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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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sexta-feira, 31 de maio de 2024

Carta de um professor escocês aos universitários que condenaram Israel por Apartheid e genocidio - Denis MacEoin (via Roberto Freire)

Roberto Freire postou em sua ferramenta social esta carta, que considero primorosa, simplesmente por sua honestidade intelectual, uma qualidade que deveria ser a regra entre universitários:

PRA 

Uma carta incrível escrita por um professor escocês não judeu aos seus alunos que votaram pelo boicote a Israel.

É uma resposta do Dr. Denis MacEoin à moção apresentada pela Associação de Estudantes de Edimburgo -EUSA  para boicotar todas as coisas israelenses, na qual eles afirmam que Israel está sob um regime de apartheid.

Roberto Freire

Aqui está sua carta :

"Posso dizer algumas palavras aos membros da EUSA? 

Sou formado em Edimburgo (mestrado em 1975) e estudei história persa, árabe e islâmica em Buccleuch Place com William Montgomery Watt e Laurence Elwell Sutton, dois dos maiores especialistas britânicos em Oriente Médio na época. Mais tarde, fiz doutorado em Cambridge e lecionei Estudos Árabes e Islâmicos na Universidade de Newcastle. Naturalmente, sou autor de vários livros e centenas de artigos nesta área. Digo tudo isto para mostrar que estou bem informado sobre os assuntos do Médio Oriente e que, por essa razão, estou chocado e desanimado com a moção e votação da EUSA.  Estou chocado por uma razão simples: não existe e nunca existiu um sistema de apartheid em Israel.  Esta não é a minha opinião, é um facto que pode ser testado em comparação com a realidade por qualquer estudante de Edimburgo, caso decida visitar Israel para ver por si mesmo. Deixem-me explicar isto, pois tenho a impressão de que os membros da EUSA que votaram a favor desta moção são absolutamente ignorantes em assuntos relativos a Israel, e que são, com toda a probabilidade, vítimas de propaganda extremamente tendenciosa proveniente do grupo anti-Israel. salão.  Ser anti-Israel não é em si questionável. Mas não estou falando de críticas comuns a Israel. Estou falando de um ódio que não se permite limites nas mentiras e mitos que espalha. Assim, Israel é repetidamente referido como um estado “nazista”. Em que sentido é isso é verdade, mesmo como uma metáfora? Onde estão os campos de concentração israelenses? Os einzatsgruppen? A SS? As Leis de Nuremberg? A solução final? Nenhuma destas coisas nem qualquer coisa remotamente parecida com elas existe em Israel, precisamente porque os judeus, mais do que qualquer pessoa na terra, entendem o que o nazismo representava.  Alega-se que houve um Holocausto israelita em Gaza (ou noutro local). Onde? Quando? Nenhum historiador honesto trataria essa afirmação com outra coisa que não o desprezo que ela merece. Mas chamar os judeus de nazistas e dizer que eles cometeram um Holocausto é uma forma tão básica de subverter os fatos históricos quanto qualquer coisa que eu possa imaginar.  Da mesma forma, o apartheid. Para que o apartheid existisse, teria de haver uma situação que se assemelhasse muito à forma como as coisas eram na África do Sul sob o regime do apartheid. Infelizmente para aqueles que acreditam nisso, um fim de semana em qualquer parte de Israel seria suficiente para mostrar o quão ridícula é a afirmação.  O fato de um grupo de estudantes universitários ter realmente caído nessa e ter votado é um comentário triste sobre o estado da educação moderna. O foco mais óbvio para o apartheid seria a população árabe de 20% do país. Segundo a lei israelita, os árabes israelitas têm exactamente os mesmos direitos que os judeus ou qualquer outra pessoa; Os muçulmanos têm os mesmos direitos que os judeus ou cristãos; Os bahá'ís, severamente perseguidos no Irão, florescem em Israel, onde têm o seu centro mundial; Os muçulmanos Ahmadi, severamente perseguidos no Paquistão e noutros lugares, são mantidos em segurança por Israel; os locais sagrados de todas as religiões são protegidos por uma lei israelense específica. Os árabes constituem 20% da população universitária (um eco exacto da sua percentagem na população em geral).  No Irão, os Bahai (a maior minoria religiosa) estão proibidos de estudar em qualquer universidade ou de gerir as suas próprias universidades: porquê seus membros não estão boicotando o Irã? Os árabes em Israel podem ir aonde quiserem, ao contrário dos negros na África do Sul do apartheid. Utilizam transportes públicos, comem em restaurantes, vão a piscinas, usam bibliotecas, vão ao cinema ao lado de judeus - algo que nenhum negro foi capaz de fazer na África do Sul.  Os hospitais israelitas não tratam apenas de judeus e árabes, mas também de palestinianos de Gaza ou da Cisjordânia.  Nas mesmas enfermarias, nas mesmas salas de operações.  Em Israel, as mulheres têm os mesmos direitos que os homens: não existe apartheid de género.  Homens e mulheres gays não enfrentam restrições, e os gays palestinos muitas vezes fogem para Israel, sabendo que podem ser mortos em casa.  Parece-me bizarro que grupos LGBT apelem a um boicote a Israel e não digam nada sobre países como o Irão, onde homens gays são enforcados ou apedrejados até à morte. Isso ilustra uma mentalidade que é inacreditável.  Estudantes inteligentes pensando que é melhor calar sobre regimes que matam gays, mas é bom condenar o único país do Oriente Médio que resgata e protege os gays. Isso deveria ser uma piada de mau gosto?  A universidade deveria ser sobre aprender a usar o cérebro, a pensar racionalmente, a examinar evidências, a chegar a conclusões baseadas em evidências sólidas, a comparar fontes, a pesar um ponto de vista contra um ou mais outros. Se o melhor que Edimburgo pode produzir agora são estudantes que não têm ideia de como fazer nenhuma dessas coisas, então o futuro será sombrio.  Não me oponho a críticas bem documentadas a Israel. Oponho-me quando pessoas supostamente inteligentes destacam o Estado Judeu acima de Estados que são horríveis no tratamento que dispensam às suas populações. Estamos a atravessar a maior convulsão no Médio Oriente desde os séculos VII e VIII, e é claro que árabes e iranianos estão a rebelar-se contra regimes aterrorizantes que contra-atacam matando os seus próprios cidadãos.  Os cidadãos israelitas, tanto judeus como árabes, não se rebelam (embora sejam livres para protestar). Contudo, os estudantes de Edimburgo não organizam manifestações e não apelam a boicotes contra a Líbia, o Bahrein, a Arábia Saudita, o Iémen e o Irão. Preferem fazer acusações falsas contra um dos países mais livres do mundo, o único país do Médio Oriente que acolheu refugiados do Darfur, o único país do Médio Oriente que dá refúgio a homens e mulheres homossexuais, o único país do Médio Oriente Leste que protege os Bahá'ís... Preciso continuar?  O desequilíbrio é perceptível e não dá crédito a quem votou a favor deste boicote. Peço que você mostre algum bom senso. Obtenha informações da embaixada de Israel. Peça alguns palestrantes. Ouça mais de um lado.  Não se decida antes de ter dado uma audiência justa a ambas as partes. Você tem um dever para com seus alunos e isso é protegê-los de argumentos unilaterais.  Eles não estão na universidade para serem propagandeados. E certamente não estão lá para serem induzidos ao anti-semitismo, punindo um país entre todos os países do mundo, que é o único Estado judeu. Se tivesse existido um único Estado judeu na década de 1930 (o que, infelizmente, não existiu), não acha que Adolf Hitler teria decidido boicotá-lo?  A vossa geração tem o dever de garantir que o racismo perene do anti-semitismo nunca crie raízes entre vós. Hoje, porém, há sinais claros de que o fez e está a diminuir mais. Você tem a chance de evitar um mal muito grande, simplesmente usando a razão e o senso de justiça. Por favor, diga-me que isso faz sentido. Eu lhe dei algumas das evidências.  Cabe a você saber mais. 

