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sábado, 19 de fevereiro de 2022

Sobre o futuro doloroso da imagem e da credibilidade internacionais do Brasil - Paulo Roberto de Almeida

 Sobre o futuro doloroso da imagem e da credibilidade internacionais do Brasil

Paulo Roberto de Almeida


A recuperação pós-Bozo vai ser muito lenta e bem difícil: o mundo não aceitará qualquer frase do Brasil ao estilo “daqui prá frente tudo vai ser diferente”. 

Precisaremos provar nos fatos e isso pode demorar; muita coisa foi desmantelada ou destruída. Levará alguns anos para restaurar nossa dignidade externa!


O acordo Mercosul-UE, por exemplo, vai ter de aguardar a redução provada e confirmada da destruição do meio ambiente, que atingiu proporções amazônicas para ser revertida em pouco tempo. Grileiros, garimpeiros, invasores de terras públicas se estenderam por todo o país. Violência contra minorias sexuais, armamentismo e negacionismo se tornaram endêmicos no país, cada vez com maior desfaçatez e ousadia. 


E nem tudo é resultado de ignorância ou pobreza: camadas privilegiadas da população, certas corporações organizadas foram conquistadas pela ideologia da exclusão e da violência, a vulgaridade e o rebaixamento culturais foram muito longes.  

Quadros formados e produtivos, pessoas de classe média já programaram deixar o país, pois a corrupção oficial, a captura do Estado e a deterioração do ambiente geral de vida e de trabalho foram levados a patamares inaceitáveis. 

A divisão do país, antes “apenas” social — dados os níveis “africanos” de desigualdade distributiva — se estendeu ao âmbito societal e nacional, com o reforço da cultura do ódio e as práticas de eliminação do “adversário”. 

Sim, a reconstrução de uma sociedade decente e a restauração da imagem do Brasil no mundo vão ser muito difíceis. 

A destruição foi longe demais.

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 19/02/2022

sábado, 13 de junho de 2020

Hussein Kalout sobre a imagem do Brasil no exterior - Radio Gaucha

"É possível recuperar a imagem do Brasil, mas não será fácil, nem no curto prazo", analisa pesquisador de Harvard
Cientista político avalia os danos à reputação brasileira em razão das crises de saúde, econômica e política
Radio Gaúcha, 12/06/2020 - 09h52min
RODRIGO LOPES



