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domingo, 7 de janeiro de 2024

Roberto Campos, em 1981, sobre o alegado fim do capitalismo, quando o socialismo já claudicava - Ricardo Bergamini

 Ricardo Bergamini transcreve mais um artigo de Roberto Campos, do início dos anos 1980, quando os profetas da transição para o socialismo tronitoavam sobre as crises do capitalismo, demonstrando mais uma vez que a cegueira trazida pelos escritos de Marx e Lênin eram neles permanente. Cabe ler...

Ricardo Bergamini:

A promessa eterna do fim do capitalismo que nunca chega, ocorre porque o capitalismo é um sistema gerador constante de aparente desordem, procurando sempre o seu ponto de equilíbrio, gerando essa sensação constante do inicio do seu fim, mas após encontrar o equilíbrio, com novas tecnologias, decola para um novo salto para o futuro, e assim sucessivamente, até os dias atuais.

 

O Brasil não serve de referência para as comparações mundiais sobre capitalismo, tendo em vista a afirmação do mestre Roberto Campos abaixo:

 

O capitalismo não fracassou na América Latina. Apenas não deu o ar de sua graça (Roberto Campos).

 

 

O fim sem fim do Capitalismo 

Roberto Campos * 

(Londres 08/12/81)



Poucas coisas têm sido mais profetizadas que o fim do capitalismo. Parafraseando Mark Twain, pode-se dizer que as notícias de sua morte são algo exageradas. Se duas lições a história nos ensina é, primeiro, que a história não é dialética: “o socialismo não sucedeu ao capitalismo”, para usar a expressão de Daniel Bell. E, segundo, que a crise do socialismo parece hoje mais séria que a do capitalismo. As coisas não se passaram exatamente como previa Marx. Não houve a “pauperização” do proletariado. O capitalismo monopolista sobreviveu à perda dos impérios. O socialismo não surgiu do proletariado industrial amadurecido, senão que resultou do comando de intelectuais revolucionários sobre massas primitivas. O Estado não feneceu nos países que supostamente eliminaram o conflito de classes.

 

De um simples dispositivo de espoliação econômico-feudal, burguesa ou industrial, o capitalismo evoluiu para se transformar num sistema trinitário, com três vetores distintos em tensão criadora pontilhada de avanços e retrocessos: o aspecto econômico, o político e o cultural. O socialismo marxista ao invés, partindo de uma ampla análise social, tornou-se um sistema monístico, em que esses diferentes valores se unificam e confundem, em rigidez pragmática. O socialismo, que nascera como ciência, virou religião. O capitalismo, que parecia, simples obsessão econômica, absorveu valores de credo liberal, e se revelou politicamente mais flexível e culturalmente mais diversificado.

 

Nenhum dos dois sistemas hoje existe, obviamente, em sua forma pura, o que torna os termos “capitalismo” e “socialismo” simplificações duvidosas. Mas não se deve exagerar a convergência dos dois sistemas. As “economias de mercado” são perfeitamente diferenciáveis das “economias de comando”, ainda que as primeiras tenham absorvido graus intensos de intervenção governamentais e as segundas comecem a admitir os sinais do mercado no tocante a preços incentivos. Isso é dramaticamente perceptível nas zonas de confrontação: Alemanha Ocidental versus Alemanha Oriental, Coréia do Norte versus Coréia do Sul, China Continental versus Taiwan, e assim por diante.

 

Se quisermos, para simplificar as coisas, especificar as diferenças que permanecem fundamentais, citemos duas. A primeira é que as “Economias de mercado” tendem a ser politicamente pluralistas, enquanto as “economias de comando” são basicamente monistas, isto é, o Partido define os valores econômicos, políticos e sociais. Uma segunda espécie de “marca de berços” é, como disse Irving Kristol, que na postulação socialista, o importante é a distribuição, antes que a produção. Com isso elide, ou pensa elidir, o problema vital dos “incentivos” materiais. Pequenas sociedades, como os kibbutzin de Israel e os mosteiros medievais, podem assim funcionar. As grandes sociedades perdem eficiência sem incentivos materiais e individuais. A preocupação distributiva explica em parte o secreto fascínio que o socialismo exerce sobre muitos cristãos, que assimilam distribuição à caridade. A tal ponto que se esquecem da face inaceitável do socialismo, isto é, seu antiespiritualismo de origem, implícito no materialismo dialético.

