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segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Os delírios e mentiras de Bolsonaro isolaram o Brasil da América Latina, China, Europa e até dos EUA - João Filho (The Intercept)



Os delírios e mentiras de Bolsonaro isolaram o Brasil da América Latina, China, Europa e até dos EUA

Da Amazônia aos direitos humanos, passando pelo coronavírus, Bolsonaro transformou o Brasil em pária do mundo.
The Intercept, 14 de Junho de 2020, 1h02
Se antes o Brasil era uma referência em diplomacia internacional e almejava ser protagonista nas relações com o mundo, hoje o país é rejeitado até mesmo pelos seus vizinhos.

O BEM-SUCEDIDO projeto de destruição da democracia do governo Bolsonaro está promovendo uma lenta e dolorosa morte da reputação do país. Com a chegada da pandemia, ficou claro para o mundo que o Brasil está nas mãos de conservadores xucros, fundamentalistas religiosos e psicopatas dispostos a empurrar compatriotas para o cemitério em nome da salvação da economia. Se antes já havia motivos de sobra para a desconfiança internacional, agora a coisa ficou escancarada.
Bolsonaro é, sob qualquer ponto de vista, o pior presidente do mundo no enfrentamento ao coronavírus. A extrema direita avançou no mundo inteiro, mas no Brasil esse avanço está se dando com requintes de crueldade. Mesmo Trump e Orbán, dois presidentes extremistas que são referências para Bolsonaro, basearam suas ações na ciência e determinaram o isolamento social como fundamental para a contenção da infecção. Já Bolsonaro, com base em misticismos forjados no WhatsApp e nos delírios do vovô da Virgínia, trabalha na direção contrária.


O enterro está sendo agora, mas o velório começou antes mesmo do bolsonarismo tomar posse. Ainda em novembro de 2018, a xucrice bolsonarista já exibia suas credenciais para o mundo: desrespeitaram abertamente a China, nosso principal parceiro comercial. Atacaram o Mercosul. Criaram atrito com os países árabes ao anunciar mudança da embaixada de Israel para Jerusalém. Ameaçaram sair do Acordo de Paris. Tudo isso aconteceu ainda faltando um mês para a posse. O estrago feito em poucos dias já era um indicativo da tragédia que viria nesse ano e meio de mandato.
A política internacional bolsonarista é guiada exclusivamente pela ideologia barata de Steve Bannon, o promoter da extrema direita no mundo. É uma ideologia que considera razoável o filho do presidente, que mal sabe falar inglês, se tornar o embaixador brasileiro nos EUA. Estar preparado para o cargo não é uma condição para assumi-lo. Para isso basta ser reaça. As ações internacionais desse governo, portanto, não são pensadas para trazer bons negócios para o país e melhorar a vida do povo brasileiro, mas para cumprir a agenda “anti-globalista” de uma turminha delirante. A expectativa era fazer nosso comércio exterior se aproximar dos capitalistas dos EUA e se afastar dos comunistas chineses. A realidade está sendo outra: EUA e China se afastando cada vez mais do Brasil.
Essas patacoadas internacionais foram se acumulando e atingiram o pico com a maneira esotérica como enfrentamos o coronavírus. A comunidade internacional está nos isolando progressivamente. Mesmo o principal aliado, Trump, tem criticado reiteradamente o Brasil e proibiu a entrada de brasileiros em seu país. Este 2020 pode ser considerado o ano em que o Brasil se transformou em pária internacional.
O bolsonarismo prometeu acabar com a política internacional ideologizada dos governos do PT, ignorando que a relação política entre Brasil e EUA, por exemplo, já foi tão boa que Lula quase virou amigo do direitista George Bush. Ainda antes de tomarem posse, Eduardo Bolsonaro esteve nos EUA com Steve Bannon e desfilou com um boné da campanha Trump 2020. Essa vergonhosa puxação de saco com Trump foi, por óbvio, uma tragédia em termos diplomáticos. Trump não é o dono dos EUA e praticamente todas as importantes decisões do governo precisam de aprovação da Câmara, que hoje é composta por uma maioria democrata.
Na semana passada, uma comissão da Câmara americana declarou que rejeitará qualquer parceria econômica com “o Brasil do presidente Jair Bolsonaro”. Sim, a rejeição não é ao país, mas especificamente ao país presidido por Bolsonaro. Em carta enviada ao principal negociador comercial dos EUA, o embaixador Robert Lighthizer, a Câmara justifica a rejeição: “há um completo menosprezo (do governo Bolsonaro) por direitos humanos básicos, pela necessidade de proteger a floresta amazônica e pelos direitos e dignidade dos trabalhadores (…) O aprimoramento do relacionamento econômico entre os EUA e o Brasil, neste momento, iria minar os esforços dos defensores dos direitos humanos, trabalhistas e ambientais brasileiros para promover o estado de direito e proteger e preservar comunidades marginalizadas”.
Outra razão para a rejeição de acordos comerciais com o Brasil: “as declarações depreciativas sobre mulheres, populações indígenas e pessoas identificadas por gênero ou orientação sexual, além de outros grupos”.  É claro que também há interesses econômicos por trás dessa rejeição dos democratas, mas é inegável que a imagem manchada do país atrapalha os negócios.
Na Europa, há uma enxurrada de países rejeitando parcerias comerciais com o Brasil. Na última quarta, o parlamento holandês se colocou contra o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul, que ainda depende da aprovação de países participantes. Motivos? A devastação da Amazônia e o descaso com os povos indígenas comandados por Jair Bolsonaro.
Em fevereiro, um parlamento regional na Bélgica rejeitou por unanimidade o mesmo acordo, usando as mesmas justificativas. Além desses países, França, Irlanda e Alemanha também já deram sinais claros que não vão assinar acordos comerciais com o Brasil pelos mesmos motivos.
Mês passado, Yasmin Fahimi, deputada alemã que preside o Grupo Parlamentar Brasil-Alemanha, afirmou que não sabia como seria possível conciliar as políticas de Bolsonaro com as exigências para o acordo União Europeia-Mercosul. E completou: “Bolsonaro representa um perigo para a democracia, para o estado de direito e para a existência da floresta amazônica”. O bolsonarismo está descobrindo na prática que se apresentar ao mundo como inimigo do meio ambiente e dos direitos humanos não é bom para os negócios — uma obviedade que nem o chimpanzé mais esperto do bando, o Paulo Guedes, conseguiu enxergar.
Além dos EUA impedirem a entrada de brasileiros no país pelo descaso do governo no combate à pandemia, outros países estão fazendo o mesmo. Nossos vizinhos de continente temem que o descaso do governo brasileiro respingue em seus países. O Paraguai fechou as fronteiras do país por temer, segundo uma autoridade paraguaia, que a “situação caótica” vivida pelo Brasil chegue ao país. Argentina e Uruguai também reforçaram o controle nas fronteiras com o Brasil, levando motoristas de caminhão brasileiros a sofrerem discriminação pelas autoridades estrangeiras.
Na Colômbia, o maior número de casos de coronavírus está em uma cidade amazônica que faz fronteira com o Brasil. O ministro da Saúde colombiano atribuiu o problema à falta de diálogo com as autoridades brasileiras.  Na Bolívia, o quadro se repete. As cidades que fazem fronteira com o Brasil estão entre as que  mais têm casos no país. O sistema de saúde da região boliviana na Amazônia já entrou em colapso.
Apesar da profunda recessão econômica, o governo que prometeu ultraliberalismo na economia vem implodindo todas as pontes comerciais do país. A nossa diplomacia não está a serviço dos brasileiros, mas de uma agenda global da extrema direita. Em nenhum outro momento da República, o Brasil esteve tão isolado. Se antes o país era uma referência em diplomacia internacional e almejava ser protagonista nas relações com o mundo, hoje é rejeitado até mesmo pelos seus vizinhos. A transformação do Brasil em pária internacional é consequência direta do até aqui muito bem-sucedido plano de destruição progressiva da democracia.
Hoje, nós somos vistos pelo mundo como uma republiqueta das bananas cujo líder é um homem autoritário que renega a ciência, esconde dados fundamentais para a segurança sanitária e faz ameaças semanais de golpe de estado. Esse é o paiseco que nós viramos.

