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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Alca al carajo: dixit Chavez; projeto de anexacao economica: dixit Lula; e agora?

Meu amigo Mario Machado foi direto ao ponto.
Endosso e ratifico cada palavra, cada virgula, e, sobretudo, a sua interrogaçao final.
Paulo Roberto de Almeida 

Coisas Internacionais


Posted: 21 Jan 2014 09:44 AM PST
alca al carajoVisitei o Equador no início dos anos 2000 e pelas ruas de Quito um grafite chamou a minha atenção ele dizia: “ALCA, Al carajo, Yanks go home”, a época o recém empossado governo Lula construía o que alardeavam como sua maior vitória política, o torpedeamento da Área de Livre Comércio das Américas, como se dizia a época o bloco que iria da Tierra del Fuego ao Alaska. Anos depois o falecido Chávez usaria a mesma expressão elegante, em Mar del Plata.
O argumento principal era o temor da economia brasileira e da região se tornariam satélites da economia americana, além é claro das dificuldades de sempre, ou seja, agricultura protegida pelo lado americano e serviços blindados pelo lado brasileiro.
Tudo que envolve parceria ou associações com os EUA, acaba sendo decidido com o fígado no Brasil, ou seja, preconceitos ideológicos (e concordâncias cegas, também) dominam o debate, o abstrato interesse nacional é torturado até confessar o que as correntes de opinião desejam.
A tese vencedora foi a do triunfo soberano da política Sul-sul e para isso BRICS seria o caminho, a crise de 2008 parecia ser a grande prova que essa fora a melhor aposta e pouco importava que a pauta comercial brasileira com os demais BRICS (no caso só China mesmo é relevante) fosse concentrada em commodities – o que até pouco tempo antes era sinal claro de atraso diriam os mesmos que agora eram entusiastas dos BRICS – mas, o boom das commodities dava (e ainda dá) muito dinheiro e criava portentosas reservas que nos tornavam credores líquidos do mundo.
Nesse período e com uma forcinha enorme da suspensão do Paraguai o MERCOSUL acrescentou a Venezuela em seu arranjo, pode-se até imaginar que o fácil acesso ao petróleo venezuelano seja algo importante para um bloco em busca de energia, mas politicamente isso mandou uma mensagem altermundista, o MERCOSUL agora seria o bloco em busca de outro mundo possível.
Enquanto isso avançou o movimento de assinatura de acordos de livre comércio entre EUA e vários países da América Central, Caribe e América do Sul, como os vizinhos Peru e Colômbia. E as tentativas de acordo MERCOSUL-UE não passam de declarações de intenções, elogios mútuos, belas notas oficiais e negociações empacadas.
Claro, que ter uma economia relativamente fechada como a brasileira cria distorções que elevam os preços dos produtos fabricados localmente, o que retro-alimenta o fechamento da economia ao justificar a proteção sob pena de perda empregos, automóveis são um caso clássico.
E assim, mais de uma década depois de ver aquele grafite, em Quito, chegamos ao que vemos hoje, a expansão maior dos países do pacífico e como no caso peruano com excelentes resultado na eliminação da pobreza e os países mais fechados patinando, enfrentando inflação.
No inicio desse nosso século fizemos uma opção e mandamos o livre-comércio ‘al carajo’ e o que ganhamos em troca?
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PS: Esse não foi o grafite que vi, mas não achei a foto para ilustrar essa postagem.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Mercosul: marcha a passo unido, mas cada vez para uma direcao...

Uruguay calls on Mercosur to sign a free trade agreement with United States


Uruguayan Vice-President Danilo Astori said Mercosur must decisively address the signing of a free trade agreement with the United States, but also admits that “opportunities must be built”.

Addressing a business forum on “Uruguay’s insertion in the world” the top official and former economy minister admitted that Mercosur has many problems and needs to address different policies and “it is essential that each Mercosur country should have a multiplicity of memberships”, which opens the possibility for Uruguay to diminish risks and increase its potential.

“Mercosur must have joint international policies, an agreement on moderate protection from third parties and above all must have agreements with other trade blocks”, insisted Astori, who faces strong opposition inside the Uruguayan populist ruling coalition to any trade links with the US.

Astori has also been severely questioned for wanting Uruguay to become a full member of the Alliance of the Pacific (Colombia, Chile, Peru and Mexico, with Panama and Costa Rica in the doorstep), an open economies and markets accord geared to make business with Asia, but which is strongly rejected by Brazil.

Nevertheless Astori underlined that Mercosur for Uruguay is a strategic instrument for the development of the economy and to increase trade, “a platform to the region which must be open to the world”, even when this is not necessarily the case currently because of Argentina’s protectionist policies and Brazil’s policy of safeguarding certain sectors of its economy.

But Uruguay, given its size, “must open to the world, and for this it must think in quality production, in excellence standards” supported with an efficient education system which delivers to the whole population.

Astori pointed out that the vision of the Uruguayan State has been that political and cultural issues are not absent from such a reality of openness to the world, “and that has been the historical position of Uruguay when addressing international affairs, and in this the different political parties agree, although with some minor shades”.

The Vice-president then enumerated some of the advances achieved by Uruguay since the return of democracy, which have been sustained by the three major parties of the country when in office.

He mentioned, an attractive business atmosphere, a generous Investment bill with emphasis in quality jobs, innovation and de-centralization, likewise the system of temporary admission to promote exports, the free-zones, open air terminals and ports, promotion of investments through bilateral agreements and accords to avoid double taxing.
As to the rating of Uruguay with OECD, Astori said the country has advanced considerably in transparency and exchange of information, which has been supported by pro-active legislation on the issue.

Likewise regarding the investment rate in Uruguay, Astori said it currently stands at 22% of GDP, when historically it had averaged above 10%, but the target is to take it to 27% to 29%. Likewise foreign investment which historically had been equivalent to 2% of GDP, now has reached 6 to 7% of GDP.

Finally the Uruguayan Vice-president said the country must target improving education, knowledge, innovation, efficiency, productivity, competitiveness and equal conditions for everyone.

His last words were a message to the teachers unions which have been in conflict with reiterated strikes since March, which means children at the Uruguayan government run primary and high schools on average and if lucky this year will have at the most 130 days of class (instead of the targeted 200 days). The conflict only affects government schools, not private schooling.

MercoPress - Mercosur ‘remains a fiction’ admits Uruguayan foreign minister


Mercosur as an only market ‘remains a fiction’ since it is missing the effective implementation and ironing out of trade and macroeconomic reforms, said Uruguayan foreign minister Luis Almagro, who went on to promote “double and triple membership” for Mercosur members.

The minister made the statements during a forum discussion “Integration for Development” organized by Uruguay’s Proposal 2030 and Ibero-American secretary general Enrique Iglesias.

“Venezuela is a member of ALBA, (Bolivarian Alliance of the Americas Peoples) and Mercosur; Ecuador belongs to ALBA and the Andean Community and also wants to join Mercosur”, pointed out Almagro in support of the Uruguayan government position.

“This weaving of double and triple memberships are positive for the Latinamerican integration convergence”, added Almagro, who nevertheless said that the bilateral process with other regional groups “must have the approval of all countries in the customs union block, made up of Argentina, Brazil, Uruguay, Venezuela and Paraguay, which had been temporarily suspended.

Almagro also called for stronger bilateral relations inside Mercosur since “it will help to improve integration with the rest of the other integration processes in Latin-America” 

Uruguay has lately and publicly expressed its intention of coming closer to the Pacific Alliance, made up of Chile, Peru, Colombia and Mexico, and with Panama and Costa Rica in the process of incorporation. Uruguay has observer status.

However the Uruguayan decision was strongly criticized at the latest Mercosur summit in Montevideo, where President Cristina Fernandez warned about the ‘siren songs’ which have an only purpose ‘break up the unity of the Mercosur trade block’.

Almagro statements follow on President Jose Mujica comments in his daily radio broadcast when he gave his full support to, Brazil’s intention of speeding up negotiations with the European Union for a free trade agreement, even if that means a “two speeds” negotiations.

“Frankly we have decided to support Brazil in negotiations with the EU because that is a variable we have to continue along and beware of the danger of having all interests in a single basket”, underlined Mujica.

The Uruguayan president also underlined the significance of China for the region’s trade since that is “a huge country, a continent” and it is possible “to reach specific policies that will enable us to reserve some of our sectors from the aggressive competition from China, because of their costs, scale and efficiency”.

Finally Mujica said that “you can’t bet to an open paddock and likewise to a closed paddock”, that is why negotiations exist and that is why talks with China, you simply can’t ignore relations with Beijing”.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Brasil e Argentina caem no livre-comercio automobilistico por distracao...