 

À busca de raízes éticas

 

Se o capitalismo, ou melhor, as “economias de mercado”, têm sobrevivido às “crises” profetizadas por Marx, assim como às “contradições culturais” denunciadas por Daniel Bell, resta saber a que necessidade básica correspondem. Para Hayek, a explicação é simples. Reside em ser o único sistema compatível com a liberdade do indivíduo. E a liberdade, definível como a “ausência de constrangimento”, é mais fundamental que a justiça, pois que esta depende de uma impraticável avaliação de mérito. Uma sociedade livre pode ser justa, enquanto uma sociedade não-livre nunca é justa, pois nega ao individuo oportunidade de auto-realização.

 

Poucos têm hoje a coragem libertária de Hayek e preferem assim outras justificativas para o “ethos capitalista”, em face da crueldade do mercado. Irving Kristol, por exemplo, lembra, sem endossá-las, três explicações tradicionais:

 

- A ética protestante, ou seja, o conceito weberiano de que o sucesso econômico se justifica em função do exercício de virtudes pessoais, como a inteligência, a sobriedade, a ambição honesta. (Esqueçamos, por inoportuno discuti-las, as teorias antiweberianas de que o capitalismo comercial nasceu nas cidades italianas, e a organização do trabalho horário nos mosteiros medievais, antecedendo assim a ética calvinista).

 

- A ética darwiniana, segundo a qual o sucesso representa uma solução natural, pela sobrevivência dos mais capazes.

 

- A ética tecnocrática, segundo a qual o mercado organiza sua própria meritocracia e premia a liderança em função da performance.

 

Nenhuma dessas explicações chega a constituir uma teologia moralmente tranqüilizadora, comprável ao fervor dogmático do socialismo.

 

O fato é que, seja pelas crueldades do mercado – onde fatores acidentais, como a herança, ou imperfeições políticas, como a discriminação racial, criam desigualdades chocantes – seja pelo contágio de pregação socialista (que melhora a igualdade mas retarda a eliminação da pobreza), o capitalismo moderno desenvolveu sua própria Angst, uma espécie de complexo de culpa. Exemplos desse complexo de culpa são a reação contra o “comunismo” e a “depredação ecológica“.

 

Isso revela no sistema capitalista ao mesmo tempo debilidade ideológica (que o torna menos exportável), e a flexibilidade pragmática (que o torna mais durável). Donde poder-se falar hoje nas “economias de mercado corrigido”, nas quais o mercado sofre intervenções que refletem as contínuas tensões resultantes que se poderia chamar o “triplica compromisso” entre riqueza individual, equidade social e liberdade política. O mercado privado seria o criador de riqueza, o governo, o promotor de equidade, e o sistema democrático, o preservador da liberdade. A sucessão de fases intervencionistas e libertárias na Europa Ocidental, assim como nos Estados Unidos, caracterizadas pela alternância de partidos sociais-democráticos ou conservadores, conforme predominam preocupações produtivistas ou distributivistas, denotam as cambiantes predominâncias dos elementos constitutivos do tríplice compromisso.

 

A superposição de crises

 

Tendo sobrevivido a inúmeras crises no passado, inclusive o vendaval da Grande Depressão dos anos trinta, há poucas dívidas de que as economias de mercado sobrevivam à presente crise de estagflação. Registrem-se entretanto três complicadores. Primeiro, a adaptação ao choque do petróleo requer ajustamentos de estrutura, e não apenas remédios de conjuntura. Segundo, há uma grande perplexidade doutrinária, pelo desaparecimento de antigas certezas sobre métodos de gerenciamento global da economia. Terceiro, as sociedades ocidentais, habituadas a um quarto de século de avanço continuo na renda real, tem percepção mais aguda daquilo que se chama o “índice de desconforto”, medida compósita do grau de inflação e do índice de desemprego, aos quais se agrega o novo conceito de deterioração ambiental. Da mesma maneira que os países em desenvolvimento foram sacudidos pela “revolução das expectativas crescentes”, os países industrializados foram atacados pela presunção de “direitos crescentes” (the “Revolution of rising entitlements”).

 

Limitaremos nossa análise à desordem conceitual que se instalou nas teorias econômicas, onde se podem citar quatro controvérsias intensificadas pela teimosa persistência da estagflação:

 

- a controvérsia entre gradualismo e tratamento de choque;  

                                                                                                          

- o debate entre monetarismo e keynesianismo;

 

- as novas teorias de “administração da oferta” (supply side economics); e

 

- a ressurreição dos ciclos de longo prazo (a teoria da “onda larga” de Kondratieff, economista russo da década dos vinte).

 

A controvérsia do gradualismo versus tratamento de choque tornou-se cada vez menos interessante. O bom senso indica que o tratamento de choque só não transpõe o limite de tolerância política se a inflação é moderada, e se as expectativas não se tornaram cronicamente viciadas, de modo a permitir que o trauma recessivo seja curto. Caso contrário, as sociedades estão condenadas ao gradualismo. O que é importante, como nota o Professor William Fellner, é que seja um “gradualismo a velocidade perceptível”, isto é, suficiente para modificar as expectativas.  

