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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 18 de fevereiro de 2024

Comunistas e fascistas, a divisão do Brasil - Eduardo Affonso (O Globo)

 Vou resumir, agradecendo em primeiro lugar a Augusto de Franco a transcrição deste belo artigo de Eduardo Affonso sobre a divisão radical que paralisa o Brasil. 

Já estivemos divididos no passado por essas arquiteturas políticas binárias: Liberais e Conservadores no Império, varguistas e antivarguistas na República, Arena e MDB na ditadura, depois tucanos e petistas durante certo tempo e agora os tais comunistas e fascistas da atualidade, ou petistas e bolsonaristas por enquanto.

Que bipartição miserável esta nossa. (PRA)


Belíssimo artigo do @eduardoaffonso hoje n'O Globo. Augusto de Franco

Veados e caranguejos

Eduardo Affonso

O Globo (17/02/2024)

O Brasil é uma grande Andrelândia, aprisionado em modelo binário (e eventualmente paradoxal)

Andrelândia é uma cidadezinha do Sul de Minas, daquelas que poderiam perfeitamente ser o cenário de uma bucólica novela das 7 (no tempo em que novelas das 7 eram bucólicas). O casario colonial se espalha, como as contas de um rosário, em torno da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Porto da Eterna Salvação (é assim que o hino municipal descreve a enorme praça ovalada, mais parecendo uma nau) no centro histórico daquela que um dia foi a Vila Bela do Turvo.

A meio caminho entre Ibitipoca e São Thomé das Letras, Andrelândia não ostenta a natureza intocada de uma nem os toques sobrenaturais da outra. Mas tem algo que a faz única: um bipartidarismo próprio, que — para o bem e, principalmente, para o mal — sobreviveu aos mais de 150 partidos políticos da nossa História.

Nas cédulas e nas urnas eletrônicas, as siglas podiam ser UDN, PR, PL, PSD, PTB, PCdoB, MDB, Arena, PSDB, Novo, PT; na cabeça do eleitor, o voto seria nos veados ou nos caranguejos.

Esta é outra peculiaridade, e remonta ao século XIX, quando um grupo se insurgiu contra a hegemonia do Partido Liberal e fundou o Partido Republicano do Turvo. Os eleitores do primeiro, tradicionalistas, perderam terreno. Andaram para trás, viraram caranguejos. Os do segundo, dando saltos adiante, se autodenominaram veados — e desde então Andrelândia deve ser o único lugar em que esse termo tem uma acepção ideológica.

Emulando as mesquinharias da política nacional (em que Bolsa Família vira Auxílio Brasil para depois voltar ao nome original — que já era um rebranding dos vários programas de transferência de renda de outro governo), as obras dos veados eram abandonadas nas administrações dos caranguejos, e vice-versa. Como a resultante das forças dos que saltavam para a frente e dos que andavam para trás é nula, a cidade estagnou.

O Brasil é uma grande Andrelândia, aprisionado no modelo binário (e eventualmente paradoxal) em que se muda o rótulo, mas os ingredientes permanecem os mesmos. Lá, os veados — outrora reformadores — se acomodaram no PMDB; e foram os tucanos que acolheram os conservadores caranguejos. Mais ou menos como, noutra escala, os “progressistas” defendem estatização, protecionismo, censura — enquanto “reacionários” propõem liberalismo econômico (e um golpe de Estado, de vez em quando).

O mais ilustre dos andrelandenses, o historiador José Murilo de Carvalho (ocupante por quase 20 anos da cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras) escreveu que os quatro pecados capitais do Brasil eram a escravidão, o latifúndio, o patrimonialismo e o patriarcalismo. Poderia ter incluído um quinto: o maniqueísmo. Esse que faz com que, em 2024, ainda sejamos divididos entre fascistas e comunistas — categorias do início do século XX, ressuscitadas como espantalhos.

Nesta semana, o apresentador Luciano Huck foi xingado no Xuíter por compartilhar um artigo pró-democracia. Como se sabe, só quem é esquerdista desde criancinha pode — mesmo apoiando ditaduras e terroristas — se considerar um humanista, um democrata.

É o mal de pertencer a uma fauna limitada a cervídeos e crustáceos, que insiste em negar a diversidade, a nuance, a complexidade, a possibilidade de convergência.

Quem souber como superar o estágio de veados x caranguejos em Andrelândia talvez tenha a chave para destravar o Brasil.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Mr. Dulles e o Brazil (Ensaio Bibliográfico): obras de história do Brasil de John W. F. Dulles - Paulo Roberto de Almeida

 Mr. Dulles e o Brazil

(Ensaio Bibliográfico)

 

John W. F. Dulles:

Diversas Obras

(Edições brasileiras e norte-americanas)


 

Hans Staden foi, provavelmente, o primeiro brazilianist de nossa história. Tendo sido capturado pelos índios tupinambás em meados do século XVI, o aventureiro alemão produziu, em seu retorno à Europa, um relato tão minucioso quanto fantástico de sua estada no Brasil: seus algozes chegaram, ao que parece, muito perto de degustar, como verdadeiras delicatessen, as partes mais saborosas de seu corpo. Mas, as práticas canibalescas, rituais ou gastronômicas, dos selvagens americanos estão sendo contestadas pela moderna pesquisa antropológica, o que converte nosso primeiro brazilianist mais em um contador de aventuras do que em um intérprete fiel da realidade brasileira de então. 

Seja como for, nas pegadas de Hans Staden muitos outros visitantes estrangeiros percorreram os caminhos do Brasil em busca do fantástico e do exótico. Nesses quatro séculos de história, a espécie se multiplicou e uma fauna variegada de pesquisadores estrangeiros passou a frequentar nossos arquivos e bibliotecas, a entrevistar autoridades civis e militares, a visitar fábricas e a palmilhar favelas e frentes de ocupação agrícola. Nem todos eles estariam dispostos a ver em Hans Staden o patrono da tribo dos brazilianists, mas certamente a maior parte deles concordaria em que John W. F. Dulles é, hoje, um de seus mais legítimos representantes.

Com efeito, desde os tempos em que Monteiro Lobato discutia os grandes problemas da nacionalidade com o circunspecto Mr. Slang, andávamos em falta de um anglo-saxão afeito como ele às idiossincrasias do povo brasileiro e de tão fina percepção no confronto de certos absurdos de nossa organização social e econômica e dos velhos problemas que angustiavam o jovem Lobato.

