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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 26 de junho de 2022

Brasil caiu no Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa - Redes Cordiais

 Em 2021, o Brasil caiu quatro posições no Ranking Mundial de Liberdade de Imprensa, passando a integrar o grupo de nações em que o exercício do jornalismo é considerando difícil. Esta thread tenta entender a quem tanto interessa descredibilizar a imprensa.

Com a popularização da internet em todo o mundo, a sociedade passou a ter em poucos cliques acesso barato ou mesmo gratuito a uma gama de serviços que costumavam sair caro aos interessados. E isto é, claro, algo a se celebrar.

Mas alguns destes serviços ajudavam a manter a imprensa em plena atividade. Como bem apontou Eli Pariser em "O filtro invisível", com o site Craigslist oferecendo um serviço gratuito de classificados, a imprensa dos Estados Unidos perdeu 18 bilhões de dólares em rendimentos.


"Em paralelo, o valor pago por um anúncio na web é bem inferior ao pago na mídia tradicional, onde um número menor de canais divide verba publicitária maior.

Ou seja, o modelo de negócio sofreu um duro golpe, restando à imprensa se reinventar." abi.org.br/2016-ano-tragi…

E, por isso, alguns veículos têm mirado um modelo de negócios em que assinantes mantêm o negócio em funcionamento, com o conteúdo acessível por intermédio de um paywall — diferentemente das "fake news", que seguem gratuitas, com financiamento obscuro...

Contudo, apesar de toda a dificuldade, a imprensa não abriu mão de um histórico papel fiscalizador. E segue apurando denúncias graves contra os grupos mais poderosos do país.

Para citar um exemplo recente, mesmo em situação delicada, seis dos maiores veículos nacionais se uniram em consórcio para garantir que a população teria acesso a informações confiáveis sobre a Covid-19 no Brasil, algo que o governo federal dificultava.

Sim, a imprensa também erra. Mas o bom jornalismo reconhece e aprende com os próprios erros, buscando melhorar a forma de atuação independentemente do obstáculo que possa criar aos mais poderosos. O compromisso é com a sociedade.

Em "Como as democracias morrem", Steven Levitsky e Daniel Ziblatt citam a restrição à liberdade de imprensa, por meio de ameaças e punições às vozes mais críticas, como parte da receita que tem levado nações de todo o mundo a serem menos democráticas.


Atacar a credibilidade da imprensa, portanto, enfraquece as defesas da própria democracia. Ou seja, fragiliza o sistema que busca ouvir os anseios de toda a população.

O descrédito da imprensa interessa, portanto, a quem pretende se eternizar no poder sem críticos que apresentem realidades incômodas à opinião pública, a quem vê na participação popular um problema das democracias, e não a solução.

E há algo que passa despercebido por muitos. Quando você ataca um jornalista de quem não gosta, você está passando a mensagem de que jornalistas devem ser atacados quando desagradam, o que autoriza outros a fazerem o mesmo com os que você admira, e eles, não.

Este foi o quinto de uma série de fios preparadas pelo @redescordiais sobre a importância da liberdade de imprensa e do jornalismo de qualidade. A anterior falou sobre boas práticas de cidadania digital. Confira aqui:

twitter.com/redescordiais/…

Por mais que sirva para a sociedade se informar da melhor forma possível, a liberdade de imprensa sofre todo tipo de ataque. Este 🧶 irá não só abordar um dos mais comuns nas redes sociais, como apresentará dicas para produtores de conteúdo se protegerem dele.


O termo "troll" originalmente fazia referência a seres horrendos da mitologia nórdica. Na web, contudo, passou a referenciar indivíduos que tumultuam o debate público não só com humor, mas também com muita grosseria e desinformação.

E infelizmente quem trabalha com comunicação costuma figurar entre os alvos preferenciais. Um levantamento da @abertbr identificou que há 7 ataques por minuto contra profissionais da área no 🇧🇷.


Os alvos podem sofrer com perda de credibilidade e principalmente danos psicológicos. Esta publicação do @redescordiais e do @itsrio busca levar a jornalistas conhecimentos básicos sobre cuidados com a saúde mental.  itsrio.org/wp-content/upl…

Uma cartilha preparada pelas @redescordiais em parceria com a @internetlabbr apresenta dicas para que os danos de um ataque online sejam minimizados.

https://t.co/SuUlE6vp8k

A imprensa, por exemplo, atua com 'silêncio estratégico', evitando ecoar informação danosa ao leitor. Mas, na era das 'fake news', o jornalismo atua ainda com 'amplificação estratégica', promovendo conteúdos éticos que neutralizem o dano da desinformação.

