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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Hayek na UniCamp: impossivel? Coisas impossiveis sempre acontecem...

O mais surpreendente nesta matéria não é que seu autor seja um defensor da livre iniciativa, da liberdade dos mercados, dos preços livres. É que ele seja formado na UniCamp, tradicional reduto de desenvolvimentistas keynesianos de botequim. Tem aquela famosa frase de flores nascendo no esterco? Pois é, é o caso...
Paulo Roberto de Almeida

ECONOMIZANDO0

O dia em que Hayek enfrentou a máfia dos táxis em defesa de um aplicativo de celular

Boa parte da filosofia política e da pesquisa econômica de Hayek teve como base sua visão sobre a natureza do conhecimento na sociedade.
Hayek compreendia que o conhecimento na sociedade se encontra disperso entre seus diversos membros, além do mesmo possuir características tácitas (difíceis de serem transmitidas) e subjetivas.
Hayek compreendia que em qualquer sistema de organização social existe um grande problema a ser solucionado: como coordenar as ações e expectativas individuais independentes para produzir bens e serviços demandados utilizando recursos escassos.
hayek
Em sua visão, o sistema de preços é a ferramenta necessária para “condensar” esse conhecimento disperso na sociedade e auxiliar os produtores a produzir os produtos mais demandados da forma mais barata.
Isso vem a complementar os ensinamentos de Mises - sem mercados (possíveis apenas com propriedade privada dos meios de produção), não há preços em termos de moeda. Sem preços em termos de moeda, não há como calcular a lucratividade de um processo produtivo. Ou seja, não se produz o que mais se demanda. Produz-se errado e com desperdícios.
Mises e Hayek provaram a impossibilidade teórica do sistema produtivo socialista desde 1920 com estudos nessa linha de pesquisa. A URSS, Cuba, Leste Europeu, China Pré-Reformas, Sudeste da Ásia, África Pós-colonial e agora a Venezuela são apenas aplicações históricas desses teoremas.
O pensamento de Hayek foi fundamental para Jimmy Wales e sua principal invenção: a Wikipedia. Como o próprio Jimmy disse:
“O trabalho de Hayek sobre a teoria de preços é fundamental para o meu próprio pensamento sobre como gerenciar o projeto Wikipedia. Não se pode compreender minhas idéias sobre a Wikipedia sem entender Hayek.”
Mas Hayek não para por aí.

O Aplicativo Uber

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Já ouviu falar em Uber? Uber é um aplicativo digital que conecta potenciais motoristas a potenciais demandantes de transporte. Parte da receita da corrida é revertida para o aplicativo, que demanda o uso de um cartão de crédito cadastrado no sistema.
A empresa Uber não fornece os carros, porém exige que sejam carros habilitados para uso comercial e motoristas em condições de dirigir. Tanto nos EUA como no Brasil já existem aplicativos concorrentes (Lyft e Zaznu), embora o Zaznu siga mais o modelo de “carona remunerada” ao invés do sistema “motorista profissional remunerado”.
Atualmente, o Uber é a startup com maior valoração de mercado: 85x o múltiplo das vendas. A expectativa de crescimento é grande, afinal de contas o modelo de negócio pode capturar parte das receitas que até então eram destinadas para táxi, transporte coletivo público, compra e manutenção de carros privados, estacionamentos, gasolina, dentre outras imagináveis.
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Source: http://www.statista.com/chart/1967/startups-valued-at-one-billion-or-more/
 
A tecnologia do Uber e demais aplicativos são exatamente a aplicação dos ensinamentos de Hayek.
Há pessoas demandando deslocamentos e uma infinidade de formas de se deslocar, todas elas consumindo recursos escassos. Uma dessas formas inclui compartilhar veículos e economizar motoristas, seja com outras pessoas dentro do carro numa única viajem, seja em diversas viagens com um único carro.
Os aplicativos são capazes de fazer algo até então impossível no mundo analógico: fornecer um “matching” detalhado de locais de destino demandados e carros disponíveis se deslocando.
Ao reduzir os custos de transação, os aplicativos permitem também ampliar a oferta e variedade de parceiros de viajem. São capazes até de reduzir o espaço físico necessário para ser utilizado como ponto de taxi, bem como filas desnecessárias em locais congestionados (a tecnologia permite escolher o local de encontro).
Com isso, quem ganha é o consumidor: mais variedade e menores preços, além de viagens mais rápidas.