O historiador americano John W. F. Dulles – as iniciais do meio referem-se aos nomes Watson Foster, mas o professor de Estudos Latino-americanos da Universidade do Texas em Austin e de História da Universidade do Arizona prefere ver seu nome escrito como nos Estados Unidos – não é propriamente candidato a novo Mr. Slang, tanto porque ele não pretende discutir ou interpretar as querelas do Brasil, nem penetrar nos aspectos pitorescos de seu povo. Não há dúvida, contudo, que através de sua já importante obra de brazilianist experiente, Mr. Dulles tem apresentado a muitos brasileiros detalhes pouco conhecidos da história nacional, bem como novas facetas da velha questão social, como a confirmar que, desde os anos vinte, o país se debate nos mesmos problemas que retinham a atenção do inglês imaginário e do escritor de Taubaté. 

O velho Foster Dulles, que adquiriu indevidamente a fama de “falcão da Guerra Fria”, nunca conseguiu que seus dois filhos homens trilhassem o caminho dos estadistas da família. O mais jovem, Avery, converteu-se ao catolicismo romano e tornou-se um dos mais respeitados teólogos da Igreja católica norte-americana. O mais velho, John, preferiu ser engenheiro metalúrgico a enveredar pelo Direito e a diplomacia. Foi nessa condição que ele passou 16 anos trabalhando ao Sul do Rio Grande, de onde emergiu como mexicanist ao publicar, em 1961, Yesterday in Mexico, uma das melhores crônicas históricas sobre a revolução mexicana. Nessa época, o historiador amador resolveu aceitar um convite para vir trabalhar no Brasil, a serviço da Hanna Mining, onde se consolidou seu gosto pela história narrativa, especialmente aquela ligada aos eventos políticos contemporâneos.

Sua reputação de brasilianista competente foi inaugurada desde a aparição, em 1967, de Vargas of Brazil, uma sólida e equilibrada biografia política do grande líder brasileiro, que mereceria uma segunda edição nacional. Já definitivamente instalado no Texas, mas dividindo seu ano acadêmico entre as cadeiras de Estudos Latino-americanos na Universidade do Texas em Austin e de História na Universidade do Arizona em Tucson, Dulles deu prosseguimento a uma das mais consistentes carreiras acadêmicas ligadas ao estudo da história do Brasil contemporâneo nos Estados Unidos, junto com Thomas Skidmore, Robert Levine e Joseph Love, para citar apenas alguns no campo da história.

A partir dessa primeira biografia, ele publicou uma série de alentados livros de história política brasileira: Unrest in Brazil (1970), um precioso relato das crises político-militares dos anos 1955-1964, infelizmente ainda não editado em nosso país; Anarchists and Communists in Brazil (1973), que, tendo se tornado um clássico no campo dos estudos historiográficos sobre as rivalidades entre anarquistas e comunistas nas primeiras décadas deste século, já pode ser considerado como obra de consulta obrigatória para quem quiser reconstituir a história do movimento operário brasileiro nas primeiras quatro décadas deste século; e os dois volumes da minuciosa biografia do Presidente Castello Branco (1978 e 1980), estes três últimos publicados no Brasil.

Em 1983, a Editora da Universidade do Texas publicava o seu extremamente bem documentado Brazilian Communism, editado em 1985 no Brasil pela Nova Fronteira, tendo sido aqui precedido pelo substancioso relato histórico sobre A Faculdade de Direito de São Paulo e a Resistência Anti-Vargas (em 1984). O brasilianista americano trabalhou em seguida na monumental biografia do falecido líder político Carlos Lacerda, cujo primeiro volume já foi publicado em ambos os países. A apresentação meticulosa e objetiva, ainda que elogiosa, da atuação política e jornalística do mais famoso tribuno do regime de 1946, abre caminho a uma reavaliação crítica dessa figura controversa de nossa história contemporânea. Lacerda foi odiado ou exaltado, por adversários e admiradores, mas raramente examinado com isenção. A historiografia contemporânea produzida no Brasil, geralmente de orientação progressista quando não esquerdista, tem sido implacável com o “demolidor de Presidentes”, como era conhecida essa figura de proa da UDN. Indiferente a nossas paixões partidárias, o Professor Dulles pode contribuir para recuperar para a história um animal político que parecia irremediavelmente extinto no cenário nacional: o líder de massas e o insuflador de opiniões.

Espera-se também que ele dê continuidade à sua pesquisa sobre as correntes de esquerda na política brasileira. Anarquistas e Comunistas cobria os primeiros 35 anos deste século e O Comunismo no Brasil contava a história do PCB entre 1935 e 1945. A documentação já acumulada por Foster Dulles sobre o período do pós-guerra lhe permitiria, por exemplo, reconstituir a história do comunismo no Brasil em sua fase de ascensão e declínio, isto é, 1945-1964, e depois relatar a experiência dos movimentos de esquerda entre o golpe militar e a anistia de 1979. Cumprido este programa, o filho do ex-Secretário de Estado de Eisenhower terá deixado sua marca indelével na historiografia política brasileira, cobrindo a maior parte do período contemporâneo. Mais do que isso: sua história “narrativa” vai seguramente resistir à marca do tempo e fornecer a mais de uma geração de historiadores brasileiros a matéria-prima de muitas “interpretações” e outras tantas “revisões” da história política brasileira no século XX.

Em seus diversos livros, mas sobretudo em algumas biografias, Dulles revela os inegáveis méritos e as inevitáveis insuficiências da narrativa histórica tradicional: a apresentação de grande coleção de eventos, personagens e datas, a par do reduzido, ou quase nulo, esforço interpretativo. Na maior parte dos casos, a abundância de informações fatuais, rigorosamente precisas e alinhadas cronologicamente, conduz à submersão do processo histórico global, confirmando o velho dito de que uma árvore pode encobrir a floresta.

Essas características estão especialmente presentes no relato biográfico sobre o Presidente Castello Branco, mas são também evidentes nas pesquisas sobre o movimento comunista brasileiro. De abril de 1964, quando ascende ao “poder revolucionário”, a 18 de julho de 1967, data de sua morte em desastre aéreo, a vida oficial e privada do Marechal-presidente Castello Branco é minuciosamente escrutada pelo professor americano, por vezes em detalhes tão insignificantes que um historiador mais preocupado com a ação propriamente política do biografado deixaria irremediavelmente de lado. A coleção de fontes é sobremaneira impressionante (28 páginas) o que confirma o “costume” que tem os brazilianists de ler tudo, consultar todos os documentos disponíveis e entrevistar quase todos os agentes diretos da história em causa. Releve-se particularmente o uso extensivo da imprensa brasileira da época, a consulta aos arquivos da Biblioteca Lyndon Johnson, além, é claro, dos próprios papéis de Castello Branco, sendo apenas de se lamentar que nos depoimentos orais figurem tão poucos inimigos políticos do Marechal-presidente.