Como "trolls" orquestram ataques para ludibriar o público, o produtor de conteúdo precisa estimar o impacto negativo da amplificação do ataque. Se oriundo de uma autoridade, vale redobrar cuidados com alegações falsas, ausência de contexto ou 'outro lado''.

Aos alvos do ataque, cabe primeiramente reportar às plataformas das redes sociais o conteúdo abusivo. Se há desinformação disseminada, comunicar o caso a agências de fact checking pode ajudar a reverter o estrago.

https://www.aosfatos.org/noticias/como-denunciar-publicacoes-enganosas-nas-redes-sociais/

Não é recomendado publicar qualquer resposta aos trolls. Mas vale a publicação de conteúdo éticos sobre o assunto em debate, assim como guardar provas do assédio e consultar profissionais para eventuais ações na Justiça.

https://t.co/qy91ciquqw 

A @abraji também mantém no ar uma cartilha para que jornalistas aprendam a lidar com assédio nas redes. Dentre outras dicas, é sugerido separar a vida pessoal da profissional, preservando a privacidade da família dos alvos em potencial.

https://t.co/xQAzUkqVZB 

Uma vez no centro de um ataque, é importante manter a calma e evitar discussões públicas. Buscar apoio psicológico é sempre bem-vindo, assim como comunicar o caso a superiores ou entidades jornalísticas.

Esta é a quarta de uma série de 🧶 preparadas pelas @redescordiais sobre a importância da liberdade de imprensa e do jornalismo de qualidade. Na anterior, foi explicado como funciona a cobertura jornalística. Confira:

twitter.com/redescordiais/…


Qual é a importância da verdade no jornalismo? Como o profissional pode separar sua visão ideológica da realidade?

Eu sou formada jornalista na Cásper Líbero…

Myrian Dauer: We Remember


segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

Sobre a destruição da democracia nos EUA e no Brasil: um projeto ainda em curso - Paulo Roberto de Almeida, Umair Haque

Sobre a destruição da democracia nos EUA e no Brasil: um projeto ainda em curso

  

Paulo Roberto de Almeida

Diplomata, professor

(www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

  

O plano trumpista para destruir a democracia americana – pela submissão do Congresso e pela manipulação do processo eleitoral – foi seguido quase ipsis litteris pelo seu imitador, adorador, seguidor fiel (mas um pouco mais imbecil) do Brasil, com as diferenças aplicáveis a dois sistemas político-partidários e eleitorais bastante diferentes. 

Ambos não conseguiram realizar o seu intento, inclusive porque as instituições dos dois países dificultaram esses intentos respectivos, mas o americano esteve muito mais longe desse objetivo do que o brasileiro, por um motivo muito simples: as FFAA americanas são muito menos manipuláveis do que são as brasileiras (que foram praticamente compradas pelo candidato a ditador, mas os comandantes das três forças, e o próprio ministro MILITAR da Defesa concluíram que não tinham condições, nem motivos, para seguir o tresloucado). 

O que não impede que ambos, Trump nos EUA, Bozo no Brasil, disponham, cada um, de uma base social e eleitoral respeitável, com a diferença que Trump praticamente domou o Partido Republicano e o tem a seu serviço, com alguns poucos dissidentes, ao passo que o seguidor tupiniquim foi domado pelas forças mais corruptas e venais do establishment político e não tem nenhum partido a seu serviço, mas se se serve deles irrigando seus aparentes apoiadores com toneladas de dinheiro público que aqui no Brasil parece ser mais fácil de desviar do que nos EUA. 

Trump nos EUA e Bozo no Brasil gostariam de decretar fechamento do Congresso, para governar por decretos, ignorando eleições e eleitores, mas as instituições atuaram como contrapesos e vetaram essa via destruidora. 

Mas ambas democracias permanecem frágeis e fragilizadas, pela ação corruptora dos dois grandes mentecaptos que empolgaram as duas nações, respectivamente em 2016 e em 2018, o que também é uma tendência em outras democracias avançadas, nas quais também se observa um eleitorado ignorante disposto a seguir populistas mentirosos – como Trump, Bozo, Modi, Orban, Erdogan, Salvini, Duterte, AMLO e muitos outros, vários que ainda são candidatos, inclusive na França – na ilusão de solucionar problemas corriqueiros da vida nacional: inflação, desemprego, desigualdades persistentes, insegurança civil, supostas ameaças externas (representadas por potências estrangeiras, imigrantes ilegais, terroristas fanáticos, etc.) e persistência de velhos problemas internos, entre eles frustrações individuais.

