinismo industrial, daquele nacionalismo rústico que sempre caracterizou o pensamento econômico (se pensamento havia) dos militares.
Depois foi a mediocridade da Nova República, embora se tenha tentado fazê-la avançar. A Constituinte, obtusa como era no plano econômico, confirmou as piores decisiões que se poderia esperar de estatizantes entusiasmados sobre como aproveitar (mal) os recursos nacionais e como atrasar ainda mais a exploração e transformação industrial do petróleo.
Com FHC e as emendas constitucionais de modernização econômica (e mental), a Petrobras adquiriu uma gestão profissional, tecnicamente sólida, e com a ANP pragmática foram abertos muitos campos à exploração conjunta, da Petrobras e de empresas estrangeiras.
Aí veio a praga do lulopetismo, com todos os vícios, mazelas, preconceitos, incompetências acumuladas de décadas passadas. Saíram anunciando grandes triunfos e colheram grandes tragédias.
Infelizmente todo o povo brasileiro vai pagar caro pela má gestão petista no comando da Petrobras, e mais ainda os acionistas.
Não falo só do valor de mercado da companhia, que já caiu pela metade, mas dos retrocessos acumulados na operação própria da companhia, e que vai ser difícil recuperar nos próximos anos.
Esta é mais uma das heranças malditas do lulopetismo, junto com a roubalheira do Mensalão, a deterioração das instituições, o recuo educacional, o aumento da corrupção e o atraso mental, claro.
Paulo Roberto de Almeida

A Petrobras especializada na fabricação de prodígios só existiu enquanto durou a quermesse dos patriotas de galinheiro
Augusto Nunes, 14.02.2013

“Quando a gente quiser ter orgulho de alguma coisa neste país, a gente lembra da Petrobras mais do que o Carnaval, mais do que o futebol”, comunicou em 29 de outubro de 2010 o ainda presidente Lula. “A Petrobras é a certeza e a convicção de que este país será uma grande nação”. Nem sempre fora assim, ressalvou o palanque ambulante. Fundada em 3 de outubro de 1953, a empresa nasceu de novo quando a Divina Providência presenteou o grotão sul-americano com o maior dos governantes desde Tomé de Souza.

Entre tantas ideias luminosas, foi Lula quem descobriu que a estatal merecia ser comandada pelos companheiros José Eduardo Dutra e José Sérgio Gabrielli. Em dois anos e meio no cargo, o Zé geólogo ajudou o chefe a desmatar a trilha que conduz à autossuficiência em petróleo. Nos seis anos seguintes, o Zé economista ajudou o chefe a localizar a rota que leva às jazidas do pré-sal ─ um colosso nas funduras do Atlântico que antecipou a inauguração do Brasil Maravilha.

“Vamos usar esse petróleo para resolver um problema crônico de investimento na educação e para tirar esse atraso”, anunciou Lula em agosto de 2008. “Vamos usar parte desse dinheiro para resolver o problema dos miseráveis desse país, das pessoas que ainda não conquistaram cidadania”. Já de olho no gabinete presidencial, Dilma Rousseff achou essencial explicar que “o pré-sal é um recurso tão importante para a nossa geração e próximas que é de fato um conjunto da população brasileira”.

Enquanto tentavam entender a primeira frase, os ouvintes foram apresentados pela Mãe do PAC a outras preciosidades em dilmês primitivo. “Isso define o princípio que vai nortear o governo sobre seu uso, que é tomar todas as medidas para transformar esse grande recurso em fonte que vai permitir que os brasileiros tenham melhoria da educação, das condições que permitirão que avancemos em direção à sociedade do conhecimento, que inova e faz pesquisa, e pela forma que chegamos ao pré-sal”.

Em setembro de 2009, no discurso transmitido por uma cadeia nacional de rádio e TV, Lula concedeu ao pré-sal o título de “Dádiva de Deus”, reduziu a traidores da pátria os que ousaram duvidar da eficácia da Petrobras, condenou à danação eterna os pessimistas de ofício e, caprichando na pose de Pedro III, proclamou a Segunda Independência. Terminado o palavrório, milhões de crédulos sem cura foram dormir na OPEP. E só neste começo de 2013 deixaram de sonhar com o litro de gasolina abaixo de 10 centavos.

