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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 10 de março de 2024

Entrevista de Edmar Bacha (Brazil Journal): Declarações-bomba contra Lula e o PT - comentários de Maurício David

Brasil poderia deslanchar, mas Lula põe empresários na defensiva, diz Bacha


Entrevista ao Brazil Journal, 10/03/2024


Eleitor de Lula no pleito de 2022, o economista Edmar Bacha diz que o Brasil tem oportunidades “extraordinárias,” mas não as está aproveitando por falta de confiança de empresários e investidores na economia. E todo mundo sabe o que está gerando este clima: o próprio comportamento e as decisões do Presidente. “Lula ainda tem na cabeça que o Estado deve forçar o investimento das empresas e usar seus instrumentos para fazer com que isso aconteça,” Bacha disse nesta entrevista ao Brazil Journal. É o caso da Vale, que Lula e trata como se ainda fosse estatal apesar de ter sido privatizada há 26 anos. O economista diz que o ministro do Trabalho “age como um sindicalista dos anos 1930” ao tentar regular os aplicativos, e que a política industrial anunciada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin vai afastar o Brasil ainda mais das cadeias internacionais de valor. Mas para Bacha, nem tudo são espinhos no governo Lula. Ele elogia a gestão de Fernando Haddad – “Está tudo errado na área econômica, com exceção da parte fiscal” – a nomeação de Nísia Trindade Lima para a Saúde e as iniciativas do presidente na área social. “Lula faz um bom trabalho nessa área.” Bacha diz que o País terá que fazer a reforma do Estado, outra reforma da Previdência, e aumentar a eficiência dos programas sociais. Mas se o Governo insistir nas ideias atrasadas, é o próprio PT que pagará o preço. “O Lula não entendeu que o mandato dele é muito restrito. Se o bolsonarismo for minimamente competente e apresentar um candidato razoável, por exemplo, o Tarcísio de Freitas [governador de São Paulo], o Lula vai ter que ralar para ser reeleito.” Abaixo, os principais trechos da entrevista. 

 

Como o senhor avalia a gestão do governo Lula? 

 

Acho que o Haddad está conseguindo segurar as pontas. Basicamente, é disso que se trata, enfrentar o “fogo amigo” dentro do governo e o “fogo inimigo” no Congresso. Bolsonaro realmente deixou esse horrível legado. Outro dia vi o gráfico da proporção das emendas dos parlamentares no Orçamento Geral da União [R$37,6 bilhões, metade do total previsto para investimento em 2024].

 

Foi boa ideia acabar com o teto de gastos?

 

Não foi bom acabar com o teto, mas, tendo visto todos os furos de que o teto foi vítima, era preciso conceber alguma coisa nova. O Haddad conseguiu, dentro das circunstâncias, conceber algo aceitável para Lula e o PT. A gente não pode esquecer que este é um governo do Lula e do PT. Dentro desse constrangimento, acho que ele fez o melhor possível. O governo tem diversas dimensões. A política externa, por exemplo, é um absurdo. 

 

Por quê?

 

Porque é um absurdo que Celso Amorim, que é antiamericano radical desde sempre, esteja no comando da política externa. Estamos apoiando Vladimir Putin, Nicolás Maduro e Xi Jinping, e fazendo coisas unilaterais no Oriente Médio, quando deveríamos tentar fazer o meio de campo. 

 

Que papel o Brasil poderia ter no conflito entre Israel e Palestina?

 

Temos condições internas para fazer o meio de campo no Oriente Médio porque essas questões estão razoavelmente pacificadas no Brasil. A lei antirracismo, por exemplo, foi proposta por Afonso Arinos de Melo Franco e aprovada em 1951. Naquela época, os EUA ainda tinham “apartheid”. Estamos purgando os pecados do passado, mas enfim, somos uma sociedade misturada e temos honra de sermos assim. Obviamente, há um problema terrível de distribuição de renda que a gente precisa enfrentar, mas que está sendo trabalhado. Lula faz um bom trabalho nessa área. Imagine ter a Nísia Trindade Lima no Ministério da Saúde. Isso é uma verdadeira prenda! Então, há coisas boas no governo.

 

O que o preocupa além da política externa?

 

Lula ainda tem na cabeça que o Estado deve forçar o investimento das empresas e usar seus instrumentos para fazer com que isso aconteça. Ele não tem mais as estatais na mão porque elas foram privatizadas. Lula quer entrar na Vale porque a companhia não está investindo tanto quanto ele queria. Ele entrou na Petrobras. O presidente [Jean Paul Prates] que ele nomeou quer comprar de volta refinarias privatizadas [durante os governos Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro]. Está querendo, também, comprar os postos de gasolina de volta [a BR Distribuidora foi privatizada em 2019]. Isso é absurdo! A Petrobras tinha que estar focada para fazer o que sabe fazer bem, que é a exploração de petróleo. É uma empresa estatal, então, precisa ter uma super governança. A Lei das Estatais [aprovada na gestão Temer] tentou fazer isso, mas, hoje, essa lei está sob ataque do Lula e dos petistas. Vejo problemas também no Ministério do Trabalho. 

 

Por quê?