Cientista político e pesquisador na Universidade de Harvard, uma das mais prestigiadas instituições de ensino norte-americanas, o brasileiro Hussein Kalout analisa com preocupação a erosão da imagem do Brasil no Exterior, explícita em manchetes e editoriais de jornais internacionais nos últimos dias.
O professor afirma que é com um misto de espanto e curiosidade que pesquisadores da universidade, com sede em Cambridge, Massachusetts, questionam sobre o que está ocorrendo com o Brasil, que vive uma crise tripla: de saúde, provocada pelo coronavírus, econômica e política. Nesta entrevista à coluna, ele destaca a tradição da diplomacia brasileira, de apresentar o país como pacífico, conciliador e participante de consensos internacionais, algo que, segundo ele, está deixando de existir diante da nova política externa.
Kalout é formado pela Universidade de Brasília (UNB), especialista em política internacional e Oriente Médio, foi consultor da ONU e o primeiro latino-americano a integrar o Advisory Board da Harvard International Review. O pesquisador também foi secretário de Assuntos Estratégicos da Presidência no governo Michel Temer. Por telefone, Kalout conversou com a coluna sobre como o Brasil é visto no Exterior e como recuperar a imagem desgastada pela gestão da pandemia.
Hussein Kalout, pesquisador de Harvard
Nas últimas semanas, há várias manchetes de jornais internacionais sobre o aumento dos casos de coronavírus no Brasile editoriais apontando para uma crise de saúde, econômica e política no país. Na sua avaliação, como o Brasil está sendo visto pelo mundo?
A imagem de um país é a semelhança e o retrato de seu governo. A imagem do governo é ruim, repleta de arranhaduras e isso acaba sendo plasmado no Exterior. Obviamente, o estilo de governança adotado pelo presidente não é um estilo muito clássico de quem exerce a função de presidente: muito particular, baseado na confrontação constante e na geração de atritos institucionais. Isso acaba tendo ressonância seja no Brasil, seja fora. O Brasil sempre se caracterizou por ser um país obediente às normas internacionais, que era capaz de ser parte da engenharia de grandes consensos, de ser um indutor de processos de paz. O que se percebe aqui fora em relação ao Brasil é que se abriu mão de todo esse capital diplomático. Abre-se mão do capital político acumulado que dava ao Brasil a primazia de atuar em diversas frentes no sistema internacional. A leitura que se faz é de que o Brasil está fora do compasso de sua normalidade histórica.
Existe, na sua opinião, uma "marca Brasil"? Que atributos contribuem para a construção da imagem do Brasil no Exterior?
Os países têm marca. Parte característica da "marca Brasil" é a de um povo solidário, acolhedor, alegre. Há Estados que se notabilizam por sua organização social e eficiência de gestão, países que projetam sua marca a partir de seu desenvolvimento tecnológico, outros a partir de sua capacidade esportiva ou sua infraestrutura militar. O Brasil sempre se caracterizou, modulou sua marca, a partir de uma percepção de um país pacífico, que é capaz de resolver as controvérsias e contenciosos de forma negociada. É um país que evitava atritos e era proponente da conciliação. Essa marca de país pacífico e conciliador não existe mais. O olhar para o Brasil não é mais assim. A primeira pergunta que te fazem, aqui em Harvard, é: "O que está acontecendo com o seu país?" 
O Brasil é assunto nos corredores da Universidade de Harvard?
Claro, aqui na universidade, de forma geral, indaga-se o que está acontecendo com o Brasil. O país parece que perdeu sua bússola. Não é porque você tem um governo à direita. Na verdade, este não é um governo de direita, é de extrema-direita. Não é porque houve uma mudança governamental. A questão é que as posições do Brasil hoje são totalmente heterodoxas, contrassensuais, contra a lógica. Não conheço, dentro do ciclo universitário, de quem conhece ou se interessa pelo Brasil, ninguém que não esteja espantado. Não conheço ninguém que ache que o que está acontecendo no Brasil é algo dentro da normalidade.
Mesmo quem está em Harvard e acompanha os Estados Unidos fica surpreso? Uma vez que o presidente Jair Bolsonarose espelha em Donald Trump?
O povo americano está espantado com Trump. Basta olhar as pesquisas. Em vários Estados, ele está tomando uma lavada em relação a Joe Biden. Na Pensilvânia, Estado em que ele venceu a Hillary Clinton por menos de 10 mil votos na eleição anterior, hoje está 10 pontos atrás de Biden. No Arizona, Estado do Mike Pence (vice de Trump), está tecnicamente empatado ou atrás do Biden, Flórida, que é um Estado caracteristicamente republicano, ele está tecnicamente empatado com Biden. Isso reflete o humor e a insatisfação do público americano. Trump está perdendo tração entre os mais idosos, na faixa dos afro-americanos, dos hispano-americanos, entre jovens, entre mulheres. Não é que se espantam, é que aqui os pesos e contrapesos e as instituições são muito fortes. Você não vê Trump atacando a Suprema Corte americana. Você não vê Trump indo a uma manifestação em frente à Casa Branca em meio a uma pandemia de covid-19. Você não vê Trump em frente à Casa Branca onde há faixas propondo o fechamento do Supremo. Bolsonaro procura imitar Trump, e o imita inclusive nos erros e da pior forma possível.
A má gestão da pandemia pode erodir o chamado soft power brasileiro, a capacidade de projeção de poder do país lá fora?
O soft power é basicamente a projeção dos interesses nacionais brasileiros nos tabuleiros internacionais de forma qualificada e diplomaticamente bem desenhada. Hoje, o Brasil não tem um projeto de política externa. Até para você projetar os seus interesses, você precisa ter um projeto. Esse projeto não existe. Hoje, o Brasil encontra-se imobilizado nos principais tabuleiros internacionais, inclusive atacando seus principais parceiros estratégicos no mundo: as duas potências europeias, Franca e Alemanha, a China, seu principal parceiro comercial, a Argentina, que é o principal parceiro geopolítico na América Latina. Não vou nem entrar na temática dos países árabes (houve ameaças de rompimento de contratos comerciais diante da intenção do governo de mudar a embaixada em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém) . Há uma degradação do poder brando brasileiro, que sempre foi consubstanciado em suas capacidades de utilizar seu estilo pacificador, propositivo, pragmático e conciliador. Isso é fato. 
A pandemia profunda a crise na imagem brasileira?
A pandemia escancarou de uma forma um pouco mais nua e crua as debilidades da política externa brasileira e da capacidade governamental. Qual país do mundo, em meio a uma pandemia de coronavírus, está trocando o ministro da saúde? Diga um país só… Não tem. Então, algo está errado. Qual país categoricamente nega a ciência? Três ou quatro. Normalmente Estados totalitários, que adotam o mesmo discurso negacionista quanto aos efeitos do problema. Em parte, Trump paga um alto preço porque tentou minimizar isso. E tentou propor soluções não comprovadas cientificamente. Isso feriu de morte sua popularidade e hoje o país tem 30 milhões de desempregados e mais de 100 mil mortes. Então, não foi muito auspicioso. A crise da covid-19 escancarou as debilidades do governo que já eram conhecidas, mas não vistas com essa ótica tão primitiva.
Essa imagem internacional pode ser reconstruída ou os danos são irreversíveis?
Se o governo seguir com essa mesma tônica, a tendência é de que haja uma deterioração grave, mais grave ainda, da imagem do Brasil no mundo. Se essa dinâmica de adoção de políticas públicas e de confrontação persistir, a tendência é de que se agrave. Se é irrecuperável ou não, vai depender de quem estiver à frente do governo futuro e do trabalho que será feito. Acho que o trabalho no futuro é reversível, porém vai custar muito caro ao Brasil: em tempo, em recursos, em reconquistar a confiança de importantes parceiros. Não vai ser algo que se recupere da noite para o dia. Tem de haver um trabalho por trás e isso precisa se provar na prática. Podemos recuperar? É possível, mas não será fácil e não será no curto prazo.