Incrível, o que os tratados não fizeram, nem a suposta vontade livre-cambista conseguiu cumprir, o sono, o cansaço, o desalento, a desatenção, a preguiça, acabaram fazendo por acas: livre comércio de automóveis.
Na prática não vai adiantar muito, pois as indústrias cartelizadas, mercantilizadas, infantis (ops, indústria infante, a despeito de quase 60 anos), submissas e tuteladas, não vão aproveitar a oportunidade para nada, vão apenas continuar fazendo o que já vinham fazendo, ou seja, remetendo carros de um lado a outro, de acordo com suas planilhas pré-montadas.
Paulo Roberto de Almeida

Fim de tratado Brasil-Argentina libera comércio de carros entre os dois países
 
 
 
O fim do tratado comercial entre Argentina e Brasil para o setor automobilístico provocou, a partir desta segunda-feira, a liberalização automática dos intercâmbios bilaterais neste setor, confirmaram à Agência Efe fontes da indústria argentina.

A exportação e importação de automóveis entre Argentina e Brasil era regulada desde 2008 por um acordo bilateral que expirou neste domingo e não foi renovado.

Fontes do setor automotivo da Argentina disseram à Efe que a suspensão do tratado não terá nenhum impacto na prática porque, segundo o antigo acordo, o Brasil poderia exportar ao vizinho US$1,17 dólares por dólar que a Argentina vendia ao Brasil, o que significava um quase livre comércio.

Fontes do Ministério da Indústria da Argentina consultadas pela Efe não quiseram fazer comentários sobre a conclusão do acordo.

Em 2012, 66% das importações de veículos na Argentina veio do Brasil.

Os automóveis representaram, além disso, 17% do total das compras de bens brasileiros pela Argentina no ano passado.  Fonte: Economia UOL

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Livre comercio: enquanto isso, do outro lado do continente...

Enquanto Brasil e Argentina (mais Venezuela, Bolívia e Equador) fecham as portas ao comércio internacional e à globalização, países mais inteligentes preferem a liberalização comercial...
(enfim, dizer países é apenas uma maneira elegante de não chamar ninguém em particular de pouco inteligente...).
Paulo Roberto de Almeida

Colombia, Chile, Peru, Mexico to eliminate trade barriers

pacto
Colombia, Chile, Peru, and Mexico will eliminate 90% of all trade barriers between their respected countries, said Colombian president Juan Manuel Santos on Monday.
The agreement marks a new era of relations between the constituent countries of the Pacific Alliance, a trade bloc which serves to increase competitiveness in international commerce. Besides improving competitiveness, the Pacific Alliance was created to offset the Mercosur group, which includes Brazil and Argentina. The alliance has a combined GDP of $1.7 trillion dollars, which is equal to 35 percent of Latin America’s GDP.
"Not only did we reaffirm our willingness to accelerate the process of integration between our countries and announce concrete measures to that end, but we also set out some very precise targets in terms of involving other countries," said Colombia president Juan Manuel Santos. Japan and Guatemala will be included in the Alliance as observers.
"The remaining 10% will have a timetable in which to achieve the goal of 100% free trade," Chilean president Sebastian Piñera said.
The Pacific Alliance's marked progress was augmented by the expansion of the integrated stock exchange, created in May of 2011 and known as the Integrated Latin American Market. The exchange is comprised of the Lima, Santiago, and Bogota stock markets.
The announcement came at the conclusion of the CELAC-EU Summit where heads of state from Latin America and Europe convened to discuss geopolitics and economic issues related to the two regions. In May, Santos will take on the body's rotating presidency when the group meets in Cali.
"As we have said, we see the Alliance, for its characteristics, as the most important integration process that has happened in Latin America," said the Colombian head of state.

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Noticia que eu GOSTEI de ter lido: livre comercio UE-EUA

Enquanto isso, enquanto isso, não muito distante do Atlântico norte, certos países e "bloquinhos" discutem a melhor forma de se isolar do mundo...
Paulo Roberto de Almeida

Trade Deal Between U.S. and Europe May Come to the Forefront
By JACK EWING
The New York Times, November 25, 2012

Karel De Gucht, the European trade commissioner, said that debate on a Nafta-like pact was coming to the forefront again.
“There is now, for the first time in years, a serious drive towards an E.U.-U.S. free-trade agreement,” Karel De Gucht, the European trade commissioner, said in Dublin earlier this month.

FRANKFURT — A free-trade agreement between the United States and Europe, elusive for more than a decade but with a potentially huge economic effect, is gaining momentum and may finally be attainable, business and political leaders say.
Arduous negotiations still lie ahead, but if technical hurdles can be overcome, supporters of a pact argue, it could rival the North American Free Trade Agreement in scale and be a cheap way to encourage growth between the European Union and the United States, which are already each other’s biggest overseas trading partners.

Within days, if not hours, of President Barack Obama’s re-election, numerous European leaders, including Angela Merkel, the German chancellor, and David Cameron, the British prime minister, were urging Mr. Obama to push for a free-trade agreement. The Europeans hope that eliminating frictions in U.S.-E.U. trade would provide some badly needed economic growth.

Corporations and business groups on both sides of the Atlantic are also pushing hard for a pact. Tariffs on goods traded between the United States and the European Union are already low, averaging less than 3 percent. But companies that do substantial amounts of trans-Atlantic business say that even a relatively small increase in the volume of trade could deliver major economic benefits.

“The reason we care about this is because these base line numbers are so huge,” said Karan Bhatia, a former deputy U.S. trade representative who is now vice president for global government affairs at General Electric in Washington. “This could be the biggest, most valuable free-trade agreement by far, even if it produces only a marginal increase in trade.”

Noting that a free-trade agreement would not cost taxpayers any money, Mr. Bhatia said, “This is the great, untapped stimulus.”

While China has dominated the political debate in the United States, U.S. trade with Europe is much larger, totaling $485 billion in goods in the first nine months of this year, compared with $390 billion in trade with China.

Perhaps more important for U.S. companies, Europe buys much more from the United States than China does. U.S. exports of goods to Europe through September totaled $200 billion, according to U.S. government data , while China imported $79 billion worth of U.S. goods.

“The economic music is between America and Europe,” said Fred Irwin, president of the American Chamber of Commerce in Germany. The organization has been among groups lobbying energetically for a comprehensive agreement to replace the potpourri of existing tariffs and regulations and also to roll back national rules in Europe that may impede trade.

The chamber estimates that an agreement that eliminated tariffs and other barriers between the United States and Europe could add 1.5 percentage points to growth on both sides of the Atlantic. While that may be optimistic, economists agree that trade increases when barriers fall.

Supporters of an agreement hope that Mr. Obama will visit Europe early in 2013 and that he agree while there on a framework for negotiations that could lead to a detailed agreement within several years. They argue that a pact would offer Mr. Obama an opportunity to improve his relations with the business community while reaching out to European political leaders who feel he has taken them for granted.

“The Europeans believe that Obama does not care about Europe,” said Mr. Irwin, who has met with E.U. government leaders on the trade issue.

Asked about the U.S. position, Andrea Mead, a spokeswoman for Ron Kirk, the U.S. trade representative, said in an e-mail that the working group “continues to work to assess how best to increase U.S.-E.U. trade and investment to produce additional economic growth and jobs, and improve our international competitiveness.”

There does not seem to be any broad-based political opposition to an E.U.-U.S. trade agreement, as there was to Nafta. But some industry groups have expressed concern about how a free-trade accord would affect them.

Last week, a coalition of food and agricultural groups led by the National Pork Producers Council in the United States wrote to Mr. Kirk, expressing concern that a free-trade agreement might leave them out.

The council complained that in the past, Europe had blocked imports of genetically modified corn and soy products and objected to American companies’ use of product descriptions like “Parmesan” cheese. In Europe, that label is reserved for cheese that comes from the Parmigiano-Reggiano region of Italy.

At least since the 1990s, there have been informal talks about an agreement that would reduce or eliminate already low tariffs and — more crucially for many businesses — harmonize regulations governing industries like pharmaceuticals and auto parts. While those talks wore on, political leaders on both continents focused on treaties with faster-growing countries like South Korea. Trade between the Europe and the United States already was believed to work pretty well, so there was little urgency to make it better.

“I haven’t heard anyone say it doesn’t make sense,” said Peter Beyer, a member of the German Parliament from Ms. Merkel’s party, the Christian Democrats, and a major advocate of an agreement. “It just hasn’t been at the top of the agenda.”

Efforts to improve the U.S.-E.U. trade relationship gained momentum after the failure of the so-called Doha Round of global trade talks. In addition, Canada and the European Union are close to a free-trade agreement, which puts pressure on the United States to follow suit. Mr. De Gucht, the E.U. trade commissioner, met Thursday with Edward D. Fast, the Canadian trade minister, and said in a statement afterward that negotiations were in the “home straight,” or final stages.

So far the Obama administration has been fairly quiet about a European trade agreement, perhaps wary of raising expectations. A so-called High-Level Working Group, which includes E.U. and U.S. representatives, is expected to make recommendations by the end of the year or by early 2013.

Even though the United States and Europe have a long history of trade and friendly relations, any agreement will be complicated because of the number of countries involved. The European Union has 27 members. Unlike Nafta, which eventually eliminated duties on goods sold between Mexico, the United States and Canada, a European free-trade agreement would focus more on harmonizing regulatory standards between the United States and Europe.