 

O ministro do Trabalho [Luiz Marinho] age como um sindicalista dos anos 1930. Ele acha que está fazendo a consolidação das leis do trabalho para um Brasil que estaria começando a se industrializar e a se urbanizar… Ele pressionou de todas as formas para fazer a chamada, entre aspas, regularização da atividade dos entregadores de aplicativos. Os entregadores reagiram, dizendo: “Não queremos essa regularização”. O pessoal do PT tem uma mentalidade atrasada. 

 

Como o senhor avalia a política industrial lançada pelo governo? 

 

A esta altura da partitura, aumentar a tarifa sobre importação, os requisitos de conteúdo local e a preferência para compras governamentais são decisões contrárias ao aumento da produtividade da economia. Está tudo errado na área econômica, com exceção da parte fiscal. A reforma tributária passou muito bem no Congresso, mas eu me pergunto: se o Lula estivesse realmente interessado e não tivesse delegado o assunto totalmente para o pobre do Bernard Appy [secretário especial da Reforma Tributária], que teve que resolver tudo com o Congresso sem nenhum poder político, teriam aparecido tantos jabutis quanto apareceram? E agora, há o risco de termos ainda mais jabutis na regulamentação. A reforma tributária manteve o IPI sobre produtos que tenham similares fabricados na Zona Franca de Manaus.

 

Este é um jabuti?

 

Acho que eles vão restringir a lista de produtos sujeitos a essa regra. Espero que seja como a lista da cesta básica. Há a promessa de revisão daqui a cinco anos. Nos próximos anos, temos que ficar batendo em cima para que, de fato, daqui a cinco anos a gente possa tirar esses jabutis da árvore. Quando a Constituição foi promulgada em 1988, fixou-se prazo de cinco anos para a revisão. Houve revisão? Lembro-me perfeitamente. Mandamos 63 projetos de emenda constitucional e o Congresso rejeitou 62. Só passou a criação do Fundo Social de Emergência [que desvinculou 20% da arrecadação dos tributos federais atrelados a gastos com saúde e educação]. O PIB cresceu 2,9% no ano passado, mas a taxa de investimento recuou 3%.

 

Falta confiança aos empresários?

 

Não há confiança. O que me irrita no Lula é que o país poderia estar deslanchando se houvesse confiança. Há oportunidades extraordinárias, mas é preciso ficar na defensiva com o Lula o tempo todo. Sabe-se lá como ele vai intervir na economia. E uma economia que joga na defesa não vai para frente. 

 

O senhor defende há muitos anos a abertura da economia como medida necessária para o aumento da produtividade. Vê alguma chance para essa agenda?

 

Os “Mercadantes” estão muito exultantes com o fato de que, agora, os EUA começaram a praticar a política industrial. Mas é uma política voltada para a sua luta contra a China. E, aí, o pessoal do governo do PT diz: “Se eles fazem, a gente pode fazer também”. O Alckmin fala: “Olha quanto eles [os americanos] estão gastando”. Quando o mundo estava se globalizando, o Brasil não se globalizou. Agora, o mundo está se desglobalizando. 

 

Durante a pandemia, cadeias globais de produção foram quebradas. Isso não criou oportunidade para o Brasil se reindustrializar?

 

Acho que sim. O país precisa repensar a indústria. A questão não é ter política industrial, e sim ter uma política industrial voltada para a integração do Brasil nas cadeias internacionais de valor. A política industrial anunciada pelo governo é o contrário: é para desintegrar ainda mais o Brasil das cadeias internacionais de valor. Vai na contramão do que precisa. Esse pessoal não entende que isso vai criar meia dúzia de empregos, mas a que custo fiscal e a que preço para os consumidores nacionais? Nós, que temos dinheiro para viajar ao exterior, podemos comprar tudo lá fora, sem pagar nenhum imposto aqui. E ainda nos deixam comprar mais US$1.000 no free shop, sem pagar imposto. Mas e os brasileiros que não conseguem sair do país porque não têm dinheiro? Esses brasileiros descobriram que existe um canal chinês que vende produtos, de até US$ 50, sem imposto. Aí, vem o governo querendo taxar esse pessoal. Isso é falta de respeito com os consumidores brasileiros, especialmente os de baixa e média renda. Eles [o governo e os empresários contrários à abertura comercial] acham que o mercado interno é deles. Meu argumento é sempre produtividade, mas o que realmente me toca é a insensibilidade social com o consumidor de baixa renda no Brasil. 

 

O senhor enxerga alguma saída política, capaz de romper esse “pacto” anti-abertura comercial?

 

Essa coisa é muito difícil. Estava pensando politicamente o seguinte: todos nós somos produtores de alguma coisa e consumidores do resto. O que a gente produz a gente quer proteger. Para proteger o que produzo, eu sei como agir. Vou lá no meu sindicato, no meu deputado, no Ministério da Indústria e Comércio. Agora, para as coisas que eu consumo, a quem eu recorro, com quem me reúno? Com quem? Não tem! Não há agregação de interesses individuais em coletividades que possam exercer a pressão que os grupos de interesse operam sobre o governo. E, aí, nós somos prejudicados. Bem, nós não porque temos como fazer compras no exterior. Eu me lembro bem quando, em 1983, trouxe um computador dos EUA pela primeira vez e o José Serra olhou para mim e perguntou: “O que é isso, hein?”. Naquela época, tínhamos uma Lei de Informática que proibia a importação de computadores. 

