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terça-feira, 23 de abril de 2013

Incompetencia petrolifera e gestao irresponsavel: a Petrossauro dos companheiros (Editorial Estadao)


Autossuficiência mais distante

22 de abril de 2013 | 2h 09
Editorial O Estado de S.Paulo
Sete anos depois de o ex-presidente Lula ter anunciado com estardalhaço a autossuficiência do Brasil em petróleo, o País precisa importar combustível para suprir a demanda interna. Por causa da gestão que o governo do PT impôs à Petrobrás, a autossuficiência durou pouco e sua reconquista demorará. Como admite a empresa, ela só será novamente alcançada em 2020, em termos plenos (incluindo derivados).
Como outros grandes atos do governo petista, a autossuficiência anunciada por Lula - com as mãos sujas de óleo, imitando o gesto com que, décadas antes, Getúlio Vargas comemorara a descoberta do primeiro poço da Petrobrás - no dia 21 de abril de 2006, na inauguração da Plataforma P-50, a 120 quilômetros do litoral fluminense, foi tema de intensa campanha publicitária. "Quando a Petrobrás foi criada, muitos não acreditavam que fosse viável", disse, em comunicado, o então presidente da empresa, José Sérgio Gabrielli. "O fato é que, 53 anos depois, ela conquistou a autossuficiência para o Brasil."
Mas a administração que afirmou ter "conquistado" essa condição foi responsável também por "desconquistá-la", pois não conseguiu fazer a produção crescer em ritmo igual ou superior ao do aumento da demanda interna por combustíveis derivados de petróleo. Em 2012, a produção média da Petrobrás foi de 1,98 milhão de barris/dia, mas o consumo total alcançou 2,06 milhões de barris/dia de derivados, conforme dados da Agência Nacional do Petróleo. O consumo continua a subir, mas a Petrobrás continua a produzir menos. Em janeiro, a produção atingiu 1,96 milhão de barris/dia, menos do que a média de 2012, e, em fevereiro, caiu para 1,92 milhão de barris/dia.
A falta de manutenção adequada dos poços fez a produção cair mais depressa. A necessidade de reparos de maior porte, porque a manutenção não foi feita adequadamente, tem implicado a paralisação das operações por períodos mais longos, o que também contribui para fazer cair a produção global da empresa.
Do lado do refino, o que se constata é que, por terem sido definidos de acordo com critérios políticos e não técnicos, alguns projetos não saíram do papel e outros andam muito devagar, e a um custo muito maior do que o orçado inicialmente.
A construção da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, é uma espécie de síntese da política da Petrobrás na área de refino durante a gestão Lula. Para agradar ao então presidente bolivariano da Venezuela, Hugo Chávez, seu aliado político, o ex-presidente brasileiro colocou a estatal venezuelana PDVSA como sócia (com 40% de participação) da Refinaria Abreu e Lima. A sócia não investiu nenhum tostão na obra, que está muito atrasada e cujo custo, inicialmente orçado em US$ 2,3 bilhões, não ficará em menos de US$ 18 bilhões.
A estagnação da capacidade de refino, por causa do atraso na construção de refinarias, força a Petrobrás a importar derivados em quantidades crescentes, para atender à demanda interna. Com a produção do petróleo em queda e sem aumentar a capacidade de refino, a empresa quadruplicou seu déficit comercial no primeiro trimestre do ano, em relação aos três primeiros meses de 2012. De janeiro a março, a Petrobrás aumentou suas importações em 40,2%, mas suas exportações diminuíram 50,3%. O resultado foi um déficit comercial acumulado de US$ 7,4 bilhões.
A produção, reconhece a presidente da empresa, Graça Foster, só voltará a aumentar a partir de 2014. É possível que, no próximo ano, a produção de petróleo seja igual ou ligeiramente superior, em volume, ao consumo interno de derivados. No entanto, como a capacidade de refino não será aumentada, o País continuará importando derivados.
A autossuficiência de fato, incluindo petróleo bruto e derivados, só será alcançada em 2020, quando, de acordo com seu planejamento estratégico, a Petrobrás estará produzindo 4,2 milhões de barris de petróleo por dia, terá capacidade de refino de 3,6 milhões de barris/dia e o consumo interno será de 3,4 milhões de barris/dia.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Petrossauro ganha site oficioso, para relatar o que nao querem que se saiba