For example, Daimler, the German maker of cars and trucks, would like to see a trade agreement that freed it from having to obtain multiple certifications every time it puts a new variety of Mercedes engine on the market. The pharmaceutical industry is also particularly eager to avoid having to test new treatments on both continents.

“The current regulatory complexity slows down the approval of innovative drugs and cheaper generics in both regions,” Ulf M. Schneider, president of Fresenius, a German health care company, said in an e-mail. Fresenius, based in Bad Homburg, near Frankfurt, is best known as the world’s largest provider of dialysis services, but it also has a biotechnology unit that is developing cancer treatments.

But the complexity of regulatory issues also makes agreement more difficult, which is another reason why it has taken so long to reach one. “History shows that removing nontariff barriers is much harder than removing tariff barriers,” Mr. Schneider said.

A version of this article appeared in print on November 26, 2012, on page B2 of the New York edition with the headline: Trade Deal Between U.S. and Europe Resurfaces.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Parceria Trans-Pacifica progride; enquanto isso, na América Latina...

Enquanto os países da bacia do Pacífico discutem a formação de uma grande rede de integração produtiva e acordos de liberalização comercial, os países da América Latina se reunem entre si e concluem que o melhor mesmo é continuar entre si, numa grande rede de integração introvertida, mercantilista e protecionista, mas o mais importante é que o fazem sem tutela de qualquer império, de qualquer potência capitalista malévola, sem precisar liberalizar nada, apenas acertando as trocas entre os governos que é assim que se faz, já que mercados deixados livres, leves e soltos, desregulados, só levam a crises, recessões, desigualdade, essas coisas horríveis que soem acontecer quando não se defende a soberania e a altivez dos países da região.
Enfim, sempre tem aqueles, neoliberais, que pretendem ingressar na Parceria Trans-Pacífica, mas felizmente também tem os que querem, e conseguem, proteger a soberania, construindo, por exemplo, o socialismo do século 21 e outras bobagens do século 19. 
Assim vai o mundo, ou pelo menos a região....
Paulo Roberto de Almeida 

Japan Likely to Embrace Free Trade Pact
The New York Times, November 9, 2012

TOKYO — In a possible gambit to reverse his governing party’s flagging fortunes, Prime Minister Yoshihiko Noda appears likely to declare Japan’s intent to join an ambitious pan-Pacific free trade agreement, then call a snap election in which the party would campaign on that move.
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·       Japan Aims to Revise Security Pact With U.S. (November 10, 2012)
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Major newspapers said on Saturday that support was building in the Noda administration to announce Japan’s entry into the proposed American-led regional agreement sometime in the next two months. The reports said that move would be immediately followed by a decision to dissolve Parliament for national elections that would take place a month later.
Japan has long wavered on entry into the pact, the Trans-Pacific Partnership, which is opposed by the nation’s heavily protected farmers but supported by consumers and industry groups. Because the reports about the government’s intentions appeared in most major newspapers, it suggested Mr. Noda’s Democratic Party had made a concerted effort to begin signaling a change in strategy.
The state minister for national policy, Seiji Maehara, has also said joining the agreement would become “a public promise by the Democratic Party that should be a main issue in elections.”
Signing onto the pact is likely to please the United States, which has urged Japan for the last two years to join the group as a way to push the global economy out of its prolonged slump. News reports suggested that the move would also be a way for the government to lash itself even closer to the United States at a time when Japan is increasingly jittery about China’s ambitions in the region. The reports described the likely decision to join the pact as a domestic political gamble by the prime minister to prevent his party from a humiliating loss in elections, which must be held before September.
The Democrats have been searching for a way to regain public support after widespread criticism that they mishandled Japan’s response to the Fukushima nuclear accident. Mr. Noda’s approval ratings have dropped into the teens in recent polls.
When pressed by the opposition on his earlier promises to hold elections “soon,” Mr. Noda has said only that he and other party leaders would decide the timing when they were ready.
If he takes a clear stand on the trade pact, Mr. Noda may be aiming to regain support among the Democrats’ base of urban white-collar voters and union members. They are expected to welcome the lower prices and increased exports that more open markets are likely to bring.
But such a move would also alienate farmers, one of Japan’s most powerful bloc of voters. On Friday, about a half-dozen Democrats said they might defect from the party if Mr. Noda were to back the trade deal.
Joining the pact would also put the largest opposition party, the Liberal Democrats, who currently lead in polls, in an uncomfortable political position. The Liberal Democrats have avoided taking a clear stand on the agreement because they have tried to keep the support of farmers and big business, traditionally the party’s two biggest supporters. Mr. Noda may be hoping to hurt the opposition by forcing it to pick one side, news reports said.
A version of this article appeared in print on November 12, 2012, on page B5 of the New York edition with the headline: Japan Likely To Approve Trade Pact.

domingo, 25 de dezembro de 2011

China e Japao fazem acordo de livre comercio: América Latina promete retaliar...

Uau: os dois gigantes do mundo asiático vão fazer o que possivelmente será a maior zona de livre comércio do mundo, ameaçando o status atual da UE e do Nafta.
A América Latina promete retaliar, fazendo um acordo de livre comércio com o Nafta.
Ou estarei sonhando?
Paulo Roberto de Almeida 



China and Japan agree to start talks on free trade pact


Shanghai Daily, Dece,ber 26. 2011
CHINA and Japan have agreed to start formal talks early next year on a free trade pact that would also include South Korea, Japanese Prime Minister Yoshihiko Noda said yesterday after talks with Chinese Premier Wen Jiabao that showed the deepening bonds between Asia's two biggest economies.

Japan also said it was looking to buy Chinese treasury debt, and the two governments agreed to enhance financial cooperation.

"On a free trade agreement among Japan, China and South Korea, we've made a substantial progress for an early start of negotiations," Noda said after his meeting with Wen.

China's central bank, the People's Bank of China, said on its website that the two leaders agreed to strengthen bilateral financial market cooperation and "encourage the use of the yuan and Japanese yen in international trade transactions between the two countries."

The trade talks announcement builds on an agreement between the three countries last month to also seek a trilateral investment treaty and finish studies on the proposed free trade agreement by the end of December so they could start formal negotiations on the trade pact.

"China is willing to closely coordinate with Japan to promote our two countries' monetary and financial development, and to accelerate progress of the China-Japan-Republic of Korea free-trade zone and East Asian financial cooperation," Wen told Noda, according to the Chinese Foreign Ministry's official website.

But the regional trade negotiations could compete for attention with Washington's push for a trans-Pacific partnership, after Japan said last month it wants to join in the talks over the United States proposal.

Despite sometimes rancorous political ties between the two neighbors, Japan's economic fortunes are increasingly tied to China's economic growth and consumer demand.

China and Japan are also the world's first and second-biggest holders of foreign reserves. Wen told Noda that closer economic ties were in both countries' interests.

"The deep-seated consequences of the current international financial crisis continue to spread, and the complexity and severity of global and world developments have exceeded our expectations," Wen said.

"China and Japan both have the need and conditions to join hands more closely to respond to challenges and deepen mutually beneficial strategic relations," he said.

In 2010, trade between the two nations grew by 22.3 percent compared to the levels the previous year, reaching 26.5 trillion yen (US$339.3 billion), according to the Japan External Trade Organization.

In a statement issued after the two leaders' meeting, the Japanese government said it would seek to buy Chinese government bonds - a tentative step toward diversification of Tokyo's large foreign exchange reserves that are believed to be mostly held in dollars.

China's central bank said the two governments agreed to support Japanese businesses issuing yuan bonds in Tokyo and other markets outside of China, and the Japan Bank for International Cooperation would begin a pilot scheme for issuing yuan-denominated bonds in China's mainland.

The People's Bank of China also said it would support Japan in using the yuan for direct investment in China.

But Japanese officials have stressed that Japan's trust in dollar assets remains unshaken, and the scale of the planned purchase of Chinese government bonds will be small.

Wen and Noda also agreed to set up a framework to discuss maritime issues after diplomatic ties deteriorated last year following Japan's arrest of a Chinese fishing boat captain in the East China Sea.

Bilateral meetings attended by vice ministers and senior officials from relevant ministries will be held periodically to exchange views, in an effort to prevent a similar row.

"On maritime matters, we have successfully set up a channel to solve problems through multi-layered dialogue," Noda told reporters

terça-feira, 19 de julho de 2011

Surpresas politicas: Humala, o livre comercio e o neoliberalismo...

Certas pessoas, como este acadêmico queridinho dos altermundialistas, antiglobalizadores e outros alternativos, acham que pessoas de esquerda permanecem de esquerda a vida toda, mesmo quando chegam ao poder.
Creio que vão se decepcionar...


