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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sexta-feira, 23 de agosto de 2024

Enquanto isso, no Afeganistão... - Foreign Policy

 Restrictions on Afghan women

Foreign Policy, August 22, 2024

Afghanistan’s Ministry for the Propagation of Virtue and the Prevention of Vice, established by the country’s Taliban rulers, issued new laws on Wednesday prohibiting women’s voices and bare faces from being heard or seen in public. Specifically, women must wear face coverings at all times; are not allowed to look at men to whom they are not related (and vice versa); and cannot sing, recite, or read aloud, as a woman’s voice is considered intimate. The Taliban said the bans are to better follow their strict interpretation of Islamic law.

“Afghanistan was no paradise for women even before the Taliban’s return to power in August 2021,” FP columnist Lynne O’Donnell wrote last July. But misogyny and inequality have worsened since the group took control.

The day before, the Taliban announced that it had destroyed more than 21,300 musical instruments in the past year and prevented thousands of computer operators from selling “immoral and unethical” films at local markets. The group also said it had dismissed more than 280 members of its security forces for failing to grow a beard.

domingo, 31 de março de 2024

O Talibã reintroduz o apedrejamento feminino - Hoje no Mundo Militar

 A comunidade internacional não faz absolutamente nada em favor das mulheres afegãs desprovidas completamente de quaisquer direitos, submetidas a um cruel regime misógino e tirânico que as impede de estudar e trabalhar dignamente. Muito pior que no regime teocrático iraniano, também opressivo para as mulheres.

Os Talibãs, que voltaram a controlar o Afeganistão em 2020, anunciaram que voltarão a apedrejar mulheres em público até a morte por crimes como o adultério. Recentemente o chefe da ONU, @antonioguterres, parabenizou o Afeganistão pela “estabilidade e segurança” alcançadas nos últimos 4 anos, mas ainda não se pronunciou sobre essa medida dos Talibãs.

sábado, 29 de julho de 2023

Sobre alguns deslizes da História - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre alguns deslizes da História 

 

Paulo Roberto de Almeida, diplomata, professor.

Nota sobre as tragédias provocadas pelos autoritários da História.

  

A tragédia presente da Ucrânia, assim como a anterior e atual do Afeganistão não foram provocadas pelo “imperialismo estadunidense”, ou pelos povos desses dois países, imersos em problemas de identidade nacional e de lenta e difícil construção de um Estado viável para uma nação fraturada por divisões internas. 

A razão principal da violência e da imensa perda de vidas humanas é a prepotência de senhores da guerra, que, sim, ainda existem e insistem na violência pura.

Aliás, tem sido assim desde a guerra de Troia, mas a Helena não tem nada a ver com a guerra total entre gregos e troianos. São as paixões e os interesses dos senhores da guerra, do ódio e da ambição, que motivam esses empreendimentos guerreiros, exclusivamente masculinos.

No caso do Talibã é primitivismo puro.

No caso de Putin, são os instintos primitivos de um mero serviçal de uma máquina totalitária que ficou frustrado com a derrocada, por auto implosão, de um império baseado na opressão e na mentira.

Até hoje os russos atribuem a derrocada e o afundamento da Grande Rússia a um personagem trágico em sua tentativa de reforma: Gorbatchov. 

Ainda não se conscientizaram que fizeram parte de um dos experimentos mais cruéis e extraordinários de toda a história da humanidade: a instalação, por acidente (mas também pelo sentido trágico da História) e o funcionamento por mais de três gerações de um regime escravista contemporâneo, em paralelo a um outro sistema similar, se não semelhante ao bolchevismo: o nazifascismo, este baseado numa suposta identidade de raça, aquele de “classe”. 

Dois irmãos siameses, ou univitelinos, e que ainda deixaram marcas duráveis em certos povos ou indivíduos.

O caso da China é diferente, mas até coerente com suas tradições seculares de um “despotismo oriental” guiado por um mandarinato recrutado com base no mérito individual. O marxismo-leninismo foi mais passageiro no caso do maoísmo e mais superficial, a despeito do leninismo burocrático do Estado atual. A racionalidade tende a predominar sobre os instintos dos dirigentes.