Um ano depois da substituição de Gabrielli por Graça Foster, despertadas pelo desabamento dos lucros e dos investimentos, as vítimas da tapeação enfim começam a enxergar o que a fantasia em frangalhos procurou esconder. A autossuficiência em petróleo nunca existiu. A aventura do pré-sal não desceu do palanque. As jazidas de dimensões colossais jamais foram vistas fora da imaginação dos engarrafadores de nuvens. A festa acabou. E agora, Josés? O que tem a dizer a dupla de nulidades? E o Primeiro Farsante, tem algum álibi a apresentar?

A estatal de matar de inveja qualquer similar estrangeira é tão real quanto a transposição das águas do São Francisco, o trem-bala, a erradicação da miséria, o terceiro aeroporto de São Paulo, a inocência de Lula ou a competência de Dilma Rousseff. A Petrobras especializada na fabricação de prodígios só existiu enquanto durou a quermesse dos patriotas de galinheiro.
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 Gonçalo Osório: O estranho sumiço da tropa de choque que sempre estrila quando é citado o santo nome da Petrobras
Augusto Nunes

Transcrevo na íntegra o comentário do meu amigo Gonçalo Osório sobre o post que tratou da Petrobras. (AN)

Uma observação a respeito desse excelente texto teu sobre a Petrobras. Estranha a ausência da tropa de choque da própria empresa, que sempre estrila (afinal, tem mais jornalista contratado do que 2/3 da imprensa brasileira) quando o santo nome dessa estatal é citado. Não é preciso ser sequer estudante de sociologia para entender que existe, numa empresa daquele tamanho, um espírito corporativo (como existe no Banco do Brasil, na Receita Federal, e por aí vai) que começa a reagir às barbaridades cometidas contra a própria empresa (portanto, contra seus integrantes concursados) pelo sindicalismo safado e corrupto que é a principal característica do lulopetismo.

Curiosa e irônica essa volta da história: antes acreditava-se que seria necessário lutar contra esse espírito corporativo para privatizar essa estatal; agora espera-se que esse espírito corporativo amacie o estrago causado pelo lulopetismo. Isso talvez explique a ausência dos chiliques com que o aparato de comunicação montado na estatal entrava em campo toda vez que surgia alguma crítica ao santo nome da Petrobras. A corporação acha que é o PT quem está apanhando — e deixa o chicote cair — e não a Petrobras. O que vem a ser uma boa desculpa para a própria ineficiência.

Os erros estratégicos do atual governo surgem em cada setor que se examina: energia, transportes (aeroportos incluídos), saúde, educação, política monetária e, com o anúncio das negociações entre EUA e UE para um amplo acordo de comércio, também no comércio exterior. Eu tenho a sensação chata de que o país vai sendo sufocado, manietado, travado, oprimido, sugado, espoliado e, sinceramente, só textos como esse teu ajudam a respirar e dizer: ainda há vida inteligente por aqui.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Gestao companheira retrocede Petrossauro ao pre-cambriano...

As pessoas pensam que os dinossauros só viveram no mesozoico, antes da era dos mamíferos, que é o cenozoico, a nossa era, ou mais ou menos (acho que alguns humanos ainda não chegaram lá). Isso pode ser verdade estritamente para aqueles animais, alguns herbívoros, outros carnívoros, em todo caso, grandes e desajeitados, tanto que terminaram desaparecendo num desses aquecimentos globais do passado (brrrrr!).
Mas se formos considerar um tipo particular de grande sauro, a Petrossauro, os tempos recuam, em lugar de avançar. Os companheiros conseguiram fazer essa companhia recuar praticamente ao pré-cambriano, antes mesmo, portanto, do arqueozoico, que é quando começam a surgir os pequenos anfíbios que depois dariam origem a esses monstros da nossa imaginação.
Poucos sabem, mas a nossa valente Petrossauro já teve um valor de mercado de mais de 300 bilhões de dólares. Os companheiros, diligentes como são, conseguiram reduzir esse valor a pouco mais de 130 bilhões, graças à uma gestão troglodita dessa companhia infeliz, que deveria ter sido privatizada há muito tempo, como foi a Vale.
Sim, poucos sabem, também, que essa companhia aumentou mais de 20 vezes seu valor de mercado e hoje paga mais impostos ao governo do que jamais o fez em dividendos juntando meio século de gestão estatal. Sim, mais uma vez, muita gente acha que a Vale "nasceu" estatal, quando na verdade ela era uma empresa estrangeira, a Itabira Iron Ore Company, do Percival Farquhar, nacionalizada com raiva pelo ditador Getúlio Vargas em 1942 (que achava que cabia ao Estado vender minério de ferro...).
A Petrobras vai demorar bastante tempo para chegar ao paleozoico e depois avançar para outras eras geológicas de gestão racional. Os companheiros aparentemente gostam de um Jurassic Park (mas se ela chegasse lá, já estaria mais ou menos conforme sua natureza, mas nem isso.)
Paulo Roberto de Almeida