A democracia é um regime aborrecido e demorado, daí que os insatisfeitos queiram resolver esses problemas com alguém que se apresenta como o "solucionador" eventual: Make America Great Again, família, religião, propriedade, ordem, segurança, e o que mais existir como promessa fácil.

A única solução duradoura é a educação e a capacitação produtiva de todos os cidadãos, o que nem sempre é fácil, dada a conhecida fórmula econômica de desejos ilimitados e recursos limitados.

 

 

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 4044: 13 dezembro 2021, 2 p.



Inside Trump’s Plot to Destroy American Democracy
Martial Law. Overturning the Election. What We Know Gets Worse By the Day
Umair Haque in Eudaimonia and Co
Medium Daily Digest, December 13, 2021


  • The federalized National Guard in each state will be supplied detailed processes and be responsible for counting each legitimate paper ballot. Teams made up of three (first couple counties will be five) National Guard members will do the counting. As the counting occurs each ballot will be imaged and the images placed on the Internet so any US citizen can view them and count the ballots themselves. The process will be completely transparent.”

Eudaimonia and Co

Eudaimonia & Co

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Barrosinho responde ao verme que envergonha o Brasil - Luiz Roberto Barroso (TSE)

 Para registro histórico:


PRONUNCIAMENTO DO MINISTRO LUÍS ROBERTO BARROSO 

Abertura da sessão de 09/09/2021 do Tribunal Superior Eleitoral


A propósito dos eventos e pronunciamentos do último dia 7 de setembro, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Luiz Fux, já se manifestou com relação aos ataques àquele Tribunal, seus Ministros e às instituições, com o vigor que se impunha.

A mim, como Presidente do Tribunal Superior Eleitoral cabe apenas rebater o que se disse de inverídico em relação à Justiça Eleitoral. Faço isso em nome dos milhares de juízes e servidores que servem ao Brasil com patriotismo – não o da retórica de palanque, mas o do trabalho duro e dedicado –, e que não devem ficar indefesos diante da linguagem abusiva e da mentira.

Já começa a ficar cansativo, no Brasil, ter que repetidamente desmentir falsidades, para que não sejamos dominados pela pós-verdade, pelos fatos alternativos, para que a repetição da mentira não crie a impressão de que ela se tornou verdade. É muito triste o ponto a que chegamos.

Antes de responder objetivamente a tudo o que precisa ser respondido, faço uma breve reflexão sobre o mundo em que estamos vivendo e as provações pelas quais têm passado as democracias contemporâneas. É preciso entender o que está acontecendo para resistir adequadamente.

A democracia vive um momento delicado em diferentes partes do mundo, em um processo que tem sido batizado como recessão democrática, retrocesso democrático, constitucionalismo abusivo, democracias iliberais ou legalismo autocrático. Os exemplos foram se acumulando ao longo dos anos: Hungria, Polônia, Turquia, Rússia, Geórgia, Ucrânia, Filipinas, Venezuela, Nicarágua e El Salvador, entre outros. É nesse clube que muitos gostariam que nós entrássemos.

Em todos esses casos, a erosão da democracia não se deu por golpe de Estado, sob as armas de algum general e seus comandados. Nos exemplos acima, o processo de subversão democrática se deu pelas mãos de presidentes e primeiros-ministros devidamente eleitos pelo voto popular. Em seguida, paulatinamente, vêm as medidas que desconstroem os pilares da democracia e pavimentam o caminho para o autoritarismo.

Há três fenômenos distintos em curso em países diversos: a) o populismo; b) o extremismo e c) o autoritarismo. Eles não se confundem entre si, mas quando se manifestam simultaneamente – o que tem sido frequente – trazem graves problemas para a democracia.

O populismo tem lugar quando líderes carismáticos manipulam as necessidades e os medos da população, apresentando-se como anti-establishment, diferentes “de tudo o que está aí” e prometendo soluções simples e erradas, que frequentemente cobram um preço alto no futuro.