APRESENTAÇÃO

Em consonância com o seu próprio nome, o site ora apresentado, maracutaiasnapetrobras.com, tem como objetivo dar maior transparência às “falcatruas federais” levadas a efeito em desfavor da Petrobras.
Sua criação se justifica pelo fato de as ações e omissões do maior acionista da Petrobras, o Governo Federal, e de seus prepostos (diretores e integrantes do Conselho de Administração da empresa) serem o principal motivo da combalida situação daquela que foi o maior orgulho de nosso país.
O melhor exemplo da danosa interferência do Governo em assuntos envolvendo a Petrobras foi a acintosa blindagem promovida na CPI criada pelo Senado para apurar desmandos na Companhia. Um rolo compressor da base aliada conseguiu se superar: notórios escroques foram aclamados como eficientes administradores, e saíram ovacionados depois de seus suspeitíssimos depoimentos.
Mais do que para detalhar as falcatruas acima referidas, o site foi criado para, por meio da centralização das denúncias, manter viva na memória de todos os fatos que não foram apuradas pelas autoridades competentes.
Os crimes de lesa pátria que aniquilaram a credibilidade da Petrobras poderão não ser apurados – conforme não o são a maioria dos atos lesivos ao interesse nacional – porém não podem, em hipótese alguma, serem esquecidos.
Para iniciar os trabalhos, serão disponibilizadas, entre outras as seguintes matérias: as entrevistas dadas pelo ex- diretor de Gás e Energia da Petrobras, professor Ildo Sauer, à revista da Associação de Docentes da USP e ao jornalista Heródoto Barbeiro; as matérias publicadas pelo jornal do Sindipetro sobre a Gemini, sociedade da Petrobras com a White Martins; a denúncia ao MPF sobre tráfico de influência no caso Gemini; a matéria da revista Veja sobre a refinaria de Pasadena; a denúncia à CVM sobre irregularidades prejudiciais aos acionistas minoritários. 

quinta-feira, 14 de março de 2013

Petrossauro afunda como estatal; Petrobras seria uma grande empresa petrolifera...

A Petrossauro não tem nada a ver com a Petrobras, ou esta com aquela; é uma estatal, e como estatal só pode ir para o brejo. A Petrobras poderia ser, como já foi (embora com reticências), uma grande companhia, quando atua como companhia, cuidando de seus assuntos numa perspectiva puramente técnica, econômica e comercial. Não tem sido o caso desde a assunção dos companheiros, quando a Petrossauro (e a ANP também) abrigou políticos medíocres (ou derrotados nas eleições), se meteu em negócios inqualificáveis, financiou partidos, sindicatos (e centrais idem) e ONGs dos companheiros, enfim, foi colocada a serviço de um partido e eventualmente de seus aliados incontornáveis. Depois teve a incompetência do governo, obrigando-a a torrar dinheiro apenas porque insistia no fornecimento local, não no mais barato ou melhor, fixou preços e usou para outros fins que não apenas produção e distribuição de petróleo e combustíveis, enfim, afundaram a companhia, sem remissão. A única solução, como não vai dar certo com os companheiros, seria a privatização.
Não é pecado, não é ruim para o Brasil, seria bom para a companhia e para os consumidores.
Só não é bom para o governo, mas isso significa, justamente, que é bom para nós.

ECONOMIA
As estatais não têm jeito
Carlos Alberto Sardenberg
O Globo, 14/03/2013

Não é por nada, não, mas se a gente pensar seriamente na história recente da Petrobras, sem paixões e sem provocações, vai acabar caindo na hipótese maldita, a privatização.