Com os melhores cumprimentos, 

Denis MacEoin”

sábado, 18 de maio de 2024

Livres da polarização - Augusto De Franco, Eduardo Jorge, Roberto Freire e Gilberto Natalini: encontro-debate online, 20 junho, 20:00hs


Os autores do artigo "Livres da polarização", publicado no Estadão em 11/05/2024, estão convidando outras pessoas para conversar sobre o tema.

@augustodefranco, @EduardoJorge, @freire_roberto e @gnatalini convidam para um debate.  

Reservem a data para conversarmos: 20 de Junho / 24. Às 20 h. Tema: “Livre da Polarização”!!!

https://x.com/augustodefranco/status/1791926915596517730 

Se puder divulguem.

Livres da polarização

Quem falará pelos 40% de brasileiros que não são petistas nem bolsonaristas, nem apoiam essas forças políticas populistas?

Roberto Freire, Eduardo Jorge, Gilberto Natalini e Augusto de Franco

 O Estado de São Paulo, 11/05/2024

Há no Brasil de hoje dezenas de milhões de eleitores que não se sentem representados pelas forças que dominam a arena política. São esses – em boa parte – os que apoiam a democracia como um valor universal e que são contra toda sorte de preconceitos e discriminações. São os que acreditam na eficiência do Estado, mas defendem uma economia livre, querem aliar desenvolvimento e sustentabilidade, desejam empreender, mas precisam de apoio ou, quando menos, que não sejam atrapalhados, os que sabem que segurança é inteligência e a violência, irmã da desigualdade.

São os que não acham que um pouquinho de inflação faz bem, nem querem leis dos anos 1940 regulando o trabalho, como ficou patente com a decisão dos líderes governistas de abandonar o projeto com o qual o governo pretendia transformar em trabalhadores CLT os motoristas e entregadores de aplicativo. São os que não veem legitimidade em invasões e depredações de patrimônio público ou privado, sejam eles patrocinados pelo MST ou por partidários de golpes de Estado. São os que defendem, de forma intransigente, as liberdades de expressão, organização e manifestação de acordo com as regras do Estado Democrático de Direito.

Eles não estão nos extremos ou polos que viraram instrumento de análise da divisão a que o lulismo e o bolsonarismo submeteram a sociedade, ambos em busca do poder pelo poder. Eles não defendem, nem justificam, grupos terroristas como o Hamas, o Hezbollah, os Houthis e demais milícias do Oriente Médio que servem aos propósitos da teocracia iraniana e estão sendo usados pelas grandes autocracias do planeta contra os regimes democráticos – tampouco apoiam Nicolás Maduro, Vladimir Putin ou outros ditadores, de esquerda, de direita ou fundamentalistas religiosos.

