O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador comércio bilateral. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador comércio bilateral. Mostrar todas as postagens

domingo, 19 de março de 2023

Lula na China: Guerra na Ucrânia e comércio estão entre as prioridades - Ingrid Soares, Rosana Hessel (Correio Braziliense)

Uma matéria que contou com minha colaboração sob a forma de entrevista:  

Lula na China: Guerra na Ucrânia e comércio estão entre as prioridades

Após um ano de conflito no leste europeu, analistas avaliam que o mundo estará de olho nas declarações de Lula e do presidente chinês, Xi Jinping

Ingrid Soares, Rosana Hessel
Correio Braziliense, 19/03/2023 

No encontro bilateral entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente chinês, Xi Jinping, durante a visita de Estado do chefe de Estado brasileiro ao país asiático, entre 26 e 30 deste mês, a guerra entre Rússia e Ucrânia, será um assunto inevitável.

O embaixador Eduardo Saboia, secretário de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, reconhece que o momento para o encontro de Lula e o líder chinês é propício para colocá-los em destaque no cenário global, porque os dois presidentes estarão em evidência e o mundo vai querer ouvir o que eles têm para falar, especialmente após China fazer uma proposta para o fim do conflito e Xi Jinping ir a Moscou visitar o presidente russo, Vladimir Putin, que teve a prisão decretada pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, na Holanda, na sexta-feira.

O diplomata e professor Paulo Roberto de Almeida considera que a viagem de Lula à China tem aspectos potencialmente benéficos ao Brasil, e, ao mesmo tempo, preocupantes no plano político. "O superavit comercial que o Brasil obtém nas suas exportações para a China é absolutamente crucial para equilibrar a balança de transações correntes do Brasil, que é cronicamente deficitária", afirma.

Almeida demonstra otimismo para um bom diálogo bilateral durante a visita de Estado de Lula ao país asiático. Contudo, do ponto de vista político, as coisas se complicaram após a invasão russa da Ucrânia, na avaliação dele.

"À medida em que o Brics (bloco integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), está numa posição incômoda de neutralidade positiva em relação ao presidente russo. Então, não se imagina que países que pertençam ao Tribunal Penal Internacional, como é o caso do Brasil, possam acolher um criminoso contra o qual existe uma ordem de prisão decretada", emenda.

Almeida acha que Putin não deverá comparecer à próxima reunião de cúpula do Brics, em agosto, na África do Sul. "Esse é um aspecto extremamente delicado para o Brasil, porque ele fica em confronto com as demais nações do Ocidente que estão apoiando a Ucrânia. É algo terrivelmente desgastante para Lula. Esse será o aspecto mais delicado na sua visita à China, que é uma apoiadora, ainda que não entusiasta, dessa invasão russa", destaca.

Lucas Fernandes, coordenador de análise política da BMJ Consultores Associados, avalia que o Brasil continuará na linha de neutralidade, apesar de que, em algumas declarações extra oficiais, Lula chegou a culpar a Ucrânia pelo conflito.

"O presidente brasileiro tem uma postura um pouco dúbia, mas quando a gente olha para esse posicionamento, em certa medida, está alinhado com a China. A China é a principal aliada do Putin, e não tem também declarado um apoio formal à Rússia, não tem oferecido armamento mas é um país que não fechou as portas para os russos e que segue sendo o maior parceiro comercial de Moscou", ressalta.

Porém, Fernandes acredita que a viagem não deverá causar atritos diplomáticos com os Estados Unidos e, muito menos, com o presidente norte-americano, Joe Biden, que foi visitado por Lula no mês passado, mas sem a pompa de uma visita de Estado como será na China.

"O Brasil, ao não ter chancelado as sanções econômicas que foram feitas à Russia, fica no terreno da neutralidade. Está alinhado com o comportamento dos demais países do Brics, tentando adotar um tom mediador. Não acredito que essa viagem abale as relações do Lula com o governo Biden."

O especialista da BMJ analisa que o grande foco da viagem está nas relações econômicas com a China. "O governo tem uma agenda ambiciosa de tentar assinar até vinte acordos bilaterais. Eles devem focar, sobretudo, em agricultura. A China é o maior comprador de produtos agrícolas do Brasil, e também em termos de ciência e tecnologia, que são estratégicos. A China é um dos mercados tecnológicos do mundo, logo, acordos de cooperação podem trazer bons incentivos para o Brasil", afirma.

Para ele, na passagem por Xangai, o chefe do Executivo brasileiro deverá fortalecer a posição do Brasil em relação aos Brics, cuja sede fica na cidade chinesa, o que reforça a natureza comercial e política da visita. "Essa, sim, mudou bastante. Na gestão Bolsonaro, o bloco Brics não foi tratado como uma prioridade. Lula tem repensado isso. E a gente deve ver a ex-presidente Dilma Rousseff assumindo a presidência da instituição. Nessa comitiva, também viajam uma série de empresários e políticos, portanto, essa questão da Rússia-Ucrânia, que deve ser tangencial, não é o foco prioritário dessa viagem", complementa.

Wagner Parente, consultor em relações internacionais, também considera que Lula deverá focar mais em questões comerciais e de investimentos nas conversas com Xi Jinping. "O presidente deverá tratar do acordo com a BYD e a Ford na Bahia, além de outras áreas de cooperação. Em relação aos EUA, a diplomacia do PT foi sempre pautada pela independência e na altivez. Essa situação de se equilibrar entre as duas potências no momento deve ser uma tônica dos próximos quatro anos. Entendo que o Brasil vai ser o mais isento possível, tentando um diálogo com seus principais parceiros comerciais".

