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terça-feira, 11 de outubro de 2022

O BRICS já representou várias deformações na política externa do Brasil: a guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia é mais uma...

Entrada na OCDE significa ‘contradição’ com articulação com BRICS, diz analista

É o mundo, outubro 10, 2022


O ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a dizer que o Brasil será a única economia presente no BRICS, no G-20 e na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), caso o processo de adesão seja concluído. Guedes disse que isso pode trazer benefícios internacionalmente. A avaliação, no entanto, divide especialistas.

A declaração do ministro foi dada durante cerimônia em que o Brasil apresentou o memorando inicial para entrada na OCDE.

“O Brasil, depois do fim do processo de acesso, será o único país ao mesmo tempo na OCDE, no G20 [grupo das 20 maiores economias] e no BRICS. Isso abre caminho para que o país, quem sabe, possa entrar no Conselho de Segurança das Nações Unidas [de forma permanente]”, disse Guedes.

Essa visão do ministro, de que a entrada na OCDE fortaleceria o Brasil internacionalmente, não é consenso entre especialistas, principalmente pela participação do Brasil no BRICS. Para o economista Fábio Sobral, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), a decisão de querer estar nos dois organismos é contraditória.

“Há um desconhecimento do ministro Paulo Guedes sobre o que de fato representa o BRICS. O BRICS é uma articulação do Sul Global que busca se defender das práticas impositivas do modelo dominado pelo setor financeiro de Wall Street, nos Estados Unidos, e a cidade de Londres, no Reino Unido”, avalia.

Para o analista, a entrada na OCDE “significa uma contradição com a articulação com o BRICS”. “Aliás, o governo [Jair] Bolsonaro manteve a articulação com o BRICS em banho-maria esse tempo todo, tanto pela incapacidade pessoal, quanto pela incapacidade política”, aponta.

Especialistas ouvidos anteriormente pela Sputnik destacaram que o Brasil enfrenta grandes desafios no cenário internacional no próximo período e deveria buscar no fortalecimento do BRICS uma forma de enfrentá-los.

“[O BRICS] é uma tentativa de buscar o desenvolvimento científico-tecnológico, social e econômico sem imposição de ocupações militares, sem a coação, sem a derrubada de governos. O BRICS tem uma outra natureza, distinta do que se apresenta na OCDE. A presença nos dois organismos mostra, inclusive, uma escolha contraditória, na medida em que você quer estar de um lado e do outro”, aponta Sobral.

Josilmar Cordenonssi, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), por outro lado, enxerga que a participação do Brasil nos diferentes espaços pode ser positiva.

“O Brasil teria uma posição realmente privilegiada de ser interlocutor com vários países do mundo que, às vezes, não se comunicam diretamente. Você está tendo uma certa Guerra Fria entre Estados Unidos e China e também o Ocidente com a Rússia não é uma Guerra Fria, é uma guerra congelada, né? Está muito pior. Então, o Brasil pode fazer o papel de meio de campo nesse cenário partido da política internacional”, disse Cordenonssi.

O professor da Mackenzie enxerga o ingresso na OCDE como positivo por entender que “muitas coisas que são discutidas na OMC começaram na OCDE”.

“O que no governo PT eles colocavam, principalmente o chanceler Celso Amorim e também o PT, viam com uma certa desconfiança pertencer à OCDE porque o país ia ser tratado como membro do clube dos ricos. A OCDE era vista como o clube dos ricos. Então o Brasil ia perder, principalmente na negociação da Organização Mundial do Comércio, o papel de liderança entre os países emergentes. Mas eu acredito que isso não é uma questão relevante hoje em dia, tem países que ainda não são desenvolvidos na OCDE, que são nossos vizinhos, como Chile e México, e muitas coisas que são discutidas na OMC começaram na OCDE. Então, participar da OCDE pode ajudar o Brasil a ser interlocutor. Talvez, potencializar esse papel, e não prejudicar”, avalia o economista.

O Brasil já aderiu a 112 das 257 diretrizes impostas pela OCDE para o ingresso. A OCDE foi criada em 1961, no período pós-Segunda Guerra Mundial, integrando países ricos da Europa e os Estados Unidos. A organização passou a incluir mais nações ao longo do tempo e hoje conta com 38 membros.

Sobral, por sua vez, é um crítico dessa empreitada por enxergar regras muito rigorosas. Segundo ele, a entrada do Brasil na entidade pressupõe uma submissão a “acordos comerciais que são danosos, que buscam tornar o país desindustrializado e exportador de commodities”.

O professor da UFC avalia que o processo de ingresso na OCDE têm servido como uma espécie de “propaganda” para o governo Bolsonaro, sem planos concretos.

