Mini-reflexão sobre a perda de padrões civilizatórios condignos
Paulo Roberto de Almeida
Certas nações, como o Afeganistão por exemplo, possuem um déficit civilizatório que é estrutural, ou seja, constitui parte componente indissociável de sua formação social e de toda a sua história. Torna-se, nesse caso, muito difícil superar tais constrangimentos derivados de suas forças profundas, para alçar-se, por seus próprios meios, a padrões civilizatórios que consideramos, de nossa perspectiva, como mais elevados no plano dos direitos humanos, das liberdades democráticas e da boa administração pública.
Outras nações, de seu lado — coloquemos aí o Brasil, apenas como exemplo —, que já alcançaram certo patamar de desenvolvimento humano e social, conseguem, por seus próprios meios e por decisões institucionais adotadas sem qualquer constrangimento externo, ou por ausência de pressões de sua própria sociedade, rebaixar e conspurcar padrões civilizatórios que elas já tinham alcançado graças a avanços conquistados por gerações anteriores. É o caso, por exemplo, quando suas próprias elites e seus círculos dirigentes se empenham em assaltar despudoradamente o seu próprio povo, arrancando dele recursos e riquezas obtidos por meio de atividades produtivas duramente amealhados por empresários e trabalhadores no plano individual e privado.
Não se requer, como no caso histórico do Afeganistão, invasões estrangeiras ou exércitos de ocupação ilegítimos: tudo se faz na mais perfeita “legalidade” de medidas conscientemente iniciadas e adotadas pelos próprios poderes constituídos, atuando de forma refletida pelos meios institucionais disponíveis, ainda que com intenções e propósitos totalmente ilegítimos e indecentes.
Resumindo: é inaceitável o que os três poderes, com seus mandarins coligados no esforço de extorsão contínua, estão fazendo com o povo brasileiro. Em sua voracidade, elites e dirigentes estão dilapidando riquezas e recursos do povo trabalhador e rebaixando terrivelmente nossos padrões civilizatórios.
O “exército de ocupação” tem nome e endereço conhecidos: ele se chama Estado brasileiro e se apresenta sob a forma de governos democraticamente eleitos.
Ou seja, o problema somos nós.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 12/08/2021