"Lula tentará trazer de lá compromissos mais concretos de investimentos, mas terá dificuldades para fazer isso, talvez promessas. Mas investimentos concretos acho difícil. A gente vê com algum ceticismo. Talvez novidade em relação ao banco dos Brics", reforça.

FRASE

O superavit comercial que o Brasil obtém nas suas exportações para a China é absolutamente crucial para equilibrar a balança de transações correntes do Brasil, que é cronicamente deficitária"
O diplomata e professor Paulo Roberto de Almeida


sexta-feira, 7 de maio de 2021

Quem ainda fala em “decoupling” das economias dos EUA e da China? - Global Times (Beijing)

 Na verdade, Biden ainda não revisou oficialmente a insana política comercial de Trump, nem a guerra tecnológica que este último deslanchou contra o país asiático, para MAIOR PREJUÍZO das empresas e consumidores americanos. 

Quando vai cessar a loucura?

Paulo Roberto de Almeida 

 

Global Times, Pequim – 7.5.2021

China-US trade rises 50% Jan-Apr, highlighting inseparable bilateral economic ties

 

Trade between China and the US continued an upward trend in the past four months, official data showed, highlighting inseparable economic relations between the two countries, although a political chill still exists.  

In the first four months of the year, China’s trade with the US rose 50.3 percent year-on-year to 1.44 trillion yuan ($222.8 billion), making the US its third largest trading partner after the Association of Southeast Asian Nations (ASEAN) and EU economies, according to data from the General Administration of Customs on Friday.

China’s exports to the US rose 49.3 percent while imports gained 53.3 percent, and the trade surplus with the US was 653.89 billion yuan, an increase of 47 percent.

Although growth slowed a little bit compared to the two countries' trade rise in the first three months of this year, it is still “under expectation” in the eyes of several Chinese economists, who stressed that it shows that China is still in a stable position to implement the China-US phase one trade deal.

The large increase in imports and exports between China and the US shows that both sides have demand, Tian Yun, vice director of the Beijing Economic Operation Association, told the Global Times, adding that China is implementing the China-US phase one trade deal, but China will increase demand accordingly, instead of blindly expanding imports to the US. 

He said China-US relations will be in a state of “political chill and economic heat” this year, and the balance of trade between China and the US requires the US to liberalize rather than restrict exports to China.

The growing surplus shows that the reason cited by the former Trump administration to collect tariffs from China is “groundless,” Gao Lingyun, a trade expert at the Chinese Academy of Social Sciences in Beijing, who closely follows China-US trade issues, told the Global Times on Friday.

He said the widening data is in contrast with US ambitions to reduce the gap — one of the key motivations for former US president Donald Trump to launch the trade war with China.

Currently, most of the tariffs remain in place under the new Biden administration.  

The reason why there is still a big jump for China’s exports to the US is the demand on exports of anti-epidemic materials, and growing imports is due to the fact that China is in progress of completing the China-US phase one trade deal, and rising prices brought by depreciation of the dollar is also one of the pushes for growing imports, Gao added.

US Trade Representative Katherine Tai said on Wednesday that she expects to engage "in the near term" with Chinese officials to assess the implementation of the China-US phase one trade deal, and the outcome will affect how the Biden administration deals with punitive tariffs imposed on Chinese goods, Reuters reported.

As the US government has expressed an expectation of holding a dialogue with leading Chinese trade officials for a review of the phase one trade deal — the first time since US President Joe Biden took the White House — Chinese experts urged the US to remove at least part of the punitive tariffs imposed on Chinese products to show sincerity for the trade deal's smooth implementation.

China-US trade spiraled up by a striking 61.3 percent in yuan terms in the first quarter of this year to reach 1.08 trillion yuan. This growth outpaced all of China's other major trading partners including Japan, the EU, and ASEAN economies.


quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Quem diria: a relação especial com Trump e os EUA fez chabu: comércio numa baixa histórica em 11 anos - Victor Irajá (Veja)

 Comércio entre Brasil e EUA atinge pior marca em 11 anos

Por Victor Irajá
Veja, 14 out 2020

Relação de Bolsonaro com Trump não se refletiu em números, afetados pela combinação dos efeitos da crise causada pela pandemia e restrições comerciais

Em maio do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro exaltou a parceria comercial com os Estados Unidos, o que definiu como um realinhamento da diplomacia brasileira em relação ao país presidido por Donald Trump. “O Brasil de hoje é amigo dos Estados Unidos, o Brasil de hoje respeita os Estados Unidos e o Brasil de hoje quer o povo americano e os empresários americanos ao nosso lado”, disse o presidente brasileiros antes de de adaptar seu bordão: “Termino com meu chavão de sempre. Brasil e Estados Unidos acima de tudo, Brasil acima de todos”. Os números comprovam que, ao Norte, o negócio não é bem assim. De acordo com um relatório divulgado pela Amcham Brasil, o comércio bilateral entre Brasil e Estados Unidos até o mês de setembro registrou, em 2020, o pior resultado dos últimos 11 anos. Entre janeiro e setembro, os dois países transacionaram 33,4 bilhões de dólares, uma redução de 25,1% em relação ao mesmo período do ano passado. O relatório aponta fatores principais para explicar a forte redução das trocas bilaterais.