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

A morte silenciosa do acordo Mercosul- UE (Deutsche Welle)

A morte silenciosa do acordo UE-Mercosul



Merkel pôs em xeque o pacto comercial devido às queimadas na Amazônia. Ao ignorarem o alerta, governos sul-americanos deixam claro seu desinteresse na implementação do tratado. Também na Europa o silêncio predominou.

Faz exatamente um ano desde que o presidente francês, Emmanuel Macron, atacou o Brasil pela primeira vez por causa dos incêndios na Amazônia, durante a cúpula do G7 na França. A chanceler federal alemã, Angela Merkel, disse agora que tem dúvidassobre se o acordo comercial da União Europeia (UE) com o Mercosul ainda pode ser implementado. O motivo são as queimadas na região amazônica.
As "sérias dúvidas" de Merkel se encaixam na corrente de muitos outros críticos que há um ano vêm exigindo cada vez mais veementemente que o governo brasileiro tome medidas contra o desmatamento. Primeiro foram as organizações ambientais, depois os embaixadores da Noruega e da Alemanha e, finalmente, agora fundos, bancos e empresas que pediram ao governo de Jair Bolsonaro que tome uma atitude.
Mas as reações do governo até hoje são as mesmas: afirma que faz o suficiente para proteger a Amazônia; responde que a Europa e os Estados Unidos já desmataram tudo o que tinham; quer oferecer parques nacionais a empresas privadas estrangeiras, para que elas possam proteger o meio ambiente. Afinal, o que o mundo estaria disposto a pagar pela proteção da floresta tropical?
Os militares, segundo o governo, protegerão a floresta de maneira mais eficaz do que as autoridades responsáveis. É preciso poder garantir aos pobres, como os indígenas da Amazônia, uma vida digna, algo que só seria possível com empresas e através de atividades econômicas. Assim soam os argumentos dos ministros quando comentam o tema.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Uma política externa para o meio ambiente - Rubens Barbosa (OESP)

UMA POLÍTICA EXTERNA  PARA O MEIO AMBIENTE
    
Rubens Barbosa
O Estado de S. Paulo, 14/07/2020

A percepção externa negativa sobre o Brasil na questão ambiental e de mudança de clima tem como foco a Amazônia.  Interesses concretos podem vir a ser afetados, em especial no agronegócio e no financiamento de projetos de infraestrutura, como indicam as manifestações empresariais da semana passada. A União Europeia abre investigação sobre critérios do acordo com o Mercosul.
         O governo perdeu a batalha da comunicação. Não resta ao  governo senão sair da defensiva e tomar uma atitude pró ativa de modo a restaurar a credibilidade externa e restabelecer a confiança nas políticas domésticas na Amazônia. Sob a coordenação da Vice-presidência, o governo deveria trabalhar com o Congresso e o setor privado para melhor responder ao desafio.  
           Mais do que uma campanha de relações públicas no exterior, com enorme custo e poucos resultados, impõe-se a mudança do eixo central da politica externa. O interesse nacional aconselha o deslocamento da prioridade dos temas  comerciais como até aqui, para os do meio ambiente e mudança do clima, cujos principais elementos  internos e externos são assinalados a seguir.  
As transformações começam em casa. Além da mudança da retórica, é imperativo tomar as providências para o cumprimento dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil, em particular,
- Voltar aplicar com rigor, fiscalizando sua execução, medidas legais contra queimadas, desmatamento por madeireiros e garimpagem ilegais em áreas protegidas como Unidades de Conservação e Terras Indígenas. E, para tanto, reforçar orçamento e o pessoal do IBAMA, ICMbio e INPE;
-  Reexaminar a tramitação e a aprovação de Projetos de Lei, medidas provisórias e decretos que se refiram a Amazônia, como o projeto de lei 191/2020, que pretende permitir a exploração mineral e hídrica em terras indígenas, e o projeto de lei 2633, que trata da regularização fundiária em imóveis da União; a Instrução Normativa 09/2020 da FUNAI sobre a ocupação por não nativos de território indígena em processo de demarcação;
- Implementação do Código Florestal (Cadastro Ambiental Rural para servir de guia para orientar os bancos na concessão de financiamentos aos produtores rurais) ;
- Fortalecer o Conselho da Amazônia para coordenar ações para a proteção da floresta e o desenvolvimento da região;
- Executar o Plano de Combate ao Desmatamento ilegal (2020-2023);
- Acelerar os estudos no âmbito do Ministério da Economia e do Banco Central para transformar o Brasil em um centro de negociação de carbono;
- Assegurar o cumprimento da resolução 169 da OIT de proteção dos povos indígenas
- Ratificar o Protocolo de Nagoya sobre recursos genéticos
- Elaboração de planos que prevejam a preservação, a proteção e o desenvolvimento sustentável da região, como a proposta de Bioeconomia e a Amazonia, entre outros.
            No exterior, poderia ser exposta uma nova atitude para a preservação da floresta amazônica, para a proteção indígena e para contribuir para ampliar o uso de energia limpa, a promoção de investimento sustentável e redução das emissões de gás carbônico, por meio de ações bilaterais, nos fóruns internacionais e institutos financeiros, em especial:
- Negociar com a Noruega e a Alemanha o restabelecimento do Fundo da Amazônia, mostrando resultados efetivos na redução das queimadas e do desmatamento, além do restabelecimento da governança original;
- Apresentar uma relação dos compromissos assumidos pelo Brasil nos acordos mencionados no capítulo de desenvolvimento sustentável do acordo entre o Mercosul e a UE e, de forma transparente, o grau de seu compromisso;
- Discutir com os EUA a retomada do Principal Fórum Econômico sobre Energia e Clima, criado em 2009;
- Trabalhar com países europeus para revigorar a Coalisão de Elevada Ambição, discutida na COP25 ;
- Anunciar investimentos no sistema de energia de baixo carbon;
- Propor a formação de uma coalizão internacional de organismos financeiros (Banco Mundial, FMI, Bancos regionais) públicos e instituições privadas dos EUA e da Europa;
- Apoiar a aprovação de tarifas sobre importação de países com politica de clima inadequadas (border adjustment mechanism);
- Apoiar a negociação de acordo sobre comércio de bens ambientais (produtos que gerem energia renovável ou mais eficiência energética no âmbito da OMC);
- Implementar as normas expedidas pelo Banco Central de acordo com a Força Tarefa sobre a Divulgação Financeira Relacionada com Clima, criada em 2015, no âmbito do Financial Stability Board do G-20 
- Responder `as avaliações e Recomendações da OCDE sobre a politica ambiental no Brasil;
- Voltar a participar plenamente das discussões nas futuras COPs
Levando em conta o déficit de credibilidade que existe hoje na percepção do exterior, o governo brasileiro poderia tomar a iniciativa de convidar observadores da ONU ou da OCDE para verificarem o grau de cumprimento dos compromissos assumidos pelo Brasil, como uma demonstração do interesse do governo na total transparência. Da mesma forma, o Congresso Nacional poderia convidar representantes do Parlamento Europeu para proceder `a idêntica verificação.
Ou seria um sonho de noite de verão?