A estatal teve bons momentos, colecionou êxitos, acumulou tecnologias e formou quadros. Mas, sempre que isso aconteceu, não foi porque se tratava de uma estatal. A companhia foi bem sempre que agiu como petrolífera, digamos, normal, quase independente.

Já quando foi mal, como vai hoje, a causa é evidente: a condição de estatal.

Radicalizando, poderia se dizer que, quando a Petrobras funciona, consegue isso apesar de ser estatal. Mas todos sabemos que há petrolíferas estatais muito bem-sucedidas pelo mundo afora.

Como também há outras simplesmente desastrosas, e, como a própria Petrobras alternou períodos positivos e negativos, a questão é: como uma estatal pode fracassar?

A resposta está diante de nossos olhos. Trata-se do pecado mortal da politização, que se manifesta de duas maneiras complementares: a nomeação de diretores e chefes não por sua competência e sua história na empresa, mas pela filiação política ou sindical; e a definição dos objetivos e meios da empresa não por análises econômicas, e sim pela vontade dos governantes e das forças políticas no poder.

Não é preciso pesquisar nada para se verificar que a Petrobras caiu nesses dois buracos nos governos Lula e Dilma. A disputa pelos diversos cargos da companhia tornou-se pública, com os partidos e grupos reclamando abertamente as posições de que se julgavam merecedores. Lula, em entrevista formal, contou o quanto interferiu no comando da estatal, levando-a a ampliar projetos de investimentos claramente incompatíveis com as possibilidades da empresa e as condições do mercado.

Foi a atual presidente da Petrobras, Graça Foster, quem admitiu o irrealismo daqueles planos. E também o ex-presidente da Agência Nacional de Petróleo, Haroldo Lima, reconheceu que a vontade de Lula prevaleceu sobre os argumentos técnicos na definição das regras para a exploração do pré-sal.

Ora, isso demonstra que a blindagem montada no governo FHC simplesmente não funcionou. Em 1997, por emenda constitucional o monopólio do petróleo foi transferido da Petrobras para a União. A partir daí, a União passou a leiloar os direitos de exploração dos poços, abrindo a disputa para empresas privadas nacionais e estrangeiras. A Petrobras passou a competir no mercado.

Para garantir a despolitização, o governo estabeleceu regras de governança para a estatal e criou a tal Agência Nacional de Petróleo, órgão independente, administrado por diretores técnicos, com mandatos, encarregada de organizar e fiscalizar o setor de petróleo, gás e outros combustíveis.

Parecia um bom arranjo. O presidente da República indicava os diretores das agências, mas respeitando critérios de conhecimento técnico e experiência, que seriam checados pelo Senado, responsável pela aprovação final dos indicados.

Isso não eliminava as decisões dos políticos eleitos pelo povo. Como acionista majoritário da Petrobras, por exemplo, o governo federal poderia determinar a estratégia da companhia no Conselho de Administração, como acontece em qualquer grande empresa. Mas a execução tinha de ser feita tecnicamente, mesmo porque a empresa havia perdido o monopólio e precisava competir.

O que aconteceu no governo Lula? O Senado, como faz nos outros casos, simplesmente tornou-se um carimbador de indicações para a diretoria da ANP, assim como para as demais agências reguladoras. Os partidos passaram a lotear abertamente esses cargos. No governo Dilma, o Senado negou uma única indicação, e por um péssimo motivo. Tratava-se de um quadro competente, mas os senadores da maioria queriam mandar um recado para a presidente, colocar um obstáculo para cobrar uma fatura.

Tudo considerado, o que temos? As regras de governança e o sistema de agências atrapalharam um pouco, deram mais trabalho aos governos Lula e Dilma, mas não impediram que se politizasse inteiramente a companhia e o setor.