O fator mais óbvio é a pandemia, que provocou uma queda expressiva no consumo da população e da necessidade das empresas por produtos oriundos da exportação brasileira. Mas outros fatores provocam uma reflexão sobre as diretrizes do Itamaraty de Ernesto Araújo. A China, atacada de frente por membros do governo, ampliou sua participação no mercado brasileiro como principal parceiro comercial do país. De acordo com o relatório, o país asiático representa 28,8% de todas as transações do Brasil. A queda no preço do petróleo, também graças à Covid-19, também teve impacto significativo nos resultados. O último fator envolve uma política protecionista do mandatário americano, que restringiu a entrada de produtos da siderurgia brasileira para proteger a indústria nacional. Em agosto, já com as eleições de novembro na cabeça, Donald Trump anunciou que cortaria em mais de 80% a importação de aço brasileiro até o fim do ano. O governo Bolsonaro devolveu com complacência: renovou, sem qualquer contrapartida, isenção de tarifa de importação sobre o etanol americano, enfurecendo os produtores locais. 

Segundo a análise, no acumulado do ano, as exportações brasileiras para os EUA caíram 31,5% em comparação com igual intervalo de 2019, alcançando o total de 15,2 bilhões de dólares. É o menor valor para o período desde 2010. Em termos relativos, os EUA foram o mais afetado entre os 10 principais destinos de exportação do Brasil em 2020. Foram sete bilhões de dólares a menos em exportações. A taxa de queda foi quatro vezes maior do que a redução das exportações totais do Brasil para o mundo. Por outro lado, as importações brasileiras vindas dos Estados  Unidos despencaram neste terceiro trimestre, com redução de 41,6% em relação a 2019. Entre janeiro e setembro de 2020, as importações totalizaram 18,3 bilhões de dólares, uma queda de 18,8%. Apesar da forte redução do comércio bilateral, os EUA seguem como o segundo principal parceiro comercial do Brasil. 

No início do mês, a Amcham havia traçado cenários para os impactos das eleições americanas para a política externa e as relações comerciais do Brasil. A instituição alerta para um maior caráter de defesa de uma política nacional-desenvolvimentista e protecionista do republicano em relação ao candidato democrata Joe Biden, cujo partido é mais historicamente ligado aos ideais globalistas. Segundo o documento, sob a liderança de Trump, os Estados Unidos se tornaram mais avessos ao multilateralismo e à atuação de organismos internacionais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC), a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização das Nações Unidas (ONU).  Trump, aponta o relatório, também tem sido crítico de alguns acordos de livre comércio firmados pelos Estados Unidos (como o NAFTA e a Parceria Transpacífica) e tende a privilegiar negociações bilaterais em detrimento de negociações que envolvam múltiplas partes. Por lá, é Estados Unidos acima de todos. 

https://veja.abril.com.br/economia/comercio-entre-brasil-e-eua-atinge-pior-marca-em-11-anos/

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Brasil fornece maior superávit comercial para os EUA (Valor)

Brasil é país com quem EUA têm maior avanço no superávit comercial

Conta positiva para Washington cresce em U$S 3,6 bi, com venda maior de gasolina

Barral: pequeno crescimento pode ter impacto na importação de insumos — Foto: Luis Ushirobira/ValorBarral: pequeno crescimento pode ter impacto na importação de insumos — Foto: Luis Ushirobira/Valor
Barral: pequeno crescimento pode ter impacto na importação de insumos — Foto: Luis Ushirobira/Valor 
Valor Econômico, 22/01/2020

