Memória de uma jornada a Kabul
Sergio Couri
Se vens a Islamabad
Rumo a Kabul, viajeiro,
Ouve aquele que lá foi,
E assim traça o teu roteiro:
Assesta o Noroeste
Deste agreste Paquistão,
Com sua gente do campo
Na simples cultivação.
Verás Taxila, do Reino
Gandhara a sede. É cênico
Memorial alexandrino,
Que exalta o mundo helênico.
Em Peshawar visita
A Mesquita de Wazir Khan.
É qual arte certosina.
Da mais fina do Islã.
Ao ar livre ali traficam
Amas, e de precisão,
Fabricadas em oficina
De armeiro artesão.
Segue para o Poente
Das Províncias Irredentas,
Dos aguerridos Patãs,
Heróis de lutas sangrentas.
Torrentoso e cristalino,
Vindo do lado afegão,
O belo Rio Kabul
Correrá na contramão.
Cruza então o Passo Khyber,
Que não passaram os ingleses,
Contidos por afegãos
Em cada uma das vezes.
Só o cruzou Alexandre
Magno, grego genial,
Após romper o nó górdio,
Em mais um feito imortal.
Apenas transposto o Passo,
Jallahlabad verás,
Onde as casas tem ameias
E os homens armas a mais.
Esse povo tem sua têmpera
Contra invasores forjada.
Nem os russos lá ficaram,
Voltaram em debandada.
Vê em Kabul o museu
Dos Budas ditos Gandhara,
É o buda helenizado,
Da arte jóia mais rara.
Vê a Tumba de Babur,
O Imperador Moghul
Herdeiro de Tamerlão
Que quis jazer em Kabul.
Senta ao jardim de Babur,
Onde repousa o Monarca.
Depois te refresca ao Qargha,
Faz um bom cruzeiro a barca.
De volta, galga o Swat,
Que o Himalaia dessegue
Com o degelo das neves,
Fluindo em raso talvegue.
Retorna a tua morada
Nas rotas convencionais.
Tem as benções do Profeta,
E com ele esteja a Paz.
Islamabade, agosto de 2008/ Brasília, junho de 2019.