Derrota dos EUA: vitória de Humala desfaz Aliança do Pacífico
Immanuel Wallerstein
Carta Maior, 18/07/2011
Os EUA procuraram contrariar o programa do Brasil de construção de estruturas regionais como a Unasul e o Mercosul, criando a Aliança do Pacífico do México, da Colômbia, do Chile e do Peru, baseada em acordos de livre-comércio. Além disso, a Colômbia, o Peru, e o Chile promoveram um projecto de criação de uma bolsa de valores integrada. E as forças armadas do Peru ligaram-se ativamente ao Comando Sul do Exército dos EUA. Com a eleição de Humala, a contra-ofensiva geopolítica dos EUA, a Aliança do Pacífico, está desfeita.
(neste link)

Calderón y Humala impulsan relación comercial con el TLC Perú-México en ciernes
InfoLAtam Newsletter, 19/07/2011
El mandatario de México, Felipe Calderón, y el presidente electo de Perú, Ollanta Humala, se comprometieron hoy a impulsar su relación comercial en momentos en que el Senado mexicano discute la ratificación de un TLC que ambos países negociaron durante cinco años.
(neste link)

New Leftist Peru President to Keep Central Bank Chief
BY ROBERT KOZAK AND MATT MOFFETT
The Wall Street Journal, July 19. 2011
LIMA, Peru—Leftist President-elect Ollanta Humala said he would retain the government's current central bank president, who is known as a tough inflation fighter, a sign of continuity in economic policy that buoyed investors.
Keeping Brown University-educated Julio Velarde, the first appointee to be announced by the government that takes over July 28, alleviates some of the uncertainties about Mr. Humala's economic philosophy that have depressed financial markets and the broader economy for months, analysts said.
"Velarde's appointment is the first solid indication that Humala has moderated not only his discourse but potentially his ideology as well," said Luis F. Zapata, ...

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Retaliacao brasileira ao protecionismo argentino: a pior politica - Richard Sylvestre

Uma argumentação econômica sobre a atual guerra comercial:

Retaliar com barreiras comerciais é um bom caminho?
Richard Sylvestre
Deposito de..., domingo, 15 de maio de 2011

Muitos “intervencionistas” não se assumem como tal, eles dizem que não defendem a priori, como um “mandamento moral”, a intervenção do estado na economia, são apenas pragmáticos que acreditam que em certas situações, a melhor maneira de lidar com um problema específico é chamando o governo, mas que não há razões para achar que este é superior ao mercado em todas as situações assim como o contrário não seria válido.

Eu costumo dizer que esse povo defende uma espécie de “governo robô”, que só existe na cabeça deles. É como se o governo tivesse um botão de “liga e desliga” que o defensor da intervenção aciona conforme a sua vontade. Se a intervenção é momentaneamente desejável segundo algum critério do sujeito, ele “liga” o governo para fazer exatamente aquilo que tem em mente. Quando o momento passa, o nosso intervencionista desliga o governo e tudo volta a ser como antes.

Um exemplo dessa visão está ocorrendo exatamente agora na pendenga comercial entre o governo brasileiro e o argentino. Como é sabido, aproveitando a tara por protecionismo com a oportunidade oferecida pelos portenhos, o governo brasileiro dificultou a importação de carros da Argentina. Já que não é de bom tom se dizer protecionista e nem afirmar que a medida é uma retaliação às barreiras protecionistas levantadas anteriormente pela Argentina, o governo brasileiro tratou de dizer que a medida serve apenas para monitorar melhor o fluxo comercial do setor automotivo. Se foi por “amores ao protecionismo” ou por retaliação nós não sabemos, mas certamente não foi pelo motivo alegado. Para os propósitos deste texto, vamos supor que o motivo foi o “menos pior” dentre os disponíveis: por retaliação. Vamos aceitar a hipótese altamente improvável de que o governo brasileiro está convencido das benesses do livre comércio, mas que está tentando conseguir da Argentina o fim (ou diminuição) de algumas barreiras e para isso “blefa” com protecionismo também.

Voltando a idéia do “governo robô” e assumindo a hipótese acima temos o seguinte quadro: sabemos que o melhor dos mundos seria Argentina e Brasil não terem barreiras protecionistas, mas a Argentina colocou barreiras, o que nos faz perder. Se o governo não intervier, nós ficaremos abertos e eles fechados. É um cenário melhor do que nos fecharmos também, mas é uma situação pior do que se eles estivessem abertos como nós, logo, podemos usar o governo para nos fecharmos temporariamente, causando perdas a eles de forma que se “rendam”, desistam dessa politica protecionista e se abram novamente e quando isso ocorrer o nosso governo sai de cena e abre a economia novamente. É o típico exemplo de intervenção “pragmática”, “pontual” que supostamente melhora a situação de maneira geral.

Milton Friedman, economista de Chicago, gostava de dizer que nada é mais eterno que órgãos estatais criados sob a alegação de alguma politica temporária. Ele falava do FMI (Fundo Monetário Internacional) que foi criado para “garantir” o funcionamento do tratado de Bretton Woods, mas que continua firme e forte 40 anos após o fim do dito tratado que lhe deu origem. No Brasil nós temos inúmeros exemplos da mesma tendência. Um fantástico é o do Banco do Brasil, criado por Dom João para “fomentar o desenvolvimento”, continua vivo até hoje, mesmo depois de ter sido criado o BNDES (outro banco que teria a mesma função), SUDENE, SUDAM e até a Caixa Econômica Federal (mais voltada a subsidiar o setor de construção civil)– ou seja, mais de um século depois e com várias estatais e órgãos destinados a fazer a mesma coisa (ou quase a mesma coisa), o Banco do Brasil continua firme.

O velho mestre de Chicago falou de órgãos, mas o mesmo pode ser dito de politicas públicas como subsídios, tarifas, impostos etc.. Em suma, o governo não é um robô que você liga e desliga a hora que bem entende e a razão é muito simples. Não existe incentivo para se “desativar” uma imensa gama de politicas econômicas. Peguemos como exemplo a idéia de retaliar barreiras protecionistas. Imagine que uma dada proteção beneficia um setor da economia em $10 e prejudique toda a massa de consumidores em $20 que terá que pagar mais caro pelos mesmos produtos ou por produtos de pior qualidade. Economicamente, portanto, ela seria uma tarifa ineficiente que gera destruição de riquezas. Mas, por outro lado, mesmo que ela destrua riquezas, ela também redistribui riquezas em uma direção que faz toda diferença e gera os incentivos para sua execução. Os $10 ganhos pelo setor protegido é um valor muito alto mesmo que você divida tal valor por todos os membros desse setor. Já os $20, mesmo sendo o dobro do valor no total, individualmente, dada a imensa massa de consumidores, não significará muita coisa. Logo, individualmente cada membro do setor a ser protegido tem um belo incentivo para fazer lobbies e pressão em prol das barreiras, já a massa de consumidores, individualmente, não tem o mesmo incentivo para lutar contra as mesmas. O resultado final, muito provavelmente, será a aplicação das barreiras.

Mais importante ainda para nossa discussão é a “retirada de uma barreira”. Assim como o incentivo é maior pelo lado de quem recebeu o subsídio na hora de criar a barreira (dado o valor que o subsídio representa individualmente), também será maior para quem se beneficia dele na hora de derrubar a mesma barreira. O setor que será “desprotegido” perderá muito individualmente, enquanto os consumidores (também individualmente) ganharão pouco. Mesmo que no agregado, o montante ganho pelos últimos seja maior que o perdido pelos primeiros, a politica tende a não sair porque o incentivo mais forte na produção de lobbies e pressão está com o primeiro grupo. Barreiras protecionistas, portanto, podem não ser tão “eternas” quanto os órgãos/estatais lembrados por Friedman, mas são bem resistentes. Aplicar novas barreiras, mesmo que seja como retaliação, temporárias etc.. é brincar com fogo. Depois de criadas, a derrubada das mesmas não é tão simples como os defensores parecem acreditar.

Para complicar nada garante que uma nova barreira terá como resposta do “outro lado”, menos barreiras. Assim como A retaliou criando uma barreira, B pode responder do mesmo jeito, aumentando as suas barreiras. O resultado final será ambos os países fechados e com uma montanha de barreiras comerciais para serem derrubadas (o que como já foi explicado não é tão simples). Governos não são deuses fora de qualquer influência e incentivos, que são acionados ou desligados conforme a vontade de um “planejador central” ou de algum intelectual. Eles são formados e influenciados por pessoas iguais a quaisquer outras. Assim como uma empresa de sorvete fabrica os sabores que os demandantes mais estão dispostos a pagar, o governo também produzirá leis e regulamentos conforme a demanda daqueles que mais caro estão dispostos a “pagar”. E dada a natureza de um governo (de dispor sobre a propriedade de todos), infelizmente, na maior parte dos casos, sempre o lado que demanda algum privilégio, algum subsidio terá essa disposição a pagar mais e acabará levando a regulamentação.

Mesmo assumindo que a politica do governo brasileiro foi de retaliação (e não uma deliberada escolha pelo protecionismo), se trata de uma péssima politica. Se um país está se fechando, podemos até tentar convencê-lo do contrário, mas em termos de politica comercial o melhor que podemos fazer é nos abrirmos ainda mais, ou, se já tivermos tarifas zero, não fazer nada. Dadas as circunstâncias é a politica que gera o maior ganho. Cair na estratégia de retaliação só aumenta o prejuízo. O resultado mais provável é que não consigamos abrir o país que se fechou (até porque ele se fecha pelos mesmos incentivos perversos descritos anteriormente) e ainda temos as nossas próprias barreiras para tentar derrubar depois.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Venezuela: grande socio do Mercosul (assim dizem...)