A crise dos royalties é uma consequência disso. Também os cinco anos sem leilão de novos poços, o que atrasou a exploração do óleo. E isso levou o Brasil a ser cada vez mais dependente da importação de óleo e combustíveis, ao contrário do que dizia a propaganda oficial do governo Lula.

Sim, a nova presidente da Petrobras tem feito alguma coisa para levar a companhia a uma atuação mais técnica. Mas são evidentes as suas limitações.

O PSDB ataca a gestão petista na Petrobras e diz que, no governo, faria a “reestatização” da companhia. Ou seja, voltaria ao sistema da era FHC.

Nada garante que isso garantiria despolitização. Na verdade, a história recente prova o contrário: na política brasileira, não há como garantir uma gestão eficiente das estatais — e sem falar de corrupção.

Logo...

Carlos Alberto Sardenberg é jornalista

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Ainda a Petrossauro: presa no arqueozoico do governo (era carbonifera)

Coitada da Petrossauro: tentaram faze-la dar dois passos maiores do que suas quatro patas. E ela ainda tem um cerebro de galinha, num corpo de mastodonte. Mas o cerebro do governo e' ainda menor: do tamanho de uma lagartixa, senao de uma barata. As baratas existem desde milhoes de anos, e vao sobreviver por mais alguns bilhoes de anos. Sempre nojentas, mas incontornaveis. Como certos governos...
Paulo Roberto de Almeida

Areia demais
07 de fevereiro de 2013
Celso Ming - O Estado de S.Paulo

Depois que a própria direção reconheceu o desastre de 2012 e previu que resultados ainda piores podem vir em 2013, é preciso entender que a Petrobrás não está dando conta das tarefas de que foi investida.

É areia demais para seu caminhão. Não consegue cumprir todas as metas impostas pelo governo. Não se mostra capaz de, ao mesmo tempo, aumentar a produção, ajudar no combate à inflação, fazer caixa para o enorme programa de investimentos, servir de alavanca para a indústria nacional de fornecimentos e, ainda, contribuir decisivamente para as contas públicas de Estados e municípios, com polpudos pagamentos de royalties.

Essa múltipla trombada entre objetivos de política econômica é recorrente no governo Dilma - que também quer derrubar os juros a níveis recordes, puxar o câmbio para dar competitividade à indústria, emplacar um "pibão grandão" a cada ano, manter a inflação mais ou menos controlada, investir centenas de bilhões de dólares por ano sem ter poupança para isso e continuar gastando à vontade para fazer uma política anticíclica e, além disso, tentar ostentar um mínimo de austeridade fiscal.

O resultado é a progressiva desarrumação da economia, provavelmente nas mesmas proporções em que estão sendo desarrumadas as finanças da Petrobrás. Pelo menos a presidente, Graça Foster é mais sincera sobre estragos na área dela do que tem sido o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre os estragos na área dele.

A política de congelamento de preços dos derivados de petróleo é da mesma qualidade que a política de congelamento de preços e salários imposta pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Mas não é só por isso que ela é condenável. É, também, por sabotar a capacidade de investimentos da Petrobrás. Ou o governo Dilma revê o Plano de Negócios da Petrobrás ou revoga esse regime de preços dos combustíveis.

Há seis anos não é realizada nova licitação de áreas para exploração de petróleo. O governo Dilma finalmente concordou em fazer mais duas: uma na área do pós-sal (acima da camada de sal), agendada para maio, e outra, no pré-sal, prevista para novembro.

O novo marco regulatório exige que, nas licitações do pré-sal, onde o regime de concessão será de partilha, a Petrobrás será obrigada a entrar em todos os projetos com participação de, ao menos, 30% em cada um. Entre as áreas a serem licitadas está o Campo de Franco, comprovadamente uma jazida gigantesca de óleo e gás. Significa que o prêmio a ser pago pelos vencedores da licitação dessa área pode chegar a dezenas de bilhões de dólares. Ou a Petrobrás será obrigada a concorrer com novos e enormes desembolsos ou a licitação será novamente adiada - até que a capacidade de investimentos da Petrobrás seja recomposta. Outra hipótese será a revogação da exigência dos 30%.