Quem falará pelos cerca de 40% de brasileiros que não são petistas nem bolsonaristas, nem apoiam essas forças políticas populistas? Os partidos políticos falharam em interpretar os sentimentos, captar as aspirações e endereçar soluções para os problemas desse imenso contingente populacional. Os que não minguaram viraram satélites dos dois campos que alimentam a clivagem social e política brasileira. Não por outra razão, pesquisa recente do Datafolha mostra que aumentou a desconfiança da população dos partidos políticos. Os números, aliás, são alarmantes: só 43% confiam “um pouco”.

A construção de alternativas à polarização, portanto, terá de partir dos insatisfeitos com esse estado de coisas. E, nesse campo, há grande diversidade. De intelectuais a políticos, passando por jovens idealistas, professores, profissionais liberais, trabalhadores de chão de fábrica e de empresas de tecnologia, entregadores e motoristas de aplicativos, empresários, agricultores, artistas, sindicalistas, cientistas, enfim, pessoas comuns que querem viver, estudar, trabalhar, empreender, se divertir, amar e se congraçar com seus semelhantes sabendo que somente a democracia pode configurar ambientes pacíficos onde seus direitos políticos e suas liberdades civis sejam respeitados e valorizados.

Uma oposição democrática aos populismos, no governo ou fora dele, já existe no Brasil. Ela ainda é pequena e está dispersa, mas não crescerá por mágica nas eleições deste ano ou nas próximas. Isso só vai acontecer se as forças políticas democráticas começarem a se articular para influenciar de pronto a agenda nacional, resgatando o espaço público dos populismos de esquerda e direita que o sequestraram. Isso exige conversação livre e franca entre pessoas que não imaginam ter o monopólio da verdade e que estão abertas a ouvir e entender os pontos de vista do outro e, se necessário, a mudar seus próprios pontos de vista, seja em busca de convergência, seja porque alguém teve uma ideia melhor. Isso exige empenho contínuo, um exercício permanente de olhar para a frente, de pensar o País para além das disputas de poder.

Há muita gente disposta a isso, dentro e fora dos partidos, centristas, à esquerda ou à direita, nos mais diversos Estados. Gente cansada do destrutivo e paralisante “nós contra eles”. Gente que espera há anos por políticas que deram certo em outros lugares do mundo, independentemente da ideologia de seus idealizadores, mas que aqui são sabotadas pela polarização. Seja na educação, com a reforma do ensino médio, ou no saneamento básico, com o marco legal, para ficar em dois exemplos recentes de tentativa de retrocesso.

Que todos esses comecem a se conectar, virtual ou presencialmente, não importa se em grande ou pequeno número. O resultado desse esforço não será uma frente de pessoas que pensam igual, mas uma ecologia de diferenças coligadas. Não se articularão apenas para lançar candidatos, embora daí nascerão opções aos extremos, mas para congregar quem deseja trabalhar pela despolarização. Em nome dos milhões de brasileiros que almejam viver em um país melhor e estão fartos de quem lucra com a divisão da sociedade brasileira.


Roberto Freire é político e advogado, Eduardo Jorge e Gilberto Natalini são políticos e médicos, Augusto de Franco é político e escritor.


sábado, 11 de maio de 2024

Livres da polarização - Roberto Freire, Eduardo Jorge, Gilberto Natalini e Augusto de Franco (O Estado de São Paulo)

Livres da polarização

Quem falará pelos 40% de brasileiros que não são petistas nem bolsonaristas, nem apoiam essas forças políticas populistas?

Roberto Freire, Eduardo Jorge, Gilberto Natalini e Augusto de Franco

 O Estado de São Paulo, 11/05/2024

Há no Brasil de hoje dezenas de milhões de eleitores que não se sentem representados pelas forças que dominam a arena política. São esses – em boa parte – os que apoiam a democracia como um valor universal e que são contra toda sorte de preconceitos e discriminações. São os que acreditam na eficiência do Estado, mas defendem uma economia livre, querem aliar desenvolvimento e sustentabilidade, desejam empreender, mas precisam de apoio ou, quando menos, que não sejam atrapalhados, os que sabem que segurança é inteligência e a violência, irmã da desigualdade.

São os que não acham que um pouquinho de inflação faz bem, nem querem leis dos anos 1940 regulando o trabalho, como ficou patente com a decisão dos líderes governistas de abandonar o projeto com o qual o governo pretendia transformar em trabalhadores CLT os motoristas e entregadores de aplicativo. São os que não veem legitimidade em invasões e depredações de patrimônio público ou privado, sejam eles patrocinados pelo MST ou por partidários de golpes de Estado. São os que defendem, de forma intransigente, as liberdades de expressão, organização e manifestação de acordo com as regras do Estado Democrático de Direito.

Eles não estão nos extremos ou polos que viraram instrumento de análise da divisão a que o lulismo e o bolsonarismo submeteram a sociedade, ambos em busca do poder pelo poder. Eles não defendem, nem justificam, grupos terroristas como o Hamas, o Hezbollah, os Houthis e demais milícias do Oriente Médio que servem aos propósitos da teocracia iraniana e estão sendo usados pelas grandes autocracias do planeta contra os regimes democráticos – tampouco apoiam Nicolás Maduro, Vladimir Putin ou outros ditadores, de esquerda, de direita ou fundamentalistas religiosos.

