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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Os primeiros 400 dias de Lula III - Pedro Malan (O Estado de S. Paulo)

Os primeiros 400 dias de Lula III 

 Pedro Malan* 

O Estado de S. Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 2024


Neste domingo de carnaval, vale lembrar a marchinha ‘Recordar é viver’ (1955), a propósito do programa Nova Indústria Brasil


O Brasil foi descoberto no dia 21 de abril, “dois meses depois do carnaval”, dizia a marchinha que encantou foliões no carnaval de 1934. Tudo, metaforicamente, ficaria para depois da grande festa nacional. Mas não foi assim este ano, em que ações da Polícia Federal ocuparam as primeiras páginas dos jornais, iluminando a importância de elucidar os eventos que levaram ao surreal 8 de janeiro de 2023. As rodas da economia e da política tampouco deixaram de girar com Executivo e Congresso em estado de alta tensão por causa da disputa sobre fatias do Orçamento.

Foi numa virada de fevereiro para março, logo após o carnaval de exatos 30 anos atrás, que o governo de então lançou a Unidade Real de Valor (URV). Essa unidade de conta era o embrião da nova moeda, que chegaria quatro meses mais tarde sob o nome de real e que viria a consolidar-se – esperemos – como a definitiva moeda nacional.

Neste início de fevereiro, o governo Lula completou seus primeiros 400 dias. Pode parecer pouco, mas o tempo da política não é igual ao tempo cronológico. Na política, como na guerra, dias podem valer semanas; semanas, meses; meses, anos. Foi também de 400 dias, por exemplo, o período decorrido entre o momento em que o presidente Itamar Franco nomeou FHC seu (quarto) ministro da Fazenda e o lançamento do Real. Aqueles 400 dias valeram por anos.

O governo Lula parece apostar que os efeitos dos seus primeiros 400 dias também se projetarão por anos à frente e contribuirão para seu (legítimo) projeto de permanecer no poder, vencendo as eleições de 2026. Como estamos em pleno domingo de carnaval, vale lembrar outra marchinha dos carnavais de outrora, Recordar é viver (1955), a propósito do programa Nova Indústria Brasil, anunciado ao final de janeiro.

O programa evoca três lembranças. A primeira é uma declaração da então presidente Dilma Rousseff, dez anos atrás, a poucos meses das eleições. “Só em 2014 estão em construção ou contratados para serem construídos aqui, no Brasil, 18 plataformas, 28 sondas de perfuração e 43 navios tanque (...) Graças à política de compras da Petrobras (...), renasceu uma indústria naval dinâmica e competitiva, que irá disputar o mercado com as maiores indústrias navais do mundo.” Quem é minimamente informado sabe no que deu.

A segunda lembrança é uma imperdível entrevista concedida a este jornal (2/1/2013) por Bernardo Figueiredo, por muitos anos braço direito de Dilma Rousseff para assuntos de infraestrutura. “Se a gente pegar os planos nacionais de logística de transporte e de logística portuária e outros estudos do governo, teremos de investir perto de R$ 400 bilhões em cinco anos. Vamos dizer que tenho de investir outros R$ 20 bilhões por ano para não gerar novo passivo e ser preventivo. Então, a necessidade de investimento seria de R$ 100 bilhões por ano. Resolvendo isso, posso dizer que em cinco anos não teríamos mais problemas de infraestrutura.”

A terceira lembrança é também de uma entrevista – ainda mais imperdível, porque reveladora do pensamento de Lula sobre a arte de governar (Valor Econômico, 17/9/2009). “Tenho cobrado sistematicamente da Vale a construção de siderúrgicas no País. A Vale não pode se dar ao luxo de exportar apenas minério de ferro.” “Convoquei o Conselho da Petrobras para dizer: olha, este é um momento em que não se pode recuar. Que a Petrobras construa refinarias, estimule a construção de estaleiros (...). Este é o papel do governo.” “Não conheço ninguém que tenha a capacidade gerencial da Dilma.”

A julgar pelos primeiros 400 dias de Lula III, o pensamento de 15 anos atrás perdura. “Se der superávit zero, ótimo, se não der, ótimo também” (8/2/2024). O País está sendo informado de que haverá simultaneamente um plano trienal de ação (2024-2026) e um Plano de Aceleração do Crescimento (novo PAC). Em ambos há referências a metas aspiracionais cujo horizonte estende-se até um ponto não especificado nos anos 30.

Quando, como é nosso caso, o Estado já se sobrecarregou de obrigações que testam os limites de sua capacidade – de tributar, de gastar, de se endividar, de reformar, de gerir e de investir –, a realidade impõe, pelo lado da oferta doméstica, restrições a ambiciosos processos de expansão. E exige claras definições de prioridades. Porque, ao dispersar demais suas atividades, o Estado fica mais suscetível a ceder a interesses isolados, a persistir em promessas que não pode cumprir. A assumir metas e objetivos inalcançáveis, que redundam em dívidas por equacionar. Principalmente quando receitas não recorrentes são utilizadas para financiar gastos que se tornam permanentes – e crescentes –, como vimos em experiências recentes.

Ao longo dos próximos três anos será fundamental, de maneira clara e crível, sinalizar para agentes econômicos que existe um sistema de regras de responsabilidade fiscal que represente compromisso firme em assegurar a sustentabilidade da trajetória de finanças públicas do País. Como temos nos regimes monetário e cambial e como ainda nos falta na área fiscal, a despeito dos esforços do ministro Fernando Haddad, contra intenso fogo amigo. Porque uma política fiscal insustentável pode impedir o desenvolvimento econômico e social sustentado no longo prazo. 