O especialista ainda aponta que não basta a inserção na OCDE para reposicionar o Brasil no cenário internacional. Segundo ele, o país precisa primeiro enfrentar uma crise social interna para vislumbrar maiores espaços internacionalmente.

“Nós estamos […] [em uma] crise muito profunda e qualquer ganho parece um grande ganho, mas, na verdade, nós ainda estamos numa situação muito trágica, tanto que há 30 milhões de pessoas que passam fome hoje no país e o ministro Paulo Guedes comemora os resultados da economia, como se os resultados da economia estivessem desligados na vida do povo brasileiro”, afirmou Sobral.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Socialismo e papel higienico: a eterna contradicao dialetica - JanerCristaldo

Depois de ter aqui postado, pela quinta ou sexta vez, uma matéria sobre a falta de papel higiênico na Venezuela, recebi o link abaixo de uma postagem do inefável Janer Cristaldo sobre o mesmo problema, mas já em 2009, que reproduzo abaixo.
Donde se pode concluir que existe uma contradição insanável, irredutível, definitiva, entre o socialismo e o papel higiênico. Deparei-me com essa contradição dialética, perfeitamente marxista, em vários países do socialismo real que visitei, nos velhos tempos em que tal sistema existia. 
Oh, que saudades!
Era bem mais fácil, então, explicar para os incautos, as diiferenças entre socialismo e capitalismo. Como descobriu rapidamente meu filho de 4 anos, socialismo é quando falta papel higiênico. 
Imbatível como definição!
Paulo Roberto de Almeida

SOCIALISMO E PAPEL HIGIÊNICO
Blog do Janer Cristaldo
segunda-feira, fevereiro 16, 2009

Desde há muito escrevo sobre essa estranha incompatibilidade entre socialismo e papel higiênico. Mesmo antes de viajar para países socialistas, eu ouvia relatos de turistas sobre o assunto. Não era fácil encontrar o artigo nos hotéis. Muitas agências recomendavam que o turista se munisse de um bom estoque de rolos, antes de viajar para a União Soviética.

O pior ocorreu na Romênia, em 1981. Em qualquer hotel que chegasse, a primeira coisa que tinha a fazer era pedir papel higiênico na portaria. Lembro que em Mangália, cidade litorânea do mar Negro, quando fui reclamar a uma moça da portaria com cara de sargento, ela me perguntou: "quantos dias o senhor vai ficar aqui?". Neste hotel, dois dias. Olhou-me então de alto a baixo, avaliou meu metabolismo, rasgou uns dois metros de um rolo e passou-me as tiras.

Em outras viagens a outros países socialistas, o problema não era tão grave, foram feitas perto da Queda do Muro ou depois. Mesmo assim, em 2000, nove anos após o desmoronamento da URSS, em São Petersburgo, tive de voltar a implorar papel higiênico na portaria do hotel.

De Cledson Ramos, amigo e leitor, recebo:

Oi Janer,

Sua tese da incompatibilidade entre Socialismo e papel higiênico continua válida:

"Neste ano, a Venezuela só conseguirá importar metade do que precisa, agravando o racionamento de produtos de primeira necessidade. Na semana passada, a venda de papel higiênico em alguns supermercados estava limitada a quatro rolos por consumidor."

*FONTE: http://veja.abril.com.br/180209/p_074.shtml

Um abraço,
Cledson


Assim, entende-se as altas tiragens do Pravda.

domingo, 22 de julho de 2012

'A patria nada se pede, 'a patria tudo se da' - Augusto Nunes

Uma postagem antiga, que tinha passado despercebida. Sem endossar...


O sobrenome do chanceler que vive de joelhos é mais que uma contradição. É um insulto aos patriotas de verdade