No primeiro ano de aproximação do governo de Jair Bolsonaro ao de Donald Trump, o Brasil deve se firmar como o país que mais contribuiu positivamente para a balança comercial dos Estados Unidos em 2019, considerando os pares com que os americanos têm superávit. Segundo especialistas, ainda é cedo, porém, para cravar que o movimento é fruto do alinhamento político dos líderes. 
Pelas contas de Washington, os EUA tinham um saldo positivo com o Brasil de US$ 11,3 bilhões até novembro, ante US$ 7,7 bilhões em igual período de 2018. Um cenário bem diferente da balança comercial americana geral, que estava deficitária em US$ 786 bilhões nos 11 primeiros meses de 2019, um cenário constantemente evocado por Trump ao justificar a guerra tarifária com a China. 
A expansão de US$ 3,6 bilhões do superávit americano com o Brasil é bem superior à de US$ 1,7 bilhão para o Peru, que aparece em segundo lugar entre as maiores contribuições de 2019. Pelos dados dos EUA, as exportações ao Brasil crescem 8,8% - de US$ 36,3 bilhões entre janeiro e novembro de 2018 para US$ 39,5 bilhões em 2019 -, enquanto as compras americanas de produtos brasileiros recuam 1,4% (de US$ 28,7 bilhões para US$ 28,3 bilhões). 
Especialistas observam que a pauta do comércio entre EUA e Brasil não mudou significativamente em 2019, mas chama a atenção o crescimento da venda de combustível americano ao Brasil, que avançou 35% até novembro de 2019, para US$ 7,7 bilhões, sempre de acordo com o governo americano. Com isso, o produto, que é o principal item de exportação dos EUA ao Brasil, passou de uma participação de 16% para 19% no total das vendas para o país. 
“Como o preço da gasolina caiu, o que deve ter ocorrido é um aumento de volume”, diz Lia Valls, pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). 
Uallace Moreira, professor de economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) que analisou a balança comercial entre Brasil e EUA no período de 2000 a 2014, explica que, a partir de 2015, a Petrobras começou a focar suas exportações em óleo cru, o que contribuiu para que as importações de derivados de petróleo aumentassem significativamente. 
Além disso, há questões regionais. “O refino na Europa tem caído e a América Latina não tem capacidade de atender o mercado brasileiro. O refino hoje cresce na Ásia, mas, por logística, não compensa importar, então o mais favorável é mesmo se voltar para os Estados Unidos”, diz Moreira. 
Eric Farnsworth, vice-presidente do centro de estudos Council of the Americas, também cita o petróleo, mas acrescenta outros fatores. “Mudanças de curto prazo na balança comercial provavelmente são causadas por alterações nas taxas de juros domésticas, no câmbio e em commodities específicas, como o petróleo, em que os Estados Unidos agora se tornaram exportadores líquidos, e não importadores”, afirma. 
Na avaliação de Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da Barral M Jorge, houve ainda “um pequeno crescimento da economia brasileira”, o que pode ter impactado o aumento da importação de insumos, sobretudo de combustíveis. Ele lembra que, incluindo etanol, combustíveis representam 30% das compras brasileiras dos EUA. 
Moreira afirma que, se as previsões do mercado para um crescimento econômico brasileiro acima de 2% neste ano se confirmarem, a demanda por esse tipo de produto vai aumentar. 
Por usar metodologia diferente - que não leva em conta custos como frete e seguro, por exemplo -, os números do Brasil são distintos daqueles computados pelos Estados Unidos, mas não contrariam a tendência de ganho de espaço das importações americanas no país. 
Os EUA representaram 17% da pauta de importações do Brasil em 2019, atrás da China, com 20%. No ano passado, as compras de produtos do país asiático cresceram US$ 540,4 milhões, somando US$ 35,3 bilhões. Embora o volume americano total seja menor (US$ 30,1 bilhões), o acréscimo de US$ 1,1 bilhão em importações ante 2018 foi o maior entre os países com que o Brasil tem relação comercial. 
Com isso, pelas contas brasileiras, as trocas com os americanos aprofundaram seu déficit de US$ 271,1 milhões em 2018 para US$ 525,5 milhões no ano passado - a balança fechou 2019 com superávit de US$ 46,7 bilhões. 
Apesar dos avanços, o Brasil ainda representa apenas 2,5% dos destinos das exportações americanas. Moreira destaca o maior alinhamento do último governo, de Michel Temer, e, principalmente, do atual com o mercado americano, na comparação com os anos do PT na Presidência, mas pondera que, “do ponto de vista de gerar crescimento, ainda é cedo para avaliar”. 
Mesmo agora, a relação entre os dois países não é linear. No fim de 2019, Trump anunciou que reinstalaria tarifas ao aço exportado do Brasil, acusando o país de desvalorizar artificialmente sua moeda. Dias depois, Bolsonaro anunciou que ligara para Trump e que o presidente americano desistira do plano. “Os Estados Unidos são um parceiro importantíssimo. Podem ter certeza que nossa balança comercial crescerá muito nos próximos anos”, disse Bolsonaro à época. 
Mudanças mais significativas não devem ocorrer no próximo um ou dois anos, pondera Peter Hakim, presidente emérito da organização Inter-American Dialogue. “Foram necessários dois anos de negociações para fazer mudanças modestas no acordo de livre-comércio EUA-México-Canadá de 25 anos. E o Brasil precisa resolver sua relação com o Mercosul”, diz. 
Segundo ele, a ampliação do comércio EUA-Brasil depende ainda do desenrolar da agenda de reformas brasileira e do acordo entre Mercosul e União Europeia. 
“Para 2020, com a temporada de eleições nos EUA em andamento, será importante que os dois governos trabalhem juntos para definir o tipo de relacionamento comercial e econômico de longo prazo que desejam ter entre si”, acrescenta Farnsworth.

sábado, 29 de março de 2014

Brasil-Argentina: destravando o comercio bilateral (?) Alguem acredita? - Estadao

Vejam os temos da matéria: 
- assinatura de um memorando de entendimento (ou seja, depende...);
- os dois países se comprometeram a "analisar a possibilidade de emitir títulos em moeda nacional (ou seja, a coisa é meio teórica...);
- esse é o "primeiro passo para destravar o comércio entre os países" (quantos passos mais serão necessários para simplesmente cumprir o tratado do Mercosul?);
se estuda a criação de instrumentos de hedge cambial (xiii, esquece...);
Não há um valor estipulado previamente... (ou seja, vai ter de começar tudo outra vez...);
- os dois países vão trabalhar para colocá-lo em prática... (mas o que é que fizeram, mesmo, os dois ministros?).
Bem, esquece, OK...
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil e Argentina assinam acordo para destravar comércio bilateral

Governos tentarão mitigar os riscos cambiais, por meio de instrumentos financeiros, e agilizar os trâmites alfandegários