Quem falará pelos cerca de 40% de brasileiros que não são petistas nem bolsonaristas, nem apoiam essas forças políticas populistas? Os partidos políticos falharam em interpretar os sentimentos, captar as aspirações e endereçar soluções para os problemas desse imenso contingente populacional. Os que não minguaram viraram satélites dos dois campos que alimentam a clivagem social e política brasileira. Não por outra razão, pesquisa recente do Datafolha mostra que aumentou a desconfiança da população dos partidos políticos. Os números, aliás, são alarmantes: só 43% confiam “um pouco”.

A construção de alternativas à polarização, portanto, terá de partir dos insatisfeitos com esse estado de coisas. E, nesse campo, há grande diversidade. De intelectuais a políticos, passando por jovens idealistas, professores, profissionais liberais, trabalhadores de chão de fábrica e de empresas de tecnologia, entregadores e motoristas de aplicativos, empresários, agricultores, artistas, sindicalistas, cientistas, enfim, pessoas comuns que querem viver, estudar, trabalhar, empreender, se divertir, amar e se congraçar com seus semelhantes sabendo que somente a democracia pode configurar ambientes pacíficos onde seus direitos políticos e suas liberdades civis sejam respeitados e valorizados.

Uma oposição democrática aos populismos, no governo ou fora dele, já existe no Brasil. Ela ainda é pequena e está dispersa, mas não crescerá por mágica nas eleições deste ano ou nas próximas. Isso só vai acontecer se as forças políticas democráticas começarem a se articular para influenciar de pronto a agenda nacional, resgatando o espaço público dos populismos de esquerda e direita que o sequestraram. Isso exige conversação livre e franca entre pessoas que não imaginam ter o monopólio da verdade e que estão abertas a ouvir e entender os pontos de vista do outro e, se necessário, a mudar seus próprios pontos de vista, seja em busca de convergência, seja porque alguém teve uma ideia melhor. Isso exige empenho contínuo, um exercício permanente de olhar para a frente, de pensar o País para além das disputas de poder.

Há muita gente disposta a isso, dentro e fora dos partidos, centristas, à esquerda ou à direita, nos mais diversos Estados. Gente cansada do destrutivo e paralisante “nós contra eles”. Gente que espera há anos por políticas que deram certo em outros lugares do mundo, independentemente da ideologia de seus idealizadores, mas que aqui são sabotadas pela polarização. Seja na educação, com a reforma do ensino médio, ou no saneamento básico, com o marco legal, para ficar em dois exemplos recentes de tentativa de retrocesso.

Que todos esses comecem a se conectar, virtual ou presencialmente, não importa se em grande ou pequeno número. O resultado desse esforço não será uma frente de pessoas que pensam igual, mas uma ecologia de diferenças coligadas. Não se articularão apenas para lançar candidatos, embora daí nascerão opções aos extremos, mas para congregar quem deseja trabalhar pela despolarização. Em nome dos milhões de brasileiros que almejam viver em um país melhor e estão fartos de quem lucra com a divisão da sociedade brasileira.


Roberto Freire é político e advogado, Eduardo Jorge e Gilberto Natalini são políticos e médicos, Augusto de Franco é político e escritor.

sábado, 27 de abril de 2024

Ainda a carta “pessoal” de Lula a Putin - Roberto Freire, Eliane Cantanhede e Paulo Roberto de Almeida

 Transcrevo de Roberto Freire:

“ Qual mistério esta contido nesta malfadada carta de Lula a Putin que a torna tão perigosa e a faz merecedora de um sigilo determinado pelo Presidente da República Federativa do Brasil   ?

A carta sigilosa de Lula para Putin estremece a República.

Tal fato só foi possível acontecer por termos um  governo que pratica uma política externa fruto de vontades de um presidente, assessores e um partido que a formulam como instrumento de uma concepção ideológica do passado século XX.

A política externa independente  e de defesa da paz mundial que desde a redemocratização vinha sendo conduzida em todos os governos com maestria pelo Itamaraty, foi abandonada .

No momento o Brasil de Lula, promove um verdadeiro cavalo de pau e busca claramente, a formação de um eixo de países de regimes, em sua maioria autocráticos e ditatoriais, alguns  fundamentalistas religiosos, todos antidemocráticos e anti- ocidentais.”

Matéria da GloboNews Em Pauta, 27/04/2024:

"É meio escandaloso isso e demonstra que o Palácio do Planalto não tinha uma explicação, um argumento minimamente razoável (...) A gente fica pensando: nossa, para eles estarem com tanto medo de divulgar, imagina as barbaridades que o Lula deve ter escrito para o Putin", comenta @ECantanhede sobre o sigilo posto pelo governo federal em carta enviada por Lula ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, sob a alegação de se tratar de uma correspondência pessoal.”

➡ Assista ao #EmPauta, com @cosmemarcelo, na #GloboNews: glo.bo/2Mxn1fC


"É meio escandaloso isso e demonstra que o Palácio do Planalto não tinha uma explicação, um argumento minimamente razoável (...) A gente fica pensando: nossa, para eles estarem com tanto medo de divulgar, imagina as barbaridades que o Lula deve ter escrito para o Putin", comenta @ECantanhede sobre o sigilo posto pelo governo federal em carta enviada por Lula ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, sob a alegação de se tratar de uma correspondência pessoal.