Rubens Barbosa, Presidente do IRICE

terça-feira, 5 de maio de 2020

A Amazônia legal e os desafios da política externa brasileira - Paulo Roberto de Almeida

A Amazônia legal e os desafios da política externa brasileira

Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: nota de informação; finalidade: apresentação online, 7/05, FENERI]


A Amazônia Legal na história e nas relações exteriores do Brasil
O conceito de Amazônia Legal – que cobre uma área que compreende cerca de 60% do território brasileiro, mas apenas 12% de sua população (embora mais da metade dos povos indígenas), em nove estados da federação – é uma construção mais política do que geográfica, embora o bioma amazônico perpasse os nove estados englobados em sua definição: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, totalmente, e parte do estado do Maranhão. As preocupações com o desenvolvimento insuficiente da região datam de meados do século XX, mas a construção do conceito político de Amazônia legal foi mais recente, no último terço do século, progressivamente.
As interações da Amazônia com a política externa são bem mais antigas, obviamente, e têm a sua partida ainda na era colonial, mais exatamente durante a união dos dois reinos ibéricos, quando pela primeira vez portugueses e brasileiros ultrapassaram a linha traçada ainda antes da chegada dos navegadores à costa atlântica da América do Sul, aquela que tinha sido negociada em Tordesilhas, em 1494. Poucos observadores ou até mesmo historiadores se dão conta de que Tordesilhas representa uma inovação diplomática fundamental, nos albores da era moderna: pela primeira vez, dois reinos independentes prescindem de uma bula papal – a que tinha sido concedida um ano antes, por um papa espanhol tremendamente corrupto, pela Inter Coetera – e decidem fixar de modo soberano seus limites respectivos a todas as novas terras descobertas e a descobrir entre o Novo Mundo, a África e a Ásia. Ofereci algumas considerações sobre esse importante tratado em um capítulo, A diplomacia dos descobrimentos: Tordesilhas e o desenho do Brasil”, de um dos meus livros – Relações internacionais e política externa do Brasil: dos descobrimentos à globalização (Porto Alegre: Editora da UFRGS, 1998) –, que encontra-se disponível em Academia.edu (link: https://www.academia.edu/42694780/A_diplomacia_dos_descobrimentos_Tordesilhas_e_o_desenho_do_Brasil_1998_).
(...)

Íntegra disponível neste link da plataforma Academia.edu: 


sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Agronegócio e meio ambiente: uma interação incontornável - Marcos Sawaya Jank

O diálogo necessário entre agricultura e meio ambiente 

Marcos S. Jank (*)

Jornal “O Estado de S. Paulo”, Opinião, 28/02/2020.


Em vez do ‘nós contra eles’, é preciso compatibilizar as agendas globais do clima e da alimentação.

Os dois setores da economia brasileira com maior visibilidade global são a agricultura e o meio ambiente.

O protagonismo da agricultura brasileira se dá no comércio global de commodities agropecuárias. Nossa oferta agrícola é concentrada em produtos (cerca de uma dezena), mas diversificada em destinos, atingindo mais de 200 países e cumprindo papel crucial na segurança alimentar do planeta. Porém, fora do universo da oferta agrícola, pouca gente conhece o agro brasileiro e, no geral, o vê com desconfiança.

Já o meio ambiente brasileiro tem ampla visibilidade no mundo, principalmente por conta das preocupações com biomas sensíveis como a Amazônia e o Pantanal. Aqui o Brasil é reconhecido como potência ambiental, mas atacado pela elevada quantidade de queimadas e desmatamentos – e seu impacto na mudança do clima –, além de invasões de terras indígenas e devolutas, do crescimento de monoculturas como soja e outros supostos males.

Enquanto a opinião global sobre o agro brasileiro é restrita e localizada, no caso do meio ambiente ela é ampla e generalizada. Sabemos que boa parte das críticas negativas tem mais que ver com “percepções” do que com “fatos”, a exemplo do cenário apocalíptico que foi disseminado após as queimadas do ano passado. Mas é fato que o assunto tomou conta da opinião pública internacional e hoje está solidamente presente nos organismos multilaterais, no discurso de governos e no curriculum das escolas de ensino fundamental e médio de todo o mundo.

Nos últimos tempos o tema ambiental também entrou de vez na agenda das grandes empresas e do sistema financeiro internacional, como vimos na última reunião do Fórum Econômico Mundial, em Davos. E o Brasil perdeu protagonismo na agenda da sustentabilidade, após décadas de avanços importantes na redução do desmatamento, de compromissos com o clima e de diversificação para energias renováveis.

Infelizmente, o que temos realmente visto no nosso mundo hiperconectado é um debate de surdos do tipo “nós contra eles”, decorrente de hoje participarmos de redes sociais formadas por pessoas que basicamente pensam como a gente. Nesse sentido me parece um equívoco insistir no autoelogio para plateias limitadas e catequizadas. Ou, ainda, insistir em afirmações do tipo “somos os mais sustentáveis do mundo”, mesmo que isso fosse verdade. Eu prefiro o caminho de assumir nossos avanços e os nossos problemas com mais modéstia, encarando, sem subterfúgios, o diálogo com quem pensa de forma diferente, principalmente no exterior.

Aliás, pensar diferente não deveria ser um problema. Empresas que atuam junto aos produtores entendem melhor a realidade agrícola do que as que atuam na ponta do consumidor. No universo heterogêneo das ONGs, há várias delas que trabalham há anos com produtores rurais brasileiros e têm feito defesas impecáveis da sustentabilidade da nossa agricultura no exterior. Governos europeus criticam o Brasil nessa área muito mais do que governos asiáticos, mas são estes últimos que respondem por dois terços do que exportamos hoje e com quem mais temos de dialogar.

Em suma, o Brasil não deveria tomar posição contra o restante do mundo no tema ambiental. Ao contrário, é preciso formar alianças estratégicas em diversos níveis, reconhecer os problemas existentes, enfrentar as perguntas difíceis, ampliar o diálogo e receber elogios dos outros, e não próprios.

