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sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Grande Marcha do PT para tras: atrasando o pais em um seculo -Reinaldo Azevedo

Impressionante o desfilar de sandices, mas que segue um plano bem concebido: consolidar essa versão da História para melhor assentar o seu poder totalitário (pelo menos em intenção).
Eu antes pensava que o Brasil era "apenas" um país mentalmente atrasado.
Agora me dou conta de que não, pois a coisa é muito pior: estamos ativamente, deliberadamente, rapidamente, andando para trás.
Ou seja, ademais de completamente anacrônicos, e de partilhar com os militares a mesma concepção nazista de economia e o mesmo entusiasmo por todo esse stalinismo industrial que estão praticando, os petistas são reacionários e, como encerrava Marx em seu Manifesto de 1848, querem fazer girar para trás a roda da História. Parece que estão conseguindo, com a colaboração dedicada de toda a direita conservadora, que nisso mostra que ela também é mentalmente atrasada e totalmente despreparada para governar.
Quanto aos social-democratas, eles são patéticos: querem ser melhores que o PT naquilo que o PT faz melhor, ou seja, mistificar a História, enganar os humildes e construir o seu sistema clientelístico, que só funciona com o dinheiro que os idiotas dos capitalistas repassam direta e indiretamente para eles, legal e ilegalmente.
Não tenho nenhuma dúvida: o Brasil atravessa o seu pior momento em 124 anos de regime republicano, e as tendências atuais devem atrasar o país pelos próximos 20 anos, pelo menos.
Gostaria de estar errado...
Paulo Roberto de Almeida

João Goulart: desenterrando os mortos para servir ao baixo proselitismo dos muito vivos 
Por Por Reinaldo Azevedo, 14/11/2013 

Leitores cobram que eu escreva sobre a exumação dos restos mortais de João Goulart. Escrevo, sim, embora, confesso, certas coisas me provoquem uma imensa preguiça — e olhem que, como é sabido, esse não é um dos meus defeitos. Mas supero. Por vocês! É claro que se está tentando exumar a história para tentar, mais uma vez, recontá-la aos olhos dos vitoriosos e oportunistas de agora. Não é isso o que se pretende com a dita Comissão da Verdade? Nesse caso, reparem: as chamadas vítimas da ditadura — as reais e as criadas por mistificadores — já obtiveram (ou estão em vias de) a reparação. O estado já reconheceu as suas "culpas". Notórios militantes de ideologias facinorosas posam por aí de heróis da resistência — quando seu repúdio à democracia era evidente. Assassinos ganham pensão. Não deixa de ser um desrespeito à memória das verdadeiras vítimas a vizinhança com aproveitadores. Mas não entrarei nessas minudências agora. O fato é que as reparações estão dadas. Mas isso não basta: é preciso inventar também uma narrativa oficial sobre aquele passado; é preciso escrever uma história que consagre a luta do Bem (as esquerdas e seus associados; o populismo doidivanas de Goulart é um "associado") contra o Mal.
E então se vai lá desenterrar os ossos do ex-presidente. Não há um só indício crível, uma só nesga de evidência, um só elemento plausível — além do depoimento de uma figura suspeitíssima — que sugiram que Jango possa ter sido envenenado. Aliás, se foi — e isso teria se dado por intermédio da troca de remédios —, então se deve supor que alguém da sua intimidade compactuou com a tramoia. Remédios são coisas mais ou menos íntimas, não? Nota à margem: diga-se o mesmo, nesse particular, sobre Yasser Arafat. Se é verdade que foi envenenado com plutônio, certamente foi com o concurso das forças de segurança da Fatah, não é? Mas voltemos ao essencial.
Que risco real Goulart representava ao regime militar em 1976? Tinha planos de voltar para o Brasil? Pretendia retomar a luta política? Ele, que não se mobilizou para sufocar um golpe dado em câmera lenta — a fase aguda começou no dia 29 de março a só chegou ao ápice a 1º de abril —, pretendia retomar a um Brasil absurdamente diferente daquele que abandonara 12 anos antes? Não custa lembrar: o sindicalismo do ABC, que já se adensava, indicava a existência de outro país, com um operariado de classe média, formado de consumidores, que aposentara suas apostas nos políticos de perfil populista, como Jango. Vejam os fiascos acumulados por Leonel Brizola, seu cunhado, que encontrou em Luiz Inácio Lula da Silva, o "sapo barbudo", o seu maior opositor. Quem pagou o pato da velharia ideológica do brizolismo, coitado!, foi o Estado do Rio... O que estou dizendo é que era preciso ter um motivo para a ditadura matar Jango. Qual é a hipótese?
Imaginem se, em 1995, em vez de cuidar do Plano Real, FHC estivesse dedicado a exumar os cadáveres do Estado Novo, que terminou em 1945. Sim, senhores! No ano que vem, o golpe militar completa CINQUENTA ANOS. À diferença do getulismo — de que Goulart era caudatário —, o regime militar não deixou herdeiros políticos; não se constituiu numa corrente de pensamento; não tem presença ativa nos debates e embates ideológicos; não detém lugares de poder. Nada! Se é que o atual PP pode ser considerado, por conta de umas duas três figuras, o herdeiro político da Arena, cumpre lembrar que o partido é um caro aliado do governo petista, com assento na Esplanada dos Ministérios. O czar da economia do regime militar, Delfim Netto, é um dos principais conselheiros econômicos do lulo-petismo. O maior herdeiro intelectual que os militares deixaram, no que concerne à concepção de economia e de estado, é mesmo o... PT!
Ocorre que exumar os restos mortais de Goulart alimenta a fantasia da luta das "forças populares" contra as "forças da reação", do "nós, os bons", contra "eles, os maus"; dos supostos defensores dos interesses nacionais (hoje, como na ditadura, fartamente financiados com dinheiro público) contra os vendilhões da pátria... Vale dizer: desenterram-se mortos, embalados por teorias conspiratórias meio alucinadas, para, de fato, servir aos interesses dos vivos — no caso, de vivaldinos.
Ademais, cumpre perguntar: o político João Goulart fazia mesmo o perfil do herói? O presidente de 1964 se encaixava no figurino de um defensor da democracia? Era zeloso com as instituições? Dosava, então, ousadia e prudência no melhor interesse da população? O líder deposto em 1964 respeitava as instâncias representativas e o estado de direito? Ora, tenham paciência, não é!? Ainda que não houvesse condições de se instaurar a tal República Sindicalista que muitos temiam, o fato é que investiu, com energia e determinação, na República Baguncista.
Afirmar que os militares deram um golpe para preservar a democracia é, obviamente, uma tolice. Sustentar, no entanto, que Goulart fosse um democrata é tolice de igual tamanho. Em 1964, a democracia foi abandonada à própria sorte. Faltavam forças relevantes que a defendessem.
O mais patético nessa conversa, caso nos fixemos na história das ideias, é que o petismo, que está a sustentar essa patuscada toda, se constituiu na contramão de tudo aquilo que Jango representava. Em algum momento da história, o PT representou um sinal de aggiornamento, de modernização, quando se toma o varguismo como referência. O partido, também nesse particular, mudou. E, como não poderia deixar de ser, para pior.
O Brasil deveria estar pensando em 2064. Mas está ocupado em rever 1964. Na prática, um século de atraso.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

"O Petroleo e' nosso"?: demonstracao de atraso - Joao Luiz Mauad

Arautos do Atraso

JOÃO LUIZ MAUAD *

Assistimos nesta segunda feira, durante o leilão de privatização do campo de Libra, a mais uma demonstração de nacionalismo tosco do Sindicato dos Petroleiros, da CUT e de mais uma dezena de organizações e partidos de extrema esquerda. A palavra de ordem era “o petróleo é nosso” ou “estão entregando as nossas riquezas aos gringos”.
“A fundação do primeiro centro de defesa do petróleo, na ABI: para atrapalhar os sonhos dos grandes trustes internacionais” [imagem: VEJA na História]
São sintomas da velha xenofobia terceiro-mundista que, aliada à mais profunda ignorância econômica, trata os recursos naturais como riquezas, mesmo antes de serem retirados do seio da “Mãe natureza”. É claro que, embora as palavras de ordem digam o contrário, a maioria está ali para defender interesses individuais e não o interesse coletivo. O problema é que tais manifestações costumam sensibilizar uma boa camada da opinião pública, completamente ignorante economicamente e, por isso mesmo, suscetível a essas falácias. Tentemos, então, desmistificar um pouco a questão.
O Banco Mundial publicou, em 2006, um extenso e detalhado trabalho intitulado “Onde está a Riqueza das Nações”, cujo objetivo foi medir a participação de três diferentes tipos de capitais – natural (recursos naturais), produtivo (bens de capital) e intangível (capital humano e qualidade das instituições) – na produção de riqueza de 120 países.
Os resultados mostram que, quanto mais desenvolvidas (em termos de renda per capta) são as nações, menos elas dependem dos recursos naturais e mais utilizam os chamados capitais intangíveis na produção de suas riquezas. Neste aspecto, a comparação dos índices verificados entre os dez primeiros e os dez últimos do ranking analisado é bastante ilustrativa. Enquanto a participação dos capitais naturais no produto total de nove dos dez países mais ricos varia entre exíguos 0 e 3% (a exceção é a Noruega, com 12%), nos países mais pobres ela nunca é inferior a 25%. Por outro lado, os capitais intangíveis têm um peso médio superior a 80% nas economias avançadas, à medida que navegam por índices que vão de 40 a 60% na maioria dos dez países mais pobres.
Esses resultados reafirmam, empiricamente, algo de que já se suspeitava há muito tempo: a inexistência de correlação entre desenvolvimento econômico e disponibilidade de recursos naturais. Do contrário, como explicar a prosperidade de nações como Japão, Cingapura e Suíça, por exemplo, localizados em regiões geologicamente pobres e geograficamente inóspitas, em contraste com tantas outras onde o subdesenvolvimento persiste, apesar da relativa abundância de riquezas naturais?
Com efeito, não surpreende que, de toda riqueza produzida no mundo, o estudo do BIRD tenha estimado em apenas 5% a contribuição dos capitais naturais, contra 17% dos capitais produtivos e nada menos que 77% dos intangíveis.
Um excelente referencial da superioridade dos capitais intangíveis sobre os demais está no Oriente Médio. Dentre os Estados árabes daquela região, o mais próspero é exatamente aquele cujas reservas de petróleo são ínfimas. O Emirado de Dubai tem hoje uma economia vibrante, baseada num dinâmico entreposto aduaneiro, no turismo e nos serviços financeiros e de alta tecnologia, enquanto os seus vizinhos, donos de reservas petrolíferas imensas, permanecem socialmente estagnados.
Infelizmente, na contramão da moderna teoria econômica encontram-se também diversas nações dessa (cada vez mais) atrasada América Latina. Apesar de todas as evidências acima, alguns de seus líderes – apoiados por boa parte da opinião pública – mantêm uma fé inabalável na velha lenga-lenga nacionalista (temperada com doses cavalares de marxismo) e insistem no extemporâneo receituário da estatização de empresas e recursos naturais, como se aí estivesse a chave do progresso.
Esses verdadeiros arautos do subdesenvolvimento desprezam o exemplo dos países ricos, especialmente no que concerne às instituições e ao ambiente de negócios. Expressões como Estado de direito, previsibilidade jurídica, respeito à propriedade privada, liberdade econômica, cumprimento de contratos, desburocratização, combate à corrupção, eficiência e parcimônia com o gasto público não têm qualquer significado para eles. Além disso, não aceitam o fato de que o grande protagonista do desenvolvimento é a iniciativa privada, não o governo.
* DIRETOR DO INSTITUTO LIBERAL