*Economista, foi ministro da Fazenda no governo FHC

 

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

A politica fiscal de Lula III acabou antes de nascer? - Lisandra Paraguassu (Reuters)

 Looks likely…


Lula's honeymoon with Brazil markets ends amidspending plan fears

By Lisandra Paraguassu

and Gabriel Stargardter

Reuters, November 10, 20228:23 PM GMT-3Last Updated 11 hours ago. 


BRASILIA, Nov 10 (Reuters) - Brazilian President-electLuiz Inacio Lula da Silva's brief honeymoon withfinancial markets looked finished on Thursday, as hepushed for more room to grow social spending withoutsetting long-term fiscal rules or naming his top economicpolicymakers.

 

Brazil's currency and benchmark Bovespa stock index (.BVSP), which rose last week as fears of politicalvolatility subsided after Lula's election victoryplungedaround 4% on Thursday on comments by Lula and detailsof his transition team.

The rout made clear that many investors were donewaiting for more clarity over Lula's key ministerial appointments or details of how he aims to stabilize Brazil'spublic finances.

In a speech to lawmakers, Lula said he aims to prioritizesocial spending over market concernsquestioning thepriority given to key parts of Brazil's economic policyframework.

 

Investors have called for Lula to restore firm rules for public finances after major outlays by current PresidentJair Bolsonaro through the pandemic and election seasonInsteadthe president-elect is pushing to dismantle oldbudget rules before settling on the alternatives proposedby his advisers.

 

Lula acknowledged market reaction in comments toreporters later on Thursdaybut sought to downplayinvestorsconcerns.

 

Markets deepened losses after the announcement of four economists aligned with the leftist Workers Party tohandle budgetary issues as part of Lula's transition teamincluding former Finance Minister Guido Mantega. (vide artigo seguinte)

 

After markets closed, a key lawmaker who had met withthe transition team confirmed some investorsfears thatLula wanted recurring exemptions from a constitutionalspending cap.

 

Senator Marcelo Castro, the point man for the 2023 budget, said Lula backed a permanent spending cap waiver for the "Bolsa Familiawelfare programwhich isslated to cost 175 billion reais ($33 billionannually basedon his campaign promises.

 

The negative reaction to Lula's comments and transitionteam is the latest example of investors delivering animmediatebruising response to nascent governmentseconomic proposalsamid a challenging global backdropof high inflationweak growth and low risk appetite.

QUESTIONING PRIORITIES

In his speech to lawmakers, Lula insisted he wouldmaintain fiscal discipline. But he also questioned thepriority given to parts of Brazil's economic framework, including the spending cap that has been waivedrepeatedly under Bolsonaro.

 

"Why do people talk about the spending ceilingbut notsocial issues?" he asked. "Why do we have an inflationtarget, but not a growth target?"

 

Investorscalling for Cabinet picks or clear fiscal rules toshow how Lula intends to conduct policywere notimpressed.

 

"In the past few daysthe president-elect's focus has beenon signaling a major expansion in social spendingwithoutcounterbalancing point about fiscal responsibilitywhichstrikes a different tone than expected," said Arthur Carvalho, chief economist at TRUXT Investimentos in Rio de Janeiro.

Lula has not yet designated his finance minister and saidhe would consider his Cabinet picks after returning fromthe United Nations climate summit in Egypt next week.

 

His advisers are already discussing with lawmakers how toopen room for more spending outside the spending cap in order to deliver on campaign promisesincluding a possible constitutional amendment.

 

"The signals indicate that the spirit of the (proposedamendmentis very oriented around new public spending. For nowthere seems to be no plan for where thoseresources come from and what will be the long-termadjustments," Dan Kawa, TAG Investimentos' chiefinvestment officerwrote in a client note. "The signals are terrible."

 

 

2 minute readOctober 7, 20226:14 PM GMT-3Last Updated a month ago

Brazil's Lula eyes flexible primary surplus target toreplace spending cap

By Lisandra Paraguassu

SAO PAULO, Oct 7 (Reuters) - Economic advisers toBrazilian presidential candidate Luiz Inacio Lula da Silva are looking at two main ideas to replace a constitutionalspending cap, including a flexible primary surplus target, two senior aides told Reuters on Friday.

 

Lula has resisted pressure to lay out what fiscal rules hisgovernment would follow if he is elected in an Oct. 30 runoff vote against President Jair Bolsonaro.

 

But he has stressed he will not maintain the spending cap, which only allows spending by the federal government togrow as much as the previous year's inflation. Bolsonaro has also said he is looking at changes to that fiscal anchor.

Lula and advisers in his Workers Party (PT) are lookingfor ways to raise public spending to jumpstart economicgrowththough Lula will only take his decision after theelectiontwo party sources said on condition ofanonymity.

 

One of the proposals involves the establishment of a primary budget surplus target with bands so thegovernment can spend more in the event of an economicdownturnCurrentlythe primary budget target is fixedwhichaccording to the sourcesprevents the governmentfrom adopting counter-cyclical actions.

"If (the economyslows downyou don't have the meansfor the government to act," said one of the sources.

According to the sourcesthis proposal is Lula's preferredoption. In public statementshe often repeats that Brazilposted budget surpluses every year of his 2003-2010 presidency but admits that the design of a new rule can beimproved.

 

The sources said that a second proposal would limitspending growth to inflation plus some other unspecifiedindicator to allow a real increase in federal investment.