quinta-feira, 14 de março de 2019

Troca de embaixadas do Brasil: espera-se que consigam melhorar a imagem do presidente?

Acho que o presidente se engana. A imagem dele no exterior é formada aqui dentro, por ele mesmo e seus apoiadores mais chegados, que parecem empenhados em reforçar essa mesma imagem que ele julga negativa.
Os embaixadores nas capitais dos principais países cuja imprensa tem se revelado especialmente negativa em relação ao presidente não podem fazer muito, pois as redações recebem insumos a partir de correspondentes estrangeiros no próprio Brasil, ou de agências de imprensa que simplesmente reportam o que está acontecendo por aqui. Relatos geralmente objetivos, ainda que se julgue que esses jornalistas sejam todos esquerdistas e "anti-fascistas", o que pode até ser verdade, mas eles estão fora do alcance dos embaixadores no exterior.
Por outro lado, colunistas e autores de análises de opinião, nesse mesmo sentido – ou seja, atacando o presidente lá fora, e supostamente ao alcance dos embaixadores –, são geralmente "brasilianistas", ou acadêmicos que conhecem razoavelmente bem o Brasil, acompanham a imprensa brasileira e também recebem insumo a partir do Brasil.
Minha recomendação, portanto, é a de que o presidente (e sobretudo seus filhos e outros fanáticos do bolsonarismo) modifique o seu comportamento, não exija muito dos embaixadores no exterior, que dispõem de poucas condições de mudar uma imagem que toma sua origem aqui mesmo.
Cabe fazer uma análise realista das fontes efetivas dessa imagem, e assim facilitar a obra dos embaixadores no exterior.
Se o presidente deixar de colocar videos pornográficos na internet, deixar de ofender jornalistas com base em FakeNews, como faz por exemplo aquele mau exemplo do hemisfério setentrional (ao qual o presidente e seus bolsominions parecem apreciar e enaltecer), se ele adotar uma postura presidencial, isso já é um bom começo para mudar essa imagem de racista, homofóbico e direitista.
Paulo Roberto de Almeida
Brasília, 14/03/2019