 

A reativação da controvérsia entre monetarismo e keynesianismo foi conseqüência direta da estagflação. Por longo tempo no pós-guerra o Keynesianismo ganhou foros de ortodoxia, principalmente no mundo anglo-saxão (no continente europeu a escola austríaca manteve a tradição monetarista). A renitência da inflação e a incapacidade do keynesianismo de debelá-la provocaram uma ressurreição neomonetarista, com experimentos monetaristas ensaiados na Inglaterra e Estados Unidos, encorajados pela evidência de que os países mais bem-sucedidos na luta contra a inflação – Suíça, Alemanha e Japão - foram os que menos se haviam exposto à contaminação keynesiana.

 

A nouvelle vague nos Estados Unidos é a administração da oferta – “supply side economics”. A ênfase sobre a oferta é válida se interpretada como complemento e não como substitutivo da “administração da procura”. A “supply side economics” é, entretanto mais que simples metodologia. Aspira a ser uma filosofia de reabilitação do ethos capitalista, pela liberação das energias do produtor, restauração de incentivos à poupança e produtividade, estímulo à concorrência, redução de interferência governamental, seja assistencial, seja regulatória. (Os exageros da mania ecológica – a “economia” – nos Estados Unidos encareceram e retardaram investimentos).

 

A intratabilidade da atual fase de estagflação ressuscitou velhas teorias sobre ciclos econômicos, que a contínua prosperidade do pós-guerra parecia haver arquivado. Segundo o Professor Walter Rostow, a explosão dos preços de trigo, petróleo e outras matérias-primas em 1972/1973 prenuncia o advento de uma nova onda larga da conjuntura, o quinto ciclo Kondratieff, marcado pela relativa escassez de matérias-primas, especialmente energia. Como é sabido, o economista russo Kondratieff (que segundo Soljenitzn teria morrido num gulag) escrevendo na década de 20, identificara no exame de sérias estatísticas, relativas à Grão-Bretanha, França e Estados Unidos, a existência de ciclos ascendentes e descendentes de produção e preços num espaço de 40 e 50 anos entre 1790 e 1920.

 

Na extrapolação de Rostow, a Grande Depressão dos anos trinta marcaria a fase descendente do terceiro Kondratieff, enquanto o período recente (1972/79) marcaria o começo do ramo ascendente do quinto Kondrafieff. Nessa visão, as crises não seriam o canto de cisne do capitalismo e sim episódios de uma evidência evolutiva. É interessante anotar os pontos de convergência entre uma interpretação à la Kondratieff e a presente busca de uma teoria de “administração de oferta”. Pois se estamos no limiar de um novo Ciclo Kondratieff, caracterizado pela relativa escassez de produção primária e energia, a política adequada não deveria ser macroeconômica, nem no sentido monetarista de simples administração de procura nem no sentido keynesiano de estímulo global a investimentos, senão que direcionada seletivamente para o aumento da oferta setorial de matérias-primas e energias alternativas. A reorientação seletiva de investimentos, no sentido do rompimento de gargalos, representaria uma conciliação entre a necessidade antiinflacionária de conter a demanda global e a necessidade anti-recessiva de estimular a oferta.

 

Mas se o capitalismo hodierno superpõe às perplexidades da estagflação uma desorientação conceitual, o panorama não é nada melhor no campo socialista. O marxismo deixou de ser ciência para transformar-se em dogma. Sua eficiência ficou limitada à quebra de moldes feudais em sociedades primitivas. É uma técnica de conquista do poder mas não de organização do desenvolvimento. O planejamento centralista infirmou a criatividade tecnológica (exceto, no caso soviético, no tocante à tecnologia militar espacial), enquanto que o emudecimento dos sinais do mercado entorpece a agricultura, os serviços e as indústrias de bens de consumo. A falta do elo dos incentivos na corrente produtiva acabou prejudicando a distribuição e tornando as economias socialistas menos desiguais, porém globalmente mais pobres que as economias de mercado. O êxito do desempenho econômico tem estado na razão inversa e não na razão direta da ortodoxia socialista. Uma visão retrospectiva justifica a dúvida se a Revolução Socialista de 1917, pago o pesado preço de sua brutalidade política, conseguiu no fundo acelerar o desenvolvimento russo, comparativamente ao processo evolutivo das democracias ocidentais. Talvez Houphouet-Boigny, o astuto Presidente da Cota do Marfim, tenha feito mais que uma piada ao dizer que há um “r” sobrando na palavra “revolução”.