28 de março de 2014 | 21h 29
Fernando Travaglini - Agência Estado
COSTA DO SAUÍPE - O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, anunciou na noite desta sexta-feira, 28, a assinatura de um memorando de entendimento com a Argentina para facilitar o comércio entre os dois países. Em acordo assinado com o ministro da economia argentino, Axel Kicillof, os dois países se comprometeram a "analisar a possibilidade de emitir títulos em moeda nacional com correção cambial em prazos compatíveis" com os financiamentos à exportação. Reafirmaram ainda que vão "agilizar" os trâmites alfandegários.
Segundo o ministro brasileiro, esse é o "primeiro passo para destravar o comércio entre os países", que passa por dificuldades recentes em função tanto de restrições impostas pela Argentina quanto pela escassez de dólares. "Os dois governos se comprometem em atuar como facilitadores de operações financeiras privadas", disse Borges.
Como explicou o ministro, o que se estuda é a criação de instrumentos de hedge cambial, que funcionarão como garantia para viabilizar os financiamentos à exportação já existentes no mercado privado. Esses mecanismos de proteção poderão ser públicos ou privados, completou Borges, sem dar detalhes. "Os governos vão estimular uma estrutura de proteção cambial do lado do importador", disse o ministro.
Pelo acordo, caso não haja disponibilidade de instrumentos financeiros para mitigar os riscos cambiais, após a concretização de um empréstimo ao exportador, com prazo mínimo de 90 dias, os dois países se comprometem a "analisar a possibilidade de emitir títulos em moeda nacional com correção cambial em prazos compatíveis com os previstos" pelos financiamentos.
Ainda segundo o memorando assinado, os países reafirmaram o "compromisso de entrada no país importador dos fluxos comerciais", garantindo "agilidade aos trâmites administrativos e aduaneiros". Esse ponto tenta reverter a demora na liberação de produtos brasileiros por parte da alfândega argentina.
Não há um valor estipulado previamente para esses mecanismos, mas o ministro afirmou acreditar que um montante ao redor de US$ 2 bilhões será suficiente para dar liquidez ao comércio bilateral entre Brasil e Argentina. O memorando vale a partir de hoje, e os dois países vão trabalhar para colocá-lo em prática. 

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Brasil-Argentina: de volta ao mercantilismo

A noção de que comércio bilateral precisa ser equilibrado é tão mercantilista, mas tão mercantilista, que parece que o Brasil e a Argentina voltaram ao século XVII, quando ainda nem existiam enquanto países. Deve ser isso: os países não existem, e os burocratas fazem o que bem entendem com os seus empresários, obrigando-os a se submeterem a suas ordens, que desprezam totalmente o desempenho, o mérito, a competitividade construídos pelas próprias empresas. No limite, isso se chama fascismo econômico: empresários privados tendo de seguir ordens e desejos de burocratas estatais.
As pessoas nem percebem que estão sendo perfeitamente fascistas...
Assim segue o mundo do fascismo introjetado...
Paulo Roberto de Almeida

11 DE JUNHO DE 2012 - 8H46 

Mercosul: Brasil quer equilibrar comércio com Argentina


As barreiras comerciais impostas pelo governo de Cristina Kirchner para proteger a indústria argentina, que provocaram fortes críticas de autoridades e empresários brasileiros, começam a gerar um novo rumo na relação comercial entre os vizinhos. Se até agora a resposta brasileira tem sido retaliar pontualmente produtos argentinos, que esperam semanas por autorização de ingresso na fronteira, negociações recentes indicam maior disposição em equilibrar o comércio com o país.


Nos últimos meses, o governo argentino tem buscado frear o ritmo das importações e conter a saída de moeda estrangeira do país, que ameaça a balança de pagamentos. Com isso, adotou medidas de controle de capital e mais barreiras comerciais que levaram o país novamente à mesa de negociação com os vizinhos.
 
Na última sexta-feira (08), em Buenos Aires, o governo argentino anunciou que o Brasil se comprometeu a importar, a partir de julho, camarões e cítricos argentinos, produtos que, segundo a secretária de comércio exterior do país, Beatriz Paglieri, tradicionalmente tiveram problemas para ingressar no Brasil. Outra pauta de negociação foi o acesso de medicamentos argentinos ao mercado brasileiro. Representantes das agências de vigilância sanitária de ambos os países devem se reunir nas próximas semanas.

“O que as duas instituições vão analisar é uma maior integração destes mercados para ver onde podemos ter maior cooperação. O Brasil tem lei de genéricos e a Argentina está começando a se organizar para entrar neste mercado”, explicou aos correspondentes brasileiros em Buenos Aires o secretário-executivo do ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Alessandro Teixeira.

Em consonância com os esforços para aumentar o fluxo de importações provenientes da Argentina, a Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) defende o aumento do apoio ao país vizinho: “Equilibrar o comércio é difícil, mas não é uma missão impossível. Podemos comprar mais da Argentina, importando menos de outros países.”, afirmou ao Ópera Mundi o diretor-adjunto de Relações Internacionais da Fiesp, Thomaz Zanotto.

Segundo ele, “a posição da Fiesp é clara e baseada em fatos concretos”: “A Argentina é um dos maiores clientes de produtos brasileiros, comprou 20 bilhões de dólares de manufaturados no ano passado, mas se encontra em uma situação financeira muito parecida com a do Brasil da década de 1980, e é de interesse do Brasil ajudá-los a superar esta fase”, afirma ele, ponderando sobre a necessidade de apoiar o país na maximização do superávit de sua balança comercial e aumento da captação de dólares.