Pois é, parece que era para vigorar o livre-comércio entre a Venezuela e os países do Mercosul. Mesmo antes de entrar em vigor o protocolo de acesso da Venezuela, supõe-se que os "entrantes" já venham cumprindo de boa fé os compromissos contraídos. Aliás, uma regra costumeira do direito internacional reza que, imediatamente após a assinatura de um tratado, e mesmo antes de sua ratificação e entrada em vigor, as partes contratantes já se eximem de tomar qualquer medida contrário ao espírito e à letra dessa tratado.
Seria o caso dos sócios brasileiros, especialmente aqueles que advogaram enfaticamente pela aceitação da Venezuela no Mercosul, lembraram ao coronel Chávez dos compromissos assumidos.
Paulo Roberto de Almeida

Chávez suspende importação de máquinas agrícolas
Márcia De Chiara
O Estado de S.Paulo, 07 de outubro de 2010

Fabricantes brasileiros foram prejudicados com a expropriação da maior revenda especializada em insumos agrícolas da Venezuela

Os fabricantes brasileiros de máquinas agrícolas começaram a semana com as exportações de seus produtos suspensas para a Venezuela, um dos principais compradores de implementos agrícolas entre os países da latino-americanos. No último domingo, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, expropriou a maior revenda de insumos e equipamentos agrícolas, a Agroisleña, empresa espanhola que está cerca de 50 anos no país.

"Ninguém sabe o que vai ser daqui para a frente. Essa situação é preocupante, pois a Venezuela é um grande importador de máquinas agrícolas brasileiras", afirma Celso Casale, presidente da Câmara Setorial de Máquinas Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). Ele conta que o governo da Venezuela justificou a intervenção nas cerca de 60 lojas da empresa, alegando os elevados preços cobrados pelos insumos.

Segundo a Abimaq, as exportações de equipamentos agrícolas para Venezuela somaram US$ 65 milhões entre janeiro e agosto deste ano. Em 2009 inteiro, as vendas para o país atingiram US$ 97,7 milhões. Casale explica que, com o real valorizado e a perda de competitividade dos produtos brasileiros no exterior, a Venezuela passou a ser um comprador importante para os implementos agrícolas brasileiros.

"Fomos surpreendidos com essa decisão do presidente Chávez no domingo à tarde", afirma Rubens Dias de Morais, diretor da Jumil, fabricante de implementos agrícolas. Entre colhedora de milho, roçadeira e distribuidor de fertilizantes, a companhia exportou de US$ 10 milhões a US$ 13 milhões para a Venezuela por ano nos últimos cinco anos. "A Venezuela representa cerca de 30% das nossas vendas externas."

Morais diz que tem US$ 7 milhões de pedidos até dezembro. Desse total, US$ 1 milhão em produtos já estão sendo fabricados. A intenção do executivo é redirecionar as vendas ao mercado interno e outros países. "Nosso risco é pequeno porque temos produto embarcado com fatura liquidada." De toda forma, o empresário não descarta a possibilidade de reduzir o ritmo de produção e antecipar férias coletivas para ajustar a produção.

Casale, da Abimaq, diz que há cerca dez fabricantes de implementos que exportam para a Venezuela. A Casale, por exemplo, acaba de embarcar US$ 900 mil de equipamentos para a Venezuela porque a venda foi feita por meio de carta de crédito, isto é, o recebimento está garantido. Porém, segundo o empresário,os venezuelanos estão pedindo para os empresários brasileiros não embarcarem mais os equipamentos com medo de perdê-los para o governo.

Procurado pelo Estado, o Ministério do Desenvolvimento disse que não comenta a questão e remeteu ao Ministério das Relações Exteriores, que não retornou o contato da reportagem.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Livre Comercio: eficiente ate no futebol - Carlos Alberto Sandenberg

Eu disse "até no futebol" mas esse "até" está errado. O futebol é eficiente nos países em que ele é livre, absolutamente livre, como ocorre, aliás, em qualquer atividade humana (e os chineses precisam aprender isso).
Apenas com competição desenfreada, a mais aberta possível, se obtém excelência, qualidade, bons preços e aumento de eficiência...
Quando é que os brasileiros vão aprender isso?
Paulo Roberto de Almeida

A Fúria, produto do livre mercado
Carlos Alberto Sandenberg
O Estado de S.Paulo, 12 de julho de 2010

O sucesso da seleção espanhola, a Fúria (*), demonstra como é correta a tese favorável aos mercados abertos. Na verdade, o que acontece no futebol espanhol é a realização completa dessa ideia, tão cara a muitos economistas.
Há muito tempo os clubes espanhóis contratam jogadores estrangeiros. Como em qualquer outro setor, importa-se o que de melhor têm os países exportadores. E estes só conseguem colocar lá fora os seus produtos mais competitivos, isso definido por uma combinação de qualidade e preço.

No caso do futebol, isso fica muito claro. Só faz sentido - no início do processo, ao menos - contratar jogadores melhores do que os disponíveis internamente, pagando salários mais elevados. Ainda hoje os estrangeiros Cristiano Ronaldo e Kaká são os mais caros na Espanha. Também faz sentido importar jogadores de qualidade apenas um pouco superior à média local, mas cuja contratação seja mais econômica.

Em qualquer caso, a consequência é a elevação do nível do futebol importador. Os jogadores locais, para conseguirem vaga nos times, precisam evoluir até o ponto em que estão os estrangeiros, com os quais passam a competir.

Muita gente diz que a importação livre acaba com a produção local, seja de geladeiras ou de jogadores. O caso da Espanha prova o contrário. Nunca o time espanhol teve tantos craques, nunca jogou tão bonito. Tal foi a mudança que os jogadores espanhóis - antes colocados em segundo nível no mundo - passaram também a ser exportados para outros centros de excelência.

Isso fecha o processo, o mercado tornando-se ao mesmo tempo importador e exportador. Nos clubes, a combinação do local e do importado, num nível superior.

Consideremos o Barcelona, campeão espanhol, vice da Europa. Entre os seus 20 principais jogadores, nove são estrangeiros. E nada menos do que sete espanhóis foram titulares da Fúria na Copa do Mundo da África do Sul.

Perguntará o leitor: e a Itália e a Inglaterra, também fortemente importadoras, mas que deixaram a Copa logo no começo?

Foi circunstancial. Não se deve esquecer que a Itália foi a campeã de 2006, com uma seleção de craques (quando já era importadora), e chegou à África do Sul com um time envelhecido e cansado. Problema de gestão.

A Inglaterra, onde está a maior legião estrangeira, formou agora, com um técnico importado, a melhor seleção dos últimos tempos. Nunca teve tantos craques no mesmo time. Acontece, apenas, que eles não estiveram bem na Copa, estavam ou cansados ou machucados. Lembrando: a seleção foi muito bem na fase de classificação, que é sempre muito difícil na Europa.

Vira e mexe, sai essa discussão na Europa. Na própria Espanha, o fracasso na Copa passada foi atribuído por muitos analistas locais à "invasão estrangeira". Aliás, os cartolas italianos acabam de limitar o número de estrangeiros em seus times.

É a mesma coisa que pedem produtores locais de qualquer país e qualquer setor quando submetidos à competição com os importados. Claro que é preciso cuidado com dumping, preço vil, concorrência desleal. Mas isso é simples de administrar.

É muito diferente de instalar um sistema protecionista, que bloqueia de algum modo a entrada dos importados. Isso sempre levou à estagnação econômica e a prejuízos para o consumidor, que só tem acesso a produtos piores e mais caros.

Se a Espanha tivesse proibido a importação de jogadores, teria times piores, que ofereceriam espetáculos piores e, portanto, com faturamento muito menor. A importação elevou o nível do futebol local e, na verdade, com a constituição dos grandes clubes, cada vez mais atuantes nos campeonatos europeus, abriu espaço para a formação dos craques locais.

Exportador. Nesse mercado, o Brasil está no papel de exportador, grande exportador, como a Argentina e, de resto, toda a América do Sul.

Isso tem enfraquecido o futebol local, sem craques e, pois, com menos faturamento.

Vai daí que muita gente acha que proibir a exportação, em especial dos jovens, é uma saída.

Um baita equívoco.

Primeiro, porque seria uma violação da liberdade de ir e vir e de trabalhar. Então, um clube europeu oferece uma nota ao jovem pobre e ele é obrigado a jogar no Brasil por salários muito menores?

Não é justo, não é legal.

Nem eficiente.

Os jogadores vão embora porque os clubes não têm dinheiro para lhes pagar em níveis internacionais. E por que não têm dinheiro? Porque dirigentes amadores e incompetentes, para dizer o mínimo, não conseguem tornar mais rentável um negócio que empolga milhões de pessoas que poderiam perfeitamente pagar mais caro por espetáculos mais bem organizados.

