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sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

General Santos Cruz: a podridão moral dos olavo-bolsonaristas - J. R. Guzzo

Guzzo não aponta o dedo para os autores, apenas se refere ao escabroso episódio, mas cabe, sim, dizer claramente quem, quais foram os indecentes e criminosos responsáveis por um dos mais abjetos momentos de um governo que chafurda num pântano de intrigas e maledicências.
Os filhos do capitão e aquele guru destrambelhado que se expatriou estão diretamente implicados, com a ajuda de milicianos da guerra eletrônica clandestina, nesse que foi o maior, mas apenas o segundo (antes tinha ocorrido um similar contra Gustavo Bebbiano) episódio de um macabro festival de torpezas de um governo que vive imerso nesse mar de sandices políticas.
Esses personagens são uma espécie de figurantes de baixíssima qualidade de dramas shakespeareanos do submundo das torpezas políticas, algo indigno até para o baixo nível desse ajuntamento de ambições pessoais que se pretende uma administração pública.
O prosseguimento das investigações policiais deveria permitir chegar aos criminosos, mas os seus mandantes já se sabe que são.
Paulo Roberto de Almeida

Guzzo: "Episódios como o do general Santos Cruz são um desastre para o governo Bolsonaro".
Quer dizer que falsários têm acesso ao presidente da República, para lhe mostrar conversas telefônicas de um dos seus ministros não apenas gravadas ilegalmente, mas também falsificadas? J. R. Guzzo, via Gazeta do Povo:

O presidente da República, naturalmente, tem o direito de confiar em quem quer e de desconfiar de quem ele acha que não merece a sua confiança. Tem, como é óbvio, o direito de nomear e demitir os seus próprios ministros, sem ter de pedir licença para o Congresso, o Poder Judiciário ou os outros ministros da sua equipe. Não tem a obrigação, enfim, de explicar por qual motivo nomeou ou demitiu este ou aquele ministro – embora esse tipo de justificativa certamente acabe ajudando a tornar o seu governo e as suas decisões mais compreensíveis para o público pagante.

Com tudo isso, a demissão do general Santos Cruz do cargo de ministro da Secretaria de Governo, em junho do ano passado, permanece um episódio em aberto. Seria melhor, para todos, que estivesse fechado. Mas não está.

Como foi amplamente divulgado na ocasião, vieram ao conhecimento geral, um pouco antes de sua demissão, umas fitas gravadas de conversas pessoais do general Santos Cruz no qual sua voz – ou o que foi apresentado como sua voz – dizia uma série de barbaridades contra o presidente Jair Bolsonaro e membros de sua família.

O general, desde o começo, disse que era tudo mentira. Nunca tinha falado nada daquilo – mesmo porque, no momento em que as gravações foram feitas, ele estava dentro de um avião, isolado do resto do mundo, viajando para São Gabriel da Cachoeira, nos confins da Amazônia. Não adiantou muito, ou não adiantou nada.

O presidente da República, em vez de aceitar a palavra de um oficial general do Exército brasileiro, aparentemente acreditou no que diziam as fitas – anônimas na ocasião e anônimas até agora, do ponto de vista da sua autoria. Nunca, pelo menos, ninguém disse o contrário.

Tudo poderia ficar por isso mesmo se não fosse um detalhe: as gravações foram forjadas. Uma longa perícia da Polícia Federal, que acaba de ser divulgada, comprovou que as fitas com acusações ao presidente Bolsonaro foram uma obra de falsificadores. É uma história para lá de péssima. Quer dizer que falsários têm acesso ao presidente da República, para lhe mostrar conversas telefônicas de um dos seus ministros não apenas gravadas ilegalmente, mas também falsificadas?

Bolsonaro não precisa de gravação nenhuma, verdadeira ou falsa, para demitir um ministro de Estado; basta que não tenha mais confiança nele, ou simplesmente não o queira mais no ministério. Mas do jeito que esta história ficou, não é possível, positivamente, achar que está tudo bem, e que não aconteceu nada demais.

Há um lado escuro no governo do presidente Bolsonaro. Claro que há. Não adianta nada ficar inventando uma “transparência” que não existe em governo nenhum do mundo – por que iria existir aqui? Quem faz este tipo de observação, na verdade bem simples, é normalmente descrito nos círculos do governo, na melhor das hipóteses, como um idiota que não sabe do que está falando. Nos demais casos é classificado como mais um inimigo do presidente e aliado oculto dos que torcem pela desgraça do país.

Não se trata de uma coisa e nem de outra, Trata-se apenas de dizer o óbvio: episódios como o do general Santos Cruz são um desastre para o governo.

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Bolsonaro não acreditou na palavra de Santos Cruz. Acreditou nas fitas e demitiu um ministro que é general do Exército. J. R. Guzzo, em sua coluna publicada pelo Metrópoles:


O general Santos Cruz foi demitido do seu cargo de ministro da Secretaria de Governo, em meados de 2019, por ter dito uma série de coisas horríveis a respeito do presidente Jair Bolsonaro– ou era isso, pelo menos, que aparecia em fitas gravadas de suas conversas. Na ocasião, o general negou que tivesse dito quaisquer dessas coisas. Nem poderia, explicou ele, porque no momento em que foram feitas as tais gravações, estava dentro de um avião, voando sobre a Amazônia, sem contato com o mundo exterior.

Bolsonaro não acreditou na palavra de Santos Cruz. Acreditou nas fitas e demitiu o ministro, pouco depois de ter tomado conhecimento delas. Agora, uma perícia da Polícia Federal prova que as fitas foram forjadas – Santos Cruz nunca disse o que disseram ao presidente que ele havia dito. Como é que vai ficar isso, então?

É perturbador que um ministro de Estado seja demitido de seu cargo com base na violação criminosa de suas comunicações. É mais perturbador ainda que falsificadores de conversas trafeguem nos mais altos círculos da República, a ponto de fornecerem ao presidente Bolsonaro o conteúdo de suas fraudes. É perturbador, enfim, que o presidente prefira acreditar em falsários e não na palavra que lhe foi dada por um oficial-general do Exército brasileiro – e o pior de tudo será que tudo fique por isso mesmo, com a admissão de que há um lado escuro dentro do governo e que este lado pode agir com impunidade, mesmo depois da comprovação de suas ações.


Quem são os falsificadores? Da próxima vez que vierem com um golpe parecido, o presidente da República vai acreditar neles outra vez? Não se trata de pequenas intrigas de palácio – e sim da atividade de uma gangue que forja conversas para obter objetivos claramente definidos. Quem está seguro, se essa gente continuar em ação?

Um comentário:

Bosco Soares disse...

O presidente Jair Bolsonaro sabe quem são essas pessoas. O ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional deve ter falhado, ou ficou convenientemente calado.