 

O Plano Real completa 30 anos em julho. O senhor vê alguma ameaça à estabilidade dos preços? 

 

Não.

 

Acredita nisso porque os brasileiros aprenderam que inflação baixa é algo bom?

 

Não são os brasileiros, e sim a classe política. Os políticos aprenderam que, se não mantiverem a inflação sob controle, eles caem fora.

 

Que reformas o país precisa fazer além de abrir a economia?

 

A reforma do Estado brasileiro, um tema que vem sendo bastante tratado pelo Arminio Fraga e a Ana Carla Abrão. Qual é o aspecto mais importante dessa reforma? Uma reforma administrativa entendida amplamente. A gente tem que reduzir o peso que o gasto de pessoal exerce hoje sobre o orçamento. Há também a questão da Previdência, que vai voltar, uma vez que o Lula está corrigindo o salário mínimo acima da inflação. Com o piso da Previdência indexado ao salário mínimo, essa situação vai se deteriorar ao longo do tempo. Mesmo os programas sociais poderiam ser melhor gerenciados. O ex-senador Tasso Jereissati apresentou proposta de lei de responsabilidade social dando um pouquinho mais de consistência e integração às transferências sociais. Estas poderiam ser feitas de forma muito mais efetiva, com muito menos custo e mais benefícios para quem de fato necessita. 

 

De que forma? 

 

Unificar os programas, ter portas de entrada e saída, criar poupança para quem necessita no setor informal, para uso durante momentos de desemprego. Enfim, teria muito o que fazer para tornar o Estado mais leve e ágil, e mais voltado para o que deve fazer pelo país.

 

Como o senhor analisa a polarização política que caracteriza hoje a política brasileira? 

 

Aqui, o problema foi o afundamento do PSDB. O partido surgiu como alternativa ao petismo, mas só foi bem-sucedido por causa do real. O Plano Real criou essa possibilidade de o PSDB ficar no governo federal por oito anos e, no governo de São Paulo por 20. O PSDB se desintegrou. O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, está tentando alguma coisa, vamos ver o que ele consegue.

 

Por que o encolhimento do PSDB explica a polarização?

 

Porque isso criou um vácuo no espectro anti-lulista e anti-PT. A direita se apropriou desse espaço. No passado recente e na época do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso [1995-2002], o centro tinha controle sobre suas partes. Estou pensando aqui em Ulysses Guimarães, Franco Montoro, Mário Covas, José Richa, Eduardo Campos e outros grandes líderes que tivemos. O PMDB, de onde nasceu o PSDB, era uma força que também se diluiu em inúmeros partidos com aspectos fisiológicos e muito pouco caráter programático. O PSDB é um partido de centro-esquerda. Por que seu espaço foi ocupado pela extrema-direita? Acho que aí tem um problema de personalidade. De vez em quando a história é determinada por indivíduos. O líder carismático que apareceu [Jair Bolsonaro] é um líder de extrema-direita.

 

Que grupos a extrema-direita representa? 

 

O agronegócio moderno e as igrejas pentecostais. Não consigo ver muitas outras características que possam ser identificadas. 

 

Por que o Lula ganhou a eleição? 

 

Porque, na última hora, muita gente, inclusive eu e os pais do Real, declarou voto nele. Foi isso, até mais do que os votos da Simone Tebet, que garantiu a vitória. Mas o Lula não entendeu isso até hoje. 

 

O quê, exatamente?

 

Lula não entendeu que o mandato dele é muito restrito. Se o bolsonarismo for minimamente competente e apresentar um candidato razoável, por exemplo, o Tarcísio de Freitas [governador de São Paulo], o Lula vai ter que ralar para ser reeleito.

 

O senhor vê riscos à democracia brasileira? 

 

Com Trump, sim. Da vez que o Bolsonaro tentou, eu estava tranquilo porque, pensei, se ele quiser fazer alguma coisa, os americanos não deixam. 

 

No cenário externo, que riscos o senhor vê adiante?

 

O maior é a eleição de Donald Trump. É complicada a situação. Os americanos se acostumaram a ter uma taxa de juros muito baixa por muito tempo. A dívida pública não importava muito porque qualquer crescimento do PIB compensava a elevação da dívida. Agora, com os juros a 5,5% ao ano, não mais. O mundo é muito sensível aos juros americanos. O problema do Trump é seu discurso super radical, dizendo, por exemplo, que quer classificar imigrantes como terroristas. É inacreditável!

 

Ele disse que não indicará Jay Powell para novo mandato no comando do Federal Reserve [Fed, o banco central dos EUA]. Isso preocupa? 

 

Pois é, sabe-se lá qual será a política monetária, embora a estrutura do Fed seja muito sólida. Não dá para colocar muitos “pombos” [economistas subservientes ao governo] na diretoria. Ele está falando em colocar imposto de 150% sobre o que se compra da China. Isso não depende tanto do Congresso para fazer. E tem a questão da geopolítica. 

 

Qual, exatamente? 

 

Trump está ameaçando enfraquecer a OTAN, além de todas as outras organizações multilaterais. Seriam os EUA se voltando para si mesmo. O isolacionismo se manifestando a esse nível pode ser muito ruim para o mundo.Os europeus terão que reagir de alguma maneira porque a ameaça da Rússia está aí. Matéria do “The New York Times” revelou a atração, por Vladimir Putin, de uma importante ala do partido Republicano. Não é só o Trump. É um grau muito grande de deterioração em relação ao que se espera do país líder do mundo ocidental. 