A Reação Das Guildas

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No final da Idade Média, as guildas eram associações de profissionais que controlavam o comércio de um determinado serviço, recebendo uma autorização governamental para restringir a oferta.
Os táxis atuais nada mais são do que uma guilda. A oferta de taxis é controlada pelo governo, que vende caríssimas “licenças”, e em troca persegue os taxistas “irregulares”. O mesmo vale para as empresas de ônibus – as empresas concorrem a licitações, que nada mais são do que leilões de monopólio. E quando os “clandestinos” aparecem são perseguidos.
O sistema de metrô e trens, por sua vez, tende a ter apenas um operador por trajeto por razões técnicas (embora pudéssemos conceber trens privados concorrentes numa mesma infraestrutura de trilhos privados), porém trata-se de um concorrente a ambos em alguns trechos.
Aplicativos como os citados são simplesmente capazes de driblar o controle estatal sobre esses mercados, controle esse que impede a entrada de novos concorrentes e diferenciação de produtos.
Ao ser uma fonte de concorrência, o aplicativo vem sendo motivo de protesto por parte das guildas – especialmente das guildas de táxi.
Em Barcelona o governo local deu razão para os taxistas e exigiu o fim das atividades da Uber. Só não perguntou aos consumidores se preferem pagar mais caro nos táxis convencionais e aos57% de jovens espanhóis desempregados que poderiam obter renda prestando serviços de motorista. Na socialista França, vândalos atiraram pedras e ovos nos carros do Uber.
No Rio de Janeiro, única cidade atendida pelo Uber no Brasil (até então), um representante da guilda deu a seguinte declaração:
“Não existe a menor possibilidade de os taxistas aderirem ao Uber”, afirmou por telefone André Oliveira, organizador do movimento Taxinforme, depois de participar da manifestação no Rio. “Trata-se de concorrência desleal. Investimos em licença, em seguro, em vistorias. Uma empresa não pode simplesmente chegar e promover a liberação geral do mercado.”
A declaração apenas mostra como o mercado é completamente distorcido pelo governo em conjunto com as guildas de táxi: preços tabelados, não há concorrência (ausência de barreiras legais à entrada no mercado) e o governo extrai parte da renda do trabalho dos taxistas via licenças, regulamentações de seguro (aqui forçosamente distribuídas para seguradoras) e vistorias. A mentalidade é a de que competição é ruim.

Quem Ajuda A Resolver o Problema do Transporte?

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Pessoas de tendência pró-empreendedorismo costumam dizer que o inventor do pendrive fez muito mais pelas florestas do que os abraçadores de árvore do Greenpeace.
Quem mais ajuda a resolver o problema do transporte urbano?
De um lado temos o Movimento Passe Livre/Catraca Livre, hostis ao empreendedorismo, falando que transporte não é mercadoria e desejando um preço igual a zero.
Ou seja, desejam exatamente a situação que Mises e Hayek provaram levar a um caos produtivo e à escassez. De quebra costumam protestar bloqueando as mesmas vias que julgam estar tentando libertar.
Do outro lado temos empreendedores utilizando tecnologias para aumentar a oferta e a variedade do produto demandado – transporte.
O Uber mostra que o caminho correto é o segundo – empreendedorismo e avanços tecnológicos ao invés de batalhas políticas e infantilismo econômico. 
Ao tratar o transporte como um bem escasso e precifica-lo, assim conforme sugerem Mises e Hayek, seu processo empreendedor tende a descongestionar as vias e oferecer preços mais baixos. De quebra, ainda tende a reduzir a poluição gerada pelos carros.
Nós poderíamos citar aqui outros tantos casos. Como a tecnologia do Bitcoin, que permite um sistema monetário livre das perversidades governamentais. Ou a tecnologia de software open source e das impressoras 3D, que permite o barateamento e a produção local de produtos patenteados e recheados de impostos e outras barreiras governamentais à importação. E até mesmo o Skype e o Whats App, que reduzem nossa dependência do sistema de telefonia regulamentado.
Os aplicativos de transporte são apenas mais um dos capítulos. E pode apostar: veremos mais deles nos próximos tempos.
  
 

sábado, 11 de janeiro de 2014

Capitalismo e Livre-Mercado: diferencas essenciais - Cracking the Egg

Vc pensava que já sabia de tudo sobre esse sistema perverso que se chama capitalismo?
Pois ainda não sabe nem a metade. 
Quebre a casca do ovo para saber...
Paulo Roberto de Almeida 





Friday, January 10, 2014


Free Market Vs. Capitalism: Clearing up Some Confusion

It seems there's a lot of confusion about the relationship between the "free market" and "capitalism", so I'd like to clear things up:

technically the "free market" is a form of capitalism. The definition of capitalism is rather broad:

"an economic and political system in which a country's trade and industry are controlled by private owners for profit, rather than by the state."