Uso político da Petrobras pode atrasar pré-sal, dizem analistas
Danielle Nogueira
O Globo, 5/02/2013

Projetos seriam comprometidos por queda no caixa da empresa
O uso da Petrobras como instrumento de política macroeconômica poderá afetar o cronograma da produção do pré-sal. Analistas avaliam que, ao controlar os preços dos combustíveis para conter o avanço da inflação e ao tornar as regras de conteúdo nacional mais rígidas para desenvolver a indústria brasileira, o governo pode dar um tiro no pé e atrasar projetos na mais promissora fronteira petrolífera. No Plano de Negócios 2012-2016 estão previstos investimentos de US$ 67,7 bilhões no pré-sal, 58,7% do montante reservado para a área de Exploração e Produção no período.

- O governo vem segurando os preços dos combustíveis para controlar a inflação e forçando a barra em alguns projetos para ampliar o conteúdo nacional, levando a Petrobras a ter que comprar mais caro aqui no Brasil ou adiar projetos porque os fornecedores não conseguem entregar as encomendas a tempo. Se a empresa continuar a ser conduzida assim, vai ter dificuldades no pré-sal. Isso não vai inviabilizar projetos, mas vai atrasar o desenvolvimento dessas áreas - diz Walter de Vitto, analista de petróleo e gás da consultoria Tendências.

Semana passada a estatal anunciou reajute de 6,6% da gasolina e de 5,4% do diesel, insuficientes para anular a defasagem em relação ao preço praticado no mercado externo. Como a Petrobras compra gasolina lá fora, para atender a crescente demanda nacional, por um preço mais alto do que o cobrado aqui no Brasil, ela acaba tendo prejuízo nessa operação. Esse é um dos fatores que afeta o caixa da companhia. Em 2012, a geração de caixa da empresa atingiu R$ 53,4 bilhões, 14% abaixo do registrado no ano anterior.

Como precisa fazer investimentos elevados, a Petrobras tem dois caminhos: ou vende ativos ou se endivida mais para financiar os projetos mais relevantes. A empresa tem tentado se desfazer de alguns projetos, sem sucesso, restando-lhe a outra opção. Em 2012, a dívida líquida foi de R$ 147,8 bilhões, um salto de 43% na comparação com 2011.

Atraso também em obras de refinarias
A relação endividamento sobre patrimônio líquido subiu de 24% para 30%, aproximando-se do limite de 35% para que ela mantenha seu grau de investimento. A perda do investment grade significaria alta no custo do crédito, o que exigiria ainda mais recursos da companhia para a realização dos projetos. Ainda assim, especialistas dizem que esta parece ser a melhor alternativa :

- Uma emissão de ações destruiria o valor da empresa na Bolsa. Seria demais pedir para investidores, depois do que perderam, colocarem mais dinheiro na empresa - afirma Fernando Goes, analista da Clear Corretora, para quem a Petrobras seria a emissão de dívida ao setor privado.

Na opinião dele, a emissão de ações seria uma opção arriscada para a Petrobras, após a megacapitalização da companhia, em 2010, de R$ 120,2 bilhões, considerada "traumática" pelo mercado.

Para o economista Edmar de Almeida, do Instituto de Economia da UFRJ, num possível cenário de problemas de caixa, a Petrobras deveria priorizar o pré-sal e outros projetos em desenvolvimento de produção, que podem ampliar a receita da empresa mais rapidamente. Neste caso, projetos como a Refinaria do Nordeste (PE), que já está atrasada, poderia sofrer novos adiamentos.

No atual plano de negócios da empresa, divulgado ano passado, a refinaria foi adiada em um ano, para 2014. Outras duas refinarias, uma no Maranhão e uma no Ceará, sequer aparecem no plano. No planejamento anterior, elas eram previstas para 2016 e 2017. As obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí (RJ), estão igualmente atrasadas, entre outras razões, por problemas no modelo de contratação. Prevista para 2012, a operação foi postergada para 2014.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Republica companheira (2): Petrobras dos prejuizos S.A.