Ao mesmo tempo, o setor privado do agro brasileiro precisa abraçar o combate ao desmatamento ilegal no Brasil, atacando a necessidade de regularização fundiária com critérios sólidos, condição básica para a punição dos abusos.

Na agenda internacional, o Brasil deveria liderar um esforço global para discutir como alimentar quase 10 bilhões de pessoas em 2050, metade delas vivendo na África e no subcontinente indiano. O modelo agrícola atual desses países claramente não permite solucionar o seu gap potencial entre oferta e demanda agrícola.

A melhor solução de longo prazo para mitigar as mudanças do clima é o menor uso de recursos naturais, que em última instância se traduz por aumento da produtividade. Os ambientalistas afirmam que o agro não enxerga que o desmatamento vai prejudicar a própria agricultura no longo prazo. Os agricultores dizem que os ambientalistas não entendem que o Brasil é um dos únicos lugares do mundo capazes de produzir duas a três safras por ano e que o mundo precisará do nosso modelo produtivo tropical para se alimentar. Ambos estão corretos, mas faltam confiança e cooperação.

Hoje sobram observatórios do clima e do uso da terra no mundo. Mas faltam observatórios da agricultura, que tragam respostas concretas para o gap potencial entre oferta e demanda de alimentos no longo prazo. Essa é uma questão que certamente envolve a agenda do clima, mas também envolve demografia, renda per capita, urbanização, modelos de produção e organização de cadeias de suprimentos. Envolve, portanto, o conceito de sustentabilidade nos seus pilares econômico, ambiental e social. Se houvesse maior diálogo entre esses observatórios, com certeza diminuiríamos a intolerância e a surdez que imperam no nosso mundo hiperconectado.


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

A Conferência de Madri, fracasso ou sucesso? - José Goldemberg (OESP)

17/02/2020 | O Estado de S. Paulo | Espaço Aberto | 

A Conferência de Madri, fracasso ou sucesso?

    José Goldemberg
    O Estado de S. Paulo17/02/2020

    A 25.ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP 25), que se realizou em Madri, na Espanha, em dezembro de 2019, tem sido descrita frequentemente como um completo fracasso, porque as decisões mais importantes a serem tomadas foram adiadas para a COP 26, neste ano de 2020, em Glasgow, na Inglaterra.
    Essas decisões dizem respeito, basicamente, a recursos financeiros, tais como a transferência de recursos dos países mais ricos para os países em desenvolvimento para ajudá-los a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa e reconhecer créditos por ações já realizadas no passado por esses países.
    Há anos que as discussões sobre esses temas se arrastam. A impressão que se pode ter, portanto, é de que os temas essenciais estão sendo transferidos de ano para ano e que as reuniões da COP são realmente convescotes em que se reúnem diplomatas, ativistas ambientais, celebridades e ministros do meio ambiente, nos quais a retórica é elevada, mas não tem consequências práticas.
    A realidade é bem mais complexa: apesar das emissões estarem aumentando, elas teriam aumentado muito mais sem as decisões tomadas pela Convenção do Clima assinada no Rio de Janeiro em 1992 e pelas COPs subsequentes, realizadas desde então, que alertaram o mundo todo para os problemas do aumento das emissões de carbono e o consequente aumento da temperatura global.
    Essa conscientização estimulou inovações tecnológicas (e sua adoção) que tornaram a economia mundial mais eficiente e, por conseguinte, reduzindo as emissões de carbono.
    Por exemplo, automóveis produzidos hoje podem rodar 15 quilômetros com um litro de gasolina, os produzidos há 20 anos atrás necessitavam 1,5 litro para rodar a mesma distância.
    Lâmpadas LED iluminam muito mais com menos consumo de eletricidade.
    O sucesso da globalização da atividade industrial que se verifica no mundo contribuiu para a redução das emissões: não existem mais automóveis produzidos no México, no Brasil ou nos Estados Unidos, mas uma cadeia internacional de componentes que permite que eles sejam fabricados em vários países.
    Em outras palavras, enquanto os diplomatas se reúnem nas COPs durante duas semanas, todos os anos, e parecem não chegar a um acordo - como não chegaram na Conferência de Madri -, uma revolução silenciosa está acontecendo no mundo e evitando um aumento assustador das emissões de carbono e de outros gases responsáveis pelo aquecimento global.
    Não entender essa realidade é que tornou difícil a implementação das medidas acertadas no Rio de Janeiro em 1992 e em Kyoto em 1997 para reduzir as emissões de carbono. Esse não é apenas um problema ambiental, mas um problema de política industrial e comercial, que só foi resolvido com a adoção do Acordo de Paris, em 2015, na COP 21. Nesse acordo ficou acertado que cada país decidiria de forma soberana o que pretende fazer no que se refere à redução das suas emissões, adotando metas e prazos para cumpri-las. Apesar de voluntárias, elas se tornariam mandatórias uma vez comunicadas ao Secretariado da Convenção das Partes e seriam revisadas a cada cinco anos. O Brasil fez isso sem exigir recursos para cumprir suas metas, como, por exemplo, reflorestar 12 milhões de hectares.
    A China, o maior emissor mundial e cujas emissões estão crescendo, comprometeu-se a reduzi-las substancialmente substituindo o uso de carvão por gás natural e estimulando o uso de energias renováveis. Ao fazê-lo, o governo chinês pretende resolver também o problema urgente da poluição urbana, cuja causa principal é o uso de combustíveis fósseis.
    Transferência de recursos para ajudar os países mais pobres a tomar medidas para reduzirem emissões se destina, realmente, a países da África, do Sudeste da Ásia e das ilhas do Oceano Pacífico, e não a países mais avançados e aspirantes a membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), como o Brasil.
    Essas promessas 0 que inicialmente eram muito vagas - tomaram a forma de um aporte prometido de US$ 100 bilhões anuais na COP de Copenhague, em 2009. Mas esses US$ 100 bilhões se referem a "investimentos relacionados ao clima", como os que o Banco Mundial faz todos os anos e atingiriam US$ 43,1 bilhões em 2012.
    A Índia e outros países argumentam que esses recursos seriam transferidos para os seus governos, o que é considerado um entendimento equivocado.
    Além disso, foi criado o Fundo Verde para o Clima, em 2015, que levou anos para ser estruturado e só tem desembolsado alguns bilhões de dólares por ano em 123 projetos â apenas três deles no Brasil. Acelerar a apresentação de projetos a esse fundo é a principal ação que o Brasil deveria tomar, além de insistir para que ele se torne mais ágil.
    Esse parece ser um caminho muito mais promissor do que se envolver em intermináveis discussões sobre a expectativa de receber créditos por ações realizadas no passado, que parece muito problemática. Esse programa de créditos foi mal formulado e o seu valor de mercado se tornou irrisório. Insistir neles parece ser uma estratégia pouco construtiva.
    -
    PROFESSOR EMÉRITO E EX-REITOR DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), FOI MINISTRO DO MEIO AMBIENTE

    quinta-feira, 4 de julho de 2019

    Controversias de cupula no meio ambiente: Bolsonaro rejeita interferencia de Merkel e Macron