A História, obviamente, não é a autora dessas monstruosidades, é apenas uma espectadora das loucuras dos homens.

Não estamos tão longe assim da guerra de Troia, ou até das tribos primitivas lutando pela sua sobrevivência. 

A humanidade, no conceito civilizatório do termo, é ainda relativamente recente, talvez 50 mil anos ou mesmo o dobro. 

Ainda não tivemos tempo de domar nossos instintos, de nos civilizarmos totalmente.

O caminho é longo, como o provam os feminicídios ainda largamente disseminados em diferentes sociedades.

Desculpem a longa reflexão.

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4444, 29 julho 2023, 2 p.


 

 

terça-feira, 3 de maio de 2022

A pujante indústria da droga no Afeganistão - The Washington Post

 

Powdered ephedra

Ephedra powder is mixed with chemicals in one of the steps to produces methamphetamine in Farah province, Afghanistan, on March 19. (Lorenzo Tugnoli for The Washington Post)

Ephedra powder is mixed with chemicals in one of the steps to produces methamphetamine in Farah province, Afghanistan, on March 19. (Lorenzo Tugnoli for The Washington Post)

BAKWA, Afghanistan — Afghanistan’s fastest-growing drug industry operates from desert outposts in plain view.

One of its most bustling hubs, five hours west of Kandahar, can only be reached by miles of dirt tracks that lead to a row of dusty shops topped with Taliban flags. Wholesalers like Abdulwadood work openly here, moving dozens of kilos of methamphetamine every week.

In the middle of his crowded shop, he casually tosses a half-kilo bag of long glassy shards onto the carpet. Its street value in Europe is tens of thousands of dollars. Abdulwadood will sell it for about $250.

“Every year, sales and production just increase and increase,” he said, speaking on the condition that only his first name be used to discuss the illicit drug industry. Behind him the rest of his stock was piled in a corner. He expected to sell the roughly 20 kilos of shisha — the Afghan term for meth — in just a few days.

For decades, the country has been a global hub for opium production, estimated to supply 80 percent of the world’s opiate users. Now its meth industry is growing at breakneck speed, stoking fears among Western experts and officials that, under the Taliban, Afghanistan could become a major supplier as demand rises globally.

Workers stand around a bag of powered ephedra in Farah province, Afghanistan, on March 19. (Lorenzo Tugnoli for The Washington Post)

Workers stand around a bag of powered ephedra in Farah province, Afghanistan, on March 19. (Lorenzo Tugnoli for The Washington Post)

Patients of the rehabilitation center for drug addicts lay on their bed in their first period of detoxification in Kabul, Afghanistan, on March 24. (Lorenzo Tugnoli for The Washington Post)

Patients of the rehabilitation center for drug addicts lay on their bed in their first period of detoxification in Kabul, Afghanistan, on March 24. (Lorenzo Tugnoli for The Washington Post)

Hundreds of meth labs have appeared in Afghanistan over the past six years, according to independent experts, former government officials and drug traders. And more are being built each month as the country’s economic crisis forces Afghans to find new sources of income. The vast majority of meth produced is for export, but an increasing number of Afghans are turning to it as their drug of choice.

The sudden boom in meth production came after drug traffickers discovered a potential bonanza in a native plant called ephedra — known here as oman — which grows wild and is a natural source of the drug’s key ingredient.

Sellers at the meth bazaar in rural western Afghanistan have long been free to ply their trade. The previous government largely turned a blind eye, said Abdulwadood, and the Taliban have taken the same approach since coming to power. Though Taliban fighters sometimes inspect the market, they have not tried to shut it down.

“The only reason we are in this business is because there are no other jobs,” Abdulwadood said. “Of course, if the economy gets worse, more people will start producing shisha.” – Susannah George and Joby Warrick

Read more: The drug trade now flourishing in Afghanistan: Meth

quarta-feira, 23 de março de 2022

Talibã revoga permissão para meninas irem à escola (Deutsche Welle)

EducaçãoAfeganistão

Talibã revoga permissão para meninas irem à escola

Deutsche Welle, 23/03/2022 

Volta às aulas para meninas e meninos estava prevista para esta quarta-feira, mas ordem do grupo que comanda o Afeganistão vetou a presença delas "até segunda ordem". Missão da ONU no país critica a medida.