Não só os governos Dilma e Lula devem ser responsabilizados pelo desmanche da Petrobrás. Seus funcionários, sempre grandes parceiros no processo de engrandecimento da empresa, hoje se omitem. Mobilizam-se para greves com o objetivo de elevar sua participação nos lucros da empresa. Mas não se mostram empenhados em que a Petrobrás se restabeleça e volte a apresentar bons resultados.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Petrossauro: cada vez menos petro, cada vez mais sauro... (graças a companheiros quadrupedes...)

Triste fim da sexta ou sétima companhia mundial de petróleo do mundo, a segunda ou terceira da América Latina, e uma das grandes revelações de empresas gigantes do chamado mundo em desenvolvimento. Certamente não será o fim da companhia, tanto porque ela tem a quem recorrer (e nós pagamos), mas se fosse uma companhia como as outras, a assembleia de acionistas já teria demitido toda a sua diretoria, colocaria o conselho para investigar a origem das besteiras cometidas nos últimos anos e designaria uma nova direção, tecnicamente competente, profissionalmente dedicada, comprometida com resultados, não com conversa fiada (e financiamento de sindicatos).
Se ela tivesse sido privatizada nos anos 1990, como a CSN, a Vale, a Embraer o foram, ela já estaria entre os primeiros lugares do mundo, e o Brasil não estaria enfrentando todas essas dificuldades na oferta de combustíveis e em matéria de transações correntes como ocorre atualmente.
Lamento a sorte (financeira) de todos aqueles que adquiriram ações da Petrobras, mas elas só têm a culpar a gestão companheira da companhia e as lideranças políticas que a arrastaram para essa triste situação nos últimos anos. Lamento os que trabalham na companhia, e gostaria de vê-la exibindo outros resultados, mas esses tampouco concordariam com a sua privatização, como seria melhor para todos: para os acionistas, para os empregados, para o público em geral, para o Brasil.
Ainda vamos amargar várias "heranças malditas" do voluntarismo em economia, típico da gestão companheira, que combina preconceitos políticos e incompetência gerencial.
Paulo Roberto de Almeida