 

Defensor apaixonado do liberalismo. Economista, diplomata e político também se revelou um intelectual brilhante. De sua intensa produção, resultaram inúmeros artigos e obras como o livro A Lanterna na Popa, uma autobiografia que logo se transformou em best-seller. Foi ministro do Planejamento, senador por Mato Grosso, deputado federal e embaixador em Washington e Londres. Sua carreira começou em 1939, quando prestou concurso para o Itamaraty. Logo foi servir na embaixada brasileira em Washington, e, cinco anos depois, participou da Conferência de Bretton Woods, responsável por desenhar o sistema monetário internacional do pós-guerra.

 


sexta-feira, 11 de novembro de 2022

Roberto Campos: sempre presente, ainda necessário - livros de Paulo Roberto de Almeida

 De tuites de: @Frases_RCampos

(12/11/2022)

Finalizado isso, é hora de ler as homenagens ao Roberto. Gosto muito dos livros do @PauloAlmeida53: A Constituição contra o Brasil sobre a CF de 88 e seu teor nada capitalista e O homem que pensou o Brasil, um verdadeiro resumo do que foi Roberto. Destaque para eles.

Há ainda o O homem mais lúcido do Brasil, uma coletânea de frases basicamente. Não gostei muito, vai ser repetitivo pra vocês. Por fim, Roberto tinha uma seção na Folha com o nome da biografia dele, é fácil de achar seus textos. Fim da thread, obrigado aos que leram e lerão.

E tem também esse site com artigos e entrevistas do Roberto Campos: 

https://web.archive.org/web/20090402035554/http://pensadoresbrasileiros.home.comcast.net/~pensadoresbrasileiros/RobertoCampos/


domingo, 9 de outubro de 2022

O liberalismo de Roberto Campos - Instituto Liberal

 


O liberalismo de Roberto Campos

 

 08/10/2022  Instituto Liberal  

 

Há vinte e um anos, o Brasil perdia um de seus mais importantes pensadores e ator político da história recente do liberalismo brasileiro. Estou falando de Roberto de Oliveira Campos, autodenominado lanterna na popa.

 

Apesar de hoje ser visto como um símbolo do liberalismo, Roberto iniciou sua trajetória política do outro lado do quadrante político, no socialismo. Em suas próprias palavras: “Em minha juventude também fui socialista. Acreditava no poder do estado para reformar o mundo, se não cria-lo de novo. Cheguei mesmo, em vista de meu ímpeto nas nações unidas, ímpeto crítico contra as nações lideres, a ser chamado de comunista pelo ilustre ministro Oswaldo Aranha”. Sua transição do socialismo para o capitalismo liberal aconteceu durante o seu tempo servindo o Itamaraty nos Estados Unidos, onde teve a oportunidade de fazer sua pós-graduação em economia pela George Washington University. Apesar de ser um grande economista Campos não possuía formação econômica, sendo teólogo e filósofo de formação. Após seu tempo nos EUA passou a defender a economia de mercado que, em suas palavras, é uma democracia permanente em que cada cidadão vota diariamente, quando na vida politica ele vota raramente.

 

Após sua atuação nas nações unidas, voltou ao Brasil onde atuou por diversas vezes como assessor e membro de equipes econômicas de vários governos, sempre buscando iluminar o caminho do Brasil ao capitalismo liberal de mercado e para longe do famigerado capitalismo de estado que tanto vemos por aqui. Assessorou Getúlio Vargas na elaboração do projeto de lei que criou a Petrobras. Entretanto, no projeto original, diz Campos, “destacávamos a criação de uma empresa de exploração de petróleo de capital majoritariamente brasileiro, mas com participação estrangeira, portanto sem um monopólio de caráter estatal, este foi incluso no projeto pelo congresso nacional”.

 

Foi também um dos criadores do BNDE, atual BNDES, banco de desenvolvimento criado para suprir a falta de crédito que era observada no país à época, uma grande barreira para o crescimento e para o desenvolvimento do país.

 

Atuou como coordenador de trabalho no plano de metas de Juscelino Kubitschek, onde sugeriria a mudança do nome para “Programa de Metas”, além de sugerir que se fizesse um plano mais amplo visando combater o déficit público e equilibrar as contas externas através de uma reforma cambial, ambas propostas renegadas por Juscelino.

 

Ainda auxiliaria Jânio Quadros nas tratativas com credores internacionais do plano de metas, com foco em seus credores europeus, e seria ministro do planejamento do Governo Castelo Branco, onde, junto a Octavio Gouveia de Bulhões, foi responsável pela modernização do estado brasileiro, a instituição do PAEG, o controle da inflação, a Liberalização da lei de remessas de lucros e a criação do Banco Central do Brasil.