O modelo não é novo e o mesmo professor Dulles já nos tinha oferecido em Unrest in Brazil: Political-Military Crises, 1955-1964 um relato extremamente rico e detalhado do imenso caudal de episódios visíveis e invisíveis que desembocou no golpe militar que levou o mesmo Caslello Branco ao Governo. Não se veja, contudo, nesta apreciação, um desmerecimento do importantíssimo trabalho já levado a efeito pelo historiador americano: o factualismo à outrance, além de constituir-se em legítimo approach da obra historiográfica qualquer que seja ela (o acúmulo de monografias e os exercícios de histoire événementielle sendo mesmo apontados por certos mestres da escola histórica francesa como condição prévia e indispensável à visão global do processo), é na certa muito útil aos sociólogos e cientistas políticos brasileiros, que encontram nos livros do cronista e narrador a base indispensável a vários exercícios interpretativos e analíticos. 

O desfile incessante de milhares de informações fatuais nos confirma igualmente outra prática arraigada de muitos brazilianists: o processo histórico como tal, que deveria receber um suporte analítico-interpretativo, necessário numa obra historiográfica acabada, se vê submergido quase sempre pela matéria bruta dos fatos. Assim, é possível conhecer, por exemplo, o teor de um manifesto militar, os hábitos matinais do Marechal-presidente ou ainda as palavras trocadas entre ele e seu amigo Vernon Walters durante um jantar íntimo, mas pouco ou muito pouco ficaremos sabendo das motivações profundas do tipo de política social e econômica proposta ou adotada por aquele conjunto de personagens. Que o Presidente Castello Branco tenha sido um Brazilian reformer não há dúvida, ainda que alguns contestem a importância histórica de suas “reformas”; o que a abundância de informações não nos permite ver de modo claro é precisamente as condições políticas, sociais e econômicas em que foi empreendida a obra restauradora do Marechal e seu impacto na configuração do Brasil contemporâneo.

Na verdade, não há nada de errado na compulsão documentalista do método do Professor Dulles: os ensaios interpretativos nunca poderiam ser feitos sem a matéria-prima da chamada histoire événementielle. Na França, aliás, a pátria de eleição da história estrutural no estilo dos Annales, assiste-se hoje a uma saudável retomada da história tradicional, depois de algumas décadas de ditadura do processo sobre o evento. Em defesa do “narrador” Dulles deve ser dito que jornais antigos, documentos raros, protagonistas diretos e testemunhas privilegiadas não costumam frequentar voluntariamente os gabinetes dos historiadores “interpretativos”. É preciso um árduo esforço de leituras, disposição para realizar centenas de entrevistas pessoais e, muitas vezes, uma resistência comprovada a poeira, traças e diversos tipos de roedores “críticos” para que obras do quilate das de Dulles venham à luz. A já vasta produção historiográfica do brasilianista de Austin tornou-se assim um referencial obrigatório para os historiadores e cientistas sociais brasileiros, fornecendo substrato material a uma visão global de nosso processo de desenvolvimento político e social.

 

[Paris, 29.05.94]

[Relação de Trabalhos nº 431]

Compilação, exclusivamente para fins desta antologia, dos trabalhos n. 039 (Berna, maio 1981) e 066 (Brasília, 11.09.86), publicados respectivamente em LEIA LIVROS (São Paulo, Ano IV, n. 37, 15 julho a 14 agosto 1981, p. 18) e em D. O. LEITURA (São Paulo, vol. 5, n° 54, novembro 1986, p. 14).

Relação de Publicados n. 014 e 028.

 

431. “Mr. Dulles e o Brazil: Ensaio Bibliográfico”, Paris, 29 maio 1994, 5 pp. Recompilação, exclusivamente para fins de antologia de livros resenhados, dos trabalhos nºs 070 (Berna, maio 1981), sobre o livro de John W. F. Dulles, President Castello Branco: Brazilian Reformer (College Station: Texas A&M University Press, 1980, 557 pp), e 130 (Brasília: 11.09.86), sobre diversas obras do brazilianist norte-americano, publicados respectivamente em Leia Livros (São Paulo: Ano IV, nº 37, 15 julho a 14 agosto 1981, p. 18) e em D. O. Leitura (São Paulo: vol. 5, n. 54, novembro 1986, p. 14). Relação de Publicados n. 014 e 028.

 

domingo, 13 de maio de 2018

CIA: documento liberado revela que ditadura militar ordenou execucoes sumarias de opositores

Quem redigiu o documento, ou seja, o agente da CIA, Philips, que recolheu o relato, absolutamente verdadeiro, de um dos participantes da reunião citada, hoje falecido, veio a ser sogro de um diplomata brasileiro, também já falecido,assim como sua esposa, filha do citado agente.
Eu poderia apostar quem fez o relato ao americano, mas prefiro não fazê-lo.
Quem liberou o documento foi o Office of the Historian, ou seja, o historiador oficial do Departamento de Estado, um cargo que deveria existir no Itamaraty, igualmente, mas que não se cogita criar. Essa série, US Foreign Relations, é uma das melhores coisas que existem na democracia americana, por vezes revelando coisas altamente sensíveis do ponto de vista da diplomacia americana e da atuação de seus "órgãos especiais".
O documento foi revelado em primeira mão para o Brasil pelo historiador Matias Spektor, da FGV-SP, a quem aproveito para saudar pelo seu excelente ativismo na prospecção de documentos históricos desse tipo.
Paulo Roberto de Almeida