According to this definition, most economic systems that are not state-controlled are capitalistic.

The free market, in its most pure and idealistic form, is what we refer to today as "the black market", or alternatively, "the underground economy". This is the most decentralized form of capitalism.

Corporatism is most centralized form of capitalism. It is essentially the same thing as socialism, only the states are substituted for corporations, government agencies for subsidiaries, bureaucrats for CEOs, and voters for shareholders.

In an ideal, free society, the free market would be the de facto form of capitalism, but such free trade has been so suppressed that it can only thrive underground. And incidentally, it has thrived greatly, at least on a global level, despite (or rather, because of) government oppression and intervention in the economy).

So when I say capitalism is completely different from the free market, this is what I mean: The capitalism in place today, around the world, is completely different from free market capitalism- it is in fact its polar opposite. And additionally, the polar opposite of Socialism is Anarchism, which goes to show that the advantages of capitalism may not be advantages at all. What brings us prosperity isn't capitalism, it's freedom!


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segunda-feira, 10 de maio de 2010

Sobre imigrantes e economia - esclarecimentos economicos

A proposito da recente lei do estado do Arizona, um economista relembrou um antigo trabalho seu sobre o tema da imigração. Tenho o prazer de transcrever aqui, com o devido crédito.

Comentários sobre imigração
Postado por Sidney Richard Silvestre às 22:02
terça-feira, 7 de julho de 2009

[1] No pé da estatua da liberdade, um dos maiores símbolos dos EUA, e porque não, do ocidente, está (ou estava) escrita a seguinte mensagem:

"Give me your tired, your poor,
Your huddled masses yearning to breathe free,
The wretched refuse of your teeming shore.
Send these, the homeless, tempest-tost to me,
I lift my lamp beside the golden door!"


Hoje, os EUA e principalmente a Europa querem os famintos e pobres do mundo bem longe. Mesmo liberais, os defensores dos mesmos ideais que fundaram os EUA e inspiraram mensagens como a acima, defendem a idéia de que é legitimo um país fechar as fronteiras para “multidões indesejadas”. Muitos por motivos totalmente estranhos a doutrina. Juntam-se a esses liberais, sindicalistas e socialistas locais alegando perdas de emprego, queda dos salários e nacionalistas extremados alegando “destruição da identidade e da cultura nacional”.

[2] Eu considero tais posições um erro, tanto moral quanto econômico. Do ponto de vista moral acredito que a discussão seja um pouco complicada devido à forma como o mundo é organizado. O direito de barrar alguém em uma propriedade é, por essência, o próprio direito de propriedade (ou, mais corretamente, uma parte central desse direito). Você ser dono da sua casa significa poder decidir quem entra nela. Em uma sociedade que respeitasse direitos de propriedade, seria permitido fazer isso com base exclusiva na vontade do proprietário, o que significaria que ninguém teria “direito a entrar na sua casa”. Alguns liberais, direta ou indiretamente usam esse argumento para justificar a proibição à imigração. É o tradicional erro que muitos cometem ao passar do plano conceitual / teórico da doutrina, para sua aplicação direta em uma situação concreta.

[3] Primeiro, como países estão construídos hoje, não existe nada como “o dono do país” no mesmo sentido do exemplo da casa, ou na versão mais sofisticada do argumento, como um condomínio onde seus membros teriam direito de barrar a entrada de “estrangeiros”. Um país, estritamente falando, não passa de um aglomerado de propriedades, uma ao lado da outra, ligadas por propriedades ditas do governo (ruas, estradas). As propriedades do governo, em termos morais, não são legitimas, no sentido de que o governo não tem “permissão moral e ética” para fazer com elas o que bem entender (ele não é o verdadeiro dono). Uma alternativa seria dizer que ruas são “do povo”, na verdade das pessoas que moram na região e a usam, ou seja, uma “propriedade coletiva” já que todos (à força) financiaram aquela rua. Se ela for do povo, o povo poderia decidir quem pode ou não andar, freqüentar as ruas.