Em um estudo divulgado em maio, a Fiesp também constatou que 24% dos empresários brasileiros optam por importações oriundas de outros países por desconhecerem fornecedores argentinos nos setores de alimentos, bebidas, autopeças, farmacêuticos, químicos e máquinas. O levantamento foi realizado com 221 empresas importadoras de 38 produtos identificados pelo governo argentino como “prioritários” para o aumento do comércio com o Brasil.

Além da realização de rodadas de negócios já iniciadas entre potenciais fornecedores argentinos e empresários brasileiros, Zanotto diz que a Fiesp está levantando a potencialidade de maior comércio de itens argentinos de alto valor, como navios, produtos petroquímicos e combustíveis. Como possibilidade mais remota, menciona a ideia de que ambos os países passem a realizar a troca comercial em moedas locais em vez de dólares.

Queixas

Apesar dos sucessivos recordes anuais no fluxo de comércio entre os países, que somou 39,6 bilhões de dólares em 2011, o Brasil segue tendo superávits consecutivos sobre a Argentina, que aumentou em 1,7 bilhões seu déficit na balança bilateral em relação a 2010, quando registrou uma diferença de 4,1 bilhões de dólares. 

Apesar da queda no fluxo comercial provocada pelo aumento do controle argentino às importações no início do ano e a baixa do ritmo de crescimento de ambas as economias em um contexto global de crise, o Brasil obteve um novo recorde de exportações no primeiro quadrimestre, somando 74,6 bilhões de dólares. Entre os principais compradores no período, a Argentina aparece como terceiro, superada somente pela China e pelos Estados Unidos.

Dentre as queixas de exportadores brasileiros às medidas protecionistas argentinas, estão a demora na liberação de produtos na fronteira, que muitas vezes superam o prazo de 60 dias determinado pela OMC (Organização Mundial do Comércio) e a necessidade de uma autorização da Receita Federal do país para cada importação desejada por empresários argentinos.

O governo brasileiro, por sua vez, recorre a licenças não automáticas para produtos argentinos como vinhos, batatas congeladas e frutas para pressionar o governo de Cristina Kirchner a pôr um fim às barreiras comerciais. O problema já afeta produções de ambos os lados da fronteira, tanto no setor de alimentos, passando por sapatos, eletrodomésticos, automóveis e atingindo até máquinas e bens de capital.

Casamento

Ao anunciar o compromisso na melhora do fluxo comercial, após a reunião bilateral em Buenos Aires, Teixeira afirmou esperar reciprocidade argentina no cumprimento dos prazos de liberação dos produtos parados na fronteira. No entanto, definiu a relação com a Argentina como um “casamento” e afirmou que países com trocas comerciais intensas “sempre têm problemas”.

“Nossas exportações de valor agregado vêm para a Argentina, independente da época e do governo que aqui esteja. Isso é muito claro, independente de quem é o governo do Brasil e da Argentina, estas relações existem, existirão e serão fortes”, garantiu, enfatizando a importância da integração produtiva e concluindo que a melhora da economia argentina beneficiará os negócios brasileiros.

Segundo o secretário, apesar de questionamentos sobre a falta de “dureza” do governo, o foco de atenção e a postura nas relações com a Argentina vêm mudando, devido ao aumento de investimentos brasileiros no país. “No ano passado, a Argentina atraiu cerca de sete bilhões de dólares de investimento e pelo menos 35% a 40% disso são brasileiros. Do ponto de vista de relacionamento, já não somos um mero vendedor para a Argentina, somos um dos principais investidores”, afirma.

OMC

As declarações mútuas para solucionar os entraves entre os sócios estratégicos, no entanto, se restringe aos países membros do Mercosul. Diversos países de fora do bloco mostraram menos paciência com o protecionismo argentino e apresentaram, no fim de março, um documento à OMC no qual exigiam que a Argentina cumprisse as regras do comércio internacional.

Um dos pontos de repúdio dos países que assinaram a queixa, entre eles Estados Unidos e membros da União Européia, remetia a um controle não oficial segundo o qual os empresários devem exportar o mesmo valor importado. Com a lógica de que cada dólar que sai deve voltar para o país é a mesma que levou o governo argentino a controlar a compra da moeda norte-americana no país: evitar a fuga de divisas.

Diretor da consultora econômica Analytica, Ricardo Delgado, classifica seu país como um “fugitivo em série de capital”. Segundo ele, o dólar é um dos totens da política econômica argentina e a recomposição das reservas financeiras na moeda, geradas pelas medidas governamentais, pode ser o início de uma flexibilização das restrições sobre as importações.

“O governo sabe que neste mundo de semelhante inter-relação produtiva entre os países, não é possível manter permanentemente esta política de compensação de dólares importados e exportados”, afirmou ao Ópera Mundi, em relação ao recrudescimento das barreiras comerciais impostas pela Argentina, que se agravaram nos últimos meses. “A intensificação das medidas são claramente um sistema de transição. Não se pode pensar a política externa de um país a partir disso”, garante.

Segundo Delgado, no entanto, os problemas comerciais estruturais na relação bilateral se devem a assimetrias entre ambas as economias e escalas de produção diferentes, levando a um quadro de difícil solução. Outro fator apontado por ele são os diversos programas de subsídios que tornam a indústria brasileira mais competitiva. “Isso é uma coisa que o Mercosul não resolveu e não resolverá nunca”, diz.