O Talibã determinou nesta quarta-feira (23/03) às autoridades do Afeganistão que impeçam meninas de participarem de aulas em escolas do ensino fundamental e médio no país, segundo o Ministério da Educação afegão.

"Informamos a todas as escolas de ensino médio para meninas e às escolas com alunas acima do sexto ano que elas estão vetadas até segunda ordem", informou um comunicado do Ministério da Educação.

A pasta informou que as escolas para meninas seriam reabertas assim que um plano fosse elaborado de acordo com a "lei islâmica e a cultura afegã".

O anúncio veio um dia depois de o porta-voz do Ministério da Educação ter divulgado um vídeo parabenizando os alunos pela volta às aulas. A pasta havia anunciado que abriria as escolas para todos os alunos, inclusive para meninas, a partir desta quarta-feira.

Imagens de meios de comunicação afegãos mostraram garotas chorando e protestando contra a mudança repentina.

ONU e EUA criticam medida

"A ONU no Afeganistão deplora o anúncio feito hoje pelo Talibã de que eles estão prorrogando ainda mais sua proibição por tempo indeterminado de que estudantes femininas acima da sexta série sejam autorizadas a voltar às aulas", disse a Missão de Assistência das Nações Unidas no Afeganistão (Unama) em um comunicado.

Ian McCary, encarregado da embaixada dos Estados Unidos em Cabul, que está operando atualmente a partir de Doha, no Catar, escreveu no Twitter que estava "muito preocupado" com a ordem. "Todos os jovens afegãos merecem ser educados", disse.

O Talibã ainda não decidiu os próximos passos, disse Waheedullah Hashmi, um membro sênior do grupo fundamentalista. Segundo ele, matricular meninas no ensino médio poderia corroer o apoio ao governo do Talibã. "A liderança não decidiu quando ou como eles permitirão que as meninas retornem à escola", disse.

Hashimi afirmou que havia apoio para a educação das meninas nos centros urbanos, mas que grande parte do Afeganistão rural, especialmente nas regiões tribais de Pashtun, permanecia contra a ideia de educar as meninas.

Talibã cerceia os direitos das mulheres

Desde que assumiu o poder em agosto, após a retirada das tropas dos Estados Unidos e da Otan do Afeganistão, o Talibã impôs uma série de restrições às mulheres, incluindo a proibição de frequentarem escolas.

Em fevereiro, algumas universidades públicas foram reabertas e o Talibã disse que permitiria que as mulheres fossem às aulas, desde que as classes permanecessem segregadas e baseadas em princípios islâmicos. No entanto, houve relatos mistos sobre a medida, com mulheres sendo tanto permitidas como proibidas de frequentar as universidades.

O Talibã proibiu a educação para mulheres na última vez em que o grupo esteve no poder, de 1996 a 2001. A comunidade internacional tem repetidamente feito da educação de meninas e mulheres um ponto-chave de suas exigências, enquanto o Talibã busca o reconhecimento internacional de seu governo e mais ajuda estrangeira para o país.

bl/ek (AP, Reuters)

terça-feira, 7 de dezembro de 2021

Refugiados do Afeganistão no Brasil: uma história feliz, depois de 5 meses de espera - Paula Lago (G1-SP)

 Afegão que desde maio tentava voltar para SP consegue visto para a família e chega ao Brasil: 'Muito bom estar em casa de novo'


Após meses de incerteza e medo, Masood, Lina e Sobhan estão na capital paulista e planejam como irão reestruturar a vida e reiniciar do zero.

Por Paula Lago, g1 SP — São Paulo
07/12/2021 05h53  Atualizado há 2 horas

Mesmo usando máscara, é possível perceber o sorriso do afegão Masood Haibibi, de 29 anos, enquanto conversa à vontade na sala de um apartamento no Centro de São Paulo. O comerciante que, em maio, tinha ido até o país natal planejando passar dois meses e viu a estada ser ampliada para cinco meses contra a sua vontade, finalmente, conseguiu o que queria desde o começo do ano: trazer a família para o Brasil.

O g1 acompanha a história da família desde agosto, quando o grupo extremista islâmico Talibã tomou o poder no Afeganistão, obrigando os cidadãos a ficaram trancados em suas casas.