[4] Embora ache esse posicionamento mais correto (porém “mais perigoso”) que a idéia de que a propriedade é do governo e ele decide (como uma entidade externa), também temos vários problemas morais. O mais grave é o seguinte: eu defendo que um imigrante muçulmano possa entrar livremente no “nosso país” e você não. Se a rua fosse sua, ele não poderia “andar por aí” e seria completamente legitimo isso. Se a rua fosse minha, teríamos a situação contrária. Como resolver tal impasse? A resposta quase padrão é através de votação, o que significa que se um país votar contra a imigração seria legitimo em termos liberais. O problema é que eu não assinei nada, não concordei em financiar uma propriedade cuja clausula de resolução de conflito é uma votação entre os proprietários, em suma, eu não disse que concordo em colocar o uso da minha propriedade em votação, ou, em termos mais corretos, eu não decidi livremente se colocava ou não meu dinheiro em um “empreendimento” que tinha tal regra para decidir pendências entre os sócios.

[5] Uma solução para o problema não deve passar pelo “apelo à votação” porque ele é construído sob um terreno moral completamente frágil, que não tem nenhum respaldo liberal. As outras duas soluções seriam, primeiro, ignorar a questão das ruas e bens com propriedade duvidosa que geram problemas como o exposto anteriormente (sem solução), segundo, decidir pelo uso dessa propriedade que menos agride outras propriedades e que mais estaria de acordo com princípios liberais e uma sociedade livre. Para o presente tema (e é importante ter isso em mente), acredito que tanto faz adotar a postura um ou a postura dois, portanto não vou me preocupar com o tema “mas a rua é minha também e eu não quero que um imigrante fique andando por aí”. Ela é sua, mas é minha também e eu quero. A solução para isso não é votação (só será se todos os proprietários concordarem com isso). Também não é o item um (ignorar o problema), mas entrar em detalhes sobre isso exigiria um outro texto. Como, nesse caso, ignorar (solução 1) ou analisar o problema em termos de moral liberal, eficiência econômica (solução 2) levam ao mesmo resultado, vamos em frente.

[6] A analogia de um país com um condomínio não faz sentido, pelo seguinte: ao entrar em um condomínio, eu compro do “dono original” a propriedade e tenho uma lista de “leis” e regimentos que eu concordo explicitamente (nesses regimentos há também a regra para alterar o próprio regimento, que geralmente é um processo de votação e eu explicitamente concordo com isso). No fundo, a associação de um país com um condomínio (ou um clube) é o velho argumento do contrato social sendo apresentado com uma nova roupagem – eu “entro voluntariamente” em tal associação e concordo com as regras dessa associação, assim como na versão do contrato social explicito onde eu “assino voluntariamente” com o governo a prestação de serviços como segurança, defesa. Países não são condomínios / clubes, da mesma forma que governos não são fruto de contratos voluntários. No mundo atual países são simplesmente um aglomerado de proprietário sob um mesmo agressor, que não está lá por “contrato” algum, agressor que em termos liberais, deve se restringir a garantir a propriedade desse aglomerado.

[7] Dito isso, se quero vender minhas terras, alugar um imóvel, dar emprego, ou simplesmente receber um estrangeiro em minha casa, eu tenho total direito de fazer isso, ninguém pode me impedir alegando “imigração proibida”, “imigração ilegal”. Eu troco propriedades com a pessoa da nacionalidade que eu quiser, pois estou fazendo uso exclusivo de minhas propriedades. Proibir a imigração, como o mundo é hoje, não significa fazer valer o “direito de barrar” (ou em um sentido mais amplo, o próprio direito de propriedade). Muito pelo contrário, é a violação da minha liberdade em trocar com pessoas de outra nacionalidade. Argumentos do tipo “você está proibido de fazer isso se quiser viver na nossa comunidade ou no nosso país” não fazem sentido algum como já foi explicado anteriormente. Não há regimentos / leis pré assinados e concordados como há nos casos concretos de clubes, condomínios, empresas prestadoras de serviço. É a falácia do contrato social sob nova roupagem (talvez esse texto sobre o tema possa interessar). Os founding fathers acertaram, em termos morais, ao “abrir” as portas dos EUA para imigrantes. É a política correta para um país livre.

[8] E a parte econômica? Não é preciso dizer que os EUA foram construídos e se transformaram na maior civilização da história com braços e mentes estrangeiras e que muitos dos conservadores que clamam por muros no México são simplesmente netos / filhos de imigrantes, daqueles mesmo imigrantes pobres e famintos que a mensagem na estatua faz referência. Livre imigração significa, em termos econômicos, livre movimentação de trabalho. Dentro de uma economia, se o setor de bananas está produzindo demais e o de maças produzindo de menos, o preço da maça sobe e conseqüentemente o rendimento por se produzir maças também. Ocorrerá então transferência de trabalho e capital da produção de bananas para produção de maças, até que os rendimentos sejam “igualados”.