FOREIGN RELATIONS OF THE UNITED STATES, 1969–1976, VOLUME E–11, PART 2, DOCUMENTS ON SOUTH AMERICA, 1973–1976
99. Memorandum From Director of Central Intelligence Colby to Secretary of State Kissinger 1
WashingtonApril 11, 1974.
SUBJECT
·         Decision by Brazilian President Ernesto Geisel To Continue the Summary Execution of Dangerous Subversives Under Certain Conditions
1. [1 paragraph (7 lines) not declassified]
2. On 30 March 1974, Brazilian President Ernesto Geisel met with General Milton Tavares de Souza (called General Milton) and General Confucio Danton de Paula Avelino, respectively the outgoing and incoming chiefs of the Army Intelligence Center (CIE). Also present was General Joao Baptista Figueiredo, Chief of the Brazilian National Intelligence Service (SNI).
3. General Milton, who did most of the talking, outlined the work of the CIE against the internal subversive target during the administration of former President Emilio Garrastazu Médici. He emphasized that Brazil cannot ignore the subversive and terrorist threat, and he said that extra-legal methods should continue to be employed against dangerous subversives. In this regard, General Milton said that about 104 persons in this category had been summarily executed by the CIE during the past year or so. Figueiredo supported this policy and urged its continuance.
4. The President, who commented on the seriousness and potentially prejudicial aspects of this policy, said that he wanted to ponder the matter during the weekend before arriving at any decision on [Page 279]whether it should continue. On 1 April, President Geisel told General Figueiredo that the policy should continue, but that great care should be taken to make certain that only dangerous subversives were executed. The President and General Figueiredo agreed that when the CIE apprehends a person who might fall into this category, the CIE chief will consult with General Figueiredo, whose approval must be given before the person is executed. The President and General Figueiredo also agreed that the CIE is to devote almost its entire effort to internal subversion, and that the overall CIE effort is to be coordinated by General Figueiredo.
5. [1 paragraph (12½ lines) not declassified]
6. A copy of this memorandum is being made available to the Assistant Secretary of State for Inter-American Affairs. [1½ lines not declassified] No further distribution is being made.
W.E. Colby

1.  Summary: Colby reported that President Geisel planned to continue Médici’s policy of using extra legal means against subversives but would limit executions to the most dangerous subversives and terrorists.
Source: Central Intelligence Agency, Office of the Director of Central Intelligence, Job 80M01048A: Subject Files, Box 1, Folder 29: B–10: Brazil. Secret; [handling restriction not declassified]. According to a stamped notation, David H. Blee signed for Colby. Drafted by Phillips, [names not declassified] on April 9. The line for the concurrence of the Deputy Director for Operations is blank.


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Addendum, em 16/05/2018: 

Geisel quis controlar repressão, dizem EUA

Em 1976, embaixada americana diz que presidente buscou estabelecer limites sobre órgão do Exército

Um telegrama norte-americano reforça trecho do memorando da CIA de 1974 no qual o então diretor da agência, William Colby, disse que o general e então presidente Ernesto Geisel (1974-1979) buscaria ter o controle sobre o principal órgão de repressão do Exército, o CIE (Centro de Informações do Exército).
O telegrama, enviado ao Departamento de Estado em 1976, integra o mesmo lote de documentos liberados pelo governo dos EUA em dezembro de 2015 no qual o professor da FGV e colunista da Folha Matias Spektor localizou o memorando que informava que Geisel avalizou assassinatos de adversários do governo.
Assinado pelo então embaixador dos EUA em Brasília, John Crimmins, o telegrama diz que o novo chefe do CIE, general Antonio da Silva Campos, “está no cargo há menos de um ano e parece ser a escolha do presidente Geisel para apertar o controle sobre a agência-chave de segurança no Brasil que atuou no passado com considerável autonomia e foi associada a algumas violações de direitos humanos”.
Diz ainda que, apesar da “determinação de Geisel de encerrar os maus-tratos, [o CIE] ainda não perdeu, aos olhos do público, sua associação com os antigos abusos aos direitos humanos”.
O telegrama discutia a possibilidade de o governo norte-americano convidar Campos para uma visita secreta aos EUA. 
O embaixador disse aos seus superiores que não estava muito confortável para fazer o convite porque o Brasil participava naquele momento da “Operação Condor”, uma associação entre ditaduras latino-americanas para localizar e matar opositores fora de seus países e na Europa. 
Segundo o embaixador, a visita do chefe do CIE poderia ser interpretada por países-membros da Condor como um aval dos EUA à operação.
O telegrama corrobora o entendimento de parte de historiadores e jornalistas que pesquisaram o período segundo os quais Geisel trabalhou para a abertura do regime militar, mas ao mesmo tempo tinha conhecimento de assassinatos extrajudiciais e manteve a repressão, agora sob controle mais estrito do Palácio do Planalto.
Em outro documento que integra o mesmo lote de papéis liberados em 2015 há mais um memorando produzido pela CIA que novamente indica uma proximidade com figuras-chave do governo, os generais João Baptista Figueiredo, então chefe do SNI (Serviço Nacional de Informações), e Golbery do Couto e Silva, então chefe do gabinete civil de Geisel.
O documento não aponta a fonte da informação, mas sugere que podem ter sido os próprios generais. “Eles [Figueiredo e Golbery] expressaram o seguinte: que a política de ‘descompressão’ (permitindo uma atividade política mais ampla) é um objetivo do governo e está próxima. Ela será cautelosa e medida. A oposição e outros [atores] terão que se comportar de maneira responsável.”
O papel foi assinado pelo general Vernon Walters (1917-2002), então vice-diretor da CIA, que tinha contatos estreitos com os principais militares brasileiros e foi um ativo conspirador no golpe de 1964 no Brasil, onde trabalhara como adido militar da embaixada norte-americana. 
O telegrama de Walters é de 25 de julho de 1974, três meses depois do memorando da CIA revelado na semana passada, no que o então diretor da agência, William Colby, informou ao secretário de Estado Henry Kissinger os detalhes de uma reunião que envolveu Geisel e Figueiredo.
O documento assinado por Walters mostra que a CIA continuou tendo acesso a dados da alta cúpula da inteligência militar da ditadura. O militar aparenta ter discutido com Figueiredo e Golbery tema econômico de interesse imediato dos americanos, a exploração de petróleo.
“O Brasil percebeu que o monopólio da exploração do petróleo pela Petrobras não vai gerar novos campos.

Em cerca de um ano eles vão alterar a legislação em vigor de forma a permitir que os EUA e a Europa ocidental participem, pois só eles têm a tecnologia necessária. Essa é uma ruptura com um duradouro mito nacionalista e levará um ano para que jovens oficiais e outros sejam educados a fim de aceitar a necessidade fundamental de permitir a participação estrangeira na prospecção de petróleo. Este é um passo muito expressivo”, escreveu Walters.