 

Com a possível volta de Trump, voltamos para a era das incertezas?

 

Essa é a questão. O retorno de Trump é algo que, obviamente, não vai ser bom. O que podemos discutir é o quão ruim será porque os interesses comerciais e empresariais americanos no exterior são muito relevantes. A dependência da força do dólar, tendo em vista que os EUA são um país deficitário e que sua dívida externa precisa se manter sólida, é muito importante. Ainda hoje é impossível imaginar uma corrida contra o dólar. Todas as crises internacionais, inclusive, as mais recentes, foram uma corrida para o dólar, que continua sendo o ativo mais seguro. Isso expõe o mundo.

 

Por quê?

 

Seria um risco enorme você não dispor da moeda básica, um ativo sobre o qual os investidores não têm a menor dúvida. Este seria o limite que um governo Trump, isolacionista e muito aguerrido, poderia provocar no mundo. Temos que nos preparar para essa situação. E como estamos? O saldo comercial do Brasil é bem favorável [US$98,8 bilhões em 2023, recorde histórico]. Temos boa perspectiva tanto em termos de safra agrícola quanto de petróleo e gás. E temos reservas internacionais bastante fortes [US$ 354 bilhões]. A gente tem que se preocupar com a solidez fiscal porque o que pode ocorrer de pior é uma crise financeira, que vai nos atingir diretamente.

 

De que forma?

 

Atinge a colocação da dívida pública aqui no país, mesmo esta sendo interna. Haveria fuga de capitais. Se você olhar a composição das reservas internacionais ao longo dos últimos anos, há uma queda da importância do dólar. Ao contrário do que alguns previam, isso não ocorre por causa do renminbi. Há uma diversificação de portfólio em relação a países ocidentais sólidos, mas a dimensão desses mercados é muito pequena. Você pode diversificar 5%, 10% ou 15% do portfólio das reservas, mas, logo, logo, chega ao limite porque não existe outro país, com exceção da China, com a dimensão econômica dos EUA. Dependendo do que ocorra na Europa, temos que imaginar como seria porque, lá, não há mais líderes com a qualidade da Angela Merkel [ex-premiê da Alemanha]. Isso é preocupante porque, se não forem os EUA, têm que ser a Europa para segurar o mundo ocidental. 

 

Como o senhor vê a situação econômica da China?

 

Enquanto continuar o controle político que o Partido Comunista possui, os chineses têm os instrumentos em mãos [para lidar com uma possível crise]. Eles não têm problema fiscal como o nosso. Têm um superávit fiscal considerável. A taxa de poupança da China é extraordinária [45% do PIB]. O Brasil [cuja taxa de poupança em 2023 foi de 15,4%] tem um problema de excesso de demanda, enquanto na China falta demanda. É por isso que os chineses dependem tanto das exportações e dos investimentos em construção civil. Mas, os governantes têm os instrumentos e é mais fácil combater falta de demanda do que falta de oferta. O fato é que acabou o milagre chinês. A discussão neste momento é a que taxa de crescimento eles vão pousar.


Leia mais em https://braziljournal.com/brasil-poderia-deslanchar-mas-lula-poe-empresarios-na-defensiva-diz-bacha/?utm_source=Brazil+Journal&utm_campaign=928212ade3-weekendjournal-10032024-1_COPY_03&utm_medium=email&utm_term=0_850f0f7afd-928212ade3-427950289 .

 

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Citações do dia : em bombástica entrevista publicada no dia de hoje, Edmar Bacha (o principal economista da área direita do PSDB, ex-presidente do BNDES) usa seus drones para bombardear Lula, Alckmin, Aloizio Mercadante e à população civil em geral...

 

Algumas das suas pérolas : (há pérolas de sabedoria, outras parecem que saídas de um bombardeio israeli da Faixa de Gaza...) 

Mauricio David


Declarações de Edmar Bacha:

 

“Lula ainda tem na cabeça que o Estado deve forçar o investimento das empresas e usar seus instrumentos para fazer com que isso aconteça”

 

a política industrial anunciada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin vai afastar o Brasil ainda mais das cadeias internacionais de valor

 

se o Governo insistir nas ideias atrasadas, é o próprio PT que pagará o preço

 

A política externa (...do PT) , por exemplo, é um absurdo

 

é um absurdo que Celso Amorim, que é antiamericano radical desde sempre, esteja no comando da política externa

 

O ministro do Trabalho [Luiz Marinho] age como um sindicalista dos anos 1930

 

 O pessoal do PT tem uma mentalidade atrasada

 

aumentar a tarifa sobre importação, os requisitos de conteúdo local e a preferência para compras governamentais são decisões contrárias ao aumento da produtividade da economia. Está tudo errado na área econômica, com exceção da parte fiscal

 

O PIB cresceu 2,9% no ano passado, mas a taxa de investimento recuou 3%.