[9] O mesmo raciocínio é válido em “escala global”. Se produzir na África rende menos do que nos EUA, o dono do fator de produção trabalho (nas sociedades livres ou semi-livres oficialmente o próprio trabalhador), preferirá sair da África e ir para os EUA. E aqui entram os sindicalistas locais. Mais mão de obra disponível significa menores salários e ninguém gosta de ganhar menos. Embora seja verdade, tal raciocínio é bastante limitado: primeiro, mais bens serão produzidos, logo é verdade que um trabalhador pode ganhar menos, mas também terá que pagar preços menores para comprar. Segundo, não necessariamente os trabalhadores locais ganharão menos. Não faz sentido um trabalhador qualificado americano, mais produtivo fazer o mesmo trabalho que um imigrante africano sem qualificação nenhuma pode fazer. Isso é um desperdício. Com a entrada de imigrantes, esses imigrantes podem fazer esses serviços que exigem menos qualificação e liberar mão de obra qualificada para produzir e criar serviços “mais avançados”. Isso aumenta a produção e eleva a produtividade da economia, logo, no longo prazo eleva os salários de todos (foi isso que aconteceu nos EUA). Terceiro, mais pessoas diferentes, com conhecimentos diferentes, com habilidades diferentes, “know-how” diferentes geram novas oportunidades de negócios, inovações, ou em um sentido mais “hayekiano”, abrem espaço para uma avalanche de testes de conhecimento no processo de mercado que elevarão enormemente a produtividade e o bem estar dos locais (e dos novos imigrantes também, caso contrário eles não sairiam do seu país de origem).

[10] Além da questão da suposta baixa dos salários, há alguns outros argumentos econômicos anti-imigração como “sobrecarga” nas despesas do governo, xenofobia etc.. Os esquerdistas do primeiro mundo construíram uma enorme rede de subsídios que vai de atendimento hospitalar até a garantias como da aposentadoria, seguro desemprego dentre outras coisas; é o chamado “estado de bem estar social”, que no fim se transformou em um dos maiores responsáveis pela xenofobia e onda anti-imigração que temos na Europa hoje (e em menor intensidade nos EUA). As regulações trabalhistas engessaram o mercado de trabalho, de forma que realocações entre setores (como a que eu sugeri no parágrafo anterior) são extremamente “doloridas” e lentas. A força dada aos sindicatos, através de leis e impostos, impede o dinamismo necessário a essas mudanças no mercado de trabalho, dinamismo esse que existia nos EUA do começo do século XX. A mesma esquerda, que se apavora com as ondas de xenofobia, que se horroriza com os “muros” que os EUA levantam na fronteira do México, é a grande responsável por destruir a harmonia propiciada anteriormente pelo livre mercado, pela livre movimentação de fatores e os conseqüentes ajustes econômicos que resultavam em melhor bem estar para todos. Foram as regulações trabalhistas (associada a propagandas sindicais) que criaram o medo do “roubo do emprego” pelo estrangeiro. Foi o estado de bem estar gigante que custa cada vez mais para ser sustentado e exige altos impostos que emperram o crescimento da produtividade, aumentando a miséria e evitando que os novos imigrantes consigam prosperar como seus antepassados fizeram.

[11] Como senão bastasse, a destruição esquerdistas também está presente nos países exportadores de trabalho. Se no “mundo desenvolvido”, eles emperraram a economia com regulações, subsídios a indústrias e a escolhas ineficientes, no terceiro mundo a posição chega a ser criminosa. Primeiro, condenam o fechamento das fronteiras dos países ricos como um ato cruel resultado da perversidade do próprio sistema capitalista que funcionaria através da exploração dos países pobres. O movimento de imigração, no fundo, seria uma espécie de efeito colateral indesejado, a exploração dos pobres se voltando contra os ricos e os obrigando a proteger a riqueza e benesses dos seus “locais”, justificando assim as medidas anti-imigração como sendo da própria natureza do capitalismo. Nada disso faz qualquer sentido. Os países ricos não estão melhores impedindo que mais trabalho seja usado para produzir bens, não estão melhores impedindo que conhecimento útil, “know-how” não sejam aproveitados, não estão melhores criando reservas de mercado para trabalhadores mais ineficientes, que produzem o mesmo que os “pobres do sul” a um custo cinco vezes maior. Mas o pior não é a condenação aos países ricos por tais medidas, ela seria correta e justa se essas pessoas não defendessem o estado de bem estar social do primeiro mundo (o causador do problema lá) e, principalmente, não defendessem medidas locais que economicamente são equivalentes as que rejeitam. Me refiro especificamente a total hostilidade ao que convencionou-se chamar de “capital internacional”.

