O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

Mostrando postagens com marcador desventuras. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador desventuras. Mostrar todas as postagens

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Quem com cubano fere, com cubano... (2): sobressaltos da Odebrecht USA

Porto de Mariel pode levar a Odebrecht USA a perder US$ 80 bilhões em Miami

Ucho.info, 5 de Fevereiro de 2014
gilberto_neves_01Pela culatra – Apareceu a primeira vítima da aventura cubana do governo petista de Dilma Rousseff. Em longa matéria publicada no “The Miami Herald”, a jornalista Mimi Whitefield (Twitter @HeraldMimi) relata o atual vexame enfrentado pela empreiteira Odebrecht USA por causa da inexplicável aliança do grupo com a ditadura cubana dos irmãos Castro.
Em suma, a matéria é um lamento da perda do perfil “low profile” da companhia que tem ligações históricas com o anticastrismo. Foi o finado Jorge Mas Canosa — fundador da Cuban American National Foundation — quem introduziu e abriu as portas da Flórida para a Odebrecht desde agosto de 1990. Mostra também que o grupo agora enfrenta a fúria anticastrista, um lobby para lá de poderoso.
Mimi Whitefield comenta a perplexidade do presidente-executivo da Odebrecht USA, Gilberto Neves, que trabalha na companhia desde 1983, sem explicações sobre o desatino que levou a construtora a se aliar com os franco opositores dos Estados Unidos na América Latina — “It’s mind-boggling what’s going on in Brazil” (Isso leva a pensar sobre o que está acontecendo no Brasil), escreve a jornalista.
A Odebrecht USA tem sede na Flórida, em Coral Gables, com escritórios ainda em Houston e New Orleans. Já construiu muitas obras públicas em Miami, pontes em toda a Flórida, rodovias no Texas, na Califórnia, na Carolina do Sul, na Carolina do Norte, em New Orleans. Além de barragens e estações de tratamento de água.
Um box da matéria destaca a força da subsidiária Braskem America, líder na produção de polipropileno nos Estados Unidos, com 36 unidades industriais no país, Brasil e Alemanha.
Portfólio respeitável
Whitefield listou os projetos da Odebrecht em andamento na Flórida: terminal norte do Miami International Airport; reforma de um cais no Porto de Miami — obra que exigiu a transferência de 185 corais; pista sul no Aeroporto Internacional de Fort Lauderdale-Hollywood. O texto também afirma que a Odebrecht USA moldou a face de Miami e que é um nome presente nos canteiros de obras por todo o sul da Florida. Somente no estado da Florida, os contratos públicos abocanhados pela empresa já somam mais de US$ 4 bilhões, desde o primeiro projeto local, o Metromover (1991), que risca o skyline do centro da acolhedora e ensolarada Miami.
A matéria considera a empresa tão enraizada no sul da Florida, que muitos pensam que a Odebrecht é uma empresa local. Fora isso, o texto elogia esse design corporativo — baseado na subcontratação de empresas locais. Na Florida, por exemplo, o grupo compartilhou seu trabalho com mais de 300 pequenas empresas nos últimos 23 anos, distribuindo mais de US$ 800 milhões em subcontratos e gerando mais de 100 mil empregos diretos e indiretos.
miami_aeroporto_01
A Odebrecht USA é estimada por ser um contribuinte rigoroso e também por ajudar instituições de caridade, organizações culturais e escolas no condado de Miami-Dade. Como se vê, e está escrito na matéria, o Condado de Miami-Dade foi o pão (ou o feijão com arroz) da Odebrecht.
Na esteira desse histórico de sucesso nos domínios do Tio Sam, torna-se cada vez mais difícil compreender como uma empresa que venceu nos Estados Unidos resolveu perder-se em Cuba, palco de regime repressivo, destino inóspito em termos de negócios e reduto desprovido de segurança jurídica.
De Salvador para o mundo
De pequena empresa familiar, a Norberto Odebrecht, fundada na capital baiana em 1944, a Odebrecht tornou-se uma força global. É a 13ª maior empreiteira do planeta, com ativos estimados em US$ 59 bilhões 200 mil empregados, atuando em 25 países e cinco continentes; com investimentos que somam US$ 25 bilhões nos próximos três anos. Sem contar os diversificados interesses: petroquímica, açúcar, etanol e bioenergia, geração de energia, água e gás, engenharia ambiental, petróleo e gás, plásticos (desenvolveu uma técnica para fazer o plástico da cana de açúcar), transportes, logística, defesa e tecnologia.
A aliança do Grupo Odebrecht com Cuba colocou a Odebrecht USA na berlinda e já fez o grupo perder um projeto local desenhado pelo próprio grupo: a ampliação do aeroporto de Miami — projeto orçado em US$ 512 milhões, que incluía um avançado complexo empresarial, com restaurantes, lojas de varejo, escritório, hotel, central para convenções, posto de gasolina e uma nova estação de metrô.
A Odebrecht USA administraria esse complexo pelos próximos cinquenta anos. Estima-se que a receita anual com essa administração ficaria acima da cifra de US$ 1,6 bilhão. O contrato estava praticamente fechado, até circular notícia da aliança da matriz com a tirania cubana.
Este é o link do vídeo de apresentação do “Cidade Aeroporto”, projeto que será construído por US $512 milhões. Veja as imagens e compare com o preços das obras públicas no Brasil.
Parceiros indesejáveis
A Odebrecht USA ficou sem resposta por parte dos norte-americanos depois da assinatura de um acordo de dez anos com o governo cubano para, através da produção conjunta, revitalizar a indústria de açúcar na ilha caribenha. Esse contrato também deve mexer com os interesses dos usineiros de cana de açúcar e produtores de etanol no Brasil.
A lógica usada no ataque aos contratos da Odebrecht USA é simples. As empresas que fazem negócios com Cuba nada podem ganhar dos cubano-americanos no mercado livre da Florida.
No vale-tudo que apenas começou, Mario Claver-Carone, conhecido líder anticastrista, acusou a Odebrecht no Miami Herald de “seduzir” os funcionários públicos de Miami por mais de uma década para ganhar contratos.
Os legisladores estaduais da Florida chegaram a aprovar uma lei para atingir a Odebrecht USA, proibindo o estado da Florida de contratar empresas com negócios em Cuba. O braço ianque da Odebrecht conseguiu reverter a decisão estadual no Tribunal Federal em Miami, mas não se livrou do ranço. Pelo contrário, aumentou a reação.
Bernie Navarro, presidente da Latin Builders Association (LBA), mobilizou os 750 membros da associação contra a participação da Odebrecht USA no aeroporto de Miami, exortando a solidariedade ao povo cubano: “Gilberto [Neves] é um bom homem. Sabemos que a decisão de operar com Cuba não foi dele, mas ele trabalha para no grupo. Posso assegurar que o LBA não ajudará a Odebrecht em sua busca contínua pelo aeroporto da cidade. Não podemos permitir que a Odebrecht trafique com nosso sofrimento. Ou faz negócios aqui, ou pode fazer negócios em Cuba. É uma escolha. Não pode ficar nos dois lados.”
A Odebrecht USA tentou organizar um lançamento da joint venture para o aeroporto de Miami, mas a reunião foi esvaziada. A série de reportagens sobre a saga do capítulo ianque da Odebrecht tem três capítulos, sendo que os próximos serão publicados na quinta e sexta-feira (6 e 7).