Ele, a mulher, Lina, de 23 anos, e o filho, Sobhan, de 4 anos, desembarcaram no Aeroporto Internacional de Guarulhos, na Grande São Paulo, na última sexta-feira (3) após um longo voo de 21 horas. “Estamos cansados ainda, mas muito bem. Meu filho está diferente, mais tranquilo. Lá ele só ficava em casa, aqui pode sair, passeamos pela Avenida Paulista no domingo… Ele e minha esposa adoraram, acharam tudo muito bonito. Sobhan adora brincar, está mais solto. Está muito feliz.”

Para este retorno, que teve direito a faixa de boas-vindas, flores e balões, acontecer, eles contaram com o apoio de muitas pessoas: mais de 50 mil assinaram uma petição da plataforma Change Brasil ao Itamaraty que solicitava a concessão de vistos humanitários a Lina e Sobhan. Masood já tem visto brasileiro, e os da família foram concedidos após cerca de um mês do pedido oficial.

De acordo com o Itamaraty, desde 3 de setembro, quando entrou em vigor a portaria que concede esse tipo de autorização de entrada ao país a “afegãos, apátridas e pessoas afetadas pela situação de grave ou iminente instabilidade institucional ou de grave violação de direitos humanos ou do Direito Internacional Humanitário no Afeganistão”, foram concedidos 380 vistos humanitários.

Marcelo Ferraz, especialista em campanhas da Change Brasil, destaca o engajamento das pessoas à causa. “A gente conseguiu fazer com que a história deles se tornasse pública, e a luta deles chegasse ao conhecimento das pessoas.”

Com os passaportes prontos, Masood e família precisavam do dinheiro para as passagens, já que suas contas bancárias foram confiscadas pelo governo talibã. Uma campanha de arrecadação foi criada e reuniu, até o momento, R$ 24 mil, mas o afegão acabou aceitando que uma amiga doasse as passagens para ele e a família virem logo ao Brasil. O valor obtido com a vaquinha será destinado à compra dos bilhetes aéreos para os familiares que estão no Irã à espera de permissão para virem também. “Quando eles conseguirem o visto, vão precisar usar esse dinheiro”, explica.

Covid e talibãs
Masood sentiu na pele dois acontecimentos que terão destaque nas retrospectivas de 2021: primeiro, os pedidos de visto para a esposa e o filho virem morar em São Paulo foram negados pela Embaixada devido ao pico de Covid-19 no Brasil e, depois, em agosto, os talibãs derrubaram o governo e impuseram um novo com uso da força e da violência. O comerciante contou que tiroteios são frequentes.

Ele conta que foram cinco meses de incerteza, angústia e medo até que, em outubro, surgiu a chance de comprar passagens para o Paquistão e, de lá, batalhar pelos vistos e pelas passagens para o Brasil.

“Queria sair o mais rápido possível do Paquistão. Quando você está em um país esperando a hora de sair, quando você não vai ficar lá, é muito difícil tudo. Você tem que pagar hotel, despesas, tudo, todo dia. É muito difícil, se você não tem dinheiro”, conta Masood.

Mas ele acredita que as tensões ficarão em 2021 e que 2022 será um bom ano para a sua família. “Quero reiniciar a vida aqui, é muito difícil quando você vai para um país em que você não tem nada. Tem de começar do zero, conseguir trabalho, minha esposa precisa aprender português o mais rápido possível e precisamos arranjar uma escola para o meu filho. Mas estou feliz e vamos correr para conseguir tudo isso.”

O comerciante conta que vendia tapetes em São Paulo e também trabalhava como técnico em informática em uma empresa, mas agora não sabe se vai conseguir trabalhar com as mesmas coisas. “Vou ter de conseguir um trabalho rápido, para conseguir manter minha família. E podemos contar com amigos”, afirma.

E podem mesmo. Além da ajuda da amiga com as passagens e do apoio de quem colaborou com a vaquinha, Masood tem um “pai” brasileiro: o farmacêutico Ricardo José de Souza conta que adotou informalmente como filho o afegão logo que se conheceram.