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Otaviano Canuto e o atraso mental economico do Brasil - entrevista Denise Crispim Marin

O Brasil não tem só um problema de ineficiência logística, protecionismo comercial, custo-Brasil (ou seja, todas as ruindades juntas) e diversos outros descompassos técnicos e econômicos. Tudo se resolve com políticas correntas, o que poderia ser feito em 6 meses a um ano. Ou seja, tudo é resolvível.
Mas o Brasil tem um problema mais grave, que é o atraso mental de suas elites, não apenas dos dirigentes atuais (esses irrecuperáveis), mas das elites em geral, que são tacanhas mentalmente...
Acho que vai ser difícil corrigir, consertar.
Vai demorar...
Paulo Roberto de Almeida


'O Brasil não pode se fechar'
Denise Crispim Marin
O Estado de São Paulo, 17/10/2013

Além de acentuar o atraso do País, a proteção alimenta o parasitismo e não empurra as reformas necessárias

Não há argumento para convencer Otaviano Canuto de que a proteção comercial traria benefícios para os setores produtivos e para a sociedade brasileira. Ex-secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda na época em que as negociações na Organização Mundial do Comércio, com os Estados Unidos e o restante das Américas.e com a União Europeia estavam em curso, nos primeiros anos do século, Canuto vê a falência desses processos como perda de oportunidades para " o Brasil e a exclusão de sua indústria de cadeias internacionais de valor.
Neste momento em que o "custo Brasil" se soma ao "peso morto" na corrosão da competitividade dos setores brasileiros, Canuto defende o engajamento do País em negociações abrangentes de livre-comércio - não só de bens como de serviços. O relançamento das conversas com os europeus, depois de quatro anos de paralisia, é bem-vinda, em sua opinião. Fechar-se seria a pior opção. A seguir, os principais trechos da entrevista.
O Brasil adiantou-se ao Mercosul e apresentou sua proposta de liberalização comercial para a UE. Quão atrasado o País está?
Antes tarde do que nunca. Dado o impasse na agenda multilateral, proliferaram as iniciativas regionais. Os dois exemplos mais gritantes são as negociações dos Estados Unidos no Pacífico e com a Europa. A Parceria Transpacífico vai garantir o acesso privilegiado dos asiáticos ao mercado americano. Em contrapartida, haverá abertura das agendas de liberalização de serviços, de regras de propriedade intelectual e outras, o que é uma forma de os EUA colocarem pressão sobre a China.
Há dez anos, o Brasil estava envolvido nas negociações na CMC e de liberalização comercial com as Américas e a UE. A ruína desses processos, o desinteresse do Brasil por novas iniciativas e sua omissão na agenda de aprofundamento do Mercosul significaram perdas de oportunidades?
Certamente, houve perda de oportunidades. Apesar de pequenos retrocessos mais recentes na defesa comercial, o mundo orientou-se para a maior liberalidade dos fluxos de comércio. Houve fragmentação geográfica do processo de produção e a emergência das cadeias de valor, que são incompatíveis com as estruturas de proteção comercial. Esse não é o fator dominante para explicar a falta de dinamismo da inserção comercial brasileira. Mas a prejudicou. As exceções do Brasil justamente confirmam a regra. A Embraer está na cabeça de uma cadeia de valor, mas tem a liberdade de montar seus produtos comprando os componentes do exterior.
Como inserir o País nas cadeias de valor se a competitividade está minada pelo custo Brasil?
Os fatores logísticos têm sido impeditivos para a maior competitividade brasileira. Não se pode participar de uma cadeia de valor sem ter logística e meios de transportes adequados, burocracia reduzida, custos baixos para se poder fazer negócio.
É difícil, no Brasil, aceitar que salário real maior possa ser problema, dado o passado de arrocho e o benefício que esse aumento trouxe para a economia.
O salário real mais alto não foi grande problema enquanto se estabeleceu uma relação virtuosa de ampliação da demanda agregada. Mas esse ciclo maravilhoso chegou ao limite, e a evolução do salário acima da produtividade pressiona os ganhos do empresariado.
A desvalorização do câmbio não reduz essa pressão?
A desvalorização recupera um pouco a competitividade dos setores que estavam com seus lucros reduzidos pelos gargalos logísticos. Mas se não houver uma agenda em paralelo de redução do custo Brasil, os ganhos com a desvalorização real não serão suficientes. Os países de baixa renda perceberam que esse custo é, na verdade, um "peso morto".
Na estratégia de liberalização, qual área será central?
Apesar das dificuldades na Organização Mundial do Comércio, a liberalização vai se expandir para a área de serviços por meio dos acordos regionais, e o Brasil não pode ficar atrás nessa corrida. Na OMC, se há uma área com chance positiva na reunião ministerial de Bali, em dezembro, é a de facilitação do comércio. Não por acaso, o embaixador Roberto Azevêdo, diretor-geral da OMC, está concentrando esforços nessa área.
Levando em conta o nosso passivo em produtividade, pesos mortos e custo Brasil, este é o momento adequado para o País se lançar em negociações liberalizantes ou melhor seria se fechar para limpar esse atraso?
Não, pelo amor de Deus, O Brasil não pode se fechar. Fechar-se significaria ficar de fora das cadeias produtivas. O atraso seria maior ainda. O Brasil tem neste momento condição de emprego muito favorável, um sistema de proteção social que eventualmente pode ser usado para apoiar a adaptação da força de trabalho, flexibilidade cambial e estabilidade econômica.
O País deve, portanto, mergulhar em uma agenda abrangente, inclusive de liberalização dos serviços, que são insumos importantes da competitividade industrial
O Mercosul garantiu ao Brasil mercado ampliado e reservado para seus produtos industriais. O bloco deve continuar como prioridade na agenda brasileira?
O Mercosul foi importante. Mas, na relação custo-benefício, o resultado não foi o melhor possível. Gosto de comparar o Mercosul a dois processos. A UE foi um processo político, no qual os países continuam abdicando de soberania.
O outro caso é a integração do Sudeste Asiático, onde só agora, com a integração econômica e comercial consolidada, os governos começam a desenhar o arcabouço institucional do bloco. O Mercosul seguiu a Europa, mas sem a base de cessão de soberania. Com o benefício de olhar para trás, creio que uma base mais pragmática para o Mercosul teria dado melhores resultados. Isso não quer dizer que não se possa tomar, agora, esse caminho.
Pragmatismo significa o abandono da união aduaneira?
Ou reconhecer que, se o desejo dos países é ter tantas exceções à Tarifa Externa Comum, o Mercosul está mais para uma área de livre-comércio do que para união aduaneira. Se os seus países não querem abdicar de soberania, poderiam buscar acordos em conjunto, quando convém, ou criar flexibilidades. A ideia de ter na América do Sul um bloco tão integrado, como é economicamente o Sudeste Asiático ou politicamente a Europa não passa de uma quimera.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Esquerda e direita: a confusao mental que prevalece no Brasil atual - Reinaldo Azevedo

Apenas reproduzo, sem condições, no momento, de fazer qualquer comentário.
Gráficos e tabelas, localizar nas publicações originais.
Paulo Roberto de Almeida