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Venezuela: o Partido Comunista Brasileiro manifesta seu apoio integral ao governo chavista

Bem, a nota não poderia ser mais explícita, e vem recheada daquelas expressões que já achávamos fora de moda, completamente ultrapassadas e anacrônicas.
Paulo Roberto de Almeida

Todo apoio ao legítimo governo da Venezuela. Golpear o fascismo e construir o poder popular!

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(Nota Política do PCB)
A Comissão Política Nacional do Partido Comunista Brasileiro (PCB) manifesta seu repúdio à tentativa de desestabilização do legítimo governo da Venezuela por parte da direita fascista do País, financiada e dirigida pelos organismos diplomáticos e de inteligência dos Estados Unidos, mediante a violência de grupos fascistas e paramilitares, cujo resultado foi a morte de três pessoas e ferimentos em dezenas de manifestantes.
A CPN do PCB manifesta também sua solidariedade militante a todos os combatentes populares e revolucionários, especialmente aos comunistas, que vêm resistindo bravamente através das grandes manifestações de massas contra essa tentativa de golpe.
As violentas manifestações que o mundo inteiro tomou conhecimento são parte de um plano conspirativo, idealizado na embaixada dos Estados Unidos e realizado por setores fascistas, visando a criar um clima de caos com o objetivo de justificar uma intervenção estrangeira no País. A desestabilização vem sendo realizada mediante a sabotagem do sistema elétrico, o desabastecimento do mercado de produtos básicos e o aumento dos preços por parte de setores empresariais, a especulação com o dólar, a violência nas manifestações e uma feroz campanha midiática nacional e internacional visando satanizar o governo venezuelano e transformar as hordas fascistas em legítimos manifestantes de oposição.
A Comissão Política Nacional apoia veementemente as medidas tomadas pelo presidente Nicolas Maduro, entre as quais a expulsão de três espiões norte-americanos fantasiados de diplomatas, e reafirma sua posição de que é necessário  isolar e debilitar o núcleo fascista e os paramilitares que estão atuando no País, avançar e aprofundar o processo revolucionário, mediante a construção do poder popular, única alternativa que os povos possuem para o enfrentamento com o capitalismo e o imperialismo
Comissão Política Nacional do PCB

sábado, 23 de novembro de 2013

Os comunistas trapalhoes do Brasil (1935): um pouco da historia passada - Euler de França Belém

Já foram muito trapalhões: os patifes atuais são apenas um pouco trapalhões, mas foram mais bem sucedidos na sua revolução "socialista": eles não querem mais construir o comunismo no Brasil, eles já se contentam em expropriar burgueses idiotas, e capitalistas em geral, mesmo contra a vontade destes, simplesmente instalando um governo que está mais próximo do fascismo do que do comunismo. Eles apenas querem eternizar suas expropriações, monopolizando o poder e garantindo para si riquezas e poder infinito...
Paulo Roberto de Almeida

O espião alemão que detonou a revolução de Prestes

POR  
Revista Bula, EM 16/11/2010 ÀS 06:05 PM (publicado em )
Johnny — A Vida do Espião Que Delatou a Rebelião Comunista de 1935”
Apoiados pela União Soviética de Josif Stálin, os comunistas brasileiros tentaram derrubar o presidente Getúlio Vargas em 1935 mas foram fragorosamente derrotados. Entretanto, ao contrário do que podem depreender alguns leitores, a Intentona Comunista fracassou não porque foi delatada, e sim porque era de um irrealismo abissal. Era uma formiguinha maluca brigando contra um astuto exército de elefantes. A traição serviu apenas, quem sabe, para antecipar e, assim, debelar a rebelião mais cedo. A história está devidamente anotada em livros de qualidade, como “A Rebelião Vermelha” (Record, 217 páginas, 1986), do brasilianista Stanley Hilton, “Camaradas — Nos Arquivos de Moscou: A História Secreta da Revolução Brasileira de 1935” (Companhia das Letras, 416 páginas, 1993), de William Waack, “Olga” (Companhia das Letras, 259 páginas, 1984), de Fernando Morais, “Revolucionários de 1935: Sonhos e Realidade” (Companhia das Letras, 432 páginas, 1992), de Marly de Almeida Gomes Vianna, e “Uma das Coisas Esquecidas — Getúlio Vargas e Controle Social no Brasil/1930-1945” (Companhia das Letras, 341 páginas, 2001), do brasilianista R. S. Rose. Agora, 75 anos depois, sai um livro excepcional sobre um personagem misterioso, comentado apenas episodicamente nos livros citados. “Johnny — A Vida do Espião Que Delatou a Rebelião Comunista de 1935” (Record, 600 páginas), de R. S. Rose e Gordon D. Scott, é uma obra do balacobaco sobre o alemão Johann Heinrich Amadeus de Graaf, mais conhecido como Johnny. Rigorosamente documentada, a obra é vazada no estilo de romance policial. Johnny começou a espionar para os soviéticos, chegou a se encontrar com Stálin e Molotov, para citar duas eminências soviéticas, mas depois se tornou espião dos ingleses. Uma das revelações, embora não devidamente explorada, é que Urbano “Bercuó” espionou para Johnny, em 1940, no Rio de Janeiro. Espionava navios de origem alemã e, aparentemente, estava na folha de pagamento dos ingleses. O promotor de justiça e pesquisador Jales Guedes Mendonça diz que se trata do advogado e jornalista goiano Urbano Berquó. “Foi advogado de Pedro Ludovico e jornalista do ‘Correio da Manhã’.”

Ao leitor mais interessado em assuntos brasileiros, recomendo a leitura de cinco capítulos, “Brasil um”, “Argentina”, “O retorno a Moscou”, “Brasil dois” e “Primeiros anos da guerra”. Se quiser entender como os espiões eram formados, e por quais motivos Johnny desencantou-se com o comunismo soviético — o paraíso social só existia na teoria e a repressão aos dissidentes era brutal —, é preciso ler todo o livro do americano R. S. Rose e do canadense Gordon D. Scott (que conheceu Johnny). A história de Johnny, de tão impressionante, às vezes parece inventada. Não há, porém, nada de ficcional. Os estudiosos são criteriosos e parcimoniosos no uso da documentação. Muitos documentos a respeito de Johnny, sobretudo na Inglaterra, ainda não estão disponíveis.