É no apartamento dele que a família mora agora e por onde Sobhan corre pelos cômodos com um macaco de pelúcia ou se diverte com um celular. “Quando você tem conexão com um país, fica mais fácil”, afirma Massod. “Agora vamos nos reorganizar. É muito bom estar em casa de novo.”

https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2021/12/07/afegao-que-desde-maio-tentava-voltar-para-sp-consegue-visto-para-a-familia-e-chega-ao-brasil-muito-bom-estar-em-casa-de-novo.ghtml

sábado, 21 de agosto de 2021

Memória de uma jornada a Kabul - poema de Sergio Couri (Islamabade, agosto de 2008; Brasília, junho de 2019)

 Memória de uma jornada a Kabul

Sergio Couri

 

Se vens a Islamabad

Rumo a Kabul, viajeiro,

Ouve aquele que lá foi,

E assim traça o teu roteiro:

 

Assesta o Noroeste 

Deste agreste Paquistão,

Com sua gente do campo

Na simples cultivação.

 

Verás Taxila, do Reino

Gandhara a sede. É cênico

Memorial alexandrino,

Que exalta o mundo helênico.

 

Em Peshawar visita

A Mesquita de Wazir Khan.

É qual arte certosina.

Da mais fina do Islã.

 

Ao ar livre ali traficam

Amas, e de precisão,

Fabricadas em oficina

De armeiro artesão.

 

Segue para o Poente

Das Províncias Irredentas,

Dos aguerridos Patãs,

Heróis de lutas sangrentas.

 

Torrentoso e cristalino,

Vindo do lado afegão,

O belo Rio Kabul

Correrá na contramão.

 

Cruza então o Passo Khyber,

Que não passaram os ingleses,

Contidos por afegãos

Em cada uma das vezes.

 

Só o cruzou Alexandre

Magno, grego genial, 

Após romper o nó górdio,

Em mais um feito imortal.

 

Apenas transposto o Passo,

Jallahlabad verás,

Onde as casas tem ameias

E os  homens armas a mais.

 

Esse povo tem sua têmpera

Contra invasores forjada.

Nem os russos lá ficaram,

Voltaram em debandada.

 

Vê em Kabul o museu

Dos Budas ditos  Gandhara,

É o buda helenizado,

Da arte jóia mais rara.

 

Vê a Tumba de Babur,

O Imperador Moghul

Herdeiro de Tamerlão

Que quis jazer em Kabul.

 

Senta ao jardim de Babur,

Onde repousa o Monarca.

Depois te refresca ao Qargha,

Faz um bom cruzeiro a barca.

 

De volta, galga o Swat,

Que o Himalaia dessegue

Com o degelo das neves,

Fluindo em raso talvegue.

 

Retorna a tua morada

Nas rotas convencionais.

Tem as benções do Profeta,

E com ele esteja a Paz.

 


Islamabade, agosto de 2008/ Brasília, junho de 2019.

 

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Helicópteros sobre Cabul, 2021, como em Saigon, 1975, apenas que agora é muito pior - The Washington Post

 


The Washington Post
Today's WorldView
 
 

quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Mini-reflexão sobre a perda de padrões civilizatórios condignos - Paulo Roberto de Almeida

 Mini-reflexão sobre a perda de padrões civilizatórios condignos

Paulo Roberto de Almeida

Certas nações, como o Afeganistão por exemplo, possuem um déficit civilizatório que é estrutural, ou seja, constitui parte componente indissociável de sua formação social e de toda a sua história. Torna-se, nesse caso, muito difícil superar tais constrangimentos derivados de suas forças profundas, para alçar-se, por seus próprios meios, a padrões civilizatórios que consideramos, de nossa perspectiva, como mais elevados no plano dos direitos humanos, das liberdades democráticas e da boa administração pública.


Outras nações, de seu lado — coloquemos aí o Brasil, apenas como exemplo —, que já alcançaram certo patamar de desenvolvimento humano e social, conseguem, por seus próprios meios e por decisões institucionais adotadas sem qualquer constrangimento externo, ou por ausência de pressões de sua própria sociedade, rebaixar e conspurcar padrões civilizatórios que elas já tinham alcançado graças a avanços conquistados por gerações anteriores. É o caso, por exemplo, quando suas próprias elites e seus círculos dirigentes se empenham em assaltar despudoradamente o seu próprio povo, arrancando dele recursos e riquezas obtidos por meio de atividades produtivas duramente amealhados por empresários e trabalhadores no plano individual e privado. 