    Bolsonaro diz que Merkel e Macron não têm autoridade para discutir questão ambiental

    Da IstoÉ, 4/07/2019
    Marcos Corrêa/PR
    O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar a pressão dos governos francês e alemão sobre a política ambiental brasileira na manhã desta quinta-feira, 4, durante café da manhã com deputados da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). “Em Osaka, no G-20, convidei Emmanuel Macron e Angela Merkel para sobrevoar a Amazônia. Se eles encontrarem um km² de desmatamento entre Boa Vista e Manaus concordaria com eles na questão ambiental. Sobrevoei a Europa, já por duas vezes, e não encontrei um km² de floresta. Diante disso, Merkel e Macron não têm autoridade para discutir questão ambiental com Brasil”, disse o presidente, sendo aplaudido pela bancada ruralista presente no encontro.
    Ao falar sobre a ausência de autoridades dos países europeus na questão ambiental, o presidente citou que a Alemanha não vai cumprir o acordo de Paris no tocante à energia fóssil e garantiu que o Brasil tem “quase tudo para cumprir o Acordo”. “Faremos o que for possível”, prometeu.
    Bolsonaro disse que a maneira do Brasil se portar durante o mundo mudou. “Durante décadas, com conivência de chefes de Estado, tivemos um péssimo conceito ambiental no exterior. Agora, isso não vai continuar”, defendeu, citando que os chefes de Estado da Alemanha e da França “achavam” que estavam tratando com governos anteriores em Osaka.
    “Esses chefes de Estado, achavam que iam chegar no Brasil demarcando dezenas de áreas indígenas, quilombolas e de proteção após a reunião. Macron, por exemplo, queria que anunciasse junto com Raoni (Metuktire, líder indígena) decisões para questões ambiental. Dei um rotundo não ao Macron sobre reunião com Raoni”, relatou o presidente.

    sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

    Historia ambiental brasileira discutida em coloquio internacional (2016) - sumario

    Conference summary:
    “Destruction and conservation in debate: Brazil’s environmental history in a global perspective”
    by Nathalia Capellini

    The International Workshop “Destruction and conservation in debate: Brazil’s environmental history in a global perspective” took place on October 13 and 14, 2016 in Paris, France. This workshop, the first ever to be dedicated to Brazilian environmental history outside of Brazil, offered a space to discuss both the state of the art and the new perspectives of this discipline. Studies presented dealt with a wide variety of environmental topics, including its representations, politics and material changes, and covered a large timeframe, from colonial times to contemporary studies. Despite the diversity of approaches, the research presented was linked by the idea of going beyond the declensionist narrative of Brazil’s environment that has historically characterized the reflections on this subject.

    The workshop grew out of a desire to gather European scholars working on Brazilian environmental history and work to evaluate and overcome the lack of research in France on this field. This absence seemed odd in a country that has a large history of Brazilianist studies (including about the environment) and a tradition on environmental consideration in history, with the heritage of Emmanuel Le Roy Ladurie, Lucien Febvre, Fernand Braudel and the École des Annales. In welcoming participants to the workshop, Antonella Romano, director of the hosting institution, the Center Alexandre-Koyré (École des Hautes Études en Sciences Sociales), pointed out that although there are many bridges between French and Brazilian research, and that the Center, among other institutions, has a commitment to developing the field of environmental history, thus far, these two subjects have not been combined. In response to the call for papers, many proposals came from Brazil and the United States, and so the workshop broadened and became a space of transatlantic discussion on the environmental history of Brazil.

    The workshop’s first panel was centered specifically on the colonial period. Inês Amorim (Universidade do Porto) analyzed images and cartography of Brazilian territorial occupation produced during colonization and made the case for going beyond the Eurocentric view of this process as a homogeneous movement from the coastline to inner lands. Diogo de Carvalho Cabral (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) reminded us of the effect literacy had on the subjugation of indigenous labor, territory and culture by the colonizer. Drawing on a more local analysis, Gustavo Azenha’s (Columbia University) presentation dealt with Portuguese interactions with indigenous people in a region of Southern Bahia over timber extraction and the concomitant rise of nature conservation policies.

    In the second panel, Teresa Cribelli (University of Alabama) presented her ongoing research about narratives of progress through the use of natural resources and “wilderness geographies”. She examined nineteenth century International Exhibitions to compare and find bridges between the cases of Brazil and the United States’ frontier states. Ethienne Sauthier (Université Paris III) examined how Brazilian writers like Lima Barreto and Euclides da Cunha depicted tropical nature as an identitarian element for national sentiment in the late nineteenth and early twentieth century. Ely Bergo de Carvalho (Universidade Federal de Minas Gerais) presented a study about the representations of Brazilian environment in school textbooks since the 1960s. He observed that they follow a declensionist pattern while, at the same, praising (capitalist) development, inhibiting a critical perspective on the matter.

    On the evening of the first day a broader debate took place about the environmental policies of Brazil after the impeachment of President Dilma Rousseff. Led by the environmentalist André Abreu de Almeida and the journalist Frédéric Pagès, the conversation was an open dialogue between civil society and academia. The discussion was strongly politicized and dealt with the legacy of Presidents Lula and Dilma’s policies for the environment and the prospective actions of the current government. Many participants expressed their fear of increased attacks against the nature preservation law in Brazil and the communities that depend on it. Abreu de Almeida underlined the need to get out of a good versus bad dichotomy to find better solutions to the environmental (and political) crisis in Brazil, and Pagès stressed the fact that these attacks against environmental and social environmental movements in Brazil are not new. Even though the assessment of the current and future situation was rather negative, the debate ended on the positive note that the crisis might be an opportunity to build a new critique of the political system based on political ecology.

    The second day opened with a round table organized to go beyond the Brazilian example. The presentations included other world regions (Mexico, Cambodia and Malaysia) and a transnational space (the Amazon forest). Jorge Quetzal Argueta (École des Hautes Études en Sciences Sociales) presented a study about the history of agronomic research in Mexico stressing the role of foreign expertise and environmental conflict in this example. Matthieu Guérin (Institut national des langues et civilisations orientales) compared the colonization processes of Malaysia and Cambodia and their impact on the evolution of forests, fauna and later environmental policies, questioning the relevance of the nation-state scale. The following presentations dealt with the Amazon forest: Kevin Niebauer (Freie Universitat Berlin) discussed the globalization of the Amazon rainforest focusing on the role of circulation of scientific knowledge, while Thomas Mougey (Maastricht University) focused on the UNESCO’s project for an International Scientific Institute in the Amazon. In this panel the importance of transnational and foreign actors in the management of the environment was central: the role of U.S. corporations in Mexico’s case, the ex-colonial powers for Malaysia and Cambodia, the international scientific community and international agencies in the Amazon case. That is not to say that these territories are always under the yoke of outsiders, as Mougey underlined in his study questioning the marginalization of the Amazon forest in global history. Guérin emphasized the common trends and actors in the comparison of environmental histories of the Global South but also highlighted the importance of local (and very local) dynamics for understanding the complexity of these histories.