 

O que me irrita no Lula é que o país poderia estar deslanchando se houvesse confiança. Há oportunidades extraordinárias, mas é preciso ficar na defensiva com o Lula o tempo todo. Sabe-se lá como ele vai intervir na economia. E uma economia que joga na defesa não vai para frente

 

Os “Mercadantes” estão muito exultantes com o fato de que, agora, os EUA começaram a praticar a política industrial. Mas é uma política voltada para a sua luta contra a China. E, aí, o pessoal do governo do PT diz: “Se eles fazem, a gente pode fazer também”. O Alckmin fala: “Olha quanto eles [os americanos] estão gastando”. Quando o mundo estava se globalizando, o Brasil não se globalizou. Agora, o mundo está se desglobalizando.

 

A questão não é ter política industrial, e sim ter uma política industrial voltada para a integração do Brasil nas cadeias internacionais de valor. A política industrial anunciada pelo governo é o contrário: é para desintegrar ainda mais o Brasil das cadeias internacionais de valor. Vai na contramão do que precisa. Esse pessoal não entende que isso vai criar meia dúzia de empregos, mas a que custo fiscal e a que preço para os consumidores nacionais? Nós, que temos dinheiro para viajar ao exterior, podemos comprar tudo lá fora, sem pagar nenhum imposto aqui. E ainda nos deixam comprar mais US$1.000 no free shop, sem pagar imposto. Mas e os brasileiros que não conseguem sair do país porque não têm dinheiro?

 

. A gente tem que reduzir o peso que o gasto de pessoal exerce hoje sobre o orçamento. Há também a questão da Previdência, que vai voltar, uma vez que o Lula está corrigindo o salário mínimo acima da inflação. Com o piso da Previdência indexado ao salário mínimo, essa situação vai se deteriorar ao longo do tempo.

 

Por que o Lula ganhou a eleição? Porque, na última hora, muita gente, inclusive eu e os pais do Real, declarou voto nele. Foi isso, até mais do que os votos da Simone Tebet, que garantiu a vitória. Mas o Lula não entendeu isso até hoje. 

 

Se o bolsonarismo for minimamente competente e apresentar um candidato razoável, por exemplo, o Tarcísio de Freitas [governador de São Paulo], o Lula vai ter que ralar para ser reeleito.

 

. A dependência da força do dólar, tendo em vista que os EUA são um país deficitário e que sua dívida externa precisa se manter sólida, é muito importante. Ainda hoje é impossível imaginar uma corrida contra o dólar. Todas as crises internacionais, inclusive, as mais recentes, foram uma corrida para o dólar, que continua sendo o ativo mais seguro. Isso expõe o mundo.

 

. Atinge a colocação da dívida pública aqui no país, mesmo esta sendo interna. Haveria fuga de capitais. Se você olhar a composição das reservas internacionais ao longo dos últimos anos, há uma queda da importância do dólar. Ao contrário do que alguns previam, isso não ocorre por causa do renminbi.

 

A taxa de poupança da China é extraordinária [45% do PIB]. O Brasil [cuja taxa de poupança em 2023 foi de 15,4%] tem um problema de excesso de demanda, enquanto na China falta demanda.

 

. O fato é que acabou o milagre chinês. A discussão neste momento é a que taxa de crescimento eles vão pousar.


quarta-feira, 15 de março de 2023

Blog Diplomatizzando: algumas estatísticas (seguidores, postagens, comentários, visualizações) - Paulo Roberto de Almeida

 Blog Diplomatizzando: algumas estatísticas: 

Levantamento efetuados em 15/03/2023

Paulo Roberto de Almeida

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terça-feira, 6 de abril de 2021

Sobre “cartas de leitores” e “comentários” nas redes sociais: o mergulho na barbárie - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre “cartas de leitores” e “comentários” nas redes sociais: o mergulho na barbárie 

Paulo Roberto de Almeida 

Sou, sempre fui, um grande leitor das seções de “cartas de leitores” nos jornais e periódicos impressos, que são selecionadas e publicadas, e desde algum tempo dos “comentários” da audiência de quaisquer lives interessantes, e neste caso já não há mais seleção por editores responsáveis,: entra tudo de cambulhada, do bom, do mau e do feio.

Posso dizer que fico realmente impressionado, não exatamente com as reclamações, críticas ou argumentos contrários ao que diz, ao que disse o palestrante, eu mesmo, por exemplo.

Fico supreendido e até estarrecido com a violência de ataques grosseiros, ofensas raivosas, expressões de ódio e xingamentos dos mais escabrosos que são expelidos por uma malta de obscurantistas, ignorantes e intolerantes que dispõem atualmente de todas as condições técnicas para divulgar suas vulgaridades dignas dos mais rasteiros dos bárbaros sanguinários, uma tropa de boçais incultos que não mais estão contidos pela consciência de sua própria idiotice consumada. Trata-se de um fenômeno novo na história da humanidade, que significa o poder atribuído aos mais idiotas de expressar livremente sua agressividade, seu ódio à inteligência e à cultura, especialmente magnificadas desde que um grande idiota chega ao poder!

Estamos em face do triunfo dos idiotas, que vão nos vencer pelo número, de que falava Nelson Rodrigues?

Provavelmente! Mas eles não vão conseguir enterrar a inteligência e a cultura de forma permanente; são apenas temporariamente e parcialmente dominantes, o que já aconteceu, por exemplo, na guerra civil espanhola — no caso do coronel Milan Astray —, mais recentemente nos Estados Unidos sob o mentecapto Trump, e ainda agora no próprio Brasil com o boçal do Bolsonaro. 