Não se requer, como no caso histórico do Afeganistão, invasões estrangeiras ou exércitos de ocupação ilegítimos: tudo se faz na mais perfeita “legalidade” de medidas conscientemente iniciadas e adotadas pelos próprios poderes constituídos, atuando de forma refletida pelos meios institucionais disponíveis, ainda que com intenções e propósitos totalmente ilegítimos e indecentes.

Resumindo: é inaceitável o que os três poderes, com seus mandarins coligados no esforço de extorsão contínua, estão fazendo com o povo brasileiro. Em sua voracidade, elites e dirigentes estão dilapidando riquezas e recursos do povo trabalhador e rebaixando terrivelmente nossos padrões civilizatórios.

O “exército de ocupação” tem nome e endereço conhecidos: ele se chama Estado brasileiro e se apresenta sob a forma de governos democraticamente eleitos. 

Ou seja, o problema somos nós.


Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 12/08/2021

sábado, 31 de julho de 2021

Quanto custou a guerra de 20 anos dos EUA no Afeganistão? US$ 2,26 trilhões - Adam Tooze

Seria preciso colocar esse custo em perspectiva com outras guerras nas quais os EUA se envolveram, não só o Iraque, mas vários outros conflitos também, como a guerra do Vietnã, desastrosa sob todos os aspectos, e o apoio que os EUA dão a seus "aliados" no Oriente Médio, na África e em outras regiões, a começar pela Alemanha na Europa e o Japão no Oriente.

Adam Tooze's Chartbook #29: Afghanistan's economy on the eve of the American exit. 

Twenty years on.

What do you do if you can see the end of your world approaching? Do you flee? Do you resign yourself? These questions were jarred into focus the other day by reports of desperate professional-class Afghans bracing for the likely return to power of the Taliban. For a large part of my adult life, the Western intervention in Afghanistan has been in the background. There was a time at Yale in the early 2010s when I was routinely teaching classes full of aid workers and veterans from Afghanistan. For a while, Stan McChrystal was a colleague. David Petraeus came for lunch. Though I had been fascinated with military history all my life, I had never been that close to a war. When you see the numbers it becomes easier to understand why the footprint of the Afghan war in American society was as large as it was. According to a widely cited shock statistics, the twenty year intervention in Afghanistan has cost the USA over $2.2 trillion dollars.

That is a staggering amount, but facing the imminent end of this twenty year engagement, I realized that I knew woefully little about the overall impact of Western intervention on Afghanistan, its economy and society. Ahead of the Western retreat, it seems that the very least one can do, is to take stock and sum up some basic facts. I only scratch the surface here. 

Grasping for some perspective it makes sense to put the last twenty years of Western intervention in Afghanistan in the context of a century of contested and often violent struggle over the country's modernization. On that earlier history, Humanitarian Invasion, by Timothy Nunan is a fascinating read. The revolution of 1978 and the Soviet intervention followed by Western sponsorship of the resistance turned Afghanistan into a battlefield in the late Cold War. It was a conflict of staggering proportions. 

The figures from Khalidi for the Afghan-Soviet war are conservative. They cover only the period 1978-1987. They add up to a total death toll of 870,000. There are not unreasonable estimates that put overall mortality at twice that level. The scale of this violence in the 1980s dwarfs anything that followed. In 2019, 0.078 of the Afghan population were killed in clashes between government and Taliban forces. In 1984, a staggering 1.35 percent of the Afghan population fell victim to the war in a single year. In relation to population that is 19 times worse than the current casualty rate. 

I do not cite these figures to excuse or relativize the violence that has followed. More people were killed in Afghanistan in 2019 than at any time since the end of the Afghan-Soviet war. More than during the conquest of the country by the Taliban during the late 1990s. But, the scale of the 1980s cataclysm is staggering. The losses, at between 7 and 10 percent of total prewar population, are in the ball park of those suffered in Eastern Europe and the Balkans in World War II. Only very big wars with large civilian casualties have significant demographic impact. In the 1980s, Afghanistan’s population stopped growing. 