    The next session started with Jennifer Eaglin’s study of caneworkers and the Guariba strikes of 1984 in São Paulo, and their impacts on establishing labor rights under an exploitative agriculture-focused development program. Next, Claire Lagier’s presented on the Landless People’s Movement (MST) in Southern Brazil and their ecological turn. The discussion showed the connections between these two examples through the figure of the agricultural worker and how the Guariba strikes ended up influencing the adoption of agroecology by MST.

    The last session started with the presentation by Mariana Sales (Université Paris III) of the eighteenth century manuscripts of traveler Ferdinand Denis on the Brazilian flora gathered in the Saint-Genevieve’s library. Then, Georg Fischer (Aarhus University), using the example of iron ore extraction in Minas Gerais around 1910s, talked about the making and circulation of knowledge around iron prospects and how it shaped the materiality of a commodified landscape. Last, André Felipe Cândido da Silva (Fiocruz) stressed the key role of science and technology in development projects in Brazil while presenting his research program, “Water, Health and Environment in Development Projects in the Brazil of the Twentieth Century”. The role of experts, doctors, intellectuals and travelers in the production of knowledge around nature and the subsequent transformation of nature into resource was central to all of these papers.

    José Augusto Pádua, professor of the Universidade Federal do Rio de Janeiro and leading scholar on Brazilian environmental history, gave the closing lecture titled “Brazil in the History of the Anthropocene”. He presented a longue-durée approach to Brazilian history in relation to the three waves that evoke the Anthropocene concept, industrialization (1800-1945), the great acceleration since the 1950s and the current “self-reflecting” times. In his presentation he emphasized the importance of global connections in this analysis and developed some ideas on the key role of environmental history’s reflections for the present and future of the environment in Brazil.

    These two days of discussion offered a very broad perspective on the research being done on Brazilian environmental history in Brazil, the United States and Europe. This international panorama proved very enlightening for European researchers working on the subject. Likewise, European researchers offered original viewpoints and new archival possibilities. The studies presented showed the importance of transnational as well as local dynamics and revealed the importance of conflict in the making of environmental histories. In spite of the variety of issues presented in the different studies, the strong links between environmental history and history of sciences stood out. Overall, the workshop offered a more careful and complex understanding of environmental dynamics in Brazilian history beyond a narrative of plundering and destruction. In sum, the workshop was very fruitful and announces potentially promising pathways for Brazilian environmental history research in Europe and further afield.

    The workshop was organized by Antoine Acker, postdoctoral fellow in the Environmental Humanities Research Group at the University of Turin, and Nathalia Capellini, PhD candidate in history at the University of Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines. This workshop was made possible with the help of several institutions, and especially the European Society for Environmental History that granted us with their Small Workshop Fund, the Institut des Amériques, the Centre d’Histoire Culturelle des Sociétés Contemporaines (Université de Versailles Saint-Quentin-en-Yvelines) and the Association for Brazilian Research in Europe.

    terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

    Ecologistas sonhaticos: um perigo para a Natureza, e para a Humanidade - book review (The City Journal)

    Books and Culture
    Jerry Weinberger
    The Earth Is Not a God
    The false theology of radical environmentalists
    The City Journal, 23 February 2015
    Photo by Christian
    The Moral Case for Fossil Fuels, by Alex Epstein (Portfolio, 256 pp., $27.95)