São momentos que nos constrangem e nos envergonham, pois representam a ascensão do obscurantismo, do ódio à inteligência, da intolerância com respeito à cultura, da recusa do saber, da negação da ciência. Tristes tempos, que depois passam, mas que mortificam, por saber que a ignorância crassa ainda encontra guarida em nossas sociedades.

Conclusão:

As hordas de Atila deixaram os cavalos nas planícies europeias e embarcaram nas redes sociais, a todo galope, em direção à ignorância...

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 6/04/2021

quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Estatísticas de postagens e de acessos no Diplomatizzando - Paulo Roberto de Almeida

 Registro das postagens no Diplomatizzando, ano a ano: 

Realizado em 21/01/2021:

Total: 22.740

Acessos: 8.179.876

Seguidores: 914

Comentários: 9.053


Dez anos atrás, em 201o: eu publicava a seguinte estatística: 

Se eu coloco o meu nome no Google, assim, sem nada, o resultado é assustador: 

Aproximadamente 44.400.000 resultados (0,46 segundos) 

Mas, tem muita repetição, muitos homônimos, muitos nomes parciais coincidentes.

Mesmo cortando pela metade, fica ainda exagerado: 22.200 milhões.
Cortemos ainda pela metade; ainda assim parece exagero: 11.100 milhões.
Vamos cortar em três, então, o que dá: 3,7 milhões, o que é ainda enorme.

Então, coloquemos o nome entre aspas, com o qualificativo de "diplomata".
Aí já está razoável: Aproximadamente 1.070 resultados (0,49 segundos) 

Se eu colocar entre aspas, com "professor" em lugar de diplomata, aí aumenta um pouco: 
Aproximadamente 4.800 resultados (0,57 segundos)

Mas, se eu colocar os dois, "diplomata, professor", aumenta bem mais: 
Aproximadamente 283.000 resultados (0,66 segundos) 

Acho que essa é uma base razoável de reflexos de minhas muitas publicações, nos últimos 30 e poucos anos, digamos assim, desde o aparecimento da internet. Comecei em revistas acadêmicas clássicas, até aparecerem os primeiros sites gratuitos, tipo Geocities e alguns outros.
A partir de certa fase, resolvi criar o meu próprio site, e não queria ser ".com", obviamente. Mas na época tinha poucas possibilidades. Escolhi ser "org", o que pode parecer arrogância.
Depois apareceram as outras possibilidades, que reservei: net e info, mas nunca implementei.

Destinado basicamente a divulgar meus trabalhos, não com intenções narcisísticas, mas com finalidades basicamente didáticas, o site www.pralmeida.org reune meus trabalhos e outros materiais relevantes para o estudo de questões internacionais e de diplomacia brasileira.
Ele existe desde muito tempo, mas com suporte de provedores diferentes, ao sabor da ajuda técnica que pude receber, pois pessoalmente sou um inepto na linguagem html.
Não disponho de estatísticas sobre acessos, pois não sei configurar essas tecnicalidades.
Mas é no site que eu coloco a série inteira de trabalhos originais, publicados e todos os tipos de livros (próprios, editados e capítulos em obras coletivas). Tenho de fazer uma lista dos livros em Kindle, que pronto espero estarem todos.
Eis os links: 

Livros do autor: http://pralmeida.org/autor/
Capítulos em livros coletivos: http://pralmeida.org/capitulos/

Da mesma forma, os trabalhos estão em listas geralmente anuais: 



segunda-feira, 13 de abril de 2020

Minhas humildes desculpas aos meus 18 leitores (bem, um pouco mais do que isso) - Paulo Roberto de Almeida

Gostaria de, humildemente, pedir desculpas a todos os meus leitores, isto é, leitores do Diplomatizzando, pelo fato de não ter tomado conhecimento das inúmeras questões, demandas, consultas, pedidos, comentários, reclamações, elogios (alguns ataques também) que recebi neste "quilombo de resistência intelectual", que ficaram sem leitura, sem sequer uma indicação de que eu havia recebido, e o que é pior, sem resposta, o que parece desprezo de minha parte.
Confesso que não é, jamais faria isso, pois prezo muito a opinião de quem interagem comigo, mesmo quando é para me criticar, ou às minhas posições.
A razão singela, sincera, verdadeira é, que EU NÃO SABIA, e jamais tomei conhecimento, das DEZENAS, talvez centenas de comentários às minhas postagens.
E isso por uma falha minha, mas também do próprio sistema adotado pelo Blogspot.
Antigamente, muito antigamente, os comentários e perguntas apareciam automaticamente ao final da postagem, como numa espécie de rodapé.
Não reparei que a partir de certo momento, esses comentários NÃO MAIS APARECERAM, e eu apenas pensei que as pessoas simplesmente se abstivessem de me escrever.
Fiquei na mesma posição daquele personagem do Gabriel Garcia Márquez: 
El colonel no tiene quien le escriba, ou seja, ele não mais recebia cartas, no meu caso comentários, demandas e reclamações.
Pensei que as pessoas tinham passado a me ignorar, sem perceber que esses comentários passaram a ficar agrupados numa das seções das configurações, que muito raramente acesso por absoluta falta de tempo.
Hoje descobri essas dezenas de comentários, perguntas e críticas, gravei-as num arquivo, para tentar responder o que será possível, embora saiba que já estou meses atrasado.
Minhas desculpas, portanto, vou tentar remediar. E agora prestar atenção no que aparece.
Vou tentar fazê-los aparecer no rodapé da mensagem.
Cordialmente, com mil desculpas.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 13/04/2020

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

2010s: Uma década contraditória, por seis comentaristas do Washington Post

The 2010s were the decade of … what, exactly? Six columnists tell us. - The Washington Post

As the decade draws to a close, we’re left wondering: What just happened? How will these 10 years be remembered in, say, 50 more? What, exactly, were they the decade of? Below, columnists Dana Milbank, Molly Roberts, Jennifer Rubin, Christine Emba, Alexandra Petri and Robert J. Samuelson help make sense of the 2010s.