➡ Assista ao #EmPauta, com @cosmemarcelo, na #GloboNews: glo.bo/2Mxn1fC


Comentário meu (PRA):

O sigilo imposto a uma comunicação relevante para as relações exteriores do Brasil — não puramente bilaterais, mas com impacto em toda a postura internacional da diplomacia brasileira, sobretudo no plano multilateral e relações com paises do Norte e do Sul globais —, classificada ambiguamente como “uma carta pessoal do cidadão Lula ao cidadão Putin”, representa um sério desafio ao bom desempenho da diplomaciaprofissional do Itamaraty, e apresenta um problema para a condutdas relações diplomáticas bilaterais, regionais e triangulares do Brasil com uma potência responsável pela mais grave ameaça de conflito global desde a Segunda Guerra Mundial, uma violadora confirmada da Carta da ONU e de vários protocolos humanitários (por isso acusado pelo TPI) e sobre as leis da guerra.

Lula está colocando em sério risco a credibilidade da diplomacia brasileira e a confiabilidade internacional da sua política externa. Trata-se de um problema relevante, obscurecido por uma decisão personalista.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasília, 27/04/202024

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Defendendo a liberdade de expressão - Lygia Maria (via Roberto Freire)

Transcrevendo a oartir de uma pistagem do ex-deputado Roberto Freire:

Ai esta o artigo que merece ser lido (RF)

A ESQUERDA QUE APOIA CENSURA

Artigo da jornalista Lygia Maria  

Mestre em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. 

 “Se você nunca pensou em dinamitar um porta-aviões, mandar pelos ares paióis de munição ou metralhar o palácio do governo, cuidado! Você pode vir a ser preso a qualquer instante". Assim começa o artigo da revista Pif Paf, publicada por Millôr Fernandes em 1964, sobre a prisão do cartunista Claudius pelas forças de segurança da ditadura militar.

Mas, então, qual seria o motivo da detenção? Aí o texto escancara o aspecto surrealista dos regimes autoritários: "Nem você nem eles sabem por que você foi preso".

Por isso uma das bases do Estado democrático de Direito é a transparência das decisões judiciais, que garante o direito ao contraditório exigido pelo devido processo legal.

O cidadão precisa saber por que é investigado ou punido. A razão é evidente: evitar abusos de autoridade. É vital proteger o indivíduo do poder de polícia estatal.

Esse princípio, contudo, têm sido infringido por decisões do STF, muitas delas monocráticas, em casos envolvendo liberdade de expressão —notadamente aqueles sob comando do ministro Alexandre de Moraes.

Não se sabe quantas contas das redes sociais foram bloqueadas nem a justificativa para tal censura. Sim, censura: remover conteúdo criminoso já publicado é diferente de proibir alguém de publicar. E numa democracia digna do nome, ninguém pode ser proibido de escrever ou falar.

À falta de transparência nas decisões soma-se a precariedade na caracterização dos crimes. Punir palavras que promovam "ataque à democracia", por exemplo, é de uma vaguidão descomunal.

Não é preciso gostar de Elon Musk para perceber que há algo de muito errado na forma como STF, TSE e Moraes têm lidado com a liberdade de expressão nos últimos anos.

Também não é preciso ser bolsonarista para criticar as cortes. A esquerda democrática, como a da Pif Paf, sempre apontou abusos do Poder Judiciário e defendeu a liberdade de expressão, mas parece que agora resolveu vilipendiar sua história por motivação partidária rasteira.“


sábado, 20 de janeiro de 2024

Em busca da alternativa democrática, contra os populismos lulista e bolsonarista - Roberto Freire e Paulo Roberto de Almeida

Um chamamento à alternativa democrática antipopulista, de Roberto Freire

“AVISO AOS NAVEGANTES

Existem homens e mulheres brasileiros, de esquerda como eu, liberais, de centro esquerda, centro e centro direita, democratas todos , que continuam lutando pela construção de uma ALTERNATIVA, tal como foi tentado nas eleições de 2022, aos dois polos que hoje dominam a política no pais.

O AVISO AOS NAVEGANTES é para dizer que o voto pela continuidade democrática em Lula e contra Bolsonaro, foi tático ( há arrependidos, mas lá foi o correto ) já cumpriu o seu papel. Cabe reafirmarmos e o AVISO é chamamento também, para dizer que a ALTERNATIVA DEMOCRÁTICA é uma oposição aos populismos - Lulista e Bolsonarista - que esta viva na política da nação brasileira e sua perspectiva é o futuro”

20/01/2024

Uma nota de Paulo Roberto de Almeida 

Não se constroi uma alternativa democrática aos populismos que continuam dividindo o Brasil e os brasileiros e inviabilizando um processo vigoroso de crescimento e de desenvolvimento social apenas com base num chamamento lançado aleatoriamente ao publico em geral. 

Alternativa a governos existentes, atuando com base em determinadas políticas, deve ser feita com base no oferecimento de politicas alternativas às que estão sendo implementadas, a partir de um grupo unido numa plataforma integrada e formada por propositores dessas outras politicas, o que significa ter um governo alternativo, chamado — na experiência britânica de alternância entre Tories e Labourites — de Shadow Cabinet.