 

Além de sua atuação como ministro, Roberto Campos atuaria por duas vezes como embaixador do Brasil, primeiramente no governo João Goulart em Washington e posteriormente como embaixador em Londres no Governo Geisel. Em Washington foi muito atuante ao tentar uma aproximação do Brasil com o Governo de John Kennedy, o que facilitou em primeiro momento o acesso do Brasil a créditos de origem internacional. Campos chegou até mesmo a organizar um jantar entre John Kennedy e o então presidente do Brasil João Goulart a fim de acalmar os ânimos e acabar com as especulações ideológicas a respeito de Goulart que rodavam Washington.

 

Durante sua estadia em Londres enraizou ainda mais suas crenças quanto ao liberalismo econômico, ao observar os resultados do gigantismo estatal brasileiro e compará-los aos programas de governo de Margaret Tatcher no Reino Unido. Ainda em Londres, participou da banca de doutoramento em economia na Universidade de York do ex-presidente de Portugal Dr. Aníbal Cavaco Silva.

 

Como parlamentar atuou por quatro pleitos, oito anos como senador por Mato Grosso e oito anos como deputado pelo Rio de Janeiro. No auge do plano Cruzado, durante o governo Sarney, foi uma das poucas vozes críticas ao plano. Durante a assembleia nacional constituinte de 1988, sentia como se fosse o único parlamentar a defender a economia de mercado e as ideias do liberalismo econômico. Não teve nenhuma de suas ideias aprovadas quando deputado e senador. Apresentou 15 projetos de leis no Senado, todos rejeitados, entre os quais, estão projetos propondo:

 

-Livre negociação salarial no setor privado e estabelece medidas de flexibilização do mercado de trabalho para evitar o desemprego; -Extinguir, como empresas estatais, as que forem deficitárias, privatizando-as ou liquidando-as; -Estabelecer a livre negociação salarial; -Criar contratos de trabalho simplificados para facilitar novos empregos.

 

Terminou seu mandato reclamando da solidão do liberal no Brasil e dizendo que o discurso era um retrospecto melancólico ao seu tempo como parlamentar:

 

“Minha melancolia não vem de saudades antecipadas de Brasilia, cidade que considero um Bazar de Ilusões e uma usina de déficits, e sim do reconhecimento do fracasso de toda uma geração – minha geração – em lançar o Brasil em uma trajetória de desenvolvimento sustentado. Continuamos longe demais da riqueza atingível e perto demais da pobreza Corrigível. A melancolia vem também da constatação de nossa insuportável “mesmice”. Quando cheguei ao congresso em 1983, eleito Senador por Mato Grosso, os temas cadentes do momento eram moratória e recessão. Dezesseis anos depois quando me despeço de dois mandatos como deputado federal pelo Rio de Janeiro, os temas voltam a ser recessão e crise cambial. Isso mostra que o Brasil, conquanto capaz de saltos de desenvolvimento não aprendeu a tecnologia do desenvolvimento sustentado. É um saltador de saltos curtos, e não um corredor de resistência.”

 

Roberto Campos ainda se tornaria membro da ABL em 1999 após uma conturbada eleição. Sua candidatura sofreu pesada oposição de membros como Celso Furtado e Ariano Suassuna. No fim, foi eleito por 20 votos a 16 pela Bella Jozef e assumiu dia 28 de Outubro com um discurso que destacou o contraste ideológico entre os membros da cadeira que ele foi eleito, suas perspectivas para ao futuro do Brasil e do mundo e criticou o que ele considerou “batalha ideológica”.

 

Roberto Campos faleceu no ano de 2001 no auge de seus 84 anos, ainda muito atuante e verbal contra as violações a liberdade e diversas intervenções econômicas do estado brasileiro sobre o mercado.

 

Apesar de não estar mais entre nós, sua aura de defesa do liberalismo e combate ao intervencionismo econômico continua a pairar sobre o Brasil, esperando que mais indivíduos como ele assumam seu lugar e tomem para si as dores desse debate que a tanto tempo impede o crescimento do Brasil e nos limita a migalhas e voos de galinha. Seu legado continua a inspirar o movimento liberal que o sucedeu, sempre relembrando da alcunha que lhe foi dada no passado, e que deu nome a sua biografia: A lanterna na popa. Iluminando o caminho para os liberais de hoje e inspirando aqueles que virão amanhã.