O desmonte da Petrobrás

06 de fevereiro de 2013

Editorial O Estado de S.Paulo
Com lucro de R$ 21,18 bilhões em 2012, 36% menor que o do ano anterior e o mais baixo em oito anos, a Petrobrás paga um preço devastador pela sujeição aos interesses político-partidários do Palácio do Planalto. Investimentos mal planejados, orientação ideológica, loteamento de cargos e controle de preços de combustíveis comprometeram a eficiência e a rentabilidade da empresa e a desviaram de seus objetivos principais. Os danos impostos à companhia são parte da herança desastrosa deixada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à sua sucessora.
Desde o ano passado a nova presidente da estatal, Maria das Graças Foster, vem tentando corrigir seu rumo. Mas a interferência nos preços permanece, os reajustes são insuficientes e a geração de caixa continua prejudicada. Mais dificuldades surgirão neste ano, avisaram ao mercado, nessa terça-feira, dois dos principais dirigentes da Petrobrás. Pelo menos esse dado positivo acompanhou a divulgação das más notícias: a presidente da empresa e o diretor financeiro, Almir Barbassa, falaram sobre a situação e as perspectivas da companhia com uma franqueza incomum durante a maior parte dos últimos dez anos.
Os problemas vão muito além de uma piora temporária das condições financeiras. A produção de petróleo e gás no Brasil, no ano passado, equivalente a 2,35 milhões de barris diários, foi 0,9% menor que a de 2011. Com a parcela produzida no exterior a média diária alcançou 2,59 milhões de barris equivalentes, volume 0,8% inferior ao do ano anterior. A meta de 2,02 milhões de barris diários, fixada para 2012, continuará valendo para este ano, com possibilidade de desvio de 2% para mais ou para menos. Se o desvio ocorrer, advertiu a presidente, será provavelmente para baixo. Não há possibilidade física, deixou claro a presidente, de um aumento de produção.
As previsões para o ano incluem também, segundo Maria das Graças Foster, mais R$ 6 bilhões de baixas correspondentes a poços secos. Além disso, nenhum novo projeto deverá ser iniciado em 2013. A empresa continuará empenhada em realizar os investimentos já programados, mas o total aplicado, de R$ 97,7 bilhões, deverá ser R$ 5 bilhões maior que o anteriormente previsto. A empresa continua analisando a qualidade econômica dos projetos enquadrados em 2012 como "em avaliação". Ao assumir o posto, a nova presidente anunciou no ano passado a intenção de rever os planos e prioridades. Não se anunciou, na ocasião, o abandono de nenhum projeto, mas ficou clara a disposição de submeter o programa da empresa a uma revisão crítica.
Sem perspectiva de maior produção a curto prazo, a empresa terá de continuar importando grandes volumes para atender à demanda crescente de combustíveis. Isso será inevitável mesmo com o aumento da parcela de álcool misturada com a gasolina. A necessidade de maior importação foi uma das causas da redução do lucro no ano passado. O controle de preços foi um complicador a mais. A presidente da empresa reafirmou a intenção de continuar buscando o realinhamento de preços. Mas isso dependerá de como o governo pretenda enfrentar a inflação. Se insistir na manipulação de preços, os problemas da Petrobrás poderão agravar-se.
Com dificuldades de geração de recursos, a companhia foi forçada a aumentar seu endividamento. Com problemas de caixa, a diretoria decidiu pagar dividendos menores aos detentores de ações ordinárias do que aos demais acionistas, explicou Barbassa. Disso resultará uma economia de R$ 3 bilhões para investimentos, acrescentou.
A Petrobrás necessitará de novo aumento de capital, segundo alguns analistas. A presidente da empresa negou essa possibilidade neste ano. Seja como for, o passo mais importante deve ser a consolidação de um novo estilo administrativo, moldado segundo objetivos típicos de uma empresa de energia. A Petrobrás será beneficiada, também, se as suas encomendas de equipamentos e serviços forem decididas com base em critérios empresariais. Não é sua função assumir os custos de uma política industrial. Ter sucesso como uma gigante do petróleo já é um desafio mais que suficiente.
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Água na Petrobrás

06 de fevereiro de 2013 | 2h 11

Celso Ming - O Estado de S.Paulo
A presidente da Petrobrás, Graça Foster, reconheceu ontem que 2012 "foi difícil" e que "no primeiro semestre de 2013 será ainda mais difícil". Os termos mais adequados seriam: 2012 foi desastroso e o primeiro semestre de 2013 será ainda mais.

A observação imediata provém de uma comparação. No início do ano passado, Graça reconhecia que os resultados da Petrobrás já eram ruins e debitou tudo à conta da administração anterior. Mas garantiu que, em 2012, a saúde da empresa seria restabelecida. Se agora avisa que 2013 "será ainda mais difícil", imagine-se então o que será o resultado da Petrobrás neste ano.

Análise do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, preferiu dizer que os resultados da Petrobrás "são horrorosos". E o mercado financeiro pareceu concordar. As cotações das ações ordinárias da empresa caíram 8,3% - veja o Confira.

Não é novidade que o governo Dilma tem feito política de controle da inflação à custa do caixa da Petrobrás. Somente na área de Abastecimento, o rombo foi de R$ 22,9 bilhões, maior do que o lucro anual. E isso aconteceu porque a empresa foi obrigada a importar derivados para garantir o aumento do consumo interno que ela não conseguiu suprir. Pagou preços mais altos no mercado internacional e teve de revender esses combustíveis internamente a preços mais baixos. A distorção já é conhecida: os reajustes de preços concedidos ao longo do ano foram de longe insuficientes para cobrir a diferença.