By Dana Milbank

The 2010s will come to be known as The Unraveling. It began with the tea party, a rebellion nominally against taxes and government but really a revolt against the first African American president. At mid-decade came the election of Donald Trump, a backlash against both the black president and the first woman on a major party ticket.
The second half of the decade was a time of rage and increasing division as white men, who have dominated America’s power structure from the beginning, felt threatened by women and racial and religious minorities. As I wrote in 2014, this shattered our sense of a shared American identity.
In retrospect, it was inevitable. America wasn’t a true democracy until the late 1960s or early 1970s, when African Americans won real voting rights. As the composition of the electorate changed — approaching the point of a majority-minority nation in the 2040s — white, Christian men (whose dominance had previously papered over the deep fissures in America) lost their hegemony.
The rise of social media — Facebook and Twitter — aggravated and amplified the fissures. Though it gave voice to millions, it proved ruinous to traditional media and, with it, any sense of a shared, objective truth. It gave rise to demagoguery, gave an edge to authoritarianism and its primary weapon, disinformation, and gave legitimacy and power to the most extreme, hate-filled and paranoid elements of society.
As a result, America turned inward, against immigrants, against racial and religious minorities, against longtime allies. Our politics became paralyzed, unable to deal with the crises of the era: a warming planet, mushrooming debt, mass killings and growing threats from China and Russia. Our institutions — of government, of business, of communications and religion — lost ground. Our norms were shattered. Trump took advantage of the moment, but he was not the cause.

By Molly Roberts

What’s on your mind?
Maybe that’s a familiar question from a friend or a family member, but for 20-somethings and teens who spent the past 10 years on the Internet, it’s also a familiar question from Facebook. The prompt appeared at the top of our news feeds urging us to broadcast our brains to the masses, or at least to the thousand or so folks we’d granted the privilege of observing our lives.
The 2010s were the decade of sharing, whether we liked it or not. They were the years we started to treat mundanities as capital-C Content — full-frontal confessionalism to a country full of emotional voyeurs. Twitter exists so we can tell people what we’re thinking in real time; Instagram exists so we can show them, too.
There was a bright side to seeing everyone’s life in bulk: We saw more varieties of life, too. Suddenly, “identity politics” became a stock phrase for pundits everywhere, and “lived experience” was on the lips of the woke vanguard. People who’d been kept out of conversations when the old mediators were in charge now had less standing between them and the rest of the world. Painful, important things got shared along with all the inanity. Just look at the #MeToo movement.
But we soon found we weren’t only giving each other access to our photos and thoughts, our likes and our loves. We were allowing the platforms access to a whole mess more, and those platforms were letting third parties see it, too. To maximize our engagement, those platforms played on the preferences all our sharing revealed — which meant shoving inflammatory content in our faces and shoving us into silos. All that connection ended up dividing us.
The Internet wasn’t meant to let despots restrict information, but instead of getting beat, they started playing the game better than anyone: by sharing just as the rest of us were, overwhelming the citizenry with content, content, content until what was real and where all the fakery was coming was nearly impossible for anyone to sort out.
We’re starting to have trouble sorting ourselves out, too. Sometimes even we don’t know whether we’re doing something for ourselves or just to share it with everyone who’s bound to see it as soon as we upload. Do you listen to music? Spotify has put together a list of everything that streamed through your ear buds these past 10 years, without your even asking! “Uniquely yours,” the service proclaims. Well, not exactly.

By Jennifer Rubin

Pick a decade out of a hat, and you’re likely to find a more agreeable one than the 2010s. In a decade of relative prosperity in which unemployment hit a 50-year low and the stock market hit one all-time high after another, it was the decade of anxiety, one in which we lost not simply a shared sense of purpose but a shared sense of reality.
There were good reasons to be angst-filled. Police shootings of unarmed African American youths raised fundamental questions about criminal justice and, more generally, about unyielding, systemic racism. Unleashed by opportunistic demagogues and social-media-fueled white resentment, a right-wing populist backlash threatened democratic institutions and our belief in multiracial, multiethnic democracy.
In the last years of the decade, we learned not to trust what we heard from a president who governed by gaslighting — or what we saw on new media awash in propaganda. The Republican Party degenerated into a cult, converted cruelty into public policy and normalized racism. Internationally, U.S. retrenchment ushered in a heyday for authoritarian aggressors and a dismal period for international human rights and press freedom.
In the absence of respected institutions and stable communities to calm our frayed nerves and provide the sense of belonging we crave, national unease and divisiveness threaten to overwhelm us. Social media, a globalized economy and technological innovation were supposed to make us feel more connected and empowered. Instead we feel alienated, suspicious and angry at the serial outrages that bombard us minute by minute.
It’s no coincidence that Mister Rogers became an iconic figure again at the end of the decade of anxiety. Perhaps if we slow down, treat one another with kindness, accept our fellow Americans as special for being “just the way they are” and act like good neighbors, we will recover our collective sanity and national equilibrium.