Reinaldo Azevedo, 14/10/2013

O Brasil é a única democracia do mundo que não tem um partido conservador — se quiserem, “de direita” — viável. Única quer dizer exatamente isto: é uma experiência que não se repete em nenhum outro lugar. Todos os partidos se dizem de esquerda ou centro-esquerda ou, como tem virado moda, coisa nenhuma. Entrou para o anedotário político o PSD de Gilberto Kassab, que não é “nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”. A Rede, de Marina, repete essa mesma ladainha, mas aí naquele plano etéreo em que ela flana com suas metáforas sobre sustentabilidade: “nem de situação nem de oposição, mas posição”. O que isso significa? Nada, ora essa! Mas parece ser uma coisa danada de profunda.
Há, sim, no Brasil políticos conservadores — que seriam classificados como “de direita” na Europa, nos EUA e até no Chile, aqui bem perto. Estão em todos os partidos — até no PT. Se a gente fosse botar as coisas na ponta do lápis, Antonio Palocci, como gestor público, certamente tomou mais medidas “de direita” — ou “conservadoras” — do que o tucano José Serra, que continua a ser, no entanto, alvo dos furiosos do PT. A salada partidária no Brasil é grande. E a indefinição ideológica também. Em artigo recente sobre os 25 anos da Constituição, publicado pela Folha, Serra, aquele que os petistas dizem ser “de direita”, mas que sempre esteve mais à esquerda, escreveu algo interessante ao se referir aos confrontos ideológicos na Constituinte:
“Não por acaso, os dois “lados” – esquerda e direita – , com a cumplicidade de sucessivos governos, foram e continuam sendo integrantes ativos do mais consolidado de todos os partidos brasileiros: a Fuce – Frente Única Contra o Erário e a favor das corporações de interesses especiais. Ninguém é mais falsamente de esquerda do que ela. Ninguém é mais falsamente de direita do que ela. Ninguém, a exemplo dela, é tão objetivamente contra os interesses do Brasil e dos brasileiros. Aliás, não é esse o partido mais consolidado e hegemônico do Congresso, 25 anos depois?”
Retomo
Acho a observação boa. O que se convencionou chamar de “direita” no Brasil adora um cartório e uma “Bolsa BNDES”, não é mesmo? O tema é vasto. Faço essas considerações porque a Folha desta segunda traz reportagem sobre pesquisa feita pelo Datafolha identificando a ideologia dos brasileiros. Em seguida, cruzam-se esses dados com a possível opção de voto em 2014. Vejam isto.

Como se vê, o Brasil tem uma maioria relativa de pessoas que se identificam com a centro-direita ou com a direta. Os claramente de direita são quase o triplo dos claramente de esquerda. Não é mesmo impressionante que não exista um partido que vocalize seus valores? Por que não? Ainda se escreverá muito a respeito aqui. Vejam agora como votam essas correntes de opinião.

Como se nota, a variação é pequena. Como se explica? Cuidaremos disso ao longo dos dias. 
Critérios
Quais são os critérios para identificar a ideologia? A reportagem do jornal explica:
Para identificar e fazer os agrupamentos ideológicos dos eleitores, o Datafolha faz um conjunto de perguntas envolvendo valores sociais, políticos e culturais, como a influência da religião na formação do caráter das pessoas e o entendimento sobre as causas da criminalidade. As questões com opiniões mais divididas foram a que tratava da hipótese de pena de morte e a que avaliava a importância dos sindicatos. Metade dos entrevistados (50%) respondeu que não cabe à Justiça matar alguém, mesmo que a pessoa tenha cometido um crime grave, posição mais associada a valores de esquerda.Outros 46% disseram que a pena de morte é a melhor punição para crimes graves, ideia mais ligada à direita. Sobre os sindicatos, 48% responderam que eles servem mais para fazer política do que para defender os trabalhadores (direita). Já para 47%, eles são importantes para defender os interesses dos trabalhadores (esquerda).
Comento
O critério é válido, sim, mas não é perfeito. A esmagadora maioria dos conservadores católicos que conheço se opõe, por exemplo, à pena de morte, que é, como se sabe, aplicada com dedicação e método em países oficialmente comunistas. Nessas horas, há sempre o risco de se identificar o humanismo como um fundamento da esquerda, o que é uma afronta aos fatos.

Em todo caso, creio que a distribuição ideológica no Brasil obedece mais ou menos a esse padrão. É o que se vê e se ouve nas ruas. Vale dizer: há muitos anos, parte considerável do eleitorado brasileiro é órfão de representação. O eleitorado de direita e centro-direita vota na esquerda e na centro-esquerda porque, afinal de contas, não tem em quem votar. De resto, é preciso ser um rematado idiota para considerar que o PSDB é um partido “de direita”. Pode até ser que, sem opção, muitos eleitores de direita acabem escolhendo o mal menor, já que não encontram na política aquela que seria a sua representação natural.
==========

Reinaldo Azevedo, 14/10/2013

Vamos falar mais um pouquinho sobre direita e esquerda. Nesta manhã, escrevi um post sobre a pesquisa Datafolha. A versão online do jornal publicou as perguntas que permitiram fazer a classificação que vai da esquerda à direita. Vejam. Volto em seguida (se preciso, clique na imagem para ampliá-la e facilitar a leitura).

Retomo
Há, já observei, o risco — nesse questionário e em qualquer outro que busque quantificar a população segundo a ideologia — o risco de se confundirem as pessoas generosas com a esquerda, e as mais, digamos assim, severas com a direita. Huuummm… Há uma possibilidade, nesta vereda que abro, de haver um pouco mais de “conservadores” — de direitistas — no Brasil do que aponta a pesquisa. Por quê?
Peguemos as afirmações sobre a posse de armas:
Este seria o primado da esquerda:
Devem ser proibida, pois ameaça a vida de outras pessoas.
Este seria o primado da direita?:
Arma legalizada deve ser um direito do cidadão para se defender
Notem: a arma, qualquer que seja o contexto e o pretexto, efetivamente ameaça a vida de outras pessoas. Esta condição é imanente ao objeto. A rigor, ela existe para isso mesmo. Tendo a achar que essa obviedade deita sua sombra sobre a questão, e a pessoa que responde a questão acaba expressando mais o seu bom sentimento e o seu cuidado do que a suja opinião. Vamos a um exercício? E se a definição da direita fosse esta?
“Arma legalizada deve ser um direito do cidadão; o que é preciso é proibir a arma ilegal”.
Penso que o resultado seria outro. Aliás, o resultado já foi outro. E quem tomou a decisão foi o eleitorado brasileiro. Em 2005, realizou-se o referendo das armas, lembram-se? O que se perguntava? Literalmente:
“O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”.
A campanha começou, e o “Sim” era acachapante. Nunca antes tantas celebridades e tantos decolados se reuniram e favor de uma causa. Bastou ao “não” lembrar que a proibição, por óbvio, acabaria retirando a arma das mãos dos não-bandidos, já que o bandido, por definição, não se preocupa com a legalidade da arma. Diante dessa evidência e dada a incompetência do Estado para impedir a POSSE ILEGAL DE ARMAS, o “não” virou o placar espetacularmente. Saldo final: 59.109.265 rejeitaram a proposta (63,94%), contra 33.333.045 (36,06%) que a aprovaram.
A questão da proibição de armas, portanto, quando aplicada à realidade, quando vista nas suas consequências práticas, empurrou a maioria — quase dois terços — para o que seria uma posição “de direita”. Se é de direita ou não, é preciso ver. Uma coisa é certa: era apenas matéria de bom senso. Ou desarmar os não-bandidos altera a condição dos bandidos?
Tome-se um outro tema espinhoso, como o da migração. A resposta obviamente simpática, “humanista”, é a de que ela contribui para o desenvolvimento e a cultura. Perguntem, no entanto, aos moradores de Brasiléia, no Acre, que sofre uma verdadeira invasão de haitianos em situação ilegal, para ver qual é a opinião. Aposto que a esmagadora maioria dirá que “pobres que migram acabam criando problemas para as cidades”. Isso nada tem a ver com xenofobia, racismo ou discriminação de qualquer natureza. Trata-se apenas de um fato.
O mundo como fato e o mundo como ideia
Chama-se, muitas vezes, de “pensamento de direita” ou “pensamento conservador” o que é nada além de bom senso. Nesse sentido, ideologia, esta sim, é a engenharia social a que se dedicam as esquerdas, ao tentar impor um ponto de vista ancorado em convicções e crenças que insistem em desafiar a realidade. Uma questão, para mim, é emblemática: a criminalidade
Viés de esquerda:
“A maior causa é a falta de oportunidades iguais para todos (36%)”
Viés de direita
“A maior causa é a maldade das pessoas (61%)”
Não gosto da palavra “maldade”. Ela me parece reducionista em excesso. E se as respectivas formulações fossem estas?
Viés de esquerda
“A pessoa não pratica crime porque quer, mas porque não teve melhores oportunidades”
Viés de direita
“Praticar crime é uma escolha; mesmo com uma vida difícil, o certo é se esforçar para vencer na vida”.
Corto a mão — a direita, que é a melhor — se a alternativa “de direita” não chegar a uns 90%. Notem, no entanto, que a opinião “de direita”, mesmo na formulação dada, é amplamente majoritária. A razão é simples, gente! O salário médio pago no Brasil é inferior a R$ 1.800. O pago a universitários (só 17% da mão-de-obra) é de R$ 4.135,06. O dos não-universitários (82,9%) é de R$ 1.294,70. Este pode ser um país rico, mas composto de uma esmagadora maioria de pobres. Onde mora o sujeito que recebe menos de R$ 1.300 por mês? Os esquerdistas do complexo PUCUSP podem não saber — a maioria só conhece pobre de ouvir falar —, mas esse trabalhador sabe que a delinquência é uma escolha, EM QUALQUER CLASSE SOCIAL, não uma necessidade. E sabe porque ELE PRÓPRIO DECIDIU SER DECENTE, APESAR DAS DIFICULDADES.
Estou sustentando que a afirmação de que a pobreza induz a criminalidade é, ela sim, ideologia — uma construção artificial que busca, num primeiro momento, explicar a realidade, tentando, em seguida, substituí-la. Já a afirmação de que é criminoso quem quer, quem decide ser (não se trata de  “maldade”), não é um artifício para explicar o mundo: é um dado da experiência.
“O Reinaldo está afirmando que ser direitista não é ideologia, que isso é uma tendência normal das pessoas, e que que ideologia mesmo é só a esquerda?” Não! Se o Reinaldo quisesse afirmar isso, ele afirmaria isso — ainda que o mundo gritasse o contrário. Estou afirmando, sim, que há uma tendência para demonizar como “coisa de direita” — o que é tomado como sinônimo de anti-humanismo — certas evidências dadas pela experiência.
Encerro com a questão sobre drogas. As esquerdas — no Brasil ao menos — tendem a afirmar que as drogas devem ser liberadas porque, como se lê no questionário, é o usuário que arca com as consequências (George Soros também acha isso…). Ora, basta circular no centro das grandes cidades para saber que a conta é paga por toda a sociedade — e é uma conta crescente, à medida que cresce o discurso da medicalização do problema, com essa mesma sociedade sendo chamada a arcar com os custos das “opções” feitas pelos “usuários” que se tornaram “doentes”.
Se a ideologia ainda é uma espécie de jogo de ocultamento, em que um pensamento, orientado por algum ente de razão — partido, por exemplo —, tenta se sobrepor à evidência dos fatos, então as opiniões da esquerda, com raras exceções, é que merecem essa denominação. Aquelas que são atribuídas “à direita”, na maioria das vezes, são apenas matéria de bom senso. Não fosse assim — e por exemplo, a criminalidade fosse uma consequência das carências sociais —, o Brasil não teria 50 mil homicídios por ano, mas 200 mil. Nos últimos anos, a Região Nordeste cresceu a taxas superiores às do resto do Brasil. Relativamente, ficou menos pobre. E a violência cresceu estupidamente. A afirmação de que a carência induz a violência é ideologia. A constatação de que isso é falso está no mundo dos fatos.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Um pais atrasado, mais mentalmente, do que materialmente. Qual seria?