O atraso mede-se pela preparação da Copa de 2014. No país campeão do mundo cinco vezes não há um único estádio de padrão Fifa. E esse padrão não é nenhum excesso dos cartolas. O que se exige são estádios que ofereçam conforto ao público consumidor e boas condições de trabalho para os jornalistas, especialmente para a televisão, de onde vem a maior parte do faturamento desse negócio.

É tão ruim a gestão do futebol no Brasil que cria até uma esperança. Alguma profissionalização já produziria resultados.


(*) Escrevo na sexta-feira, mas, independentemente do resultado da final da Copa do Mundo, o time da Espanha mostrou classe e eficiência.

JORNALISTA. E-MAILS: SARDENBERG@CBN.COM.BR E CARLOS.SARDENBERG@TVGLOBO.COM.BR

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Mais um artigo publicado: sobre livre comércio

Publicado em versão mais resumida anteriormente em outro veículo:

O argumento a favor do livre comércio
Portal de Economia do iG (28.06.2010).
Relação de Publicados n. 977; relação de Originais n. 2159.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Ordem Livre: mais recentes artigos publicados - Paulo R. Almeida

Meus dois últimos artigos publicados no site Ordem Livre estão aqui (só vim a saber agora):

Livre comércio: uma idéia difícil de ser aceita (e, no entanto, tão simples)
Artigos por Paulo Roberto de Almeida
07 de Junho de 2010

Todo economista sensato é – ou deveria ser – a favor do livre comércio. Digo "deveria ser", posto que não existem argumentos econômicos contrários ao princípio, e que os economistas (insensatos?) que se posicionam contrariamente, o fazem por outras razões que não as de ordem propriamente econômica: defesa do emprego nacional, ausência de reciprocidade por parte dos parceiros comerciais, desequilíbrios setoriais devidos a externalidades negativas em outros setores, etc.; ou seja, argumentos de natureza puramente política, quando não oportunista ou meramente conjuntural.
(...)
ler o texto completo


Como organizar a economia para o maior (e melhor) bem-estar possível
Artigos por Paulo Roberto de Almeida
31 de Maio de 2010
Sem aderir a qualquer tipo de maniqueísmo, pode-se dizer que existem duas formas, basicamente, para promover o crescimento e a prosperidade das sociedades organizadas: pela via dos mercados livres ou por meio do papel ativo do Estado na indução das "políticas corretas" e na redistribuição das riquezas geradas pelo crescimento econômico. Trata-se do velho debate entre as virtudes respectivas dos mercados e dos Estados na promoção do desenvolvimento econômico, gerando, aliás, o tipo de maniqueísmo que se quis evitar no começo deste ensaio.
(...)
ler o texto completo

Bom proveito! Em 15 dias tem mais...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Progressos do socialismo científico: o inacreditavel caso cubano

Se quiserem, leiam primeiro a noticia abaixo.
Nos sessenta anos em que Cuba foi "colônia informal" (ou formal, se quiserem) do império, sua produção aumentou constantemente. No momento da sua "libertação" era o principal produtor e exportador mundial, com quase 8 milhões de toneladas de açúcar, bem mais do que o Brasil, que hoje assumiu a condição de maior exportador (mas não produtor, que é a Índia).
Pois bem, hoje Cuba importa açúcar do IMPÉRIO (que lhe fornece, aliás, quase todos os seus produtos alimentares) para seu próprio consumo.
Deve ser por que a palavra de ordem é "libertar-se da monocultura colonial"; diversificar a economia, aumentar a capacidade tecnológica, etc, etc, etc.
Paulo Roberto de Almeida

La producción azucarera cubana se desploma a niveles de 1905
Emilia C. de Paula
El País – 05/05/10

La Habana – La industria azucarera cubana hace aguas por donde uno mire. Dos días después de que el Gobierno de Raúl Castro destituyera al ministro del ramo, Luis Manuel Ávila, por “deficiencias en su trabajo”, el diario Granma ha salido a escena con datos demoledores: este año la zafra será la peor desde hace 105 años, cuando Cuba apenas produjo 1,2 millones de toneladas de azúcar. Según el órgano oficial del Partido Comunista, la actual cosecha ha sido “pésima en producción y eficiencia”. “Desde 1905 el país no registraba una campaña azucarera tan pobre”, afirma, señalando entre las causas de esta debacle la ineficiencia crónica y “un elevado grado de imprecisiones y voluntarismo”.

No hay datos oficiales sobre cuál era el estimado de producción en la zafra 2009-2010, pero diversos analistas lo sitúan en torno a 1,4 millones de toneladas, similar al del año anterior. Según Granma, “al cierre de mayo” el atraso “rebasaba las 230.000 toneladas”, y falta poco más de un mes para concluir la temporada.

Según analistas, el resultado final de la cosecha pudiera estar entorno a 1,1 millones de toneladas, “o ser incluso menor”. Como datos de referencia valgan tres: en 1924, la zafra fue de 4,2 millones de toneladas; en 1958, de 5.6 millones; en 1990, último año de la hermandad con la URSS, la producción superó los 7,8 millones de toneladas.

La catástrofe es evidente. Desde que se inició la zafra a finales del año pasado, sólo han cumplido el plan asignado 10 de las 44 fábricas azucareras que activaron su maquinaria esta temporada; y si hablamos de territorios, solo dos de las 14 provincias cubanas lograron cumplir sus compromisos. Según Granma, al Ministerio del Azúcar le faltó “control y exigencia”.

La realidad es que llueve sobre mojado. Desde que la isla acometió un proceso de reconversión salvaje, el sector no ha levantado cabeza. Entre 2002 y 2004, Cuba reestructuró el sector azucarero, lo que supuso el cierre de casi un centenar de centrales (fábricas): de las 156 que existían quedaron 61, y se eliminaron más de 100.000 puestos de trabajo. Además, la superficie de cultivo disminuyó de dos millones de hectáreas a unas 750.000, según datos oficiales.

En la temporada 2008-2009, la isla produjo 1,4 millones de toneladas de azúcar y facturó más de 600 millones de dólares. Muy lejos de los 4.000 millones de dólares que obtenía cuando el azúcar era la principal fuente de ingreso de divisas y su producto de exportación más importante.

sábado, 16 de janeiro de 2010

1694) Alca: alguem ainda se lembra desse zumbi?

Volta e meia algum estudante me escreve para perguntar sobre a Alca. Sim, aquele velho projeto americano de "Área de Livre Comércio das Américas", que soçobrou nos embates levados a cabo por seus opositores ao sul do Rio Grande (e do norte também), entre 2003 e 2005, depois de quase dez anos vagando pelos foros negociadores hemisféricos.
Concordo em que esse cadáver ambulante ainda não foi enterrado de vez, vagando como um zumbi -- ops, desculpem-me pelo lapso politicamente incorreto -- nos meios diplomáticos do continente, mas que pode, talvez, ser ressucitado em alguma nova modalidade de ofensiva imperialista em algum momento do futuro. Melhor, assim, estar preparado.
Mas esses estudantes que me escrevem pretendem apenas saber o que é a Alca, ou o que foi esse projeto "imperialista", pois certamente se levantariam novamente contra ele, impulsionados por seus professores militantes, se por acaso algum gaiato tivesse a má idéia de retomar o projeto sob outra roupagem.
Eu cansei de tentar levar um debate racional sobre esse projeto, ou seja, tentar explicar o que ele era, realmente, e qual deveria ser, a meu ver, a posição do Brasil. Em resumo: examinar detidamente as propostas na mesa, considerar o interesse nacional brasileiro no sentido da interdependência dos mercados -- ou seja, liberalização comercial e abertura econômica -- e, depois, bem depois de se fazer uma análise de como tudo isso impactaria o Brasil - para o bem, isto é, com acesso a novos mercados e aumento do comércio, e para o mal, com desafios a nossos setores não competitivos --, decidir então se aderir, como aderir, por que aderir. Aderir não é bem a palavra, pois se tratava não de uma carta de adesão (ou de anexação, como gostam de repetir certos opositores), mas de uma construção de um projeto de área de livre comércio hemisférica, com todas as vantagens e desvantagens que qualquer esquema desse tipo apresenta para qualquer país que resolve embarcar numa aventura integradora dessa amplitude (e existem várias no mundo, a começar pela UE, mas o Brasil também participa de uma, no Mercosul).
Pois bem, hoje, por puro acaso, "redescobri" um texto meu dessa época hoje longínqua, ao remexer num site tipicamente esquerdista, chamado "Gramsci e o Brasil". Nem sei como eles publicaram esse meu texto, pois todo ele é uma condenação direta e implacável dos argumentos canhestros, dos raciocínios simplistas, vários deles de má-fé, dos opositores da Alca.
Não que eu fosse a favor, longe disso.
Mas é que eu sou um ser racional (pelo menos penso ser). Eu quero debater racionalmente qualquer problema que se apresenta a mim e ao Brasil.
Tenho horror de simplismos e simplificações deliberadas, tenho alergia à desonestidade intelectual, detesto a má-fé num debate qualquer.
Apenas essas motivações me levaram a escrever o texto abaixo, que para surpresa minha foi reproduzido nesse site esquerdista, onde provavelmente nenhum frequentador concordaria com meus argumentos (se os lessem atentatamente).
Não importa, vai aqui reproduzido, pois sempre deve existir alguém interessado em arqueologia diplomática, e sempre tem estudante solto por aí pedindo ajuda para algum trabalho...
Paulo Roberto de Almeida (16.01.2010)

Sinais trocados na Alca
Paulo Roberto de Almeida
Site Gramsci e o Brasil - 2002

1. O que de verdade fundamenta a campanha contra a Alca

Começo por transcrever a definição oficial da Alca, tal como constante do website do movimento que luta contra esse projeto de acordo comercial hemisférico: “ALCA é a sigla da ‘Área de Livre Comércio das Américas’ projetada por setores empresariais e governamentais dos Estados Unidos para aumentar e reforçar o domínio sobre os povos e países do hemisfério e, ao mesmo tempo, consolidar a hegemonia a nível mundial”.