 

Dessa maneira, deixo aqui minha homenagem a ele que foi um dos grandes pensadores e patronos do liberalismo moderno no Brasil. Que a lanterna na popa continue a guiar dezenas de liberais que escolheram este caminho e seja sempre uma lembrança que esta batalha não é de nenhuma maneira fácil, mas é uma batalha pela qual devemos lutar.

 

Instituto Liberal

 

O Instituto Liberal é uma instituição sem fins lucrativos voltada para a pesquisa, produção e divulgação de idéias, teorias e conceitos que revelam as vantagens de uma sociedade organizada com base em uma ordem liberal.


sábado, 16 de abril de 2022

As leis da política (1999) - Roberto Campos (e José Guilherme Merquior)

 Impagáveis, as "definições"...


As leis da política

ROBERTO CAMPOS

O Globo, 19/12/1999


Era uma crespa noite de inverno londrino. Eu tinha convidado para um jantar na embaixada brasileira, ao fim dos anos 70, o grande filósofo liberal francês Raymond Aron e dois sociólogos radicados na Inglaterra, Ralf Dahendorf e Ernest Gellner, este último professor de José Guilherme Merquior, meu conselheiro de embaixada. Na curva do conhaque, quando filosofávamos sobre nominalismo, realismo e existencialismo, contei uma piada que Aron achou divertida. Era a definição de "realidade" dada por um irlandês, revoltado pela interrupção de suas libações alcoólicas à hora do fechamento dos "pubs". "A realidade é uma ilusão criada por uma aguda escassez de álcool", disse.

Quando partiram os hóspedes, resolvemos, Merquior e eu, em rodadas de uísque, testar duas coisas. Primeiro, a teoria irlandesa do realismo alcoólico. Segundo, nossa capacidade de recitarmos, de memória, aquilo que poderíamos chamar de "leis de comportamento sociopolítico" de variadas personagens e culturas. Alternávamos nas citações, que registrei num alfarrábio que outro dia desenterrei numa limpeza de arquivos. Ei-las:

A lei de Lênin: "É verdade que a liberdade é preciosa. Tão preciosa que é preciso racioná-la".

A lei de Stálin: "Uma única morte é uma tragédia; 1 milhão de mortes é uma estatística".

A lei de Krushev: "Os políticos em qualquer parte são os mesmos. Eles prometem construir pontes mesmo quando não há rios".

A lei de Henry Kissinger: "O ilegal é o que fazemos imediatamente. O inconstitucional é o que exige um pouco mais tempo".

A lei de Franklin Roosevelt: "Um conservador é um homem com duas excelentes pernas, que, contudo, nunca aprendeu a andar para a frente".

A lei de Lord Keynes: "A dificuldade não está nas idéias novas, mas em escapar das antigas".

A lei de Bernard Shaw: "Patriotismo é a convicção de que o país da gente é superior a todos os demais, simplesmente porque ali nascemos".

A lei de Hayek: "Num país onde o único empregador é o Estado, a oposição significa morte por inanição. O velho princípio de que quem não trabalha não come é substituído por um novo princípio: quem não obedece não come".

A lei de Mark Twain: "Um banqueiro é um tipo que nos empresta um guarda-chuva quando faz sol, e exige-o de volta quando começa a chover".

A lei de Lord Kelvin: "Grandes aumentos de custos -com questionável melhoria de desempenho- só podem ser tolerados em relação a cavalos e mulheres".

A lei de Charles De Gaulle: "As promessas só comprometem aqueles que as recebem".

A lei de John Randolph, constituinte na Convenção de Filadélfia: "O mais delicioso dos privilégios é gastar o dinheiro dos outros".

A lei de Getúlio Vargas: "Os ministérios se compõem de dois grupos. Um formado por gente incapaz, e outro por gente capaz de tudo".

A lei do governador Mario Cuomo, de Nova York: "Faz-se campanha em poesia e governa-se em prosa".

A lei de John Kenneth Galbraith: "A política não é a arte do possível. Ela consiste em escolher entre o desagradável e o desastroso".

A lei de Sócrates: "No tocante a celibato e casamento, é melhor não interferir, deixando que o homem escolha o que quiser. Em ambos os casos, ele se arrependerá".

No último uísque, Merquior me contou um chiste anônimo, que circulava em Londres: "A natureza deu ao homem um pênis e um cérebro, mas insuficiente sangue para fazê-los funcionar simultaneamente".

Ao confidenciar a Merquior que pretendia aposentar-me do Itamaraty para ingressar na política, lembrou-me ele a lei de Hubert Humphrey, vice-presidente dos Estados Unidos na administração Lyndon Jonhson, que dizia: "É verdade que há vários idiotas no Congresso. Mas os idiotas constituem boa parte da população e merecem estar bem representados".