By comparison, the warlord and Taliban periods of the 1990s were relatively less lethal. That does not mean that they were good times. Not for Kabul, which in the 1990s was sucked into the fighting for the first time. Not for those Afghan women who had participated in the emancipatory politics and culture of the cities and found themselves living under the misogynistic regime of the Taliban. 

Going by the mortality data, the Western intervention in Afghanistan after 2001 at first continued the downward arc of violence. Measured in terms of the death toll, 2003 and 2004 were the most peaceful years that Afghanistan has enjoyed since the 1970s. But from 2006 the intensity of Taliban resistance surged and the Western alliance responded. Between 2009 and 2013, the US and its allies mounted something akin to a full-scale occupation. In 2011 the combined strength of the US, allied and Afghan forces deployed against the Taliban insurgency peaked at over 450,000. 

The casualties were never on a scale to compare with the Afghan-Soviet war. A better measure of the disruption is the internal displacement of population, which surged along with the scale of troops deployed. Beginning in 2014 there was a wave of asylum seeking abroad, which, in 2015 in Europe, merged with the “Syrian” refugee crisis.Then, as the draw down of Western military forces began in earnest and the Taliban mobilized, the scale of the fighting widened dramatically. The Afghan security forces began to take very serious casualties and internal displacement surged alarmingly. 

Seen from high altitude, the pattern of economic development in Afghanistan over the last twenty years follows a similar path. At first, Western aid was surprisingly small-scale and modest in conception. It built to a sudden crescendo in the early 2010s at the time of the US surge and has ebbed since. 

Given Afghanistan’s huge development challenges, one might think that economic development would have top priority. In fact, the ratio of military to civilian development spending was in the order of ten to one. But, the scale of Western involvement is staggering, nevertheless. In many years Western aid spending exceeded the measured size of Afghan GDP. The figures have a surreal, Alice in Wonderland quality. How could you fit so much aid money into such a small economy? Where did the money go? 

One obvious answer is that tens of billions were swallowed up by corruption and the grey economy. Wealthy Afghans became large property owners in the Gulf states. So crass are these divides that they call into question the very notion of an Afghan national economy as we normally understand it. All statistics are constructs. GDP is a particularly elaborate construction. And in the case of Afghanistan it obscures the fact that a national economy as we conventionally understand it, barely exists. On the ground there are “economies” of urban merchants and handicrafts and communities of hard scrabble farmers, but they did not constitute the kind of integrated circular flow as which we imagine a modern economy. Achieving a circular flow was actually a strategic issue in Afghanistan. A huge amount of effort went into the project of completing the ring road that notionally enables the circulation of goods and people around Afghanistan. The ring never closed. 

Source: SIGAR

Afghanistan’s most valuable crop is illegal opium. It does its best to show up nowhere in anyone’s accounts. But there can be little doubt that since the early 2000s, cultivation has progressively increased. 

Source: UNODC

At farm-gate prices, in 2017 opium generated about $ 1.5 billion in income for Afghan peasants. The fortunes of the countryside fluctuate with heroine prices in the West.

For what they are worth, data for Afghanistan’s GDP per capita show a surge between 2000 and 2014. GDP per capita was driven upwards by injections of foreign spending and the restoration of ordinary farming and commerce, as security was restored. Since 2014, as aid dwindled and violence returns, GDP has stagnated. With a rapidly growing population, that means that GDP per capita is shrinking.

Source: Afghanistan Index

These data are clearly hedged by uncertainty. But other markers of modernization track the same curve. 

Source: Afghanistan Index

Life expectancy has increased. This is driven by a rapid fall in infant mortality and striking life expectancy gains for women, presumably, through much better maternal care. Whereas in 2000 Afghan men lived longer than women, now Afghanistan has the more normal pattern of women outliving their menfolk. 

From 30,000 in 2003, the number of students enrolled in Universities in Afghanistan has risen to more than 180,000. In 2018, there were 49,000 female students. 