By Christine Emba

We entered the 2010s with an optimistic spirit. But as the decade wore on, that feeling faltered, even as statistics and media and well-placed ads told us everything was, mostly, even better than before. Really, there was something uniquely confusing about these past 10 years, a disconnect that became more difficult to ignore as each one passed. The 2010s were the decade of dissonance.
The Great Recession was definitely over, we heard as the decade began. But somehow, it didn’t feel like it. Not when gig workers scrambled for second and third jobs and young people drowned in debt. Even as market reports blared the news of stock markets hitting high after high, we still felt under siege — medical bills mounted, or we saw fellow inhabitants of our cities driven to burgeoning homeless encampments. Our economic disconnect manifested in an obsession with inequality, from Occupy Wall Street at the decade’s beginning to socialism’s surge at its end.
Meanwhile, a new app invention seemed to appear every day, announcing its superiority over the offline version of whatever it replaced. We took Silicon Valley at its word, but somehow, most of its new options felt worse than whatever we had been doing before. Dating apps told us we would finally be able to find a partner at the swipe of a finger — but seemed to make the process of dating both more alienating and anxiety-inducing, while at the same time making real-world interactions scarce. We increased our time on “social” media, but our experience was one of isolation and distance.
As our reality and expectations continued to diverge, so did the various ways we tried to rationalize the disconnect. By 2019, “economic anxiety” might have driven you into the arms of a billionaire president or to a democratic socialist as his corrective. You might be waiting for a real Silicon Valley unicorn or deleting Facebook once and for all. But still, the dissonance remains. 

By Alexandra Petri

What can you say about the 2010s? At the beginning of the decade, I thought the best way to get people to click on articles was to somehow work Justin Bieber into the headline, whether he was relevant or not. It was a truth I had observed that people were pretty much always googling Justin Bieber, and I wanted to benefit from that in whatever small way I could. In the course of one eventful week in January 2014, I wrote two separate Justin Bieber columns: one a verse ode, the other some suggestions for deporting him. I think this had to do with his monkey.
I am not 100 percent certain what I thought would happen once people clicked, but that did not concern me.
At some point, headlines stopped being in the format of “Fourteen Weird Tricks For Justin-Bieber-Proofing Your Home” and … changed. Now headlines all go something like, “Why it’s no use fighting any longer.” Suddenly everything became very ominous. Everything fanned your fears or affirmed your suspicions or tugged at your tender feelings. You caromed from outrage to horror to vindication. Occasionally you absorbed a bit of information, but you were not looking for information exactly. Voices carried differently. Information traveled in more curious patterns.
At the beginning of the decade, Facebook was a place you went with your college friends to share pictures of yourself having fun. Now it is where your aunt goes to read misinformation about vaccines! The site has the macabre habit of telling me to remember the past, and you can see in its unpleasantly cheery little slide shows where things began to go wrong.
In the course of the 2010s, the Internet went from a place where People Were to a place where Everyone Was. It ceased to be simply a sign, after the fact, that you were missing out on things and became itself the thing you were missing out on. We started either not to notice that the Internet was not real life, or the Internet became real life. It was not where you went to find out about Justin Bieber; it was where you went to think and see what to think. It began to eat itself, a 21st-century version of that ancient serpent swallowing its own tale — the decade of the ouroboros.

By Robert J. Samuelson

It’s not just the end of the decade. It’s the end of the American century. When historians look back on the past 10 years, they may conclude this was the moment Americans tired of shaping the world order.
“American century” was coined in 1941 by Henry Luce, co-founder of Time magazine, and was popularized after World War II. It captured Americans’ confidence that they could create an international system that would prevent another world war and Soviet dominance. In effect, the United States sought to remake the world in its own image. Countries would trade together, not fight. NATO would keep the peace in Europe. Conflicts would be settled by negotiation. At home, countries would adopt democratic norms of open elections, freedom of speech and the rule of law.
This system’s heyday was the 1950s and 1960s, when Europe and Japan were recovering from the war and depended heavily on the United States. To say the United States dominated does not mean it always got its way. Some disagreements (example: the Vietnam War) were deep. Still, the system endured and seem vindicated by the Soviet Union’s collapse.
It wasn’t. Victory was declared prematurely. Now, there’s a broad retreat by the United States and some nominal allies from the spirit of the American century. True, some of this backlash is a reaction to President Trump’s nationalism. But not all.
First among other factors is the rise of China. The Chinese clearly have a different world vision than most Americans, including of a trading system that better serves China’s interests in jobs, technology and raw materials. It’s also no secret that China’s military ambitions, including in cyberwarfare, imply a remaking of the global order.
And although surveys are mixed, many Americans reject the costs of taking responsibility for global stability and democracy. Military engagements seem expensive and bloody, and trade threatens many U.S. industries.
The United States will remain hugely influential. But it won’t dominate as before, and the successor to the American century — with more rivalries and fragmented power — might leave us wishing we’d done more to preserve it.
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