Apesar disso, Delgado considera necessárias algumas precauções tomadas pelo governo argentino. “O país não podia continuar em um ritmo de crescimento anual de 40% das importações e de 20% de exportações, porque geraria uma crise de dólares. Então taticamente este cuidado está bom”, afirma, antes de esclarecer que o processo de restrições às importações poderia ser feito de maneira mais criteriosa com sócios estratégicos como o Brasil.

Fonte: Ópera Mundi

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Brasil quer que China cometa os mesmos pecados protecionistas em que incide...

Não se trata, obviamente, de alguma frase usada e abusada do tipo "é a homenagem que o vício presta à virtude", mas sem dúvida o governo brasileiro quer obrigar os companheiros chineses -- são companheiros, pois não? -- a cometerem os mesmos pecados contra seus interesses nacionais a que ele obriga os industriais brasileiros -- para desgosto da FIESP, por exemplo -- no confronto com o protecionismo deslavado argentino: conter "voluntariamente" as exportações, um eufemismo tosco para dizer o seguinte: "olha aqui pessoal, se vocês não se comportarem, vou ser obrigado a usar meu arsenal protecionista e anti-ricardiano".
Patético, não é mesmo?
Sobretudo quando, como informa a matéria da BBC, o superávit bilateral brasileiro equivale a quase dois quintos de todo o superávit comercial brasileiro (mas, shrinking fast...).
Mas é a isso a que estamos assistindo nesse balé pouco diplomático, feito de meias palavras e intenções plenas, mas que não vão dar resultado, obviamente.
Ou alguém imagina o governo chinês dizendo a seus dinâmicos capitalistas: "Olha aí, pessoal, contenham-se, não exportem muito para o Brasil porque senão o governo deles vai querer abusar do protecionismo contra vocês" ?
Não imagino, eu pelo menos não. No máximo ele pode dizer: calma, pessoal, não façam dumping muito deslavadamente, pois isso pode virar contra vocês. De resto, virem-se, o mundo é de vocês e viva a globalização...
Paulo Roberto de Almeida 

Brasil e China discutem temas sensíveis sem chegar a acordo
Terra Notícias, 13 de fevereiro de 2012 • 18h55 •  atualizado 19h49

Os problemas comerciais entre Brasil e China foram amplamente discutidos nesta segunda-feira durante a segunda reunião da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), mas nenhum acordo foi anunciado pelos dois países, que apesar de terem incrementado a corrente de comércio acumulam reclamações recíprocas.
O vice-presidente Michel Temer, que representou o governo brasileiro, pediu que os chineses façam um "dimensionamento voluntário das exportações" para o Brasil, principalmente em setores sensíveis. "Nos preocupamos com o aumento maciço e indiscriminado de produtos chineses no mercado brasileiro e somos obrigados a registrar que ocasionam deslocamentos da produção brasileira", discursou Temer para a comitiva chinesa.
O dimensionamento voluntário pedido pelo Brasil serve justamente para proteger setores como o têxtil e calçadista e evitar que sejam adotadas medidas drásticas como a adoção de salvaguardas contra produtos chineses, segundo disse a jornalistas um diplomata que participou das negociações da Cosban.
O vice-primeiro ministro chinês, Wang Qishan, que chefiou a delegação chinesa, assumiu o compromisso de aumentar as importações de bens manufaturados brasileiros para a China, mas não se comprometeu publicamente a controlar as exportações chinesas. "A parte chinesa vai continuar a aumentar a importação de produtos de alto valor agregado do Brasil", afirmou em breve declaração à imprensa no final do encontro.
Segundo um diplomata, que pediu para não ter seu nome revelado, o governo chinês entendeu "perfeitamente" o recado brasileiro e se comprometeu tratar a questão com "urgência". Apesar disso não ficou acertado nenhum mecanismo ou cotas. Ele contou que os chineses reclamaram das recentes medidas adotadas pelo governo brasileiro na área automobilística, aumentando o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre carros que não tenham pelo menos 60% de conteúdo nacional. "Dissemos que essa era uma medida temporária", disse o diplomata brasileiro.
Brasileiros e chineses também falaram sobre problemas específicos da Vale e da Embraer, mas nos dois casos também não houve grande avanço. No caso da Embraer, o governo brasileiro voltou a pedir que a China acelere as liberações de entrada dos aviões já encomendados e que a autorização para produção do jato Legacy naquele país seja concedida. Os chineses disseram que estão analisando os pedidos e que já tinham permitido a entrada de 14 aeronaves E-190, segundo uma fonte do governo que participou das reuniões.
O governo brasileiro também pediu que os chineses permitissem a atracação dos supercargueiros usados pela mineradora Vale e argumentaram que as embarcações tinham sido fabricadas na China e, portanto, não havia motivo para restrições. Segundo relato da fonte do governo, que falou sob condição de anonimato, os chineses alertaram que eram responsáveis "pelo aço e a pela mão-de-obra" usados para fabricar os supernavios, mas não pelo seu projeto. A fonte diplomática disse que há espaço para negociações em relação aos supercargueiros, dependendo de cada transporte, e que as restrições são por questões técnicas e não comerciais.
Economia internacional
Os dois países voltaram a reafirmar que querem ter posições conjuntas no âmbito internacional e nos fóruns do G20 e no grupo dos Brics, que também inclui Índia, Rússia e África do Sul.
"As duas partes concordaram que na atual conjuntura internacional de grande complexidade a tarefa mais importante é assegurar a recuperação da economia mundial. A China e o Brasil como dois grandes emergentes devem reforçar a nossa cooperação", afirmou Qishan. Na reunião que manteve com a presidente Dilma Rousseff, o chinês informou que o primeiro-ministro Wen Jiabao comandará a comitiva chinesa na Cúpula da Rio+20 no Brasil.
O governo brasileiro tem se esforçado para atrair o maior número de chefes de Estado e de governo para a Conferência das Nações Unidas Sobre o Desenvolvimento Sustentável, que será realizada no Rio de Janeiro em junho.
=========