Augusto Nunes, 13/08/2012

Em sua coluna na última página de VEJA, o jornalista Roberto Pompeu resumiu no trecho reproduzido abaixo o julgamento do mensalão:
Entre a glória e a desmoralização, o Supremo Tribunal Federal equilibra-se num estreito fio. Da denúncia do Ministério Público, em abril de 2006, à sua aceitação pelo relator do processo do mensalão, em agosto de 2007, transcorreram dezesseis meses. Entre a aceitação da denúncia e o início do julgamento, em agosto de 2012, foram cinco anos. Mais quatro meses e, em dezembro de 2012, o julgamento chega ao fim, com 25 condenados. Alívio. Enfim, conseguimos. Não, não conseguimos. Falta a publicação do acórdão. Como ninguém é de ferro, é preciso calma para que cada ministro reveja o texto de seus votos, medite, pondere. Mais quatro meses se escoam.
Em abril, aleluia, o acórdão é publicado. Abre-se o prazo para os réus apresentarem seus recursos. O.k., é rapidinho: só dez dias. Agora, é só marcar o julgamento. Passa um mês, passam dois, passam três, e só no último dia de julho o presidente do Supremo marca para 14 de agosto, esta quarta-feira, o início da nova fase. Os réus já não foram condenados? Foram. As penas já não lhes foram atribuídas? Foram. O que pode mudar, então, com os embargos declaratórios e, quem sabe, se forem aceitos, mesmo com os que atendem pelo assustador nome de infringentes? É o que a plateia gostaria de saber, mas mesmo quem está no palco não sabe responder. Vá explicar a um estrangeiro que um processo se arrasta por seis anos, enfim chega ao fim, mas o fim não é o fim, é um fim que prenuncia um recomeço, e o recomeço sabe-se lá quando terá seu fim. Já nós brasileiros estamos acostumados. É absurdo, claro, mas não é chocante. O Supremo acompanha o passo habitual do país: nada é urgente.
Na abertura do texto, Pompeu de Toledo constata que “o frenesi e o sentido de urgência trazidos pelas passeatas de junho parecem se ter dissipado ao morno solzinho de agosto”. Iniciado o que costuma ser o mais cruel dos meses na política brasileira, exemplifica, “a presidente Dilma proclama seu respeito ao ET de Varginha, e a única questão que mobiliza o Congresso é o projeto de tornar obrigatório o pagamento de emendas apostas por parlamentares ao Orçamento”. E o comportamento da maioria dos ministros ratifica a afirmação do colunista: o tribunal incumbido de julgar o maior escândalo político-policial desde o Descobrimento segue flertando simultaneamente com a glória e a desmoralização.
Na semana passada, o STF decidiu por unanimidade que o senador Ivo Cassol, do PP de Rondônia, merece 4 anos, 8 meses e 26 dias de cadeia pelas patifarias em que se meteu quando foi prefeito de Rolim de Moura. Vitória da luz: pela primeira vez, um inquilino da Casa do Espanto foi condenado à prisão. Mas também ficou resolvido por 6 votos a 4 que ─ ao contrário do que se decidiu no julgamento do mensalão (ou no início da pausa que precederia  outro recomeço) ─ não compete ao STF, e sim ao Congresso, deliberar sobre cassação de mandatos. Vitória da treva: foi oficializado o nascimento do parlamentar presidiário.
O mais recente assombro da fauna tropical pode ser visto há quase dois meses no presídio da Papuda, em Brasília. Chama-se Natan Donadon e começou a cumprir em junho a pena de 13 anos, 4 meses e 10 dias de gaiola, em regime fechado, que lhe foi imposta pelo STF. Mas ainda é deputado eleito pelo PMDB de Rondônia. Nesta segunda-feira, Sérgio Zveiter (PSD-RJ), relator do caso na Comissão de Constituição e Justiça, concluiu o parecer favorável à cassação de Donadon. Até porque está impedido fisicamente de participar das sessões no Congresso, o prisioneiro não demorará a perder o direito de exigir dos vizinhos de cela o tratamento de Vossa Excelência. Nem por isso estará extinta a subespécie que Ivo Cassol vai representar na Casa do Espanto se for absolvido pelos parceiros.
O senador não ficará só. Mesmo depois de oficializada a perda do direito de ir e vir, sobram motivos aos mensaleiros João Paulo Cunha, José Genoino, Valdemar Costa Neto e Pedro Henry para acreditar que continuarão indo e vindo numa Câmara dos Deputados que não pune sequer serial killer de filme americano. Caso sejam forçados a dormir num catre, serão consolados pelo dia a dia de pai-da-pátria. Os parlamentares presidiários ganharão, por exemplo, os maiores salários do sistema carcerário. E trafegarão entre a Praça dos Três Poderes e o presídio a bordo de carros oficiais. Fora o resto.
Nesta quarta-feira, o Supremo começará a examinar os chamados embargos declaratórios. Sem correria. Assim que possível, será a vez dos embargos infringentes. Sempre com a ausência de pressa de quem julga uma pendência entre vizinhos na Suécia, os ministros decidirão se aceitam ou não as manobras protelatórias e as trucagens de bacharel remunerado em dólares. Os quadrilheiros confiam na generosidade dos novos ministros. Se a votação confirmar o otimismo, se alguns réus forem julgados de novo, sobretudo se vier a redução de penas, o Brasil será agredido pela sensação de que a era da impunidade não tem prazo para terminar.

A menos que os manifestantes de junho resolvam estender ao Judiciário, nos atos de protesto programados para o Sete de Setembro, o sentido de urgência que, há poucas semanas, induziu o Executivo e o Legislativo a redescobrirem a cautela revogada pela arrogância. A revolta da rua mostrou-se capaz de fazer qualquer deus de araque criar juízo. Não custa lembrar que sob a toga de ministro do Supremo existe um homem ─ nada além de um homem obrigado a deixar claro que ninguém está acima da lei.
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Da coluna do jornalista Carlos Brickmann, 13/08/2013:


É mas não é. Ou não.

Um grande político baiano, Octavio Mangabeira, cunhou uma frase fantástica: "Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente". Poderia ser mais ambicioso: se o absurdo for realmente absurdo, no Brasil há precedente. Pois não é que o Supremo Tribunal Federal inicia o estudo, hoje, da possibilidade de transformar a última instância em penúltima? Oito meses depois de determinar a sentença dos réus condenados no processo do Mensalão, o Supremo discute se pode ou deve rever a decisão da qual não cabe recurso - mas, se o recurso se chamar embargo, recurso talvez possa haver. Enfim, seja qual for o nome do que está sendo debatido, onze dos 25 condenados podem ter a sentença reduzida. E penas de prisão em regime fechado serão, no caso, modificadas para regime semiaberto.