Quando o fracasso inevitável bate à porta – porque esse é o destino do populismo –, é preciso encontrar culpados, bodes expiatórios. O populismo vive de arrumar inimigos para justificar o seu fiasco. Pode ser o comunismo, a imprensa ou os tribunais.

As estratégias mais comuns são conhecidas: a) uso das mídias sociais, estabelecendo uma comunicação direta com as massas, para procurar inflamá-las; b) a desvalorização ou cooptação das instituições de mediação da vontade popular, como o Legislativo, a imprensa e as entidades da sociedade civil; e c) ataque às supremas cortes, que têm o papel de, em nome da Constituição, limitar e controlar o poder.

O extremismo se manifesta pela intolerância, agressividade e ataque a instituições e pessoas. É a não aceitação do outro, o esforço para desqualificar ou destruir os que pensam diferente. Cultiva-se o conflito do nós contra eles. O extremismo tem se valido de campanhas de ódio, desinformação, meias verdades e teorias conspiratórias, que visam enfraquecer os fundamentos da democracia representativa. Manifestação emblemática dessa disfunção foi a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, após a derrota de Donald Trump nas eleições presidenciais. Por aqui, não faltou quem pregasse invadir o Congresso e o Supremo.

O autoritarismo, por sua vez, é um fenômeno que sempre assombrou diferentes continentes – América Latina, Ásia, África e mesmo partes da Europa –, sendo permanente tentação daqueles que chegam ao poder.

Em democracias recentes, parte das novas gerações já não tem na memória o registro dos desmandos das ditaduras, com seu cortejo de intolerância, violência e perseguições. Por isso mesmo, são presas mais fáceis dos discursos autoritários.

Uma das estratégias do autoritarismo, dos que anseiam a ditadura, é criar um ambiente de mentiras, no qual as pessoas já não divergem apenas quanto às suas opiniões, mas também quanto aos próprios fatos. Pós-verdade e fatos alternativos são palavras que ingressaram no vocabulário contemporâneo e identificam essa distopia em que muitos países estão vivendo.

Uma das manifestações do autoritarismo pelo mundo afora é a tentativa de desacreditar o processo eleitoral para, em caso de derrota, poder alegar fraude e deslegitimar o vencedor.

Visto o cenário mundial, falo brevemente sobre o Brasil e os ataques sofridos pela Justiça Eleitoral.

No tom, com o vocabulário e a sintaxe que é capaz de manejar, o Presidente da República fez os seguintes comentários que dizem respeito à Justiça Eleitoral e que passo a responder.

“A alma da democracia é o voto”.

De fato, o voto é elemento essencial da democracia representativa.

Outro elemento igualmente fundamental é o debate público permanente e de qualidade, que permite que todos os cidadãos recebam informações corretas, formem sua opinião e apresentem seus argumentos.

Quando esse debate é contaminado por discursos de ódio, campanhas de desinformação e teorias conspiratórias infundadas, a democracia é aviltada. O slogan para o momento brasileiro, ao contrário do propalado, parece ser: “Conhecerás a mentira e a mentira te aprisionará”.

“Não podemos admitir um sistema eleitoral que não fornece qualquer segurança”

As urnas eletrônicas brasileiras são totalmente seguras. Em primeiro lugar, elas não entram em rede e não são passíveis de acesso remoto. Podem tentar invadir os computadores do TSE (e obter alguns dados cadastrais irrelevantes), podem fazer ataques de negação de serviço aos nossos sistemas, nada disso é capaz de comprometer o resultado da eleição. A própria urna é que imprime os resultados e os divulga.

Os programas que processam as eleições têm o seu código fonte aberto à inspeção de todos os partidos, da Polícia Federal, do Ministério Público e da OAB um ano antes das eleições. Estará à disposição dessas entidades a partir de 4 de outubro próximo. Inúmeros observadores internacionais examinaram o sistema com seus técnicos e atestaram a sua integridade.

Ainda hoje, daqui a pouco, anunciarei os integrantes da Comissão de Transparência das Eleições, que vão acompanhar cada passo do processo eleitoral. Nunca se documentou qualquer episódio de fraude.

O sistema é certamente inseguro para quem acha que o único resultado possível é a própria vitória. Como já disse antes, para maus perdedores não há remédio na farmacologia jurídica.

“Nós queremos eleições limpas, democráticas, com voto auditável e contagem pública de votos”

As eleições brasileiras são totalmente limpas, democráticas e auditáveis. Eu não vou repetir uma vez mais que nunca se documentou fraude, que por esse sistema foram eleitos FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro e que há 10 (dez) camadas de auditoria no sistema.

