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quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Brasil fornece maior superávit comercial para os EUA (Valor)

Brasil é país com quem EUA têm maior avanço no superávit comercial

Conta positiva para Washington cresce em U$S 3,6 bi, com venda maior de gasolina

Barral: pequeno crescimento pode ter impacto na importação de insumos — Foto: Luis Ushirobira/ValorBarral: pequeno crescimento pode ter impacto na importação de insumos — Foto: Luis Ushirobira/Valor
Barral: pequeno crescimento pode ter impacto na importação de insumos — Foto: Luis Ushirobira/Valor 
Valor Econômico, 22/01/2020

No primeiro ano de aproximação do governo de Jair Bolsonaro ao de Donald Trump, o Brasil deve se firmar como o país que mais contribuiu positivamente para a balança comercial dos Estados Unidos em 2019, considerando os pares com que os americanos têm superávit. Segundo especialistas, ainda é cedo, porém, para cravar que o movimento é fruto do alinhamento político dos líderes. 
Pelas contas de Washington, os EUA tinham um saldo positivo com o Brasil de US$ 11,3 bilhões até novembro, ante US$ 7,7 bilhões em igual período de 2018. Um cenário bem diferente da balança comercial americana geral, que estava deficitária em US$ 786 bilhões nos 11 primeiros meses de 2019, um cenário constantemente evocado por Trump ao justificar a guerra tarifária com a China. 
A expansão de US$ 3,6 bilhões do superávit americano com o Brasil é bem superior à de US$ 1,7 bilhão para o Peru, que aparece em segundo lugar entre as maiores contribuições de 2019. Pelos dados dos EUA, as exportações ao Brasil crescem 8,8% - de US$ 36,3 bilhões entre janeiro e novembro de 2018 para US$ 39,5 bilhões em 2019 -, enquanto as compras americanas de produtos brasileiros recuam 1,4% (de US$ 28,7 bilhões para US$ 28,3 bilhões). 
Especialistas observam que a pauta do comércio entre EUA e Brasil não mudou significativamente em 2019, mas chama a atenção o crescimento da venda de combustível americano ao Brasil, que avançou 35% até novembro de 2019, para US$ 7,7 bilhões, sempre de acordo com o governo americano. Com isso, o produto, que é o principal item de exportação dos EUA ao Brasil, passou de uma participação de 16% para 19% no total das vendas para o país. 
“Como o preço da gasolina caiu, o que deve ter ocorrido é um aumento de volume”, diz Lia Valls, pesquisadora da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV). 
Uallace Moreira, professor de economia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) que analisou a balança comercial entre Brasil e EUA no período de 2000 a 2014, explica que, a partir de 2015, a Petrobras começou a focar suas exportações em óleo cru, o que contribuiu para que as importações de derivados de petróleo aumentassem significativamente. 
Além disso, há questões regionais. “O refino na Europa tem caído e a América Latina não tem capacidade de atender o mercado brasileiro. O refino hoje cresce na Ásia, mas, por logística, não compensa importar, então o mais favorável é mesmo se voltar para os Estados Unidos”, diz Moreira. 
Eric Farnsworth, vice-presidente do centro de estudos Council of the Americas, também cita o petróleo, mas acrescenta outros fatores. “Mudanças de curto prazo na balança comercial provavelmente são causadas por alterações nas taxas de juros domésticas, no câmbio e em commodities específicas, como o petróleo, em que os Estados Unidos agora se tornaram exportadores líquidos, e não importadores”, afirma. 
Na avaliação de Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Brasil e sócio da Barral M Jorge, houve ainda “um pequeno crescimento da economia brasileira”, o que pode ter impactado o aumento da importação de insumos, sobretudo de combustíveis. Ele lembra que, incluindo etanol, combustíveis representam 30% das compras brasileiras dos EUA. 
Moreira afirma que, se as previsões do mercado para um crescimento econômico brasileiro acima de 2% neste ano se confirmarem, a demanda por esse tipo de produto vai aumentar. 
Por usar metodologia diferente - que não leva em conta custos como frete e seguro, por exemplo -, os números do Brasil são distintos daqueles computados pelos Estados Unidos, mas não contrariam a tendência de ganho de espaço das importações americanas no país. 
Os EUA representaram 17% da pauta de importações do Brasil em 2019, atrás da China, com 20%. No ano passado, as compras de produtos do país asiático cresceram US$ 540,4 milhões, somando US$ 35,3 bilhões. Embora o volume americano total seja menor (US$ 30,1 bilhões), o acréscimo de US$ 1,1 bilhão em importações ante 2018 foi o maior entre os países com que o Brasil tem relação comercial. 
Com isso, pelas contas brasileiras, as trocas com os americanos aprofundaram seu déficit de US$ 271,1 milhões em 2018 para US$ 525,5 milhões no ano passado - a balança fechou 2019 com superávit de US$ 46,7 bilhões. 
Apesar dos avanços, o Brasil ainda representa apenas 2,5% dos destinos das exportações americanas. Moreira destaca o maior alinhamento do último governo, de Michel Temer, e, principalmente, do atual com o mercado americano, na comparação com os anos do PT na Presidência, mas pondera que, “do ponto de vista de gerar crescimento, ainda é cedo para avaliar”. 
Mesmo agora, a relação entre os dois países não é linear. No fim de 2019, Trump anunciou que reinstalaria tarifas ao aço exportado do Brasil, acusando o país de desvalorizar artificialmente sua moeda. Dias depois, Bolsonaro anunciou que ligara para Trump e que o presidente americano desistira do plano. “Os Estados Unidos são um parceiro importantíssimo. Podem ter certeza que nossa balança comercial crescerá muito nos próximos anos”, disse Bolsonaro à época. 
Mudanças mais significativas não devem ocorrer no próximo um ou dois anos, pondera Peter Hakim, presidente emérito da organização Inter-American Dialogue. “Foram necessários dois anos de negociações para fazer mudanças modestas no acordo de livre-comércio EUA-México-Canadá de 25 anos. E o Brasil precisa resolver sua relação com o Mercosul”, diz. 
Segundo ele, a ampliação do comércio EUA-Brasil depende ainda do desenrolar da agenda de reformas brasileira e do acordo entre Mercosul e União Europeia. 
“Para 2020, com a temporada de eleições nos EUA em andamento, será importante que os dois governos trabalhem juntos para definir o tipo de relacionamento comercial e econômico de longo prazo que desejam ter entre si”, acrescenta Farnsworth.

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