E assim terminará o caso? Não: o deputado Nathan Donadon foi condenado à prisão em regime semiaberto e já está cumprindo pena. Mas, como o Supremo decidiu que quem pode cassar mandatos é o Congresso, enquanto o Congresso não tomar sua decisão o nobre parlamentar pode exercer a função de deputado durante o dia e virar presidiário à noite, dormindo na cadeia. Dos onze condenados pelo Mensalão cuja sentença pode ser reduzida - ou não - José Genoíno e João Paulo Cunha são deputados. E talvez consigam trabalhar em meio período.


quinta-feira, 20 de junho de 2013

Sobre as manifestacoes de "massa" (talvez muita massa e pouco cerebro) - Rodrigo Constantino

Não tenho tempo, por excesso de trabalho em outras frentes (como revisar um livro de 500 páginas, por exemplo, texto por texto, linha por linha), para comentar os eventos correntes, como se diz, ou seja, dizer o que penso sobre as "manifestações" (triplas aspas) em curso no Brasil, um ajuntamento heteróclito de vontades diversas, caminhando em direções muito diferenciadas, com espertalhões aqui e lá, vândalos em alguns cantos, e muitas pessoas de bem, sinceramente indignadas com o quadro lamentável oferecido hoje no país -- corrupção, desfaçatez de políticos, corrupção, ineficiência das políticas públicas, corrupção, vida cara, corrupção, serviços públicos vagabundos, corrupção, baixo crescimento, corrupção, inflação, corrupção, queda nos indicadores educacionais, corrupção, ameaças às liberdades por dirigentes totalitários, corrupção, etc, e chega, pois eu teria de ficar relatando todos os nossos males e desastres -- não tenho tempo, retomo, para falar de tudo isso, embora meus posts já deixam muito claro o que penso a respeito, pela minha escrita ou a de outros.
Não há muito o que dizer, por enquanto, dessa enorme transpiração, com muito pouca inspiração, a não ser que existe muita confusão mental, em quase todos os participantes, a maioria porque sabe o que não quer, mas ainda não sabe o que quer, exatamente e como conseguir, e uma minoria porque sabe bem o que quer, mas seus objetivos são tão malucos e perversos que nem vale a pena falar deles.
Na falta de tempo, portanto, faço o que mais faço aqui, postar algum material reflexivo.
Aliás, provavelmente 90% do material aqui postado é de terceiros, pois eu não vivo para ficar escrevendo no blog o dia inteiro, fazendo-o apenas nos intervalos ou no curso de leituras rápidas, que me permitem apenas e tão somente fazer comentários iniciais muito rápidos, depois de ler alguma matéria interessante que penso deva merecer registro neste blog (um repositório, ou biblioteca, de ideias e problemas).
Consoante esse espírito, portanto, vou postar uma mensagem de um amigo e um artigo de outro amigo.
Raivosos opositores podem comentar, desde que seja quanto aos argumentos, não atirando sobre o mensageiro, ou xingando o blogueiro, muitas vezes anonimamente.
Esse pessoal é tão canhestro que não consegue conviver com a liberdade de ideias.
Eu, por exemplo, leio tudo o que eles escrevem, mas eles só leem o que eles mesmos escrevem, e quando é diferente ficam com raiva e saem atirando.
Triste. Mas assim é mundo.
Mais da metade do mundo vive sem liberdade e na pobreza, justamente devido a esses energúmenos.
A parte do mundo que é rica e próspera é constituída de democracias de mercado, perfeitamente capitalistas (ainda que com muito besteirol keynesiano).
Dito isto, vamos aos materiais...
Paulo Roberto de Almeida

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Charles de Gaulle, ex-presidente francês, dizia que uma nação se ergue com conhecimento da língua pátria (já que não é possível expressar qualquer compreensão do mundo à sua volta sem conhecer bem sua forma de expressar isso aos outros); alta cultura e cristianismo. (Para quem dúvida que o Cristianismo seja necessário nessa lista, leia o capítulo 5 do evangelho de Mateus e apenas imagine sua aplicação em âmbito nacional...).

O Brasil tem vaguíssima noção dos três, talvez, hoje, zero a respeito de alta cultura...

A política apenas reflete o que está na cultura do país. A cultura é o rio mais profundo que irriga toda uma nação. Uma boa cultura gera excelentes frutos para a política, economia, saúde e para tudo o mais. Cultura não é adorno que se põe sobre uma nação. É o fundamento da mesma, sem o qual nada mais pode ser feito.

Alguém já viu por aí um novo Manuel Bandeira? Um Guimarães Rosa? Um Joaquim Nabuco? Um Machado de Assis? Um Gustavo Corção? Um Carlos Drummond? Um Gilberto Freire? 

Brasileiro sonega imposto, arruma "TV a gato", pirateia o que pode etc. De onde vêm nossos políticos, nossos governantes, se não de nossas próprias casas?

Será uma semana, um mês de protestos suficientes para mudar uma situação que já dura décadas de falecimento cultural segundo o padrão citado por De Gaulle?


Abraços.
Gustavo Carneiro de Mendonça

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Posted: 18 Jun 2013 06:53 AM PDT
Rodrigo Constantino

“A raiva e o delírio destroem em uma hora mais coisas do que a prudência, o conselho, a previsão não poderiam construir em um século.” (Edmund Burke)

Não vou sucumbir à pressão das massas. É claro que eu posso estar enganado em minha análise cética sobre as manifestações, mas se eu mudar de idéia – o que não só não ocorreu ainda, como parece mais improvável agora – será por reflexões serenas na calma de minha mente, e não pelo “linchamento” das redes sociais.

Ao contrário de muitos, eu não vejo nada de “lindo” em cem mil pessoas se aglomerando nas ruas. Tal imagem me remete aos delicados anos 60, que foram resumidos por Roberto Campos da seguinte forma: “É sumamente melancólico - porém não irrealista - admitir-se que no albor dos anos 60 este grande país não tinha senão duas miseráveis opções: ‘anos de chumbo’ ou ‘rios de sangue’...”

Eu confesso aos leitores: tenho medo da turba! Eu tenho medo de qualquer movimento de massas, pois massas perdem facilmente o controle. Em clima de revolta difusa, sem demandas específicas (ao contrário de “Fora Collor” ou “Diretas Já”), o ambiente é fértil para aventureiros de plantão. Um Mussolini – ou um juiz de toga preta salvador da Pátria – pode surgir para ser coroado imperador pelas massas.

Alguns celebram a ausência de liderança, se é mesmo esse o caso. Cuidado com aquilo que desejam: sem lideranças, há um vácuo que logo será preenchido. As massas vão como bóias à deriva. E sem rumo definido, não chegaremos a lugar algum desejado. Disse Gustave Le Bon sobre a psicologia das massas:

Uma massa é como um selvagem; não está preparada para admitir que algo possa ficar entre seu desejo e a realização deste desejo. Ela forma um único ser e fica sujeita à lei de unidade mental das massas. No caso de tudo pertencer ao campo dos sentimentos, o mais eminente dos homens dificilmente supera o padrão dos indivíduos mais ordinários. Eles não podem nunca realizar atos que demandem elevado grau de inteligência. Em massas, é a estupidez, não a inteligência, que é acumulada. O sentimento de responsabilidade que sempre controla os indivíduos desaparece completamente. Todo sentimento e ato são contagiosos. O homem desce diversos degraus na escada da civilização. Isoladamente, ele pode ser um indivíduo; na massa, ele é um bárbaro, isto é, uma criatura agindo por instinto.

Muito me comove a esperança de alguns liberais que pensam que o povo despertou e que será possível guiá-lo na direção do liberalismo. Não vejo isso nos protestos, nas declarações, nos gritos de revolta. Vejo uma gente indignada – e cheia de razão para tanto – mas sem compreender as causas disso, sem saber os remédios para nossos males. Que tipo de proposta decente e viável pode resultar disso?

Estamos lidando aqui com a especialidade número um das esquerdas radicais, que é incitar as massas. Assim como a década de 60 no Brasil, tivemos o famoso e lamentável Maio de 68 na França, quando apenas Raymond Aron e mais meia dúzia de seres pensantes temiam os efeitos daquela febre juvenil. A Revolução Francesa, a Revolução Bolchevique, é muito raro sair algo bom desse tipo de movimento de massas. Os instintos mais primitivos tomam conta da festa. Por isso acho importante resgatar alguns alertas de Edmund Burke em suas Reflexões sobre a Revolução em França, a precursora desses movimentos descontrolados.

Não ignoro nem os erros, nem os defeitos do governo que foi deposto na França e nem a minha natureza nem a política me levam a fazer um inventário daquilo que é um objeto natural e justo de censura. [...] Será verdadeiro, entretanto, que o governo da França estava em uma situação que não era possível fazer-se nenhuma reforma, a tal ponto que se tornou necessário destruir imediatamente todo o edifício e fazer tábua rasa do passado, pondo no seu lugar uma construção teórica nunca antes experimentada?

Não se curaria o mal se fosse decidido que não haveria mais nem monarcas, nem ministros de Estado, nem sacerdotes, nem intérpretes da lei, nem oficiais-generais, nem assembléias gerais. Os nomes podem ser mudados, mas a essência ficará sob uma forma ou outra. Não importa em que mãos ela esteja ou sob qual forma ela é denominada, mas haverá sempre na sociedade uma certa proporção de autoridade. Os homens sábios aplicarão seus remédios aos vícios e não aos nomes, às causas permanentes do mal e não aos organismos efêmeros por meios dos quais elas agem ou às formas passageiras que adotam.

Se chegam à conclusão de que os velhos governos estão falidos, usados e sem recursos e que não têm mais vigor para desempenhar seus desígnios, eles procuram aqueles que têm mais energia, e essa energia não virá de recursos novos, mas do desprezo pela justiça. As revoluções são favoráveis aos confiscos, e é impossível saber sob que nomes odiosos os próximos confiscos serão autorizados.

A sabedoria não é o censor mais severo da loucura. São as loucuras rivais que fazem as mais terríveis guerras e retiram das suas vantagens as conseqüências mais cruéis todas as vezes que elas conseguem levar o vulgar sem moderação a tomar partido nas suas brigas.