Devo dizer de imediato que concordo inteiramente com a primeira parte da frase, até “Estados Unidos”, pois se trata, efetivamente, de uma descrição fiel de como começou esse processo negociador, estimulado pelos setores governamentais e empresariais do grande Império do Norte para consolidar, até 2005, uma série de compromissos de abertura nos campos do comércio e dos investimentos, vinculando entre si os países das Américas, desde o Alasca até a Terra do Fogo. Ao ler, porém, a segunda parte dessa frase, que se refere ao aumento do domínio sobre os povos e à consolidação da hegemonia mundial, não posso evitar um certo bocejo de aborrecimento, em face do tremendo déjà vu que exala desse tipo de afirmação.

Nos “tempos da brilhantina”, isto é, quando minha geração se formava nos bancos escolares com a sensação de que a América Latina, para se desenvolver, precisava se libertar da “dominação imperialista”, tal tipo de argumento tinha uma certa credibilidade, pois que projetos dirigistas e autonomistas de crescimento econômico estavam efetivamente em curso em diferentes sociedades do pós-guerra, inclusive em economias centrais do capitalismo avançado, como na Grã-Bretanha, na França e em alguns países escandinavos. Havia um “caminho alternativo”, aparentemente operacional e factível, e mesmo economistas e politólogos respeitáveis como John Kenneth Galbraith ou Raymond Aron acreditavam realmente numa certa convergência das “sociedades industriais” em direção de uma economia de mercado monitorada e “ajudada” pelo Estado, como forma de dirimir os mais perniciosos defeitos do capitalismo selvagem. Este era supostamente encarnado pelos Estados Unidos, que pareciam seguir então uma estratégia de dominação mundial, baseada na força dos seus oligopólios, quando não na força bruta de seu aparato militar. As análises marxistas então em voga - tipo Paul Baran e Paul Sweezy, copiando aqui os economistas soviéticos - falavam do “capitalismo monopolista de Estado”, o que significava a junção dos interesses estratégicos do grande capital privado, por definição “monopolista”, com o desejo de dominação hegemônica por parte do país militar e economicamente mais poderoso do planeta.

Como tudo era mais simples nesses tempos: havia dois campos e os progressistas tinham, obviamente, de ficar do lado dos oprimidos e dos explorados. Terreno privilegiado do intervencionismo americano, a América Latina tinha o seu desenvolvimento freado não apenas pela preservação do latifúndio e das oligarquias, mas também pela aliança destes setores com os representantes da exploração capitalista e da dominação imperialista, os capitalistas estrangeiros - eventualmente ajudados pela burguesia nacional - e a guarda pretoriana do grande capital monopolista, os militares, que garantiam o alinhamento dos países da região no campo pró-imperialista. O esquema acima é um pouco simplista, mas era assim que funcionavam as coisas no mundo da Guerra Fria.

Desde então, muita coisa mudou no mundo: primeiro, os Estados Unidos entraram em “declínio irresistível”, como proclamava uma certa indústria acadêmica em voga nos anos 80; em seguida, foi o socialismo que deu dois suspiros e depois morreu; a partir daí, a economia americana, empurrada pelos ventos da globalização, voltou a flexionar seus poderosos músculos; contemporaneamente, muitos países da periferia, que tinham até então optado pela via do capitalismo nacional, resolveram abrir-se aos novos influxos e passaram a integrar-se plenamente à economia mundial, inclusive a China, formalmente socialista ainda, mas de fato em transição para uma economia de mercado.

“Mercado”: eis uma noção que incomoda muita gente, a ponto de ter sido convertida numa espécie de superlativo conceitual que penetrou o inconsciente coletivo de gerações inteiras de progressistas mundo afora, desde o século 19 até hoje. Na verdade, o conceito irritava o próprio Marx, e depois o irrequieto Lenin, ambos atribuindo todas as misérias do proletariado dos tempos vitorianos ao “funcionamento anárquico” das forças de mercado, a ponto de o segundo personagem, colocado em posição executiva, ter pretendido abolir inteiramente sua ação na nova economia socialista que ele começou a criar. Marx nunca chegou a conceber alguma frase de efeito sintetizando sua concepção do mercado - como a famosa definição de Proudhon, segundo a qual “toda propriedade é um roubo” - mas ele certamente deixou uma herança intelectual muito pesada para todos aqueles que pretenderam administrar, desde então, um sistema econômico que lograsse escapar dos pecados originais da “acumulação privada”, funcionando, teoricamente, sem esse incômodo social representado pela “exploração capitalista”.

Todos os modelos socialistas que tentaram abolir a ação considerada “nefasta” do mercado falharam redondamente nesse empreendimento. Todos os projetos de reforma socialista, a partir do pós-stalinismo, pretenderam introduzir um “pouco” de mercado no funcionamento da economia “comunista” e poucos o conseguiram, para desespero dos reformistas. Apenas sobrou a China, aparentemente socialista e “de mercado”, mas ela não se constitui em modelo para nenhum outro país. O fato é que temos hoje, no pós-socialismo, o mercado reinando supremo, como nos tempos da Inglaterra vitoriana, para contentamento de alguns e a raiva incontida de muitos. Repito: este é um fato, ainda que ele obviamente não seja do agrado das correntes de pensamento “alternativo”, mas elas até aqui falharam em apresentar alternativas credíveis ao funcionamento de uma economia de mercado, como revelado, por exemplo, nos grupos anti-globalizadores e contra a Alca.

Os textos oficiais da “Campanha continental contra a Alca”, tanto os da vertente civil quando os de orientação mais espiritual - como aqueles produzidos pelos bispos do Canadá e retomados no Brasil pela CNBB - falam muito pouco do “mercado”, mas é ele que está verdadeiramente em causa na intensa movimentação contra esse projeto de acordo comercial, que vem se estendendo desde que o movimento antiglobalizador proclamou que “um outro mundo é possível”. Agora somos apresentados ao slogan regional “uma outra América é possível”, mas de fato ainda não sabemos bem de que mundo e de que América, alternativos aos realmente existentes, se está falando, uma vez que não fomos ainda apresentados aos projetos concretos de sua constituição.

Aparentemente, nessa campanha, se trataria apenas de lutar contra as ameaças de dominação hegemônica e de perda de soberania dos povos da América Latina, mas isso não explica tudo, sobretudo a oposição também intensa existente contra a Alca em certos meios dos próprios países hegemônicos, onde a soberania não parece estar em causa. De fato, hegemonia e soberania são conceitos recorrentes nesses documentos dos grupos anti-Alca, mas a eles não corresponde nenhum conteúdo concreto, pois não se sabe bem que soberania está sendo ameaçada ou como será imposta a hegemonia, na medida em que o debate não incide, salvo raramente, sobre as características próprias do acordo comercial em discussão.

Minha hipótese é a de que o “inconsciente coletivo” dos setores progressistas está em ação nessa campanha contra, na verdade, as “forças do mercado” e o capitalismo irrefreável, pois do contrário não seria possível explicar o simplismo de certas “explicações” para a luta contra a Alca e o aparente exagero de alguns slogans redutores (como os de “sim à vida”, de luta contra o “controle do território” ou de resistência ao projeto “neocolonial”).

Deixando, portanto, de lado o ridículo desse reducionismo simplista, que não dá lugar a qualquer tipo de discussão objetiva, vejamos se seria possível examinar a rationale do movimento contra a Alca, para tentar determinar duas coisas: (a) que ele corresponde, efetivamente, a um certo sentido da história, sob a forma de uma sociedade mais humana, mais desenvolvida e mais igualitária e conduzindo, portanto, às metas progressistas que seus proponentes dizem defender; (b) que ele se identifica, realmente, com os interesses dos povos da região, ou seja, que a não existência da Alca resultará numa melhor situação de bem-estar, para todos os povos envolvidos no projeto, do que ocorreria a partir de sua implementação, supostamente identificada a uma nova etapa do processo de acumulação de capital, com perda correspondente de soberania para esses países.