[12] Se um país tem excesso de mão de obra e pouco capital, a produtividade na margem do trabalho, i.e, sua produtividade marginal (que é o que determinará o salário) será baixa. Se temos a situação inversa, “excesso” de capital e pouco trabalho (em termos relativos), a produtividade marginal do trabalho será alto e a do capital baixa (taxas de juros reais, a remuneração do capital, serão mais baixas). Em um livre mercado dois movimentos ocorreram até que a relação entre produtividade marginal do trabalho e do capital se igualem ao redor do mundo: saída de trabalho da região de baixa produtividade marginal do trabalho para a região de alta produtividade e saída de capital da região de baixa produtividade do capital para a região de alta. Deixando o economês de lado, isso significa imigração de países pobres para os ricos e investimentos externos dos países ricos nos pobres. A esquerda reclama que os países ricos impedem o primeiro movimento, mas eles próprios não deixam o segundo movimento ocorrer (o que no fim daria “na mesma” em termos de resultados econômicos), através de medidas econômicas de controle de capitais, estatizações, desapropriações, regulação contra capital externo, regulação anti-propriedade estrangeira e tantas outras “maluquices” que nós latino americanos estamos acostumados. Essa posição da maior parte dos esquerdistas, além de absurda economicamente é de uma imoralidade atroz.

[13] Hoje se fala muito dos neonazistas europeus, movimentos anti-migração como sendo produto do capitalismo, do livre mercado que empobrece o sul e não consegue dar empregos aos “refugiados” e locais do norte. Errado. No passado os EUA receberam ondas migratórias muito maiores do que qualquer onda migratória que a Europa recebe hoje e não só houve prosperidade, como uma prosperidade que a Europa (até então em melhor situação), conseguiu acompanhar. Não há mistério: trabalho é um fator de produção escasso (não algo que “sobra”). Tirar trabalho de regiões que não permitem uma alocação eficiente desse trabalho, de regiões que condenam a produtividade e premiam o roubo, a fraude, a escravidão, que não deixam o sistema de preços funcionar e levá-lo para regiões que fazem o oposto, aumenta a produtividade, aumenta o número de bens produzidos e conseqüentemente nosso bem estar. Neonazistas e todas essas baboseiras anti-estrangeiros são resultado de políticas socialistas, não capitalistas, são resultados de regulações anti-capital e anti-propriedade no sul e no norte. As mesmas regulações defendidas com entusiasmo por socialistas, social-democratas de todas as “tonalidades de vermelho”.

[14] O mais decepcionante é ver liberais entrando nessa armadilha defendendo medidas extremamente antieconômicas e anti-liberdade baseando-se em aplicações equivocadas da doutrina que dizem defender. Fazendo analogias non-senses como “o país é igual meu condomínio”, “minha casa”, eu posso bloquear alguém de entrar em casa, logo posso bloquear alguém de entrar no “meu país”... Outro veneno, que principalmente liberais com tendências mais conservadoras (parece contraditório?) costumam engolir é a idéia de que imigração em peso destrói “valores” nacionais. Primeiro, seria necessário argumentar porque determinados valores não podem ser destruídos ou deixados de lado e se não forem adotados porque devemos obrigar alguém a adotá-los. Segundo, se um valor é superior a outro em termos de bem estar humano, dificilmente ele será destruído por imigrantes que vieram espontaneamente justamente a um país que é o que é devido a tais valores. No fundo, tais imigrantes estão buscando esses “valores superiores”, querem viver segundo esses princípios fundamentais. Assim como para bens corriqueiros, nada melhor do que um livre mercado de valores para a seleção dos melhores, dos mais apropriados. Obviamente aqui temos algumas complicações cujos detalhes deixarei de lado como a própria necessidade de alguns valores para que surjam / existam mercados, no entanto mesmo para quem fica muito preocupado com isso é bom pensar que a própria violação da liberdade e o agigantamento do governo que a proibição da imigração implica é um ataque frontal a um dos mais fundamentais valores que essas pessoas dizem querer proteger.