Parece que os companheiros não gostam de lucros: companhias públicas, para eles, tem de dar prejuízos, supostamente para beneficiar o público. Acaba afastando acionistas, e levando a companhia para o buraco. Eles sempre foram assim: primeiro preocupações supostamente sociais, depois os resultados econômicos. Acabam produzindo resultados negativos nas duas frentes...
Paulo Roberto de Almeida

Alívio passageiro
Editorial Folha de S.Paulo, 31/01/2013

Há quase sete anos, em abril de 2006, num prenúncio da euforia com as descobertas do pré-sal, o então presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, enterrou R$ 37 milhões numa campanha publicitária laudatória da autossuficiência alcançada pelo país.

De lá para cá, o entusiasmo evaporou, assim como os resultados da Petrobras. A instrumentalização da maior empresa do país como arma de propaganda governista deu no que não poderia deixar de dar: deterioração acelerada do desempenho da companhia.

Não só a autossuficiência não livrou o Brasil do deficit na balança comercial de combustíveis como o país vem importando quantidades crescentes deles --sobretudo gasolina, que é vendida no mercado interno por preços inferiores aos do mercado internacional, defasagem que causa prejuízos bilionários à petroleira.

Não é com o aumento da gasolina e do diesel para distribuidores (6,6% e 5,4%, respectivamente) anunciado anteontem, contudo, que a Petrobras se verá livre da sangria. O reajuste ficou longe de zerar a defasagem. As estimativas variam, mas ela ainda estaria, após a alta, na faixa de 7% a 15% de diferença entre os preços domésticos e os internacionais.

O prejuízo mensal da Petrobras com esses combustíveis, calculado em cerca de R$ 2 bilhões, cairia para algo mais próximo de R$ 1 bilhão. Ainda assim, um subsídio considerável para seu consumo, bancado por uma empresa que deveria lutar por resultados melhores para apresentar aos acionistas.

Na segunda-feira devem ser divulgados os novos números do desempenho da Petrobras, e as expectativas são pessimistas --espera-se o anúncio de queda na produção de petróleo em 2012, por exemplo. O próprio reajuste dos combustíveis, acredita-se, teria sido um expediente para contrabalançar as más notícias iminentes.

Outro fator que explica o momento escolhido para o aumento é a inflação. O governo federal --que representa o acionista controlador da Petrobras, a União-- vinha represando o preço dos combustíveis para evitar a alta dos índices. A folga obtida com a redução das tarifas de energia elétrica, anunciada há uma semana pela presidente Dilma Rousseff, permitiu acomodar a majoração que traz algum alívio para a petroleira.

Há indicações de que Graça Foster, presidente da estatal, defendia alta maior para a gasolina, da ordem de 7,5%. Teve de contentar-se com 6,6% (que devem resultar em cerca de 4,6% para o consumidor).

Não será a primeira nem a última vez em que a Petrobras submete o interesse dos acionistas particulares aos interesses do Planalto.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Petrobras: gestao companheira acarreta inadimplencia...

Pois é, abusaram tanto da coitada (nem tão coitada assim, convenhamos), que ela ameaça ir para o brejo, não da insolvência, mas dos atrasos de pagamentos. Calote em uma empresa monopolista como a queridinha dos estatizantes e dirigistas contumazes sempre ameaça uma série de outras a ela associadas na doce exploração do monopólio.
Ainda bem que eu não comprei ações da Petrobras. Aliás de nenhuma outra companhia, estatal ou privada. No capitalismo companheiro, as surpresas não faltam...
Mas existem ainda coisas mais graves da gestão companheira não só na Petrobras, como na economia como um todo, como evidencia o editorial do Estadao transcrito um pouco mais abaixo.
Paulo Roberto de Almeida

Problemas de caixa da Petrobrás começam a contaminar parceiros
 Reuters, 31 de janeiro de 2013

 Há também o atraso de pagamento para fundos de recebíveis criados para financiar esses prestadores de bens e serviços, disseram fontes à , observando que a estatal alterou sua política de pagamentos recentemente e vem olhando com mais rigor os contratos.

Com isso, tem demorado mais tempo para liberar os recursos. Em uma espécie de efeito dominó, os prestadores de serviços também atrasam seus compromissos financeiros. ”Não vou dizer que a Petrobrás é inadimplente, mas que está em atraso. Enquanto algumas companhias estão sofrendo, estou confiante que os pagamentos serão feitos”, disse à Reuters Fernando Werneck, gestor de um portfólio de fundos creditórios na BI Invest, exclusivos de fornecedores da Petrobras.

Alguns dos fundos de investimento dedicados exclusivamente aos fornecedores da Petrobrás registraram aumento da inadimplência. Reuters junto à Comissão de Valores Mobiliários. Ao longo dos últimos dois anos a Petrobrás aportou cerca de R$ 7 bilhões para ajudar os fornecedores.