Bolsonaro trocará 15 embaixadores em postos-chave para melhorar sua imagem

Presidente disse a jornalistas que não está sendo retratado de maneira correta no exterior

Bolsonaro: presidente deve escolher o novo embaixador em Washington Foto: EVARISTO SA / AFP
Bolsonaro: presidente deve escolher o novo embaixador em Washington Foto: EVARISTO SA / AFP
BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro se prepara para trocar o comando de 15 importantes embaixadas brasileiras, entre as quais as de Estados Unidos, Portugal, Itália e França. A notícia foi dada por Bolsonaro durante café da manhã com jornalistas na manhã de ontem. Entre as razões para as trocas, pelo menos uma foi citada pelo próprio presidente na reunião: a insatisfação com a imagem dele que está sendo propagada no exterior.
Segundo a Globonews, no encontro, Bolsonaro foi perguntado por que iria trocar o embaixador nos EUA, e ele respondeu que sua imagem como presidente do Brasil não estava sendo veiculada de maneira correta. Bolsonaro se queixou de estar sendo chamado de ditador, racista e homofóbico, e afirmou que não é nada disso. Ele deu a entender que caberia aos embaixadores reverter tal imagem.
O presidente acrescentou que a escolha do novo embaixador em Washington só deverá ser anunciada após sua visita àquele país, que começa no próximo domingo. Atualmente o cargo é ocupado pelo diplomata Sergio Amaral. Embaixador aposentado e um especialista em comércio exterior, Amaral deixou a presidência da Câmara de Comércio Brasil-China para assumir a embaixada em Washington no governo de Michel Temer e foi o responsável por preparar a visita de Bolsonaro aos Estados Unidos, na próxima semana.
Até agora, os nomes mais cotados para o cargo na capital americana são o diplomata Nestor Forster Junior, muito ligado ao chanceler Ernesto Araújo, e o consultor Murillo de Aragão. No primeiro caso seria uma escolha mais ideológica, já que Forster apresentou Araújo a Olavo de Carvalho, o guru do bolsonarismo. Já o segundo seria um sinal de que o governo pretende privilegiar o aspecto econômico da relação bilateral.
Nos últimos dois dias, Olavo de Carvalho atacou Aragão nas redes sociais. “By the way, Murilo (sic)Aragão é homem de Lula”, disse na terça-feira. Ontem, Carvalho afirmou que Aragão foi “alegre membro do Conselhão do Lula”, referindo-se ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (CNDE), que reunia no Palácio do Planalto, periodicamente, representantes de diversos segmentos da sociedade para discutir temas conjunturais. “Colocar petistas em tudo quanto é cargo, sob o pretexto de qualificações técnicas apolíticas, é fazer o povo de trouxa”, afirmou o ideólogo.
Consultado sobre os ataques de Carvalho, Aragão respondeu apenas:
— Respeito o Olavo de Carvalho, mas provavelmente ele não está bem informado acerca da minha trajetória profissional — disse ao GLOBO.
Existem atualmente 224 postos no exterior, entre embaixadas, consulados, missões e escritórios. Segundo fontes da área diplomática, na troca do comando das 15 embaixadas, a ideia é que parte delas seja ocupada por embaixadores sêniores, ou seja, mais experientes.
O chanceler Ernesto Araújo  já fez uma grande mexida no Itamaraty ao assumir o comando da diplomacia brasileira, criando uma Secretaria de Assuntos de Soberania Nacional e Cidadania e departamentos específicos para as relações com os Estados Unidos e a China.
Nos três dias de viagem aos Estados Unidos, a partir do próximo domingo, Bolsonaro terá um encontro privado com o presidente americano, Donald Trump, na Casa Branca, e deve assinar três acordos, que ainda estão sendo discutidos pelos dois países. O governo brasileiro trata a visita como a sinalização do início de uma nova etapa na relação com os americanos.
— A visita é a primeira de caráter bilateral realizada pelo presidente Jair Bolsonaro ao exterior, demonstrando a prioridade que o governo atribuiu à construção de uma sólida parceria com os Estados Unidos da América — declarou ontem o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros. 
(Colaboraram Gustavo Maia e Jussara Soares)