    The seventeenth-century philosopher Sir Francis Bacon argued that the human mind had been squandered on superstition: metaphysical speculation, theological disputation, and violent political delusions. Bacon’s greatest American disciple, Benjamin Franklin, agreed. It would be better, both believed, to focus on the conquest of man’s common enemy: nature. Bacon and Franklin were right, but they misjudged superstition’s staying power. Fast-forward to a conversation I had with the late Arne Naess, the Norwegian father of “deep ecology” and guru of the European Green movement. With a straight face, Naess told me that the eradication of smallpox was a technological crime against nature. For Naess’s deep ecology, the smallpox virus “deserved” and needed our protection, despite having maimed, tortured, and killed millions of people.
    In his sprightly recent book, The Moral Case for Fossil Fuels, Alex Epstein takes on Naess’s American progeny—people such as Bill McKibben and David M. Graber—who have become influential opinion-makers on the environment, fossil fuels, and technology. Epstein asks us to imagine someone transported to the present from a virtually fossil fuels-free England in 1712, when the Newcomen steam engine was invented. What would that person think of our world, where 87 percent of all energy is produced from fossil fuels? In short, he’d be amazed to find clean drinking water, sanitation, enviable and improving air quality, long life, freedom from much disease, material prosperity, mobility, and leisure.
    Epstein makes a compelling “big picture” case that the interaction of technology and fossil fuels provides everything we take for granted today. He also reminds us of earlier hysterical predictions of doom concerning fossil-fuel use. In the late 1960s and early 1970s, environmentalists such as Paul Ehrlich predicted mass starvation by the year 2000 because “world food production could not keep up with the galloping growth of population.” Flat wrong: the world’s population doubled, and the average person today is far better fed than when the starvation apocalypse was announced. That’s because the other apocalypse proclaimed back then—the depletion of oil and natural gas by 1992 and 1993, respectively—also proved wrong. Since 1980, worldwide usage of fossil fuels increased massively, yet both oil and natural gas supplies have more than doubled, and we have enough coal to last 3,000 years.
    Epstein explains what the environmental doomsayers could not or would not see: first, that “fossil fuel energy is the fuel of food”; and second, that the human mind is as powerful as Franklin and Bacon said it was. Humans discovered more fossil fuels, and technology used those fuels to industrialize food production. Moreover, fossil fuels enabled Norman Borlaug’s Green Revolution in food science, which, unlike the political movement of that name, actually did something to improve world nutrition and relieve the suffering of millions. Ehrlich was also wrong about fossil-fuel pollution in the developed world. In the U.S., though the use of fossil fuels climbed steadily since 1970, emissions of pollutants decreased dramatically—thanks to technology.
    Predictions of starvation, depletion, and pollution didn’t pan out. What about global warming? Epstein’s warming discussion should be required reading. He acknowledges the greenhouse effect of carbon dioxide, which can be demonstrated in a laboratory. But the effect is not linear; if it was, every new molecule of carbon dioxide added to the atmosphere would add a unit of heat equivalent to the one preceding it. Rather, the greenhouse effect is decelerating and logarithmic, which means that every additional molecule of carbon dioxide is less potent than the preceding one. Many theories of rapid global warming are based on speculative models of carbon dioxide interacting in positive feedback loops with increases in atmospheric water vapor. Most climate models are based on so-called “hindcasting,” coming up with explanatory schemes that predict what has happened in the past. There’s nothing inherently wrong with this, since the only alternative would be clairvoyance—but predicting the past with a computer model is not the same as accurately predicting the future.
    Most climate models, says Epstein, have consistently and dramatically over-predicted mid-tropospheric global warming. We haven’t “burned up,” as McKibben predicted we would in 1989. Some suggest that the warming is occurring in the oceans; but mean sea levels around the world have been stable or declining for the last 100-plus years. Since the beginning of the industrial revolution, atmospheric carbon-dioxide levels have increased by .03 percent to .04 percent and since 1850, temperatures have risen less than one degree Celsius (an increase that has happened in many earlier time periods). And for the past 15 years—a period of record emissions—there has been little to no warming.
    The warming models may prove correct in the long term, of course, so Epstein asks a reasonable question: What if it becomes clear that, in the next 100 years, the seas will rise by two feet and the globe will warm by 2 degrees Celsius, as predicted by many climate scientists? The answer is simple, though often ignored by climate alarmists: we’ll adapt. Since the Industrial Revolution, and especially in the last 30 years, the human race has become progressively better at remediating the harmful effects of storms, heat, cold, floods, and so on. It’s irresponsible, says Epstein, to trivialize the power of technology to solve the problems generated by fossil fuels. Much of that technology could consist of fossil-powered techniques to capture and recycle or sequester carbon dioxide.
    Epstein exposes the profound misanthropy motivating much contemporary environmentalism. He quotes Graber: “Human happiness, and certainly human fecundity, are not as important as a wild and healthy planet . . . human beings have become a plague upon ourselves and upon the Earth . . . and until such time as Homo Sapiens should decide to rejoin nature, some of us can only hope for the right virus to come along.” Alexis de Tocqueville noted that democratic peoples have a tendency toward pantheism in religion: given their passion for equality, they come to think that everything is God. To radical Greens like Naess, Graber, and McKibben, everything is God, with one exception: the human being, whose “impact” spoils the “independent and mysterious” divine.
    Why do hysterical warnings about sustainability and depletion persist despite the failure of the crackpot 1960s and 1970s predictions? Because the non-impact standard—conceiving of the environment as a loving but finite God—sees the environment as having a limited “carrying capacity” of gifts, such as arable land, water, and crucial minerals, in addition to fossil fuels. The more people on the planet, the closer we are to maxing out that carrying capacity, the thinking goes. Thus the urgent call, made in 2010 by White House Office of Science and Technology director John P. Holdren, to “de-develop the United States.” This notion of a finite carrying capacity discounts the powerful role of human ingenuity in finding natural resources. But the deeper problem is rooted in the divinization of the planet as something that simply is what it is.
    Epstein argues brilliantly that the carrying-capacity superstition amounts to a “backward understanding of resources.” The fact is that nature by itself gives us very few directly supplied energy resources: most resources “are not taken from nature, but created from nature,” he maintains. Every raw material in nature is but a “potential resource, with unlimited potential to be to be rendered valuable by the human mind.” Right now we have enough fossil fuels and nuclear power to last us thousands of years. “The amount of raw matter and energy on this planet,” Epstein writes, “is so incomprehensibly vast that it is nonsensical to speculate about running out of it. Telling us that there is only so much matter and energy to create resources from is like telling us that there is only so much galaxy to visit for the first time. True, but irrelevant.”
    Bill McKibben says that the post-Ice Age Holocene period is the only climate that humans can live in. Epstein responds that the Holocene is an abstraction that summarizes “an incredible variety of climates that individuals lived in. And in practice, we can live in pretty much any of them if we are industrialized and pretty much none of them if we aren’t.” Until the Industrial Revolution, the climate was dangerous for all human beings. Since then, we have marched steadily toward “climate mastery.” Fewer people die today from the weather than at any time in history. “We don’t take a safe climate and make it dangerous,” according to Epstein. “We take a dangerous climate and make it safe.”
    The non-impact standard is a pervasive but irrational prejudice—irrational because it’s a neo-pagan faith that the earth is in effect an uncreated God, and a prejudice because it’s asserted dogmatically by those who profess it and taken for granted by a public unaware of being in its grip. The default position on environmental matters is “respect” for the planet. It tilts opinion to focus only on the harms of fossil fuels and technology, not their benefits. The bottom line is always the same: humans should minimize their impact on nature.
    Alex Epstein’s book is a breath of fresh air in this polluted opinion climate. The Moral Case for Fossil Fuels shows why fossil fuels are good for human flourishing in general and good for the world’s poor in particular. Epstein is a true friend of the earth—an earth inhabited and made better by human beings.

    terça-feira, 3 de abril de 2012

    Meli-melo ambiental: ou a confusao da Rio+20 - Xico Graziano

    A Rio+20 ameaça tornar-se uma Rio+caos, pelo menos no plano das deliberações, dos debates, das resoluções.
    Como o planeta inteiro quer resolver todos os seus problemas -- e mais alguns, de sobra -- com resoluções idealistas, o que vai se ter, na verdade, é muita transpiração, e pouca inspiração, como sempre aliás, nessas reuniões multilaterais muito amplas.

    Não sou dos catastrofistas, e não acho que o mundo vai acabar apenas porque a geração atual -- gastadora, perdulária, ecologicamente irresponsável -- não vem fazendo aquilo que os ambientalistas vivem recomendando que ela faça: economia, não consumo, recomposição, reconversão, reciclagem, etc.
    Acho que o mercado, e o sistema de preços, vão sinalizar perfeitamente a raridade relativa dos bens naturais e daqueles produzidos pelo homem, e, no devido tempo, vai inflexionar os processos produtivos para os mais sustentáveis do ponto de vista econômico. Pode não ser o do agrado dos ambientalistas, mas provavelmente será o mais lógico e o mais economicamente racional.
    O resto é debate cansativo.