Agora, a própria empresa revela que não é só o governo que saca do seu caixa. A diretoria decidiu fazer caixa com redução de dividendos (em cerca de R$ 3 bilhões) concedidos às suas ações ordinárias. Não é apenas o acionista estrangeiro que está sendo punido. Está sendo punido, também, o próprio Tesouro (o acionista majoritário), que receberá menos.

Parte do lucro do último trimestre, de R$ 7,7 bilhões, foi providenciada com operações extraordinárias, caso da liquidação de estoques da Refinaria de Pasadena (Estados Unidos). Logo, não se repetirão.

O dado mais inquietante é a forte deterioração da capacidade de endividamento da Petrobrás (alavancagem). Sua situação financeira pode ser vista como ainda mais aguada do que a de antes de 2010, quando houve o maior aumento de capital de todos os tempos (R$ 120 bilhões). Em 2012, a dívida líquida cresceu 43%, para R$ 148 bilhões.

Tecnicamente, a Petrobrás precisaria de nova injeção de capital para enfrentar os rombos e a enorme necessidade de investimentos. Mas, ontem, Graça negou veementemente projetos nessa direção. Significa que a Petrobrás terá progressiva dificuldade para se financiar e para cumprir seu programa de investimentos, de R$ 98 bilhões, só em 2013. O diretor de Finanças, Almir Barbassa, disse esperar a reversão do problema. Não disse como.

Outro problema é a queda de produção, de 2,4% em 2012. Não se deve só ao esgotamento de poços no pós-sal (Bacia de Campos) e a atrasos no desenvolvimento de outros, mas também à perda de eficiência operacional da empresa - reconhecida pela própria direção. Embora seis sistemas devam começar a operar em 2013, Graça avisa que não se pode contar com aumento de produção, devido à paralisação para reparos técnicos.

Gestao companheira retrocede Petrossauro ao pre-cambriano...

As pessoas pensam que os dinossauros só viveram no mesozoico, antes da era dos mamíferos, que é o cenozoico, a nossa era, ou mais ou menos (acho que alguns humanos ainda não chegaram lá). Isso pode ser verdade estritamente para aqueles animais, alguns herbívoros, outros carnívoros, em todo caso, grandes e desajeitados, tanto que terminaram desaparecendo num desses aquecimentos globais do passado (brrrrr!).
Mas se formos considerar um tipo particular de grande sauro, a Petrossauro, os tempos recuam, em lugar de avançar. Os companheiros conseguiram fazer essa companhia recuar praticamente ao pré-cambriano, antes mesmo, portanto, do arqueozoico, que é quando começam a surgir os pequenos anfíbios que depois dariam origem a esses monstros da nossa imaginação.
Poucos sabem, mas a nossa valente Petrossauro já teve um valor de mercado de mais de 300 bilhões de dólares. Os companheiros, diligentes como são, conseguiram reduzir esse valor a pouco mais de 130 bilhões, graças à uma gestão troglodita dessa companhia infeliz, que deveria ter sido privatizada há muito tempo, como foi a Vale.
Sim, poucos sabem, também, que essa companhia aumentou mais de 20 vezes seu valor de mercado e hoje paga mais impostos ao governo do que jamais o fez em dividendos juntando meio século de gestão estatal. Sim, mais uma vez, muita gente acha que a Vale "nasceu" estatal, quando na verdade ela era uma empresa estrangeira, a Itabira Iron Ore Company, do Percival Farquhar, nacionalizada com raiva pelo ditador Getúlio Vargas em 1942 (que achava que cabia ao Estado vender minério de ferro...).
A Petrobras vai demorar bastante tempo para chegar ao paleozoico e depois avançar para outras eras geológicas de gestão racional. Os companheiros aparentemente gostam de um Jurassic Park (mas se ela chegasse lá, já estaria mais ou menos conforme sua natureza, mas nem isso.)
Paulo Roberto de Almeida