Delírio de Prestes
Luís Carlos PrestesConquistado pelos comunistas alemães, o ex-marinheiro Johnny se tornou um tarefeiro do partido. Perseguido na Alemanha, escapou para a União Soviética, de onde, espião especialíssimo, foi enviado a vários países, com o objetivo de semear a revolução. Esteve na Romênia, na Hungria e na China. Ao voltar da Ásia, foi convidado pelo general soviético Manfred Stern para acompanhá-lo à Espanha, país onde, pelo menos no início, Stálin pretendia implantar uma espécie de república soviética. Diante da recusa, Alfred Langner deu-lhe a chance de voltar à China ou participar da revolução no Brasil. O célebre Dmitri Manuilski, do Comintern, participou da conversa.

O papel de Johnny, espião do M4, a Inteligência do Exército soviético, seria “cultivar, recrutar e desenvolver células dentro e fora das forças armadas” brasileiras. Langner garantiu que o capitão Luís Carlos Prestes, que seria o chefe da revolução patropi, era “um líder nato”. Foram escalados para comandar a derrubada de Vargas os comunistas Arthur Ernst Ewert (codinome Harry Berger), Johnny de Graaf (codinome Franz Paul Gruber), o americano Victor Allen Barron, o italiano Amleto Locatelli, o argentino Rodolfo José Ghioldi, os soviéticos Pavel Vladimirovich Stuchevski (com o codinome de Leon Jules Vallée, era da NKVD, a futura KGB) e Sofia Semionova Stuchevskaya (mulher de Pavel), a alemã Olga Benario (guarda-costas e amante de Prestes). Na primeira reunião, em Moscou, Prestes disse que a revolução estava madura no Brasil e que 90% do trabalho “já havia sido feito”. Realista absoluto, Johnny pensou: “Esse homem tem a cabeça nas nuvens. Às vezes a realidade e a lógica sensata lhe escapam”. Logo depois, Johnny informou seu contato no MI6 (serviço secreto de inteligência inglês), o britânico Frank Foley, que reportou-se ao major Valentine Patrick Terrel Vivian, “Vee-Vee”. O espião Alfred Hutt, superintendente-assistente-geral da Light no Rio de Janeiro, havia sido informado.

Na década de 1930, depois de, um pouco antes, ter acusado a social-democracia de “social-fascismo”, o Comintern (Internacional Comunista) mudou de tática e passou a incentivar a política de construção de frentes políticas com a participação de comunistas e democratas. “A intenção era radicalizar aos poucos cada Frente”, ressaltam Scott e Rose. No Brasil, o Partido Comunista do Brasil (erroneamente, apontado como Partido Comunista Brasileiro; esta nomenclatura só vai ser empregada décadas adiante) aderiu à Aliança Nacional Libertadora (ANL). Numa reunião, no Rio de Janeiro, Johnny ficou estupefato com o superficialismo político e tático de Prestes, que acreditava, era fé mesmo, que o Brasil estava “pronto” para a revolução. Quando Johnny duvidou, Prestes vociferou: “Sim, estamos!” Johnny contestou-o e ficou impressionado com o fato de que o PCB estava afastado do centro das decisões. Mas o líder personalista não desistiu. Avaliava que era possível construir uma revolução sem as mínimas condições objetivas, numa leitura simplista das ideias leninistas.

Afastado do centro das decisões, por ser cético quanto ao poder de fogo do grupo de Prestes, Johnny passou a ser informado dos assuntos da cúpula por sua mulher, Helena Krüger, que atuava como motorista do líder revolucionário. As informações eram repassadas aos ingleses, que as transmitiam ao governo de Vargas. Mesmo sabendo que a revolução estava fadada ao fracasso, porque era uma mera “revolta militar”, Johnny treinou alguns recrutas, totalmente despreparados, e deu orientações a Prestes, que as recusou.

Com ou sem preparação, a rebelião estourou em Natal, em novembro de 1935, e em Recife. Os rebeldes assumiram o controle da capital do Rio Grande do Norte, mas por pouco tempo. No Rio de Janeiro, a revolta também explodiu. O presidente Getúlio Vargas, no lugar de inquirir sua polícia, ligou para Hutt e perguntou se os comunistas tinham chance de vencer. Johnny disse a Hutt que deveria tranquilizar o presidente, pois “não havia a menor chance” de a revolta ser bem-sucedida. Era uma quartelada. “A Revolução Social, ou Intentona Comunista, estava encerrada em um fiasco de quatro dias.” Johnny a delatara, é verdade, mas o fracasso se deu muito mais por causa da orientação inconsistente de Prestes. Os militares de esquerda e os comunistas não estavam preparados para tomar o poder, mas confundiram desejo com realidade.

O governo de Vargas reprimiu ferozmente a rebelião, prendeu (a estatística varia de 7 mil a 35 mil pessoas) e torturou centenas. Um alemão da Gestapo, da equipe do diretor da polícia Filinto Müller, torturou Arthur Ewert logo depois de sua prisão. Quebrou um dos polegares de Ewert com um quebra-nozes e ficou irritado porque o comunista não gemeu. Brutalmente espancado, Ewert enlouqueceu. Sua mulher, Elise (Sabo), foi enviada para um campo de concentração, onde morreu em 1941. Olga Benario morreu, “em uma câmara de gás em Bernburg, em março de 1942”. Delatado por Rodolfo Ghioldi, o americano Victor Allen Barron foi morto sob tortura.

Moscou desconfiou de Johnny, procedeu a uma grande investigação, mas, usando a velha dialética leninista, o espião conseguiu convencer os veteranos stalinistas — a feroz “inquisidora” búlgara Stella Blagoeva continuou duvidando de sua integridade — que o fracasso da revolução brasileira tinha a ver unicamente com o voluntarismo de Prestes.

Depois de um período na geladeira, Johnny voltou ao Brasil, agora com a missão de espionar os nazistas para os soviéticos e, claro, para os britânicos. Era eficientíssimo. Montou uma rede de espiões, pagos pelos ingleses, e começou a repassar informações confiáveis sobre negócios dos alemães com os brasileiros. Chegou a ser preso e torturado pela polícia de Filinto Müller, que era simpático aos nazistas, e só foi liberado por conta de pressões inglesas. Com o fim da guerra, foi dado como morto por seus chefes soviéticos e mudou-se para a Inglaterra, onde adotou outro nome e continuou a espionar, especialmente no Canadá. Quem era Johnny? “Não era um comunista de carreira, tentando agradar superiores na órbita stalinista, mas alguém que estava do lado de fora olhando para dentro”, sintetizam seus biógrafos. Johnny morreu em 1980, aos 86 anos, no Canadá, com o nome de John Henry de Graff (ligeira alteração de seu sobrenome).