São importantes alertas feitos pelo “pai” do conservadorismo. Ele estava certo quanto aos rumos daquela revolução, que foi alimentada pela revolta difusa, pela inveja, pelo ódio. Oportunistas ou fanáticos messiânicos se apropriaram do movimento e começaram a degolar todo mundo em volta. Se a revolução é contra “tudo que está aí”, então quem é contra ela é a favor de “tudo que está aí”. Cria-se um clima de vingança, revanchismo, que é sempre muito perigoso. As partes íntimas da rainha morta foram espalhadas pelos locais públicos, eis a imagem que fica de uma turba ensandecida.

O PT tem alimentado há décadas um racha na sociedade brasileira. Desde os tempos de oposição, e depois enquanto governo (mas sempre no palanque dos demagogos e agitadores das massas), a esquerda soube apenas espalhar ódio entre diferentes grupos, segregar indivíduos com base em abstrações coletivistas, jogar uns contra os outros. Temos agora uma sociedade indignada, mas sem saber direito para onde apontar suas armas. Cansada da política, dos partidos, do Congresso, dos abusos do poder, as pessoas saem às ruas com a sensação de que é preciso “fazer algo”, mas não sabe ao certo o que ou como fazer.

E isso porque o cenário econômico começou a piorar. Imagina quando a bolha de crédito fomentada pelo governo estourar, ou se a China embicar de vez. Imagina se nossa taxa de desemprego começar a subir aceleradamente. É um cenário assustador. Alguns pensam que nada pode ser pior do que o PT, e eu quase concordo. Mas pode sim! Pode ter um PSOL messiânico, um personalismo de algum salvador da Pátria, uma junta militar tendo que reagir e assumir o poder para controlar a situação. Não desejamos nada disso! Temos que retirar o PT do poder pelas vias legais, pelas urnas, respeitando-se a ordem social e o estado de direito.

O desafio homérico de todos que não deixaram as emoções tomarem conta da razão é justamente canalizar essa revolta para algo construtivo. Mas como? Como dialogar com argumentos quando cem mil tomam as ruas e sofrem o contágio da psicologia das massas? Alguém já tentou conversar com uma torcida revoltada em um estádio de futebol? Boa sorte!


Por ser cético quanto a essa possibilidade, eu tenho mantido minha cautela e afastamento dessas manifestações. Muita gente acha que o Brasil, terra do pacato cidadão que só quer saber de carnaval, novela e futebol, precisa até mesmo de uma guerra civil para acordar. Temo que não gostem nada do gigante que vai despertar. Ele pode fazer com que essa gente morra de saudades do "homem cordial". Não se brinca impunemente de revolução. Pensem nisso, enquanto há tempo.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Republica Federativa do Atraso (Mental), e do protecionismo, e do mercantilismo, e do...

várias outras coisas mais.
Incrível como certos ingênuos econômicos (para não acusá-los simplemente de ignorantes) insistem em soluções equivocadas para falsos problemas, e continuam a colaborar para o atraso do país.
Este não é tanto material, quanto sobretudo mental. O atraso material pode ser medido em anos. O mental em décadas.
Infelizmente.
Paulo Roberto de Almeida

Comissão aprova proposta que estimula indústria nacional
Boletim da Liderança do PT na CD, 13/11/2012
A Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio aprovou ontem parecer ao projeto de lei (PL 1770/11), do deputado Vicentinho (PT-SP), que dispõe sobre a obrigatoriedade de as montadoras de veículos utilizarem, na fabricação de seus produtos, 70% de peças produzidas no Brasil.
Ao justificar a proposta, Vicentinho ressaltou o estímulo que a globalização econômica tem dado as grandes montadoras de veículos quanto à concepção, fabricação e distribuição de veículos automotores. Ele lembrou, no entanto, que “há um movimento de integração da produção a nível global o que leva, em muitos casos, que um veículo montado em um determinado país tenha peças de distintas origens nacionais”.
Tal processo, segundo o deputado, tem sido responsável pela perda de muitos postos de trabalho, tanto na indústria automobilística como na indústria de autopeças que sempre deu suporte às montadoras instaladas no Brasil. “Além de estabelecer um percentual de 70% de nacionalização de peças, tendo como base o número de componentes, nossa iniciativa delega ao Poder Executivo a regulamentação dos procedimentos de fiscalização, controle e implementação das medidas”, afirmou Vicentinho. Ele acrescentou que caberá também ao Executivo o estabelecimento de penalidades.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

A "nova geografia do comércio internacional" - Rolf Kuntz

Durante anos, tanto esse gênio do comércio e das finanças internacionais, que era o presidente do "nunca antes", como o seu chanceler -- que sabia que estava falando uma bobagem, mas ainda assim repetia o chefe apenas por sabujice voluntária -- proclamaram uma tal de "nova geografia do comércio internacional". Ela seria constituída pelos fluxos Sul-Sul, diretamente, sobretudo com as novas "parceiras estratégicas" que teriam a virtude de nos "libertar da dependência do comércio" [sic, resic, trisic, do ex-presidente genial] com potências imperialistas, que obviamente só queriam manter-nos no atraso das velhas relações coloniais de comércio. 
O novo "gênio da lâmpada" chegou não apenas a propor um acordo de livre comércio do Mercosul com a China, mas também que esse comércio  se fizesse em moedas locais, ou seja, em reais e em yuans; isso para escapar da "ditadura do dólar", claro, que como todos sabemos, é uma moeda perversa, imperialista, através do qual o Império impõe sua vontade econômica a todos os demais países do mundo. 
Assim, o saldo que ainda temos com a China -- mas isso deve acabar graças às parcerias estratégicas do genial governo com as novas potências do Sul -- seria obrigatoriamente convertido em compras na própria China, como antigamente se fazia na época dos "rentenMarks", quando o comércio entre o Brasil de Vargas e a Alemanha nazista, nos anos 1930, era estritamente bilateralizado. Essa enormidade de inovação econômica e monetária -- endossada na época pelo chanceler submisso, e até hoje pelo ministro que parece que se ocupa das finanças do Brasil -- faria o sistema de pagamentos do Brasil recuar mais de oitenta anos atrás, passando do multilateralismo estabelecido em Bretton Woods, para o sistema de intercâmbio dirigido dos anos da Depressão.
Não é preciso dizer que os companheiros no poder se esforçaram também para sabotar todos os vínculos comerciais com as "potências do Norte" e estimular a tal de "nova geografia". Os asiáticos, que não são bobos, concordaram em vender mais ao Brasil, já que nós nos oferecíamos para abrir nossos mercados, mas continuavam exportando suas manufaturas para todos os mercados abertos, especialmente para os países desenvolvidos: eles já tinham descoberto a "nova geografia" muito tempo antes dos companheiros, e exportavam para todos os mercados solváveis, em lugar de gastar dinheiro com promoção comercial apenas nos mercados do Sul. Para eles, mercados são mercados, e não têm ideologia, cor ou geografia: tudo o que possa comprar é interessante.
O gênio da lâmpada também sugeriu que os nossos importadores fizessem o genial programa brasileira de "substituição de importações", ou seja, deixar de comprar onde fosse mais barato ou de melhor qualidade, para "comprar dos nossos irmãos mais pobres, mesmo que fosse um pouco mais caro", como argumenta esse gênio. O seu criado amestrado logo criou um programa desse tipo em seu ministério, fazendo com que o Brasil pagasse pelo que era dever dos outros: se quer vender, arregace as mangas e vá buscar mercados. Aqui não: nós é que nos dispúnhamos a ir buscar os seus produtos caros para inunda o mercado brasileiro. Genial, não?
O Brasil não é tão atrasado materialmente, como ele é mentalmente atrasado, sobretudo pela mentalidade de certas pessoas que tomam certas decisões. Ainda não experimentamos todas as soluções genias que vão criar para nos trazer de volta aos gloriosos anos do protecionismo generalizado.
Paulo Roberto de Almeida 



