Ucho.info, 5 de Fevereiro de 2014
Pela culatra – Apareceu a primeira vítima da aventura cubana do governo petista de Dilma Rousseff. Em
longa matéria publicada no “The Miami Herald”, a jornalista Mimi Whitefield (Twitter @HeraldMimi) relata o atual vexame enfrentado pela empreiteira Odebrecht USA por causa da inexplicável aliança do grupo com a ditadura cubana dos irmãos Castro.
Em suma, a matéria é um lamento da perda do perfil “low profile” da companhia que tem ligações históricas com o anticastrismo. Foi o finado Jorge Mas Canosa — fundador da Cuban American National Foundation — quem introduziu e abriu as portas da Flórida para a Odebrecht desde agosto de 1990. Mostra também que o grupo agora enfrenta a fúria anticastrista, um lobby para lá de poderoso.
Mimi Whitefield comenta a perplexidade do presidente-executivo da Odebrecht USA, Gilberto Neves, que trabalha na companhia desde 1983, sem explicações sobre o desatino que levou a construtora a se aliar com os franco opositores dos Estados Unidos na América Latina — “It’s mind-boggling what’s going on in Brazil” (Isso leva a pensar sobre o que está acontecendo no Brasil), escreve a jornalista.
A Odebrecht USA tem sede na Flórida, em Coral Gables, com escritórios ainda em Houston e New Orleans. Já construiu muitas obras públicas em Miami, pontes em toda a Flórida, rodovias no Texas, na Califórnia, na Carolina do Sul, na Carolina do Norte, em New Orleans. Além de barragens e estações de tratamento de água.
Um box da matéria destaca a força da subsidiária Braskem America, líder na produção de polipropileno nos Estados Unidos, com 36 unidades industriais no país, Brasil e Alemanha.
Portfólio respeitável
Whitefield listou os projetos da Odebrecht em andamento na Flórida: terminal norte do Miami International Airport; reforma de um cais no Porto de Miami — obra que exigiu a transferência de 185 corais; pista sul no Aeroporto Internacional de Fort Lauderdale-Hollywood. O texto também afirma que a Odebrecht USA moldou a face de Miami e que é um nome presente nos canteiros de obras por todo o sul da Florida. Somente no estado da Florida, os contratos públicos abocanhados pela empresa já somam mais de US$ 4 bilhões, desde o primeiro projeto local, o Metromover (1991), que risca o skyline do centro da acolhedora e ensolarada Miami.
A matéria considera a empresa tão enraizada no sul da Florida, que muitos pensam que a Odebrecht é uma empresa local. Fora isso, o texto elogia esse design corporativo — baseado na subcontratação de empresas locais. Na Florida, por exemplo, o grupo compartilhou seu trabalho com mais de 300 pequenas empresas nos últimos 23 anos, distribuindo mais de US$ 800 milhões em subcontratos e gerando mais de 100 mil empregos diretos e indiretos.
A Odebrecht USA é estimada por ser um contribuinte rigoroso e também por ajudar instituições de caridade, organizações culturais e escolas no condado de Miami-Dade. Como se vê, e está escrito na matéria, o Condado de Miami-Dade foi o pão (ou o feijão com arroz) da Odebrecht.
Na esteira desse histórico de sucesso nos domínios do Tio Sam, torna-se cada vez mais difícil compreender como uma empresa que venceu nos Estados Unidos resolveu perder-se em Cuba, palco de regime repressivo, destino inóspito em termos de negócios e reduto desprovido de segurança jurídica.
De Salvador para o mundo
De pequena empresa familiar, a Norberto Odebrecht, fundada na capital baiana em 1944, a Odebrecht tornou-se uma força global. É a 13ª maior empreiteira do planeta, com ativos estimados em US$ 59 bilhões 200 mil empregados, atuando em 25 países e cinco continentes; com investimentos que somam US$ 25 bilhões nos próximos três anos. Sem contar os diversificados interesses: petroquímica, açúcar, etanol e bioenergia, geração de energia, água e gás, engenharia ambiental, petróleo e gás, plásticos (desenvolveu uma técnica para fazer o plástico da cana de açúcar), transportes, logística, defesa e tecnologia.
A aliança do Grupo Odebrecht com Cuba colocou a Odebrecht USA na berlinda e já fez o grupo perder um projeto local desenhado pelo próprio grupo: a ampliação do aeroporto de Miami — projeto orçado em US$ 512 milhões, que incluía um avançado complexo empresarial, com restaurantes, lojas de varejo, escritório, hotel, central para convenções, posto de gasolina e uma nova estação de metrô.
A Odebrecht USA administraria esse complexo pelos próximos cinquenta anos. Estima-se que a receita anual com essa administração ficaria acima da cifra de US$ 1,6 bilhão. O contrato estava praticamente fechado, até circular notícia da aliança da matriz com a tirania cubana.
Este é o link do vídeo de apresentação do “Cidade Aeroporto”, projeto que será construído por US $512 milhões. Veja as imagens e compare com o preços das obras públicas no Brasil.
Parceiros indesejáveis
A Odebrecht USA ficou sem resposta por parte dos norte-americanos depois da assinatura de um acordo de dez anos com o governo cubano para, através da produção conjunta, revitalizar a indústria de açúcar na ilha caribenha. Esse contrato também deve mexer com os interesses dos usineiros de cana de açúcar e produtores de etanol no Brasil.
A lógica usada no ataque aos contratos da Odebrecht USA é simples. As empresas que fazem negócios com Cuba nada podem ganhar dos cubano-americanos no mercado livre da Florida.
No vale-tudo que apenas começou, Mario Claver-Carone, conhecido líder anticastrista, acusou a Odebrecht no Miami Herald de “seduzir” os funcionários públicos de Miami por mais de uma década para ganhar contratos.
Os legisladores estaduais da Florida chegaram a aprovar uma lei para atingir a Odebrecht USA, proibindo o estado da Florida de contratar empresas com negócios em Cuba. O braço ianque da Odebrecht conseguiu reverter a decisão estadual no Tribunal Federal em Miami, mas não se livrou do ranço. Pelo contrário, aumentou a reação.
Bernie Navarro, presidente da Latin Builders Association (LBA), mobilizou os 750 membros da associação contra a participação da Odebrecht USA no aeroporto de Miami, exortando a solidariedade ao povo cubano: “Gilberto [Neves] é um bom homem. Sabemos que a decisão de operar com Cuba não foi dele, mas ele trabalha para no grupo. Posso assegurar que o LBA não ajudará a Odebrecht em sua busca contínua pelo aeroporto da cidade. Não podemos permitir que a Odebrecht trafique com nosso sofrimento. Ou faz negócios aqui, ou pode fazer negócios em Cuba. É uma escolha. Não pode ficar nos dois lados.”
A Odebrecht USA tentou organizar um lançamento da joint venture para o aeroporto de Miami, mas a reunião foi esvaziada. A série de reportagens sobre a saga do capítulo ianque da Odebrecht tem três capítulos, sendo que os próximos serão publicados na quinta e sexta-feira (6 e 7).