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Recebido de um leitor: 
Bom dia,

A partir do seu post em 

http://diplomatizzando.blogspot.com.br/2013/11/os-comunistas-trapalhoes-do-brasil-1935.html

interessei-me pela lista de livros lá citada, em particular pelo  

“Uma das Coisas Esquecidas — Getúlio Vargas e Controle Social no Brasil/1930-1945” (Companhia das Letras, 341 páginas, 2001), 
do mesmo autor do livro comentado no post.

Em geral, antes de ler alguém que não conheço, gosto de pesquisar um pouco sobre o autor, saber qual é a dele e o que dizem dele. Para não perder tempo.

O que achei interessante é que esse sr. R.S.Rose parece "inachável" pela rede, apesar de ter escrito seus livros em plena era da Internet. É quase como se não existisse. Nenhum foto, nenhum vídeo ou entrevista no you tube, nenhum  página no facebook, nenhum  citação na wikipedia.

Ele tem três livros na Amazon: um é editado pela Ohio University Press, em 2006,  (The Unpast: Elite Violence and Social Control in Brazil, 1954-2000), outro pela Pennsylvania State University Press, em 2010, (Johnny: A Spy's Life), e o mais antigo, de 2000, pela  Praeger (One of the Forgotten Things: Getulio Vargas and Brazilian Social Control, 1930-1954). 
Essa última editora, Praeger, não tem website, é pouco citada via Google,e parece ter sede em Santa Barbara-CA. 
O nome dele aparece sempre na forma R.S. Rose, ou seja, um sobrenome comuníssimo e apenas as iniciais no prenome. 
No site da Penn State Presse diz apenas que "R. S. Rose, an American, took his doctorate from the University of Stockholm. He teaches criminology and criminal justice at Northern Arizona University, Yuma."
A pergunta inevitável: esse moço existe ??
Abs,
 Alexandre.
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Minha resposta (PRA):
Existe sim; depois que eu comprei o livro dele, na edição americana "Forgotten Things", interessei-me por um ele, e fui buscar.
O Stanley Hilton me falou um pouco dele e de sua carreira errática. Ou seja, competente, mas não conseguiu boas posições nas universidades americanas.
Mas eu não tenho contato com ele, embora possa buscar...
Paulo Roberto de Almeida 

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Desencontros presidenciais: Brasil e Alemanha, e seus presidentes...

Seria patético, se não fosse ridículo...


Ernesto Caruso, 25/07/2013

        Circulou no noticiário que a presidente Dilma pediu ao presidente da Alemanha, Joachim Gauck, apoio desse Estado para os trabalhos da Comissão da Verdade, que apura violações aos direitos humanos no Brasil entre 1946/1988, mas que se fixa e ecoa por cara publicidade, no período 1964/88, e exclusivamente sobre os que combateram os comunistas. Razões sem contrarrazões, efeitos sem causa. A reunião ocorreu no 31° Encontro Econômico Brasil-Alemanha. E era “econômico”. Inusitado e irônico, não só pelo tema em pauta, mas também pelo passado dos interlocutores em polos opostos.

        Alemanha e Brasil tiveram experiências amargas com os comunistas, com a diferença em que lá, a parte oriental esteve sob o tacão das botas vermelhas do pós-guerra, 1945, até a queda do Muro de Berlin, 1989. Mundo tão bom de viver que quase 3 milhões fugiram para o lado ocidental, 1949/1961 (ano da construção do muro). Mais de mil cidadãos foram metralhados na tentativa de escapar daquele inferno. No Brasil os comunistas foram derrotados em 1935 e no interregno 60/70.
        Já na década de 20 a subversão comunista se fazia presente na Alemanha vinculada ao nome de Olga Benário que era alemã, fugitiva, condenada, depois homiziada na Rússia, veio como guarda-costas de Prestes, conduziram a Intentona de 1935, foi deportada mediante pedido de extradição para Alemanha no governo Vargas, responsável pelo ato com aval do Supremo Tribunal Federal em 1936, bem antes do mundo saber da existência do extermínio nazista dos judeus.
Anos 70, Alemanha Ocidental, assaltos a bancos, sequestros e mortes, atos terroristas da Fração do Exército Vermelho/RAF (Grupo Baader-Meinhof). Julgados, Gudrun Ensslin, Andreas Baader e Jan-Carl Raspe foram condenados à prisão perpétua. Ulrike Meinhof havia se suicidado em sua cela. Os outros três também se suicidaram posteriormente. Foram considerados crimes do Estado? Famílias indenizadas?
Confusão mental, insegurança, desespero. Suicídios comuns; vários são citados no Brasil, como exemplo, se lê na entrevita de Carlos Araújo quando perguntado sobre quem trocara os dólares do cofre do Ademar, uma a Dilma e outra a Maria Auxiliadora, uma médica que depois acabou se matando na Alemanha.
Dois fatos ligam os tribunais revolucionários do Brasil à Alemanha pelos túneis de sangue inocente. Um marcado pela incompetência do grupo comunista Colina que pretendendo se vingar da captura de Guevara pelo capitão Gary Prado do Exército boliviano, assassinou em 1968, Edward Ernest Maximilian, major do Exército alemão, também aluno da Escola de Comando e Estado Maior do Exército. Dentre os terroristas, João Lucas Alves, ex-sargento, que segundo a entrevista de Cláudio Galeno, se hospedava na residência dele e Dilma Roussef.
O outro fato foi o sequestro do embaixador da Alemanha, E. Von Holleben, em 1970 pela Vanguarda Popular Revolucionária. Na ação, um segurança foi morto e dois ficaram feridos.
Como poderia atender o presidente Joachim Gauck — filho de pai preso e deportado para a Sibéria — o hilariante pedido? Ao que consta, exerceu papel importante na reunificação da Alemanha e na queda do Muro de Berlim, sendo responsável pelo arquivo da Stasi, órgão responsável pela segurança do Estado na República Oriental. Não deve ser a pessoa indicada, ou será incoerente, se apoiar o governo atual, eleito democraticamente, mas que no passado a presidente e partidários cometeram os mesmos desatinos vividos pelo povo alemão, assim como em outras nações infiltradas de organizações clandestinas comunistas/terroristas com a estrela vermelha como símbolo.
Nomes e siglas não faltam a lembrar das atrocidades terroristas, como as Brigadas Vermelhas (Itália), Exército Vermelho (Alemanha), Montonero e Exército Revolucionário do Povo (Argentina), Tupamaros (Uruguai), Sendero Luminoso (Peru), FARC, ainda viva (Colômbia), e no Brasil, Aliança Libertadora Nacional (ALN)/Ala Marighela, Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), Vanguarda Armada Revolucionária Palmares, Comando de Libertação Nacional (COLINA), Política Operária (POLOP), MR-8, etc. Operação Condor é fichinha.  
A comissão da meia verdade sabe de tudo isso em profundidade, mas não conta ao povo brasileiro e sim que se lutara pela democracia. Deve ser do tipo República “Democrática” da Alemanha, a oriental, sob títeres filossoviéticos. 

segunda-feira, 26 de março de 2012

Um bolinho para os comunistas: que gracinha (seria melhor se nao mentissem...)