Source: Afghanistan Index

Like everyone else, Afghans are addicted to their cell phones. There are enough cell phone subscriptions for more than half the population. Cell phone providers are one of the few parts of Afghanistan’s modern economy that have truly flourished. To run phones, people need power. Electricity consumption per capita has gone up approximately four times since the 2000. To feed that growing demand, Afghanistan has expanded its own generating capacity. But, increasingly, Afghanistan has come to rely on power imports - from Uzbekistan, Iran and Turkmenistan - which account for almost 80 percent of its power needs. The inflow of aid covers Afghanistan’s yawning trade deficit. 

Source: Afghanistan Index

But for all the recorded signs of economic growth and modernization, there has been no success in poverty eradication. In fact, as per capita income increased, so did the rate of poverty. And in recent years, as growth has ground to a halt, the poverty rate has surged. Today, over half of Afghanistan’s population are officially counted as poor. 

Source: Afghanistan Index

The defining feature of modern Afghanistan is uneven development and vast inequality. The six major cities Kabul, Mazar, Jalalabad, Herat, and Kandahar are a world apart from the other 28 provinces. Critics of the aid regime like Kate Clark refer to Afghanistan as a rentier state. Western aid funneled into a hierarchical and balkanized social and political system has given rise to a parallel economies. Elites have monopolized growth for themselves. Meanwhile, those at the bottom are left behind. The Taliban are sustained by resilient organization, by commitment and by an underground economy of considerable scope. But what ultimately keeps their movement alive is the misery of the Afghan countryside and the rage against pervasive corruption and injustice felt by so many young men. 

The Afghan political class and their outside backers have, periodically, shown an awareness of this basic connection. Ashraf Ghani, currently Afghanistan’s President, is a cultural anthropologist who earned his PhD from Columbia in the early 1980s with a thesis entitled, ‘Production and domination: Afghanistan, 1747-1901’. After taking several positions in US academia, he moved to the World Bank 1991 as lead anthropologist. Unsurprisingly, given this background, when he was Finance Minister under Karzai in the early 2000s, Ghani pushed a full suite of rural development programs. As they intensified their engagement with Afghanistan after 2006 the Americans became more and more focused on stabilization and development. Rural development programs were the essential complement to counterinsurgency operations. At their most grandiose America’s plans envisioned Afghanistan as a key staging post in a “New Silk Road”. General Dave Petraeus and a “tiger team” at the U.S. Central Command (CENTCOM) envisioned Afghanistan as a key link in a new transcontinental trade route. Trade and economic growth would fill the gap left when America’s troop surge wound down. On 20 July 2011 Secretary of State Hillary Clinton embraced the CENTCOM New Silk Road initiative in a speech she gave in Chennai, India. But the idea never took off. A few months after her Chennai speech, Clinton announced the Obama administration’s pivot to Asia, which was widely seen as a turn away from Afghanistan towards wider horizons. It would be China that took up the New Silk Road vision, with One Belt One Road in 2013. But, China’s BRI bypasses Afghanistan, leaving it to the Americans. 

Meanwhile, on the ground, the data told a depressing story of rural retardation. Whilst the rest of the Afghan economy grew rapidly between 2001 and 2013, agricultural output barely increased. 

Source: World Bank

The failure of development not only makes the countryside a recruiting ground for the Taliban. It also increases vulnerability to natural shocks. In 2018 Afghanistan was wracked by drought. The rains returned in 2019. But in 2021, in the North and the West of the country, 2-3 million people who rely on rain-fed agriculture and natural pasturage are again facing disaster. As the US prepares its exit, the Norwegian Refugee Council is warning that “More than 12 million Afghans – one-third of the population – now face 'crisis' or 'emergency' levels of food insecurity.” 

With Afghanistan in crisis, the Taliban seem poised to sweep back to power. Once again they are exploiting a mood of crisis. But in the 1990s they took charge of a country eviscerated by the war with the Soviet Union. Afghanistan today is still poor, but it is not in the condition it was twenty five years ago. Kabul in the 1990s was a ruined city with a population of barely over a million. Today, it is a sprawling low-income metropolis, studded with high-rise offices and apartment blocks, with an official population of over 4 million. What kind of regime could be established by the Taliban over such a city? What kind of future can they deliver for Afghanistan and for their constituency in the countryside? Little wonder that the Taliban have been assiduously courting Beijing. Afghanistan needs all the friends it can get.