Sequestrado pelas Farc em 13 de outubro de 1998, Elkin Rivas sobrevive há quase 100 mil horas ao mais brutal dos cativeiros. Ele tinha 22 anos e era tenente da polícia colombiana quando foi capturado sem ter cometido qualquer crime e sentenciado, sem julgamento formal, a um tipo de horror que não tem prazo para terminar. Aos 34, não sabe quando ─ ou se ─ retomará a vida interrompida. Enquadrado na categoria dos “reféns políticos”, Elkin é um dos 13 remanescentes do grupo cuja soltura as Farc condicionam desde 2006 ao indulto de 500 narcoterroristas capturados pelo governo e condenados pela Justiça.
A interrogação sugerida no segundo parágrafo do post de 9 de agosto de 2010, reproduzido integralmente na seção O País quer Saber, foi desfeita à bala pouco mais de um ano depois. Em 26 de novembro de 2011, em meio a uma tentativa de resgate empreendida por soldados do exército, a tropa narcoterrorista cumpriu a lei da selva: antes de fugir, matou os quatro reféns que mantinha acorrentados. Um era civil. Entre os três militares estava o tenente Elkin Rivas, executado com três tiros na cabeça.
“O Brasil tem uma posição neutra sobre as Farc”, recitou Marco Aurélio Garcia desde o começo do governo Lula, para camuflar as relações de cumplicidade entre o Planalto e a organização narcoterrorista. Em 2010, orientados pelo Assessor Especial para Assuntos Internacionais, o presidente Lula e Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, não se comoveram com o martírio imposto aos sequestrados por companheiros colombianos.
Em 2011, também monitorados pelo conselheiro Garcia, Dilma Rousseff e o atual chanceler Antonio Patriota não disseram uma única palavra sobre o desfecho do drama. O silêncio da dupla reafirmou a opção obscena por um tipo de neutralidade que iguala um governo constitucional e um bando de assassinos, o certo e o errado, a claridade e a treva. E mostrou que era Garcia o chanceler de fato.
Era e é, berra o desembaraço com que vem agindo o professor de complicações cucarachas desde o impeachment sofrido pelo companheiro Fernando Lugo. Inconformado com a perda do reprodutor de batina, decidiu no mesmo minuto que Hugo Chávez e seus estafetas bolivarianos tinham razão: houve “um golpe” contra a democracia. A descoberta do primeiro golpe da História que obedeceu ao que manda a Constituição do país foi a senha para a sequência de pontapés na verdade e na soberania do Paraguai.
Ninguém, não custa registrar, deve espantar-se com o que diz a boca à espera de um dentista: Garcia acha que a solução para o futuro do subcontinente está num passado que não deu certo. Espantoso é o silêncio dos embaixadores ainda na ativa ou aposentados. Espantoso é o servilismo dos chefes do Itamaraty escalados para a execução da política externa da cafajestagem formulada por essa velharia perdida nos escombros do Muro de Berlim.
A vassalagem de Celso Amorim garantiu-lhe o emprego e a estima de todos os liberticidas amigos de Lula. A sabujice de Antonio Patriota ratifica a fama de melhor aluno de Amorim. A ausência de luz própria identifica um integrante da tribo que consulta o chefe até para escolher o prato no restaurante. A expressão assustadiça rima com quem vive de joelhos. E está sempre pronto para defender o indefensável, como atestou a tentativa de justificar no Senado mais um papelão internacional do Brasil.
“A suspensão do Paraguai do Mercosul e da Unasul enviou um sinal claro ao governo recém-instalado em Assunção e mostrou que a região não tolera desvios que comprometam a plena vigência da democracia no continente”, declamou Patriota. Ele considerou o reconhecimento do novo governo paraguaio por dezenas de países tão irrelevante quanto o relatório de Jose Miguel Insulza, secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, que voltou de uma visita ao Paraguai sem ter enxergado qualquer ilegalidade no afastamento de Lugo.
“É uma opinião pessoal”, desdenhou. “A questão paraguaia precisa ser discutida por todos os membros da OEA. Nosso compromisso com a democracia é inegociável”. As eleições presidenciais marcadas para daqui a nove meses podem normalizar as coisas, concedeu o representante do governo que exigiu a devolução a Cuba da carteirinha de sócio da OEA. Por que o Paraguai só será redimido pela aparição das urnas que sumiram há mais de 50 anos da ilha-fazenda dos Irmãos Castro? “Nenhuma democracia é perfeita”, balbuciou. A ditadura comunista, portanto, é uma democracia imperfeita.
E os países governados por tiranetes amigos só precisam de ajustes, informou a continuação do palavrório: “Todos nós estamos aqui lutando para aperfeiçoar nossa democracia e pode haver aspectos em uma democracia e outra que nos pareçam aprimoráveis”. A plateia indignada com o espetáculo do autoritarismo encenado na Venezuela, na Argentina ou na Bolívia só precisa ter paciência com o bolívar-de-hospício, a viúva-de-tango e o lhama-de-franja. Os três são “aprimoráveis”.
Antes de janeiro de 2003, as diretrizes da política externa se subordinavam aos interesses do país ─ e o cargo de ministro das Relações Exteriores decididamente não era para qualquer um. Hoje, a diplomacia brasileira revogou a altivez para atender aos interesses de um partido, aos caprichos do Planalto e às vontades de vizinhos vigaristas. No Brasil de Lula e Dilma, até um Celso Amorim pode virar ministro. Até um Antonio Patriota.
O sobrenome do chanceler é mais que uma contradição. É uma afronta à história do Itamaraty. E é um insulto aos patriotas de verdade.