Tendo em vista minhas ambições políticas, combinamos fabricar conjuntamente uma lei, que passaria à posteridade como a lei Campos/Merquior: "A política é a arte de fazer hoje os erros do amanhã, sem esquecer os erros de ontem".

Ao nos despedirmos, já mais sóbrios, lembrei-me de duas leis. A lei do King Murphy, que assim reza: "Não estão seguras a vida, a liberdade e a propriedade de ninguém enquanto a legislatura estiver em sessão". E a lei do sábio Montesquieu, o inventor da teoria da separação de poderes: "O político deve sempre buscar a aprovação, porém jamais o aplauso".

Em minha vida política no Senado e na Câmara, procurei descumprir a lei de King Murphy e cumprir a lei de Montesquieu. Sem resultados brilhantes nem num caso nem no outro...


Roberto Campos, 82, economista e diplomata, foi senador pelo PDS-MT, deputado federal pelo PPB-RJ e ministro do Planejamento (governo Castello Branco). É autor de "A Lanterna na Popa" (Ed. Topbooks, 1994).


sábado, 2 de abril de 2022

A atualidade de Roberto Campos: palestra para o Movimento SC Livre (8/03/2022) - Paulo Roberto de Almeida

 1443. “A atualidade de Roberto Campos”, Palestra e debate sobre o personagem símbolo da liberdade no Brasil, no Movimento SC Livre (08/02/2022; link: https://youtu.be/L70hyLaBnYQ); Relação de Originais n. 4090.




A atualidade de Roberto Campos

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor; diretor de publicações no IHG-DF.

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

palestra no Movimento SC Livre, sobre o economista e diplomata; em módulo formativo nomeado “Personagens da História da Liberdade”; dia 8/03; 20:00hs.

Link para a aula: https://youtu.be/L70hyLaBnYQ

 

 

Livros PRA: O Homem Que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Appris, 2017); A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018).

Conceito chave: ecletismo; liberdade é um conceito genérico e abstrato

Anos 1940: Oswaldo Aranha o considerava comunista

Anos 1950: planejamento econômico, Comissão Mista Brasil-EUA, BNDE, Plano de Metas de JK; renúncia da presidência do BNDE (acordo com FMI; construção de Brasília);

1961-64: embaixador em Washington; de Jânio ao parlamentarismo e ao presidencialismo;

Anos 1964-67: grandes reformas, que só podiam ser feitas pelo Estado: PAEG (redução gradual da inflação, sem metodologia FMI), criação do BC, reformas financeiras (correção monetária, scala mobile italiana; efeitos delongados, inerciais), novo sistema tributário (racionalidade, para investimentos), BNH, uma nova Lei de Terras (tributação sobre terras ociosas), mercado de capitais, investimentos estrangeiros (recusa da limitação de remessa de lucros, garantias aos investidores, Convenção de NY-1959, aceita 30 anos depois)

Revisão de expectativas: anti-estatismo ao sair do governo

1967 em diante: críticas à estatização, intervencionismo exacerbados, três orçamentos: fiscal, monetário, estatais, subsídios anti-Gatt, financiamentos estatais às Xs, dezenas de estatais produtivas

Constituição de 1967: colaboração no capítulo econômico

1974-82: Embaixador em Londres: intelectuais; José Guilherme Merquior;

1982-1998: parlamentar: Senador MS na Constituinte; cavaleiro solitário; deputado pelo RJ;

1989-1991: queda do muro de Berlim; teve razão antes do tempo; Raymond Aron;

1998: ABL: teve vitórias e decepções

2001: morte e legado

2017: 100 anos do nascimento; homenagens, PRA e Ives Gandra, Paulo Rebello de Castro

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4090: 25 fevereiro 2022, 1 p.

quarta-feira, 9 de março de 2022

Personagens da história da liberdade: Roberto Campos - Live com Paulo Roberto de Almeida

 Minha live mais recente, a convite do líder do Movimento SC Livre, de Santa Catarina, Rafael Ary, e do deputado Bruno Souza, fundador do movimento.


1443. “A atualidade de Roberto Campos”, Palestra e debate sobre o personagem símbolo da liberdade no Brasil, no Movimento SC Livre (08/02/2022; link: https://youtu.be/L70hyLaBnYQ); Relação de Originais n. 4090.



A atualidade de Roberto Campos

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor; diretor de publicações no IHG-DF.

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

palestra no Movimento SC Livre, sobre o economista e diplomata; em módulo formativo nomeado “Personagens da História da Liberdade”; dia 8/03; 20:00hs.

Link para a aula: https://youtu.be/L70hyLaBnYQ

 

 

Livros PRA: O Homem Que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Appris, 2017); A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018).