Seja lá o nome que se quiser dar, e pode ser Alternativa Democrática, é preciso sair do domínio das invectivas para o terreno das propostas concretas de melhores politicas. Ou seja: é preciso começar reunindo os alternativos e passar a discutir politicas diferentes às que estão na mesa, a partir dos melhores estudos e propostas de especialistas, sobretudo em politicas econômicas (macro e setoriais), políticas sociais, ambiental, educacional, de ciência e tecnologia, política externa, militar, etc.

Paulo Roberto de Almeida 

Brasilia, 21/01/2024


sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Política externa e corrupção made in Brazil: duas tentativas de deformação da história por Lula e pelo PT - Paulo Roberto de Almeida

Política externa e corrupção made in Brazil: duas tentativas de deformação da história por Lula e pelo PT

Paulo Roberto de Almeida

São dois os paises estrangeiros envolvidos nessa história da corrupção do PT em torno da refinaria superfaturada em bilhões: a Venezuela de Chávez, que forçou uma decisão pela Abreu e Lima em PE (quando a Petrobras tinha várias outras opções), e que depois nunca colocou um centavo no projeto (que estava concebido para o petroleo pesado da Venezuela); os EUA, que teriam conspirado contra a Petrobras, via Departamento da Justiça, em direção de procuradores e juízes da Operação Lava Jato, só para prejudicar a Petrobras.

Esta ultima é a visão de Lula e a de suas afirmações desprovidas de quaisquer provas sobre o gigantesco caso de corrupção da Petrobras iniciada em seu governo e continuada sob Dilma. 

Talvez os EUA respondam a Lula. Talvez não o façam. Não importa. O fato é que a Petrobras aceitou pagar milhões de dólares a investidores americanos, tal como condenada na Justiça dos EUA por fatos aferidos de corrupção.

Pessoas bem informadas sabem que o presidente mantém uma visão distorcida dos EUA, ao mesmo tempo em que pretende manter sua versão mentirosa sobre a corrupção desmesurada do PT na história do Brasil.

Isso explica muito da sua leniência com a ditadura chavista na Venezuela: são negócios estatais, não a ideologia, que estão por trás da corrupção.

Quanto aos EUA, é uma tentativa de desviar  o foco da imensa corrupção petista contra o povo brasileiro, ao mesmo tempo em que contempla a postura “antiestadunidense” da militância do PT e de parte da população brasileira.

Cabe esclarecer a natureza da deformação.

Paulo Roberto de Almeida 

São Paulo, 19/01/2024


domingo, 6 de setembro de 2020

Roberto Freire sobre a política brasileira- IstoÉ

 PACTO CONTRA O RETROCESSO

Roberto Freire rejeita aliança com Lula contra Bolsonaro em 2022 e diz que aceitar polarização é “pacto com o retrocesso”👏👏👏👏👏

Revista IstoÉ, 01set2020

Em live da revista IstoÉ, o presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, afirmou que recusaria eventual proposta de aliança eleitoral com o PT, em 2022, pois considera que o partido representa um dos eixos da polarização que impede o país de avançar. Para ele, um alinhamento com qualquer dos dois polos – lulista ou bolsonarista – sinalizará para a sociedade um “pacto com o retrocesso”.

“Pra eleição, não me aliaria ao petismo. Precisamos superar a política populista de ambos, contra a política que eles representam. São dois projetos contra o país. Como vou me aliar a um deles? Evidentemente, no lado de Bolsonaro, você ainda tem a barbárie protofascista, o fundamentalismo religioso. Com esse setor, além do populismo econômico, social e político, há uma concepção de mundo completamente retrógrada”, condenou.

Freire defendeu o combate à desigualdade como bandeira fundamental de uma eventual candidatura do apresentador Luciano Huck à Presidência e disse que ela tem de se dar a partir de um bloco de centro-esquerda com os liberais e inclusive com a direita democrática. “Precisamos, como forças democráticas, enfrentar esse governo obscurantista, e não devemos ter nenhuma ansiedade de imaginar que porque ele cresce na sua popularidade, que ganhou 2022. Temos muito caminho a percorrer”, pontuou.

Segundo ele, até lá, é preciso “fazer boa oposição, uma oposição democrática e nos preparar”. “Porque nós vamos ser vitoriosos em 2022 e esse Brasil vai voltar a sorrir. Não podemos ficar imaginando que só nos resta lulismo ou bolsonarismo. Isso tem de ser, em 2022, coisa do passado”, sustentou.

Ao ser questionado pelo jornalista Germano Oliveira, que conduziu a entrevista, o presidente do Cidadania elogiou a “atuação de estadista” do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas avaliou que seria um equívoco qualquer tentativa de mudar a legislação para permitir uma nova reeleição para o comando do Legislativo.

“Estava no Congresso quando FHC propôs a reeleição. Se fosse para outro presidente, após aquele mandato, você poderia admitir, mas não de casuísmo. Foi um erro ali. Éramos a favor da reeleição, mas não daquela ali. É um erro se tentar agora seja porque processo for. Esse ajeitadinho não é bom para a democracia”, analisou.

Confira os principais pontos da entrevista com o diretor da IstoÉ, Germano Oliveira.

Ataques à imprensa
Ataques à imprensa sempre fez. Faz independentemente de qualquer outro aspecto. É da essência dele, de sua incapacidade de conviver com o contraditório e com a imprensa livre. Quando você toca em Queiroz, nas relações com milicianos inclusive presos são relações estranhas que serão esclarecidas. Tão logo encerre seu mandato isso virá à luz do dia. Quando se toca no assunto, ele perde as estribeiras. Essa agressão aos jornalistas e que criou algo que todo brasileiro cria piadas em torno disso, porque esse cheque que tem fundo mas é voador, chegou na conta de sua esposa.