A estratégia do atraso

O Estado de S.Paulo, 4 de julho de 2012
Rolf Kuntz
Desta vez, vai. Com o companheiro Chávez no Mercosul e o comércio regional comandado pelo ministro argentino Guillermo Moreno, o Brasil e seus vizinhos vão desemperrar o comércio exterior – se o governo uruguaio, é claro, desistir de contestar a lambança realizada em Mendoza para a admissão da Venezuela. Por enquanto, há alguns probleminhas, mas nenhum com suficiente importância para impressionar a presidente Dilma Rousseff e seus estrategistas. De janeiro a junho as exportações brasileiras para o Mercosul, US$ 11,1 bilhões, foram 14,7% menores que as de um ano antes. Esse resultado é explicável principalmente pela diminuição de 16% nas vendas para a Argentina, a segunda maior economia do bloco e a principal defensora de barreiras comerciais entre sócios de uma união aduaneira. O ministro Moreno aperfeiçoou essa política, impondo mais restrições burocráticas à importação e obrigando os empresários a exportar um dólar para cada dólar importado.
As demais parcerias estratégicas definidas por Brasília continuam funcionando magnificamente e restaurando, em alguns casos, algumas venerandas práticas de outras eras. Os embarques para a China renderam US$ 21,1 bilhões e ficaram 4,7% acima dos registrados no primeiro semestre do ano passado, mas a relação entre a economia chinesa e a brasileira continuou moldada segundo o velho padrão colonial: troca de matérias-primas por manufaturados. Ninguém deve acusar o governo petista de bancar o moderninho e menosprezar o passado.
Segundo as últimas informações disponíveis no site do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, de janeiro a maio o Brasil exportou para a China manufaturados no valor de US$ 892,6 milhões, 5,2% das vendas para aquele mercado. Somando-se os semimanufaturados, chega-se a US$ 2,3 bilhões de produtos industriais, 13,1% do total. O mesmo padrão é observado no comércio com os três parceiros do grupo Bric – Rússia, Índia e China. Os manufaturados vendidos pelo Brasil somaram US$ 1,1 bilhão, 5,5% dos US$ 20,6 bilhões exportados. O total dos industrializados chegou a US$ 3,3 bilhões, 16% do valor faturado pelo Brasil.
Se a presidente Dilma Rousseff examinasse rapidamente outras parcerias comerciais do País, ficaria provavelmente surpresa com um descuido ideológico de seus estrategistas. A diplomacia brasileira esforçou-se bravamente, a partir de 2003, para evitar maior envolvimento com os mercados do mundo rico – especialmente do Império, como diria o líder Hugo Chávez – , mas as vendas para Estados Unidos e União Europeia ainda proporcionam quase um terço da receita (32,2% no primeiro semestre deste ano). Mais que isso: os mercados mais desenvolvidos do mundo se mantêm como grandes compradores de manufaturados made in Brazil.
De janeiro a maio, os americanos compraram US$ 5,1 bilhões de manufaturados brasileiros (45% do total importado) e US$ 2,4 bilhões de semimanufaturados. Os US$ 7,5 bilhões de industrializados corresponderam a 63,8% da receita do Brasil no comércio com o Império naqueles cinco meses.
O intercâmbio com a União Europeia também viola o padrão imaginado pelos salvadores do Brasil. Até maio, as exportações de manufaturados para o bloco europeu chegaram a US$ 7,3 bilhões, 37% do total, e as de industrializados, US$ 10 bilhões, 50,7%. Detalhe interessante: vários países europeus estão afundados em recessão e as vendas brasileiras para a região, no primeiro semestre, US$ 23,9 bilhões, foram 7% menores que as de janeiro a junho do ano passado. Mesmo assim, o mercado europeu é mais propício à indústria brasileira que os mercados dos “parceiros estratégicos”. Os US$ 12,4 bilhões de manufaturados remetidos aos Estados Unidos e à União Europeia entre janeiro e maio corresponderam a 60% do valor de todas as categorias de produtos exportadas para China, Rússia e Índia.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os Kirchners nunca se deixaram iludir pela tentação de um comércio não colonial com americanos e europeus. Graças à sua perspicácia e à visão estratégica de seus assessores, evitaram qualquer compromisso favorável à intensificação dos negócios industriais com as velhas potências dominadoras. Agora, enriquecidos com a inspiradora participação do companheiro Chávez, os governos brasileiro e argentino poderão reforçar os laços com as potências verdadeiramente comprometidas com o futuro da América do Sul, como os Brics e outros parceiros do “Sul”. Mas ainda será possível avançar em outras áreas. Que tal, por exemplo, aumentar os impostos sobre as vendas externas de manufaturados? Mais que um passo, seria um salto na direção de um comércio muito mais parecido com o dos velhos e bons tempos coloniais.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Por uma vez concordo com os companheiros: Nao foi privatizacao, foi concessao...

Por isso, como realmente não foi privatização, mas uma mera concessão, os aeroportos brasileiros vão continuar uma M.... completa.
Podem completar os quatro pontinhos que faltam...


Eu viajo muito, todos sabem: conheço dezenas de aeroportos no mundo inteiro, até no interior da China, no deserto da Mongólia.
Pois bem: em poucos lugares tenho encontrado aeroportos tão primitivos, tão desconfortáveis, tão vagabundos quanto os brasileiros. E estou falando de Galeão, Guarulhos, Brasília, Congonhas, todos uma M.... completa, com perdão das senhoras e crianças aqui presentes...


Pois é, como os companheiros são contra as privatizações, essas M....s de aeroportos vão continuar uma M.... completa, e piorar, claro, pois a M.... vai custar mais caro, podem apostar...
O que é que vocês queriam: eles não privatizaram, isso não.
Entregaram, com o nosso dinheiro (pois o dinheiro do BNDES é nosso, não é?), a fundos de pensão estatais, e a uma empresa de aeroportos da África do Sul, como o Brasil um membro proeminente do grupo Brics, e um exemplo de desenvolvimento econômico, social, tecnológico, enfim, dos irmãos africanos, tudo a ver com a nossa herança histórica, etc...


Por uma vez que queria concordar com o jornalista abaixo, mas não vou poder.
Vou concordar com os companheiros: não foi privatização, foi mera concessão.
Pior, foi uma estatização.
Preparem-se para a M.... em regime de concessão.
E agradeçam aos companheiros, pois vocês não vão estar pagando para capitalistas perversos.
Não, imaginem: vão estar pagando para os companheiros dos sindicatos mafiosos dos fundos de pensão.
Que alívio...
M.... nacional, mais cheirosa...
Paulo Roberto de Almeida 


'Privatização? o que é isso? não, foi concessão', diz o abc do PT

Blog do Augusto Nunes, 9/02/2012

Desde 1997, quando o presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu reduzir o peso e aumentar a eficácia do mamute estatal, o PT fez o que pôde para transformar a privatização no oitavo pecado capital.
Sempre de olho na próxima eleição e de costas para as próximas gerações, a seita chefiada por Lula passou 15 anos enxergando mais uma perfídia infiltrada na “herança maldita” no que foi um notável avanço civilizatório. Graças ao governo FHC, o Brasil ficou menos primitivo.A privatização dos três principais aeroportos informa que os pastores do atraso enfim capitularam, constatei nesta quarta-feira no comentário de 1 minuto para o site de VEJA.
A teimosia insensata da companheirada custou muitos bilhões de reais, desperdiçados pelo governo em remendos, puxadinhos e outros monumentos ao improviso erguidos para distrair a atenção de eleitores tapeados por promessas que seguem acampadas nos palanques.
Os defensores do Estado obeso também consumiram o estoque de paciência de multidões de passageiros flagelados por congestionamentos nos saguões, nas salas de embarque, nas imediações das esteiras de bagagens, nas filas de táxi. O tempo que se perdeu é irrecuperável.
Mas antes tarde do que nunca. “O ‘reposicionamento dos petistas em relação aos aeroportos nos livrou, para todo o sempre, do estelionato eleitoral em torno das privatizações”, registrou o senador Aloysio Nunes Ferreira, do PSDB paulista.
Ainda não, avisa a discurseira de oficiais do PT decididos a provar que, embora os aeroportos tenham sido privatizados, não houve privatização nenhuma. “Querem confundir uma coisa com outra”, ensina o inevitável José Dirceu. “O que houve foi uma concessão”.
O guerrilheiro de festim vive criticando o governo paulista por ter entregue à iniciativa privada, em regime de concessão, a administração das rodovias estaduais. “Os tucanos privatizaram o patrimônio rodoviário”, berra desde o século passado.
É o que acaba de fazer o governo federal com a fatia mais valiosa do patrimônio aeroportuário, mas para isso existe a novilíngua companheira. “Privatização”, no dicionário do PT, virou “concessão”.
O rebanho vai balir como ordenam os guias. Tomara que o eleitorado não seja tão paspalho, ou que já não sejam tantos os brasileiros idiotizados com direito a voto.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

América Latina sempre na contramao da historia (normal, ao que parece...)


"INDÚSTRIA PRECISA ESTAR NUMA CADEIA GLOBAL DE PRODUÇÃO PARA SER COMPETITIVA"!
         
(La Nacion, 05)  1. Carlos Magarinos, ex-diretor da ONU para o Desenvolvimento Industrial, disse que as empresas nacionais que passam a atuar em nível internacional, o fazem através de cadeias globais de valor. "O iPad é um bom exemplo. Os norte americanos desenvolveram e têm os royalties, mas os subcomponentes são fabricados na China e na América Central", explica. "Isso funciona assim no mundo todo". No mundo todo..., menos em alguns países da América Latina, onde se impulsiona a indústria nacional ainda naqueles produtos onde o país não é especialista ou não tem vantagens sobre seus concorrentes, como em celulares, eletrodomésticos e roupas, entre outros.

2. Magarinos disse que a política de substituição de importações na década de 70 e 80 foi projetada para controlar a saída excessiva de divisas, pela queda nos termos de intercâmbio. "Mas hoje não é assim, porque as classes médias na China e na Índia empurram o preço de nossas matérias-primas. As commodities agrícolas são altas e os bens industriais perdem valor, por isso a lógica hoje é ficar em uma cadeia global de produção", opina ele. Parte da América Latina, no entanto, parece estar iniciando um caminho inverso.
(Da coluna diária do ex-prefeito Cesar Maia)

Se ouso acrescentar alguma coisa é que já venho dizendo há mais tempo, há muito tempo: não somos tão atrasados materialmente (já que sempre se pode importar gadgets, tecnologia, know-how), mas sim somo atrasados mentalmente, e muito...
Paulo Roberto de Almeida 

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Brasil: a caminho da introversao produtiva e do stalinismo industrial

O Brasil é um país extraordinário. Numa época em que o mundo se integra de maneira crescente nos mais variados circuitos da globalização -- produtiva, comercial, financeira, educacional, sobretudo mental -- os governantes atuais do Brasil conseguem fazer o país retroceder 40 ou 50 anos, aos tristes dias do stalinismo industrial, quando se requeria plena nacionalização e integração vertical das cadeias para construir, o que se dizia, a máquina industrial brasileira.
Pois bem, essa "máquina"-- que nunca foi muito inovadora, e subsistiu sempre à custa de proteção tarifária, subsídios públicos e uma extensa panóplia de regras definidas pelo Estado -- está sendo agora destruída, não pela concorrência estrangeira, como parecem acreditar os ingênuos (à falta de melhor expressão) que nos governam, mas pelas próprias políticas distorcivas, espoliativas, "extrativas", enfim, estúpidas, do próprio governo (e isso há muito tempo).
O Brasil não tem um problema grave de atraso material, ou de disfunções técnicas, como ele tem um gravíssimo problema de atraso mental, que afeta os políticos em geral, os que estão no governo em particular, e também os capitalistas, que insistem em delegar ao "Robin Hood" que nos governa a direção dos seus assuntos microeconômicos.
O Brasil é um país que caminha rapidamente para a irrelevância industrial e produtiva, graças aos idiotas que nos governam...
Paulo Roberto de Almeida
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Improviso fatal
Miriam Leitão
O Globo, 5/02/2012

O Brasil continua improvisando nas políticas industrial e comercial. Ao tentar encontrar saídas de afogadilho para o déficit que apareceu na balança, e para o magro número da indústria em 2011, tudo o que se consegue no governo é repetir o cacoete: protecionismo, vantagens para lobbies e corporações. O Brasil precisa de uma política atualizada, modernizante.