Agora: contagem pública manual de votos é como abandonar o computador e regredir, não à máquina de escrever, mas à caneta tinteiro. Seria um retorno ao tempo da fraude e da manipulação. Se tentam invadir o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal, imagine-se o que não fariam com as seções eleitorais!

As eleições brasileiras são limpas, democráticas e auditáveis. Nessa vida, porém, o que existe está nos olhos do que vê.

“Não podemos ter eleições onde (sic) pairem dúvidas sobre os eleitores”

Depois de quase três anos de campanha diuturna e insidiosa contra as urnas eletrônicas, por parte de ninguém menos do que o Presidente da República, uma minoria de eleitores passou a ter dúvida sobre a segurança do processo eleitoral. Dúvida criada artificialmente por uma máquina governamental de propaganda. Assim que pararem de circular as mentiras, as dúvidas se dissiparão.

“Não posso participar de uma farsa como essa patrocinada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral”

O Presidente da República repetiu, incessantemente, que teria havido fraude na eleição na qual se elegeu. Disse eu, então, à época, que ele tinha o dever moral de apresentar as provas. Não apresentou.

Continuou a repetir a acusação falsa e prometeu apresentar as provas. Após uma live que deverá figurar em qualquer futura antologia de eventos bizarros, foi intimado pelo TSE para cumprir o dever jurídico de apresentar as provas, se as tivesse. Não apresentou.

É tudo retórica vazia. Hoje em dia, salvo os fanáticos (que são cegos pelo radicalismo) e os mercenários (que são cegos pela monetização da mentira), todas as pessoas de bem sabem que não houve fraude e quem é o farsante nessa história.

“Não é uma pessoa no Tribunal Superior Eleitoral que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável”.

Não sou eu que digo isso. Todos os ex-Presidentes do TSE no pós-88 – 15 Ministros e ex-Ministros do STF – atestam isso. Mas, na verdade, quem decidiu que não haveria voto impresso foi o Congresso Nacional, não foi o TSE.

A esse propósito, eu compareci à Câmara dos Deputados após três convites: da autora da proposta, do Presidente da Comissão Especial e um convite pessoal do Presidente daquela Casa. Não fiz ativismo legislativo. Fui insistentemente convidado.

Lá expus as razões do TSE. Não tenho verbas, não tenho tropas, não troco votos. Só trabalho com a verdade e a boa fé. São forças poderosas. São as grandes forças do universo. A verdade realmente liberta. Mas só àqueles que a praticam.

Foi o Congresso Nacional – não o TSE – que recusou o voto impresso. E fez muito bem. O Presidente da Câmara afirmou que após a votação da Proposta, o assunto estaria encerrado. Cumpriu a palavra. O Presidente do Senado afirmou que após a votação da Proposta, o assunto estaria encerrado. Cumpriu a palavra. O Presidente da República, como ontem lembrou o Presidente da Câmara, afirmou que após a votação da proposta o assunto estaria encerrado. Não cumpriu a palavra.

Seja como for, é uma covardia atacar a Justiça Eleitoral por falta de coragem de atacar o Congresso Nacional, que é quem decide a matéria.

Insulto não é argumento. Ofensa não é coragem. A incivilidade é uma derrota do espírito. A falta de compostura nos envergonha perante o mundo. A marca Brasil sofre, nesse momento, uma desvalorização global. Somos vítimas de chacota e de desprezo mundial.

Um desprestígio maior do que a inflação, do que o desemprego, do que a queda de renda, do que a alta do dólar, do que a queda da bolsa, do que o desmatamento da Amazônia, do que o número de mortos pela pandemia, do que a fuga de cérebros e de investimentos. Mas, pior que tudo, nos diminui perante nós mesmos. Não podemos permitir a destruição das instituições para encobrir o fracasso econômico, social e moral que estamos vivendo.

A democracia tem lugar para conservadores, liberais e progressistas. O que nos une na diferença é o respeito à Constituição, aos valores comuns que compartilhamos e que estão nela inscritos. A democracia só não tem lugar para quem pretenda destruí-la.

Com a bênção de Deus – o Deus do bem, do amor e do respeito ao próximo – e a proteção das instituições, um Presidente eleito democraticamente pelo voto popular tomará posse no dia 1º de janeiro de 2023.

Luís Roberto Barroso, presidente do TSE