Uso político da Petrobras pode atrasar pré-sal, dizem analistas
Danielle Nogueira
O Globo, 5/02/2013

Projetos seriam comprometidos por queda no caixa da empresa
O uso da Petrobras como instrumento de política macroeconômica poderá afetar o cronograma da produção do pré-sal. Analistas avaliam que, ao controlar os preços dos combustíveis para conter o avanço da inflação e ao tornar as regras de conteúdo nacional mais rígidas para desenvolver a indústria brasileira, o governo pode dar um tiro no pé e atrasar projetos na mais promissora fronteira petrolífera. No Plano de Negócios 2012-2016 estão previstos investimentos de US$ 67,7 bilhões no pré-sal, 58,7% do montante reservado para a área de Exploração e Produção no período.

- O governo vem segurando os preços dos combustíveis para controlar a inflação e forçando a barra em alguns projetos para ampliar o conteúdo nacional, levando a Petrobras a ter que comprar mais caro aqui no Brasil ou adiar projetos porque os fornecedores não conseguem entregar as encomendas a tempo. Se a empresa continuar a ser conduzida assim, vai ter dificuldades no pré-sal. Isso não vai inviabilizar projetos, mas vai atrasar o desenvolvimento dessas áreas - diz Walter de Vitto, analista de petróleo e gás da consultoria Tendências.

Semana passada a estatal anunciou reajute de 6,6% da gasolina e de 5,4% do diesel, insuficientes para anular a defasagem em relação ao preço praticado no mercado externo. Como a Petrobras compra gasolina lá fora, para atender a crescente demanda nacional, por um preço mais alto do que o cobrado aqui no Brasil, ela acaba tendo prejuízo nessa operação. Esse é um dos fatores que afeta o caixa da companhia. Em 2012, a geração de caixa da empresa atingiu R$ 53,4 bilhões, 14% abaixo do registrado no ano anterior.

Como precisa fazer investimentos elevados, a Petrobras tem dois caminhos: ou vende ativos ou se endivida mais para financiar os projetos mais relevantes. A empresa tem tentado se desfazer de alguns projetos, sem sucesso, restando-lhe a outra opção. Em 2012, a dívida líquida foi de R$ 147,8 bilhões, um salto de 43% na comparação com 2011.

Atraso também em obras de refinarias
A relação endividamento sobre patrimônio líquido subiu de 24% para 30%, aproximando-se do limite de 35% para que ela mantenha seu grau de investimento. A perda do investment grade significaria alta no custo do crédito, o que exigiria ainda mais recursos da companhia para a realização dos projetos. Ainda assim, especialistas dizem que esta parece ser a melhor alternativa :

- Uma emissão de ações destruiria o valor da empresa na Bolsa. Seria demais pedir para investidores, depois do que perderam, colocarem mais dinheiro na empresa - afirma Fernando Goes, analista da Clear Corretora, para quem a Petrobras seria a emissão de dívida ao setor privado.

Na opinião dele, a emissão de ações seria uma opção arriscada para a Petrobras, após a megacapitalização da companhia, em 2010, de R$ 120,2 bilhões, considerada "traumática" pelo mercado.

Para o economista Edmar de Almeida, do Instituto de Economia da UFRJ, num possível cenário de problemas de caixa, a Petrobras deveria priorizar o pré-sal e outros projetos em desenvolvimento de produção, que podem ampliar a receita da empresa mais rapidamente. Neste caso, projetos como a Refinaria do Nordeste (PE), que já está atrasada, poderia sofrer novos adiamentos.

No atual plano de negócios da empresa, divulgado ano passado, a refinaria foi adiada em um ano, para 2014. Outras duas refinarias, uma no Maranhão e uma no Ceará, sequer aparecem no plano. No planejamento anterior, elas eram previstas para 2016 e 2017. As obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí (RJ), estão igualmente atrasadas, entre outras razões, por problemas no modelo de contratação. Prevista para 2012, a operação foi postergada para 2014.