Elevar barreiras, quebrar acordos, distribuir dinheiro barato e descontos nos impostos é o que se fazia no Brasil pequeno, fechado e pouco sofisticado dos anos 1970. Não é possível que quatro décadas depois só saiam dos ministérios de Brasília exatamente as mesmas propostas. Moderno é entender a lógica da integração das cadeias produtivas pelos países para tirar maior proveito delas, apostar nas vocações, incentivar inovação, investir pesadamente em educação, retirar os obstáculos que reduzem a produtividade e competitividade da economia como um todo. Na ameaça de romper o acordo automobilístico com o México, pelo crescente déficit na balança comercial setorial, ocorreu algo curioso.

Normalmente, o governo atende a todos os pedidos das montadoras. Foi assim com a redução do IPI para os automóveis, a elevação do IPI para os carros importados por montadoras não instaladas no Brasil e os frequentes benefícios que são concedidos ao setor. A indústria automobilística pressionou o governo pedindo vantagens para eles e barreiras para os concorrentes, exibindo para isso os números das importações de automóveis. Falso argumento, porque os maiores importadores são eles mesmos. Estabelecida a barreira e o princípio de que importar é prejuízo, o feitiço voltou-se contra eles mesmos. Agora, o governo quer barrar as importações de carros vindos do México, só que a indústria se organiza de forma integrada no mundo inteiro, distribuindo os modelos por países diferentes e importando de suas próprias fábricas. A indústria soltou nota e esperneou, agora que o protecionismo que sempre pede volta-se contra suas próprias estratégias.

A maioria dos carros importados é das próprias montadoras, como tantas vezes o governo foi alertado pelos que criticaram a elevação do IPI contra o carro importado. A medida foi formatada exatamente para barrar os carros que concorriam com os das montadoras brasileiras, mesmo que representassem uma fração dos que vêm de fora. Aí fica provada a improvisação. Queriam tanto agradar à indústria automobilística que acabaram desagradando- a fortemente, e ela até soltou nota de protesto. Luiz Carlos Mello, ex-presidente da Ford no Brasil, e coordenador do Centro de Estudos Automotivos (CEA), explica como a indústria se organizou: — As empresas nos países são ramos de um mesmo tronco que obedecem à estratégia global das companhias, e isso não é decidido no Brasil. Por estratégia, as empresas decidiram produzir carros diferentes no Brasil, Argentina e México. No Brasil, especializaram- se em produzir carros pequenos e básicos e passaram a importar carros maiores que não são produzidos aqui.

Durante os primeiros anos a estratégia deu superávit para o Brasil no comércio com o México; no último ano virou um resultado negativo de US$ 1,7 bilhão em carros e autopeças. No comércio de derivados de petróleo o Brasil teve um déficit de US$ 10 bilhões. Com o superávit no petróleo bruto, o saldo negativo no setor como um todo cai para US$ 2,3 bilhões. Mas este, pelo visto, não incomoda o governo porque até agora não provocou rompantes de rompimentos de acordos, ou medidas punitivas para a empresa importadora. O episódio mostra que falta a Brasília uma visão geral, integrada e estratégica de como atuar para enfrentar a perda crônica de competitividade da indústria brasileira, que resultou na fraca produção industrial de 2011 e no enorme déficit comercial da indústria. Distribuir pomadas e curativos a alguns setores não resolve o problema.

Escolher campeões — empresas que recebem subsídios para comprar seus concorrentes e sustentar planos de expansão — além de arcaico é indecoroso. Se o dólar sobe, a indústria suspende a reclamação, os números melhoram e o governo comemora. Quando o dólar cai, como agora, recomeça o choro das empresas, os improvisos do governo e a reabertura do balcão de favores. E é essa gangorra de maior ou menor favorecimento que o governo chama de política industrial. É preciso, em qualquer taxa de câmbio, enfrentar os gargalos estruturais que atrapalham empresas de qualquer setor, da indústria, inclusive. O custo trabalhista torna onerosa a contratação em qualquer ramo empresarial porque o trabalho é muito tributado no Brasil. Os impostos são muitos, e o cumprimento das obrigações fiscais, um cipoal burocrático.

A empresa é punida por pagar seus impostos e contratar trabalhadores. O incentivo é para sonegar e livrar-se da mão de obra através de algum artifício. A logística é deplorável num país que tem dimensões continentais. A agenda é antiga, conhecida e de difícil execução. Só que é a única saída e precisa ser iniciada em algum momento.

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Dezoito montadoras terão redução de IPI até 31 de dezembro 
Do MDIC
Brasília, 31 de janeiro de 2012 - Dezoito montadoras poderão usufruir, até 31 de dezembro de 2012, da redução de 30 pontos percentuais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre automóveis de passeio, comerciais leves e caminhões produzidos em suas fábricas instaladas no Brasil, Mercosul e México.
Esse será o percentual de aumento do IPI a partir de 2 de fevereiro, conforme o Decreto nº 7.567/2011, publicado com o objetivo de incentivar a produção nacional de automóveis. A avaliação das empresas foi feita pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) e publicada no Diário Oficial desta terça-feira.
Foram habilitadas as empresas: Agrale S.A, Caoa Montadora de Veículos S.A., Fiat Automóveis S.A., Ford Motor Company Brasil S.A, General Motor do Brasil S.A., Honda Automóveis do Brasil S.A., Internacional Indústria Automotiva da América do Sul Ltda., Iveco Latin América Ltda., MAN Latin América Indústria e Comércio de  Veículos Ltda., Mercedes-Benz do Brasil Ltda., MMC Automotores do Brasil S.A., Nissan do Brasil Automóveis Ltda., Peugeot Citroën do Brasil Automóveis Ltda., Renault do Brasil S.A., Scania Latin América Ltda., Toyota do Brasil Ltda., Volkswagen do Brasil Indústria de Veículos Automotores Ltda., Volvo do Brasil Veículos Ltda.
O aumento do IPI  foi estabelecido pelo Decreto nº 7.567/2011 e vale até 31 de dezembro de 2012. As novas regras para gerir o regime automotivo, no período entre 1º de janeiro de 2013 e 31 de julho de 2016, conforme critérios estabelecidos na medida provisória nº 540/2011, estão sendo estudadas pelo governo.
Exigências
Para receber a habilitação definitiva do MDIC, as empresas cumpriram uma série de exigências técnicas e comprovaram regularidade fiscal, tributária e utilização da Escrituração Fiscal Digital (EFD), nos termos do disposto no Ajuste Sinief nº 2, de 3 de abril de 2009, conforme determinado pela Receita Federal. De acordo com a legislação, estará fora do aumento de imposto os automóveis de passeio, comerciais leves e caminhões que cumpram as seguintes exigências:
• Uso mínimo de 65% de conteúdo regional de peças - autopeças originárias de países-membros do Mercosul serão consideradas como produzidas no país.
• Realização de investimentos em atividades de inovação, de pesquisa e de desenvolvimento tecnológico de produto no país, correspondentes a pelo menos 0,5% da receita bruta total de venda de bens e serviços, excluídos os impostos e contribuições incidentes sobre a venda.
• Desenvolvimento, no país, de pelo menos seis das seguintes atividades:
1.montagem, revisão final e ensaios compatíveis;
2.estampagem;
3.soldagem;
4.tratamento anticorrosivo e pintura;
5.injeção de plástico;
6.fabricação de motores;
7.fabricação de transmissões;
8.montagem de sistemas de direção, de suspensão, elétrico e de freio, de eixos, de motor, de caixa  de câmbio e de transmissão;
9.montagem de chassis e de carrocerias;
10.montagem final de cabines ou de carrocerias, com instalação de itens, inclusive acústicos e térmicos, de forração e de acabamento; e
11.produção de carrocerias preponderantemente através de peças avulsas estampadas ou formatadas regionalmente.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

As duas "América Latinas": a que olha para a frente, a que olha para tras...

Existem duas América Latinas: uma que olha para a frente e outra que olha para trás.
Fácil de identificar: a que olha para a frente, faz acordos de livre comércio e se integra na globalização.
A que olha para trás, retorna a velhas receitas substitutivas, industrializantes, protecionistas.
Nem preciso dizer quais são os países que estão na primeira opção (pois se trata de uma opção, de estadistas responsáveis), e quais estão na segunda, alguns perto de nós.
Vamos estar, no entorno imediato, com governos que vão continuar olhando para trás pelos próximos dez anos pelo menos.
Enfim, líderes e políticos já fizeram opção pelo atraso.
Lamento por eles.
Pena que eu também seja afetado por decisões equivocadas...
Paulo Roberto de Almeida