Brasil pede à China que controle exportações ao país

Atualizado em  13 de fevereiro, 2012 - 19:18 (Brasília) 21:18 GMT
Wang Qishan e Michel Temer. ABr
Qishan e Temer participaram da segunda reunião da Cosban; eles voltarão a se reunir ainda este ano
O vice-presidente Michel Temer cobrou nesta segunda-feira a China a controlar o fluxo de produtos chineses vendidos ao Brasil, para evitar prejuízos à indústria nacional.
"Nos preocupamos com o aumento maciço e indiscriminado de produtos chineses no mercado brasileiro, o que, somos obrigados a registrar, ocasiona o deslocamento da produção brasileira", afirmou Temer, em discurso durante o segundo encontro da Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação (Cosban), em Brasília.
Em seu discurso, antes do almoço com o vice-premiê chinês, Wang Qishan, Temer disse ter solicitado à China que considere um "eventual dimensionamento voluntário" das exportações chinesas ao Brasil.
Segundo um diplomata brasileiro, o Brasil está preocupado com os efeitos de exportações chinesas de baixo custo sobretudo nos setores têxtil e calçadista, num momento em que a crise na Europa e nos EUA faz com que exportadores recorram ao mercado brasileiro para escoar sua produção.
O diplomata diz que, no encontro, o governo brasileiro defendeu que os dois países orientem seu comércio bilateral de modo a explorar a "complementariedade das economias". Em outras palavras, o Brasil gostaria que as exportações chinesas se concentrassem nas áreas em que a indústria nacional não é capaz de atender às demandas do mercado doméstico.
Temer também se queixou do predomínio de matérias-primas (commodities) nas exportações brasileiras à China. A reclamação ecoa posição expressa pela presidente Dilma Rousseff em viagem a Pequim em abril de 2011
À época, Dilma afirmou que o Brasil gostaria de exportar aos chineses mais produtos industrializados, com maior valor agregado. Hoje, os principais itens exportados pelo Brasil à China são minério de ferro, soja e petróleo, responsáveis por quase 80% das vendas brasileiras ao país asiático.
Segundo um diplomata brasileiro, durante a reunião da Cosban, a comitiva chinesa se comprometeu a trabalhar para atender às duas reivindicações do Brasil.
Antes do almoço e da declaração à imprensa, Wang se reuniu com a presidente Dilma Rousseff e com empresários brasileiros.

Queixas chinesas

No encontro com os chineses, o governo brasileiro também ouviu queixas. De acordo com o Itamaraty, o Brasil foi cobrado pela decisão de aumentar em 30 pontos percentuais o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos importados que não usem ao menos 65% de componentes fabricados no Mercusul.
Adotada em setembro, a medida afetou principalmente montadoras chinesas e coreanas.
Segundo o Itamaraty, o governo chinês afirmou que gostaria de dialogar sobre a decisão e sobre formas de aumentar o uso de componentes fabricados no Mercosul em carros chineses.
No encontro, Temer disse ainda ter tratado do interesse brasileiro em ampliar a venda de carnes de frango, boi e porco à China, bem como da venda de aviões da Embraer ao país asiático.
Segundo o Itamaraty, já foi confirmada a compra de 13 das 35 aeronaves da Embraer cuja venda foi acordada na viagem de Dilma à China, em 2011.
Outros temas tratados no encontro, de acordo com Temer, foram a facilitação à instalação de empresas brasileiras na China, o andamento de acordo para que a China receba ao menos cem estudantes brasileiros intercambistas (no âmbito do plano Ciências Sem Fronteiras) e a crição de centros culturais Brasil-China.

Cosban

Criada em 2004, a Cosban é a comissão de mais alto nível entre os governos do Brasil e da China, responsável pelo acompanhamento de diferentes áreas do relacionamento bilateral. Integram sua estrutura onze subcomissões, encarregadas dos campos político; econômico-comercial; econômico-financeiro; de inspeção e quarentena; de agricultura; de energia e mineração; de ciência, tecnologia e inovação; espacial; de indústria e tecnologia da informação; cultural e educacional.
A comissão deveria se reunir a cada dois anos, mas este foi o segundo encontro – o anterior ocorreu em 2006. Nesta segunda-feira, Temer disse ter solicitado que o próximo encontro ocorra até o fim de 2012. Segundo ele, o vice-premiê chinês concordou com a sugestão.
Desde 2009, a China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2011, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, as trocas bilaterais alcançaram US$ 77,1 bilhões, com superavit brasileiro de US$ 11,5 bilhões.
O superávit comercial brasileiro com a China equivale a 38% do superavit global do Brasil.