O "discurso" abaixo não foi pronunciado, por diversas razões, entre elas por falta de tempo, como sempre acontece nos seminários acadêmicos: começamos sempre tarde, pelos atrasos naturais do modo brasileiro de comportamento em face de horários estritos, e acabamos atrasando todo o desenrolar do seminário porque as pessoas falam demais e ultrapassam o tempo devotado a cada um. Por isso preferi não falar, abrindo imediatamente a palavra aos ex-diretores do IPRI, os que me precederam no cargo (pelo menos o que puderam estar em Brasília para a VI Conferência de Relações Exteriores, organizada pela Funag), para depois dar espaço às falas dos coordenadores de cursos de pós-graduação em RI das universidades brasileiras.
Não foi pronunciado, mas nada impede que se faça o registro de minhas intenções ao escrever estas palavras, um dia antes. Em postagem subsequente, vou trancrever a pequena nota de registro sobre essa reunião.
Paulo Roberto de Almeida
Saudação aos coordenadores de cursos de pós-graduação
em RI
Paulo Roberto de Almeida
[Objetivo: reunião
no quadro da VI CORE; finalidade: saudação aos coordenadores ]
Caros coordenadores, colegas de carreira,
demais participantes,
Gostaria, em primeiro lugar, de saudar e
agradecer, a cada um de vocês, a presença, nesta reunião que marca os 30 anos do
IPRI, do qual sou diretor; no ano passado, na V CORE, realizada em Belém, comemoramos
os 45 anos da Funag, presidida pelo embaixador Sérgio Eduardo Moreira Lima; o
CHDD, atualmente dirigido pelo embaixador Gelson Fonseca, e que está, aliás, cumprindo
os 15 primeiros anos de sua existência formal. Datas simbólicas como estas,
envolvendo nossos principais órgãos de interação com a comunidade acadêmica, e
com a sociedade civil de modo geral, nos oferecem a oportunidade de fazer um
balanço retrospectivo do que conseguimos fazer, no período decorrido desde o
marco inaugural, apresentar uma avaliação das iniciativas empreendidas no
período recente, e também traçar algumas linhas prospectivas sobre o que
gostaríamos, ou sobre o que desejaríamos fazer no período que se abre à nossa
frente.
Encontros como este podem, de fato, oferecer
essa bem-vinda visão externa que nós, responsáveis internos, necessitamos para
reavaliar nosso trabalho, recolher sugestões quanto a novas iniciativas e
disponibilizar novamente um espaço de interação entre, de um lado, operadores
da política externa, que somos os diplomatas, e, de outro lado, os analistas,
os pesquisadores, os estudiosos da política externa, da diplomacia brasileira,
e das relações internacionais, de modo geral, o que representa, justamente, uma
ponte, um espaço de diálogo e uma nova oportunidade para um recíproco
enriquecimento em nossas esferas respectivas de atuação. Diplomatas, por mais
pragmáticos que sejam, não se guiam apenas pela agenda de trabalho das
organizações internacionais, pelas relações concretas entre Estados no plano
bilateral, pelo fluir dos fatos e processos reais no plano do cotidiano, mas se
apoiam, igualmente, numa determinada visão do mundo, numa concepção que se têm,
que é adquirida, sobre o papel do Brasil no sistema internacional, numa
interpretação mais vasta do que é possível fazer para, na famosa equação do
ex-chanceler Celso Lafer, transformar oportunidades externas em possibilidades
internas de desenvolvimento e de inserção mundial.
Essa visão do mundo, a memória histórica sobre
a evolução do sistema internacional no último meio século, os desenvolvimentos
recentes nos planos econômico, político, militar e mesmo cultural nos são
dados, justamente, pela comunidade acadêmica que gravita em torno da
diplomacia, que respira política externa, e que está continuamente examinando,
com lupa ou telescópio, por vezes com bisturi ou aparelho de radiografia, a
constante mutação das dinâmicas mundiais e a postura do Brasil no confronto com
esses processos externos.
O Brasil, como todos podem constatar, vive um
momento de transição, não apenas ao recompor as bases materiais de uma
conjuntura econômica significativamente afetada pela pior recessão de toda a
nossa história, mas também ao preparar-se para um novo período eleitoral, que
vai colocar as bases políticas para seu itinerário para uma outra data
relevante em nossa trajetória como nação: os dois séculos desde a
independência, no ano de 2022, em
comemorações a serem comandadas pelo presidente que elegeremos dentro de
pouco menos de um ano. Isso significa que temos cinco anos, aproximadamente,
para nos prepararmos para o que eu chamaria de “momento de reflexão”, não
apenas sobre os nossos últimos duzentos anos, mas também sobre as próximas
etapas da construção da nação, sobretudo no terreno da educação, da pesquisa, do
oferecimento de “tijolos conceituais” para essa grandiosa tarefa pertencente ao
edifício intelectual de um projeto nacional de desenvolvimento econômico e
social.
O que eu gostaria de propor aos pesquisadores
de relações internacionais, aos analistas de nossa política externa, aos
observadores engajados de nossa diplomacia é justamente um esforço concentrado
em torno da perspectiva do Bicentenário, em 2022. Já dispomos, de certa forma,
de uma cartografia e de um relato do que fizemos até aqui, e para isso eu me
permito citar a obra recentemente publicada do embaixador Rubens Ricupero, “A
Diplomacia na Construção da Nação, 1750-2016”, na verdade cobrindo uma
cronologia um pouco mais ampla do que essa, pois parte da restauração da
soberania portuguesa, em 1680, e assina um prefácio em julho de 2017, já no
âmbito do governo atual. Creio que se trata de uma boa base para nossas
reflexões e para novas pesquisas em torno dos episódios e processos mais
importantes cobertos nessa obra que já nasce clássica.
Nosso papel, o da Funag, o do IPRI e também do
CHDD, é justamente o de favorecer uma contínua interação entre operadores da
política externa brasileira, os diplomatas, e vocês, que são analistas críticos
daquilo que fazemos, ou que poderíamos fazer, no plano complexo e diversificado
de nossas relações exteriores, de nossa inserção internacional. Por isso mesmo,
abro a palavra, na sequência aqui feita em ordem alfabética, para que possamos
registrar suas observações, comentários e sugestões para nosso trabalho conjunto
no próximo ano e mais além.
Muito obrigado.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 9 de novembro de 2017