    X-Tudo Ambiental
    Xico Graziano
    O Estado de S.Paulo, 3/04/2012

    Passado duas décadas, desde quando se realizou a Rio 92, a ONU resolveu organizar no Brasil uma nova Conferência mundial. Concebida para avaliar o desenvolvimento sustentável, a Rio+20 ameaça ser um fracasso. Sua complexa agenda virou uma torre de Babel.
    A primeira Conferência mundial sobre meio ambiente ocorreu em 1972, na cidade sueca de Estocolmo. Lá nasceu o importante Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Começava a serem conhecidos, cientificamente, os limites da Terra à explosão populacional humana. Consequências ecológicas do crescimento econômico.
    Importante relatório da ONU, divulgado 15 anos depois, intitulado “Nosso Futuro Comum”, definiu as bases do conceito que virou mantra na atualidade: o desenvolvimento sustentável. Derivado da noção pioneira do “ecodesenvolvimento”, proposta pelo economista polonês Ignacy Sachs, o termo propunha conciliar a economia com a ecologia. Mais tarde, na Cúpula da Terra (nome original da Rio 92), ampliou-se a compreensão sobre o tema, consagrando o famoso tripé da sustentabilidade: ecologicamente equilibrada, socialmente justa, economicamente viável.
    Ao se incorporar na temática do desenvolvimento econômico, a causa do ambientalismo, antes restrita aos idealistas e visionários, ganhou importância. A sociedade global mudava a compreensão sobre seu devenir. O crescimento predatório, que emite notas promissórias contra o futuro, perdeu cartaz, abrindo espaço para o surgimento da economia verde, novo paradigma da civilização.
    Em tese, tudo resolvido; na prática, imensas dificuldades. As Nações jamais consolidaram passos subsequentes, necessários para obter governança global sobre o meio ambiente. As empresas, por seu lado, perderam tempo tratando a sustentabilidade apenas como uma jogada de marketing, pouco modificando os processos tecnológicos de produção. Entre as pessoas, a conscientização ecológica jamais ultrapassou as elites da sociedade. Em consequência, anda atrasado o enfrentamento consistente da crise ambiental.
    Falta também clareza sobre a idéia central. Desde quando se formulou o conceito do desenvolvimento sustentável, suas três dimensões  - ambiental, social, econômica - disputam espaço político em sua agenda. Se, num primeiro momento, a luta ambiental se robusteceu ao ser incorporada nos processos decisórios da economia, aos poucos o ambientalismo passou a dividir seu ativismo com grupos centrados nas desigualdades sociais. Uma sociedade miserável, afinal, não pode ser considerada sustentável.
    Especialmente nos países emergentes, como o Brasil, os dilemas elementares do crescimento – emprego, moradia, energia, transportes – exigem obras que pressionam fortemente as variáveis ambientais. Nesse sentido, o preservacionismo radical, coerente nos países ricos, por aqui soa elitista. Por isso a ideia da sustentabilidade, mais ampla, ganhou espaço, forçando o ambientalismo a ser realista. Mais que eloqüentes palavras, ações concretas.
    Noutra linha, certas organizações fizeram da sustentabilidade uma estratégia de combate à exclusão humana, fornecendo uma grife aos movimentos ligados à erradicação da miséria e à justiça social. Estes, agora, pegaram carona nos preparativos da Rio+20 e praticamente dominaram a mídia sobre a reunião.  Negros, feministas, sem-terra, índios, gays, causas humanitárias variadas se imiscuiram com o ambientalismo, resultando boa confusão, teórica e política.
    Resultado: a Rio+20 perdeu seu foco original, ligado à crise ecológica da civilização. Assim argumentam os cientistas, militantes da causa ambiental, laureados com o prêmio Planeta Azul, uma espécie de Oscar da sustentabilidade. O físico José Goldemberg é um do lideram a grita contra essa deformação nos debates pré-Conferência, marcada para início de junho. Rubens Ricúpero, diplomata decisivo para o sucesso da Conferência de há vinte anos, esclarece: "Se a questão ambiental não for encaminhada de maneira satisfatória, se o clima aquecer demais, não teremos nem social nem econômico (...) virá o colapso total".
    Para piorar o quadro, entidades (que se julgam) esquerdistas passaram a contestar o tema da economia verde, proposto originalmente pela ONU, argumentando que esverdear os processos produtivos interessa apenas ao capitalismo. Para libertar os povos oprimidos, defendem, será necessária uma nova e ampla “revolução”, que, obviamente, ninguém sabe definir qual, nem como. Nem onde.
    Assim nos aproximamos da Rio+20. Nesse contexto, provavelmente nada de importante nela se decidirá. Uma avaliação séria, se viesse a ser realizada, mostraria que, a despeito de boas ações aqui e ali, a civilização humana continua caminhando para o colapso. Inexiste uma força coordenadora, decisória, que enquadre a sociedade global na agenda futurista. Esta governança, que poderia ser o grande assunto do encontro, será provavelmente substituído pelas resoluções de sempre, genéricas, que empurram o problema com a barriga.
    A grande Conferência da ONU deve configurar, infelizmente, apenas uma grande festa ideológica, cujo brilho até poderá ajudar no avanço da consciência ecológica mundial, mas que não deixará marca registrada. Haverá uma mistureba semelhante ao recheio daqueles sanduiches do tipo X-Tudo: uma fatia da diplomacia internacional, uma rodela de terceiromundismo clássico, pitadas da Via Campesina, pedacinhos de ambientalismo com molho oriundo dos povos oprimidos, um caroço do empresariado inteligente amolecido pelas entidades científicas, tempero blá blá blá à vontade.
    Fica delicioso, enche a barriga, mas não guarda o gosto de nada.

    segunda-feira, 2 de abril de 2012

    O frustrante exercicio do ecologismo na Rio+20 - Rubens Ricupero


    Rio+20 e Amazônia
    Rubens Ricupero
     Folha de S. Paulo, 2/04/2012

    Quando o presidente Sarney tomou a surpreendente decisão de oferecer o Brasil como sede da Rio 92, sua motivação tinha tudo a ver com a Amazônia. O fim dos anos 1980 coincidiu com o agravamento da destruição da floresta e da campanha internacional de denúncias.
    A reunião se realizou sob o governo Collor, ocasião em que se conseguiu fazer da Rio 92 a "finest hour", o momento mais alto da diplomacia ambiental brasileira.
    Atuamos como país em desenvolvimento, sem esquecer a perspectiva dos interesses da humanidade, ameaçada por fenômeno global que afeta o planeta e a atmosfera acima das fronteiras.
    Se o governo brasileiro sob Sarney ou Collor não fugiu do problema amazônico, impõe-se agora seguir linha semelhante, enfrentando de forma proativa a ameaça que a mudança climática faz pesar sobre a região.
    O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estimou que os aumentos da temperatura e as reduções na água provocarão a substituição da floresta tropical úmida por savana mais pobre que a do cerrado, de início na Amazônia oriental, onde mais intensa tem sido a deflorestação.
    No pior cenário, a elevação da temperatura pode chegar até a enormidade de 8ºC! Além da destruição da floresta, do aumento de frequência das secas e dos incêndios, uma elevação desse tipo nos arrastaria a terreno desconhecido, fora da experiência histórica da humanidade.
    Um dos efeitos seria o impacto sobre o regime de chuvas desde Mato Grosso até Buenos Aires. São elas que contribuem para fazer da área uma das mais produtivas concentrações de produção agropecuária do planeta.
    A deterioração do balanço hídrico teria o potencial de aniquilar a principal vantagem comparativa do Brasil, da Argentina e de outros sul-americanos no comércio mundial. Reduziria a capacidade de produção de alimentos no momento em que a expansão da população torna cada vez mais crítica a oferta de calorias e proteínas.
    A fim de enfrentar o perigo, falta-nos, no âmbito do Tratado Amazônico, um acordo para criar uma espécie de IPCC regional, a fim de analisar o conhecimento científico e chegar a um consenso sobre ações para combater a mudança do clima na região.
    Como na Amazônia o maior problema é a falta e inadequação do conhecimento científico, impõe-se também instituir uma rede de coleta de dados e pesquisa em todos os países da bacia.
    Precisamos nos antecipar ao que certamente ocorrerá se nada fizermos: as cobranças, as críticas, os juízos condenatórios do resto do planeta.
    Nada melhor para aproveitar a oportunidade da Rio +20 do que demonstrar que o Tratado de Cooperação Amazônica está mais vivo do que nunca na sintonia com as preocupações de toda a comunidade internacional.
    Uma decisão dos países amazônicos de estabelecer mecanismo para fomentar e sistematizar as pesquisas, o conhecimento e as propostas sobre a Amazônia será a prova mais irrefutável da determinação das nações amazônicas de proteger a Amazônia contra a destruição.