Conceito chave: ecletismo; liberdade é um conceito genérico e abstrato

Anos 1940: Oswaldo Aranha o considerava comunista

Anos 1950: planejamento econômico, Comissão Mista Brasil-EUA, BNDE, Plano de Metas de JK; renúncia da presidência do BNDE (acordo com FMI; construção de Brasília);

1961-64: embaixador em Washington; de Jânio ao parlamentarismo e ao presidencialismo;

Anos 1964-67: grandes reformas, que só podiam ser feitas pelo Estado: PAEG (redução gradual da inflação, sem metodologia FMI), criação do BC, reformas financeiras (correção monetária, scala mobile italiana; efeitos delongados, inerciais), novo sistema tributário (racionalidade, para investimentos), BNH, uma nova Lei de Terras (tributação sobre terras ociosas), mercado de capitais, investimentos estrangeiros (recusa da limitação de remessa de lucros, garantias aos investidores, Convenção de NY-1959, aceita 30 anos depois)

Revisão de expectativas: anti-estatismo ao sair do governo

1967 em diante: críticas à estatização, intervencionismo exacerbados, três orçamentos: fiscal, monetário, estatais, subsídios anti-Gatt, financiamentos estatais às Xs, dezenas de estatais produtivas

Constituição de 1967: colaboração no capítulo econômico

1974-82: Embaixador em Londres: intelectuais; José Guilherme Merquior;

1982-1998: parlamentar: Senador MS na Constituinte; cavaleiro solitário; deputado pelo RJ;

1989-1991: queda do muro de Berlim; teve razão antes do tempo; Raymond Aron;

1998: ABL: teve vitórias e decepções

2001: morte e legado

2017: 100 anos do nascimento; homenagens, PRA e Ives Gandra, Paulo Rebello de Castro

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4090: 25 fevereiro 2022, 1 p.


quinta-feira, 3 de março de 2022

A atualidade de Roberto Campos: palestra no Movimento SC Livre - Paulo Roberto de Almeida

 A atualidade de Roberto Campos

 

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor; diretor de publicações no IHG-DF.

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

palestra no Movimento SC Livre, sobre o economista e diplomata; em módulo formativo nomeado “Personagens da História da Liberdade”; dia 8/03; 20:00hs.

Link para a aula: https://youtu.be/L70hyLaBnYQ



 

Livros PRA: O Homem Que Pensou o Brasil: trajetória intelectual de Roberto Campos (Curitiba: Appris, 2017); A Constituição Contra o Brasil: ensaios de Roberto Campos sobre a Constituinte e a Constituição de 1988 (São Paulo: LVM, 2018).

Conceito chave: ecletismo; liberdade é um conceito genérico e abstrato

Anos 1940: Oswaldo Aranha o considerava comunista

Anos 1950: planejamento econômico, Comissão Mista Brasil-EUA, BNDE, Plano de Metas de JK; renúncia da presidência do BNDE (acordo com FMI; construção de Brasília);

1961-64: embaixador em Washington; de Jânio ao parlamentarismo e ao presidencialismo;

Anos 1964-67: grandes reformas, que só podiam ser feitas pelo Estado: PAEG (redução gradual da inflação, sem metodologia FMI), criação do BC, reformas financeiras (correção monetária, scala mobile italiana; efeitos delongados, inerciais), novo sistema tributário (racionalidade, para investimentos), BNH, uma nova Lei de Terras (tributação sobre terras ociosas), mercado de capitais, investimentos estrangeiros (recusa da limitação de remessa de lucros, garantias aos investidores, Convenção de NY-1959, aceita 30 anos depois)

Revisão de expectativas: anti-estatismo ao sair do governo

1967 em diante: críticas à estatização, intervencionismo exacerbados, três orçamentos: fiscal, monetário, estatais, subsídios anti-Gatt, financiamentos estatais às Xs, dezenas de estatais produtivas

Constituição de 1967: colaboração no capítulo econômico

1974-82: Embaixador em Londres: intelectuais; José Guilherme Merquior;

1982-1998: parlamentar: Senador MS na Constituinte; cavaleiro solitário; deputado pelo RJ;

1989-1991: queda do muro de Berlim; teve razão antes do tempo; Raymond Aron;

1998: ABL: teve vitórias e decepções

2001: morte e legado

2017: 100 anos do nascimento; homenagens, PRA e Ives Gandra, Paulo Rebello de Castro

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4090: 25 fevereiro 2022, 1 p.

 

Site do Movimento SC Livre: https://www.sclivre.com.br

 

Instagram: https://instagram.com/movimentosclivre