Problemas financeiros já empurraram algumas empresas menores fornecedoras da estatal, como a GDK, a um processo de recuperação judicial. Grandes empresas, tais como a Lupatech, tiveram que vender ativos e levantar capital novo para evitar o pior. Preocupações sobre como fazer negócios no Brasil, onde a Petrobrás é responsável por mais de 90% da produção de petróleo, levaram a uma queda de 34% nas ações da italiana Saipem na quarta-feira.
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Combustíveis para crise

31 de janeiro de 2013
Editorial O Estado de S.Paulo
 
Com os aumentos de 6,6% para a gasolina e de 5,4% para o diesel, o governo piorou as perspectivas de inflação sem resolver o problema de caixa da Petrobrás. Ontem de manhã, as ações ordinárias da estatal caíram 4,5% na Bolsa de Valores de São Paulo, porque os investidores logo perceberam a insuficiência do aumento. As perdas da empresa passarão de cerca de R$ 2 bilhões por mês para cerca de R$ 1,2 bilhão, porque os valores serão insuficientes para eliminar o desajuste acumulado.
Ao mesmo tempo, especialistas começaram a calcular o impacto inflacionário dos novos preços e a confrontá-lo com o provável benefício da redução das contas de eletricidade. Para o consumidor, o resultado será um empate, segundo o economista Salomão Quadros, um dos responsáveis pela área de índices da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A resultante dos dois efeitos, positivo e negativo, será de aproximadamente 0,2 ponto porcentual e sua influência combinada nos índices de preços ao consumidor será praticamente nula.
A tentativa de atenuar o impacto do aumento dos combustíveis afetará as contas públicas. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, confirmou ontem o compromisso, acertado há semanas com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, de manter as tarifas de ônibus sem reajuste até junho. O governador de São Paulo havia prometido adiar a elevação dos bilhetes de metrô. Autoridades federais haviam pedido ajuda também aos governos carioca e fluminense. Além disso, a própria administração federal será duplamente afetada pela manutenção dos subsídios ao consumo de combustíveis - pelo custo da operação e pelo atraso da agenda energética, por causa da perda de capacidade financeira da Petrobrás.
Mais uma vez, portanto, a presidente Dilma Rousseff e seus ministros da área econômica embolam objetivos e instrumentos de política e agravam os problemas do próprio governo. Ao insistir nesse caminho, as autoridades negam o próprio discurso, prolongando e agravando a disparidade entre ações e palavras.
Ainda ontem, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou o uso do câmbio no combate à inflação. Só a política monetária é adequada para conter a alta de preços, disse o ministro, mencionando como exemplo os juros e referindo-se genericamente a outros mecanismos do Banco Central (como alteração dos depósitos compulsórios e outras medidas para regulação da oferta de dinheiro). Poderia ter acrescentado a austeridade fiscal como fator favorável à estabilidade de preços. A afirmação sobre o papel da política monetária é sensata, mas as palavras sobre a atuação efetiva das autoridades são obviamente falsas.
Em vez de combater a inflação pelos meios adequados, a presidente e seus ministros tentam administrar os índices, adiando politicamente os aumentos de preços dos combustíveis, pedindo ajuda a governos estaduais e municipais para adiar o ajuste de tarifas e reduzindo de forma voluntarista a conta de luz, sem levar em conta as necessidades financeiras da Petrobrás, da Eletrobrás e de outras empresas do setor energético.
Não se trata de defender a lucratividade dessas empresas, mas de levar em conta os custos efetivos e as necessidades de investimento para destravar uma economia emperrada. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prejudicou a saúde financeira da Petrobrás e sua capacidade de elaboração e de execução de projetos ao usá-la em benefício de sua imagem popular e de seu prestígio internacional. Também comprometeu a gestão do setor elétrico loteando seus postos mais importantes e liquidando os restos de sua capacidade de planejamento. Os apagões e miniapagões frequentes são parte da herança maldita deixada na área da infraestrutura.
A presidente Dilma Rousseff mostrou-se consciente dos danos causados à Petrobrás por seu antecessor. Mas é incapaz de renegar essa herança e de mudar de rumo, porque ela mesma carrega o vírus do populismo voluntarista. São características evidenciadas quando ela controla os preços dos combustíveis, barateia bens duráveis pela redução temporária de impostos e, ao mesmo tempo, força a baixa dos juros.