Os comunistas de todo o Brasil -- cabem em dois ônibus; OK, três -- comemoraram o que eles chamam de "90 anos de vida".
Não tenho certeza de que tenha sido uma vida completa, ou seja, uniforme, pois mudaram várias vezes de posição, de lado, de bandeiras -- não, de bandeiras não, só de slogans -- e, sobretudo, de versões de sua história.
Eles poderiam começar por não mentir, o que já seria um grande avanço para uma história sincera, fiel aos fatos, que pretendem centenária, dentro de dez anos (se sobreviverem até lá, o que é provável, pois contam com fundos públicos e o apoio de uns poucos true believers).
Por exemplo, na matéria que lhes dedica esse pasquim comunista que se chama "Correio do Brasil", lê-se o seguinte, logo na primeira linha:


"Há exatos 90 anos, um grupo de trabalhadores – eram 73 no país todo – fundava o Partido Comunista Brasileiro (PCB). "


Por que razão eles já começam mentindo?
Em 1922 foi fundado, exatamente, o "Partido Comunista do Brasil, seção brasileira da Terceira Internacional". Ou seja, foi fundado o PCdoB, não o PCB. Por que eles escondem isso?
Ele só se transformou em Partido Comunista nos anos 1950, quando pretendiam dar um ar nacional ao que era uma filial do PCUS, o Partido Comunista da União Soviética.
Alguns anos depois, comunistas descontentes com a linha levemente antistalinista do PCUS -- então sob Nikita Kruschev -- e apoiadores daquele outro genocida chamado Mao Tsé-tung resolveram recriar o PCdo, passando a apoiar os chineses, que então se aliavam a qualquer um, desde que fosse contra a União Soviética. Que princípios, hem?


Eles poderiam, também, para serem absolutamente fieis à história, de lembrar que em agosto de 1939, num "volte-face" que surpreendeu muita gente ao redor do mundo, os comunistas soviéticos fizeram um pacto com os nazistas hitleristas. Obedientes como eles são, todos os comunistas, inclusive os do Brasil, apoiaram disciplinadamente o camarada Stalin, e passaram a dizer que Hitler eram um socialista, aliado da causa, e que os socialistas eram, na verdade, "social-fascistas", só um pouco melhores do que os "cães trotsquistas". Essas coisas a história registrou, só que os comunistas se esqueceram, ou não querem contar.
Que coisa hem?! Comunistas e fascistas, aliados, juntinhos, amiguinhos...
Se dependesse deles, continuariam amigos até hoje. Pena que o Hitler, esse safado, traiu a causa e invadiu a União Soviética. Foi pena, de verdade, pois eles se entendiam tão bem.
Aliás até hoje. Não há nada mais parecido do que um fascista do que um comunista, e vice-versa. Na verdade, são a mesma coisa: autoritários, totalitários, amigos de censura, de prisão para seus opositores ideológicos.
Mas continuam gozados. O pessoal do PCdo, por exemplo, chorou copiosamente quando morreu o segundo ditador da Coréia do Norte, dizendo que ele tinha trazido paz e felicidade ao povo daquele país. 
Que gracinha!


Na mesma matéria od 90 anos, por vezes hilariante, podemos ler coisas do gênero:


"...os ideais de Karl Marx e Friedrich Engels estão mais atuais do que nunca e precisam ser implementados no país, de uma vez por todas".


Uau! Eles dizem isso sem corar?
De verdade? E de uma vez por todas?
Vamos lá, pessoal, ainda um pequeno esforço e vocês conseguirão...


E como os comunistas comemoram os seus 90 anos? Bem, eles alugaram uma casa de shows, mas não sei se o espírito comunista foi preservado. Senão vejamos:


"Na chegada à casa de shows alugada pela organização do PCdoB, a retreta recepcionava os convidados, vestidos para festa, aos acordes de clássicos marciais dos mais variados, indo desde um pout pourri de Raul Seixas à The Washington Post March, embora executada com parcimônia por um dos clarinetistas, que a considerava “yankee demais” para o evento."


São divertidos esses comunistas, ainda mais quando escrevem coisas deste tipo: 


"Se uma garrafinha de água, na casa de shows, custava R$ 4, era de graça para os comunistas na ABI. Estes últimos também puderam saborear um cafezinho da casa, enquanto respiravam a odisséia de uma legenda que, embora dividida, aponta para o horizonte do socialismo no Brasil."


Horizonte do socialismo no Brasil? Deveras?
Mas que exploradores do povo os proprietários capitalistas da casa de shows: cobrar R$ 4 por uma garrafinha de água???!!!
Que direito eles têm de explorar comunistas? Justo os comunistas, que são contra a exploração do homem pelo homem...
E essa coisa de água sair de graça, isso não existe. Como diria o capitalista ultraliberal Milton Friedman, "there is no such thing as a free lunch".
Se alguém lhe deu algo de graça, é porque um outro alguém está pagando, neste caso todos os sócios da ABI, mesmo os que não são comunistas.
Que exploração, hem?!


Bem, para encerrar, os comunistas não deixam de ser pateticamente otimistas, como se lê por esta frase: 


"Seja sob o brilho dos holofotes, na festa animada por artistas que simpatizam com o ideário comunista, seja no ambiente simples e austero da ABI, o comunismo chega às raias de seu primeiro século no Brasil com a perspectiva de um crescimento sem par na história republicana brasileira. "


Bem, só podemos desejar saúde e felicidades aos comunistas.
Eles continuam impagáveis.
Literalmente...
Paulo Roberto de Almeida