Polarização
Em 2018, você instituiu e isso é grave porque vemos uma repetição agora nos EUA, a articulação de uma extrema direita que mente com o maior descaramento. Mentiu na campanha e as pessoas infelizmente acreditaram. A questão das rachadinhas surgiu ainda na campanha. Quem não sabe que tinha auxílio, mesmo tendo imóvel? Já se sabia antes da eleição, mas passou batido. Aquela bolha de apoio nas redes não leva em consideração que se fale que sua esposa recebeu cheque sem ter a origem lícita. Seus aliados pouco se importam com isso. É a mesma coisa dos que acham que Lula é inocente. Com novidades aparecendo todo dia sobre rachadinhas. Rachadinha é corrupção.

Lulismo x Bolsonarismo
Eu só não comparo porque, de qualquer forma, você tem no PT uma maioria que tem uma concepção de mundo que não é a barbárie. Há setores que apoiam a ditadura, que é um grave equívoco, na Nicarágua, na Venezuela, desde que seja do agrado deles. Hoje, é uma visão anacrônica e profundamente antidemocrática. Mas eles têm uma visão, em sua maioria, que têm compromisso com visão humanista da sociedade. Bem diferente da barbárie protofascista que acompanha Bolsonaro e muitos dos seus áulicos.

Risco de ruptura
Não tem nenhuma segurança de que você não tenha no núcleo do governo a concepção de que o regime ideal é o implantado na ditadura de 1964. Convivem com alguns de seus ídolos que são o pior da concepção humana, torturadores. Disse que a ditadura não foi eficaz porque matou pouco, reprimiram de forma leniente. Essa visão ele já tinha, demonstrava isso e eu acompanhei porque era deputado com ele. Ele era do baixíssimo clero. Isso não mudou. Essa visão arcaica. Expôs à luz um movimento de ultradireita expressivo. Tivemos governos de retórica de esquerda, mas ficamos como um país dos mais desiguais do mundo. A direita nunca se preocupou com isso. Não tenho nenhum receio do enfrentamento político que teremos em 2022. Temos ainda muito chão pra andar, embora perto. As pesquisas com cenário definido pra 2022 não existem em termos de candidatos. Costumo brincar que não podemos morrer pela zoada do tiro.

Candidatura de Huck
Acredito que sim. Não posso afirmar porque ele não se decidiu. Mas pelo andar da carruagem, o ex-governador Antônio Brito, que também trabalhava na Globo quando saiu pra política, me disse ter a impressão de que Luciano estava atravessando a rua. É uma pessoa bem formada, tem uma visão de mundo, talvez conheça a realidade brasileira tão bem quanto qualquer outro, até porque o programa de televisão é muito ligado à realidade da imensa maioria da população brasileira, uma compreensão de que o grande problema do país é a desigualdade. O Cidadania torce pra que isso se concretize, pode ser a alternativa na construção de um polo democrático pra evitar polarização perniciosa lulismo x bolsonarismo, que é terrível para o país.

Desigualdade
Será a bandeira porque justifica nossa trajetória política. Pandemia expôs a desigualdade, que chega ao ponto de determinar quem vai morrer mais. Alguns partidos de esquerda entraram na Justiça agora contra o marco do saneamento. Você acredita que deve manter uma estrutura que condenou mais da metade da população a não ter saneamento, 30% sem água encanada? Uma das formas de evitar a doença é lavar as mãos, mas onde 30% da população lavariam se não têm água encanada? Manutenção de Estado patrimonialista, privatizado pelo interesse das elites econômicas? Precisamos superar essa desigualdade.

Centro?
Centro não é posição muito definida. Centro de quê? 2018 não foi uma polarização anterior, ela surgiu no segundo turno. No primeiro, movimento anti-establishment, numa articulação pelas redes, que surpreendeu a todos, embora já se falasse no Trump e no Brexit, manipulação e fake news, tínhamos conhecimento, mas não tivemos clareza do movimento aqui. Mesmo analistas que viam a política pelo velho endereço das ruas se viram com a surpresa de ver eleito alguém que não tinha nem partido direito. Teve componente do anti-petismo no segundo turno. Agora, isso está expresso, não tem porque não entender que, na sociedade, há um amplo campo democrático que precisa se coesionar. Tenho impressão de que há um nível de consciência que se não aglutinar num bloco só, ao menos um grupo de centro-esquerda, com setores liberais e da direita democrática pra pensar esse novo mundo.

Aliança com o PT
Não, pra eleição não me aliaria ao petismo. Se houver qualquer alinhamento com esses dois polos, mais uma vez será anunciado para o Brasil um pacto com o retrocesso. Precisamos superar a política populista de ambos, contra a política que eles representam. Não há nenhum projeto de Brasil se desenvolvendo. Tenho que imaginar que o país supere essa realidade. São dois projetos contra o país. Como vou me aliar a um deles? Evidentemente, no lado de Bolsonaro você ainda tem a barbárie protofascista, o fundamentalismo religioso. Com esse setor, além do populismo econômico, social e político, há uma concepção de mundo completamente retrógrada.

Toma lá, dá cá
No processo político, em sociedades democráticas, há relação entre Executivo e Legislativo. Claro que não governará sem apoio do Parlamento. Não é problema ter como composição do governo forças políticas do Parlamento. [Pensar diferente] Seria apostar num impasse, em conflito entre poderes. Quando se fala em toma lá, da cá, é uma referência a negociações espúrias. Posso dizer que existe como fazer diferente porque fui líder do governo Itamar Franco, não houve escândalo e havia composição política. Prática parlamentar de Bolsonaro sempre foi de baixíssimo nível, sei porque fui deputado 26 anos com ele. Por trás dessa integração com o Centrão, pode ter tido acordos promíscuos. Um deles? Todo o desmanche no que se criou em termos de combate à corrupção no país. Está destruindo tudo isso. Bolsonaro está desconstruindo isso, aparelhando a Polícia Federal, a PGR, o MP no Rio pra blindar os familiares e os amigos como se pronunciou naquela reunião ministerial.

Reeleição no Congresso
Não vejo isso como errado apenas porque alguém pode querer fazer o mesmo. Errado é errado. Estava no Congresso quando FHC propôs a reeleição. Fui até ele com Montoro, Gabeira e outros e questionamos porque não o parlamentarismo? Porque a reeleição ali era uma violência. Se fosse para outro presidente, após aquele mandato, você poderia admitir, mas não de casuísmo. Foi um erro ali. Éramos a favor da reeleição, mas não daquela. É um erro se tentar agora, seja porque processo for. Esse ajeitadinho não é bom para a democracia. Quero até dizer que Rodrigo Maia está surpreendendo. Era bom parlamentar, com boa visão, mas surpreendeu como presidente nesse período conturbado revelando-se até um estadista. Mas essa ideia de buscar reeleição é um equívoco.

Pandemia
Como é que se pode enfrentar uma pandemia sem ter uma política na saúde pública consistente, continuada e com estratégias? Exemplo maior é ter um interino há quatro meses no Ministério da Saúde, e no meio da pandemia mudou dois ministros. E por curandeirismo, charlatanismo, porque não queriam indicar uma droga que o presidente achava que tinha o poder de curar quando nenhum dos órgãos que cuidam dos fármacos no mundo indicava. Poderia ser como um experimento. O médico pode experimentar. Mas não é a recomendação e não pode ser indicado como ele fez num momento de pânico. Como autoridade máxima teria de dar o exemplo. Tivemos a balbúrdia, o conflito, o caos, a guerra com prefeitos e governadores como ele mesmo anunciou. Até hoje, a postura em relação ao sofrimento de mais de 121 mil famílias não tem um mínimo de empatia. Não tivemos unidade nacional e infelizmente não temos. Isso pra ele não tem a mínima importância. Erradicamos várias doenças por vacina e tratamentos importantes. Temos expertise nisso e não valeu nada porque temos um governo que retirou um técnico e colocou no lugar um veterinário que estava trabalhando num tribunal em Brasília. A que pontos chegamos.


Amazônia
É tão criminosa quanto o tratamento dado à pandemia, só que não está matando diretamente como a pandemia. Criando problemas para a sustentabilidade e para o mundo futuro. Vi surgir o movimento dos verdes e assumiu uma posição que toda a humanidade se preocupa com isso. Montou um governo que tem como tarefa a exploração da Amazônia, pouco importa o que é que vai fazer, garimpo ilegal, desmatamento, atividade atrasada de que não precisa desmatar pra que o Brasil continue potência do agronegócio que o Brasil é, com o desenvolvimento tecnológico, a Embrapa é de fundamental importância nisso. Temos muito a apresentar e estamos jogando fora nesse governo negacionista, que é contra toda e qualquer ideia de humanidade e sustentabilidade. É um desastre. Talvez ainda se possa resolver porque a própria atividade econômica brasileira vai se ressentir desse desmantelo do governo e de seu ministro. Quem salva um pouco é o vice-presidente, que tem um pingo de razão nesse mar de destruição.

Considerações finais
Quando a gente chega a certa idade, fica um pouco nostálgico. Algumas são nostalgias ótimas porque lembram bons momentos. Você lembrou de nos conhecermos em Londrina num dos momentos mais duros e sombrios da ditadura. Jovens em tempos difíceis tentando enfrentar aquilo, mas sabíamos que estávamos lutando pelo que de melhor o ser humano tem, sua liberdade, não ver no outro ser humano um inimigo, fraternidade, um mundo mais solidário. Precisamos como forças democráticas enfrentar esse governo obscurantista, e não devemos ter nenhuma ansiedade de imaginar que porque ele cresce na sua popularidade que ele ganhou 2022. Temos muito caminho a percorrer. Temos de fazer uma boa oposição e isso em alguns aspectos está faltando. O Congresso precisa atuar mais politicamente, mesmo de forma remota. Precisamos criar CPIs. O Congresso existe pra fiscalizar e controlar o Executivo. Não é porque tem pandemia, mas escândalos como os de rachadinhas e milícias tudo isso exigiria CPI. Precisamos fazer boa oposição, uma oposição democrática e nos preparar. Porque nós vamos ser vitoriosos em 2022 e esse Brasil vai voltar a sorrir. Não podemos ficar imaginando que só nos resta lulismo ou bolsonarismo. Isso tem de ser, em 2022, coisas do passado.