2. Existe algum “progressismo” na campanha contra a Alca?

Os objetivos dos opositores da Alca são razoavelmente explícitos, mas nada claros quanto aos meios e alternativas finais que eles propõem no lugar de uma negociação que vem se desenvolvendo há quase dez anos e que pretende caminhar na dupla vertente dos processos que caracterizam a economia mundial: a globalização e a regionalização.

Os proponentes da campanha pretendem, pura e simplesmente, “bloquear a Alca” e, mais especificamente: “defender nossa soberania nacional”, “mudar o modelo econômico de dependência externa” e “construir uma alternativa de integração popular e soberana entre os povos americanos”. Concedendo uma legitimidade de partida a esses objetivos, caberia então discutir cada um dos termos da equação. Deixemos de lado a questão de saber se vai se conseguir ou não “bloquear a Alca”, uma vez que, ademais de ser ela um simples “meio” para o atingimento de outros objetivos, supõe-se que essa ação dependa de uma certa correlação de forças que não parece inclinar-se, na presente conjuntura, na direção pretendida por seus proponentes. Com efeito, a decisão de se negociar uma Alca foi adotada em reunião de 1994 à qual compareceram 34 chefes de estado democraticamente eleitos do hemisfério, cuja legitimidade é pelo menos tão real, ou quiçá mais, do que a dos seus opositores, cujos mandatos podem ter sido auto-atribuídos ou resultar de escolhas não tão universais.

Vejamos, portanto, os demais objetivos da campanha. A ameaça à soberania nacional, que os proponentes do movimento dizem querer afastar, é mais afirmada do que provada, e de fato, o mesmo documento de base alerta para o “perigo que significa a implantação da Alca, para nossa sobrevivência enquanto povos independentes”. Não se vê bem que tipo de soberania estaria exatamente em perigo, uma vez que acordos de livre comércio envolvendo países desenvolvidos e em desenvolvimento já foram concluídos anteriormente, dentro e fora da região, sem que tal ameaça se tenha concretizado.

Lembre-se, para começar, os diferentes esquemas de integração ou de liberalização comercial existentes na própria América Latina, mobilizando países e economias de dimensões muito diversas, alguns tão grandes quanto o Brasil, outros tão pequenos quanto o Uruguai, cuja população somada não ultrapassa os habitantes de um bairro da cidade de São Paulo. Cabe referência especial ao caso do Nafta, o primeiro esquema no continente envolvendo países avançados, como os EUA e o Canadá, e um em desenvolvimento, como o México: teria este último perdido soberania com o acordo do Nafta? Se este foi o caso, como e em que medida tal “abandono de soberania” prejudicou a busca de desenvolvimento ou de melhoria nos níveis de bem-estar de sua população?

Não se deve esquecer, tampouco, um esquema de integração a que os opositores da Alca não se cansam de referir como modelo e padrão para implementação similar na região americana. A renúncia de soberania nacional, no caso da União Européia, não poderia ser mais explícita e completa. Se esquecem eles, por acaso, que o princípio básico da união aduaneira e do mercado comum, que constituem os dois principais pilares da UE, é, antes de mais nada e principalmente, uma zona de livre-comércio completa e acabada, que preexiste e condiciona todos os demais esquemas de liberalização ulteriores? Não sabem eles que os mercados internos dos países menos desenvolvidos, como Portugal, Espanha e Grécia, foram totalmente abertos à concorrência dos parceiros mais desenvolvidos? Desconhecem que há total liberdade para a circulação de capitais entre os países membros da UE? Eles tampouco parecem considerar o fato que as políticas de tipo corretivo ou compensatório - fundos de desenvolvimento regional direcionados a regiões menos desenvolvidas - se fazem em função de políticas e mecanismos comunitários que significam, também, o abandono da soberania sobre a determinação de políticas setoriais. Não bastasse, portanto, o abandono de qualquer competência nacional em matéria de políticas comercial, industrial, agrícola e tecnológica, a mesma renúncia, elevada à 3ª potência, comparece na questão da moeda única, na qual os países membros abandonam não só a idéia de um banco central próprio, como a fixação da taxa de juros e a determinação dos principais agregados monetários, ficando impossibilitados sequer de optar por um pouco mais de inflação em troca de um pouco mais de emprego. Seria esse o tipo de soberania a que se referem os opositores da Alca?

Creio que, de forma pouco refletida, eles pensam nos fundos compensatórios que deveriam, segundo a “teoria das relações assimétricas”, fluir do mais rico país hemisférico aos sócios mais pobres do empreendimento da Alca, num esquema pretensamente similar ao europeu. Mas, nesse caso, os beneficiados deveriam aceitar ainda mais renúncia de soberania, pois que tais esquemas são apenas compatíveis com etapas mais avançadas do processo de integração, o que obviamente não está em causa na Alca. Como fica, então, a compatibilização entre soberania e políticas corretivas? Vale uma sem outra? Trata-se de uma contradição que deveria ser resolvida pelos proponentes de uma “outra América”.

Abandonemos, pois, a visão algo defensiva e basicamente reativa da proposta de “defender a soberania nacional”, para analisar as receitas supostamente mais ofensivas e vagamente prescritivas consubstanciadas nas diretivas “mudar o modelo econômico de dependência externa” e “construir uma alternativa de integração popular e soberana entre os povos americanos”. São elas factíveis, possíveis, imagináveis, nas condições concretas de desenvolvimento latino-americano de princípios do século 21? Vamos deixar claro, desde logo, que não se trata propriamente de políticas, mas de teorias, e que seu valor prescritivo é próximo de zero, pois que não vêm acompanhadas das medidas correspondentes que deveriam sustentá-las concretamente no exercício de busca de alternativas. Um objetivo é de ordem negativa - “mudar”, isto é, abandonar -, outro de natureza positiva - “construir” -, mas nenhum dos dois suscita a menor explicitação prática quanto aos meios de colocar na ordem do dia essa missão de desmantelamento, de um lado, e de construção, de outro.

O que significa, por exemplo, “mudar o modelo econômico de dependência externa”? Salvo uma volta à autarquia dos anos gloriosos da industrialização substitutiva, que não parece ser o objetivo dos nossos preclaros opositores da Alca, parece querer indicar um modelo de desenvolvimento menos baseado na dependência tecnológica, nos influxos de capitais externos, na importação de know-how estrangeiro e, portanto, num menor pagamento de juros, dividendos, royalties, serviços e rendas do capital a investidores de outros países. Para que isso se dê, com o que estou inteiramente de acordo, seria preciso que os países da América Latina fossem capacitados tecnologicamente, tivessem um nível suficiente de poupança interna de maneira a habilitá-los a escapar da temível dependência financeira e que eles mesmos produzissem bens e serviços sofisticados de forma a inverter a balança de transações correntes para níveis crescentemente superavitários, além de, numa fase ulterior, se transformarem em exportadores líquidos de capitais.

Trata-se de programa de “independência econômica” que não tem encontrado, porém, evidências empíricas para sua implementação nas últimas décadas - que digo?: em todos os séculos - da história econômica da região. Os propositores da receita teriam um modo relativamente mais rápido de realizar esse milagre? Ou eles consideram que, durante as décadas de industrialização substitutiva, a América Latina viveu em total independência do imperialismo? Se este foi o caso, então a famosa “teoria da dependência” foi construída em torno do nada, pois que ela pretendia justamente explicar os mecanismos pelos quais o desenvolvimento é possível mesmo no quadro da dominação imperial e da não ruptura com o capitalismo subordinado.

O que representa, por outro lado, “construir uma alternativa de integração popular e soberana entre os povos americanos”? Em primeiro lugar, nas palavras dos opositores da Alca, recusar o “projeto neoliberal de livre-comércio que a Alca representa.” Muito bem, mas além da recusa viria o quê em seu lugar? A integração popular significaria trocar bananas por sapatos, chapéu de palha por café, atum enlatado por aviões brasileiros? Mas estes, justamente, para se posicionar no nível de sofisticação tecnológica requerido pelos mercados atuais, têm um nível de componentes importados que seria pouco compatível com a teoria da “integração popular”, pois que precisamente baseado na interdependência tecnológica, que constitui o traço mais marcante das economias modernas. De que seria composta, exatamente, a tal de “integração popular e soberana entre os povos americanos”?

Os opositores da Alca, ainda aqui, ficam nos devendo uma versão mais completa de seu programa de integração com soberania, pois que, uma vez mais, não fizeram direito o seu dever de casa no sentido de prestar respostas claras aos problemas que eles mesmos se colocam. A verdade é que, além da vontade comum de se opor ao “livre-comércio neoliberal” - que, como vimos, se traduz em uma recusa pura e simples dos mercados -, os opositores da Alca não têm até aqui muito a oferecer em termos de projetos alternativos de crescimento econômico ou de desenvolvimento social. Tudo parece se resumir numa recusa ideológica do livre-comércio.

Haveria algum sentido progressista no rechaço do livre-comércio? Corresponde essa atitude a uma visão mais elevada - humanista, quero dizer - dos modos alternativos de organização social da produção no continente e seria ela um indicativo de que os que defendem tal posição conseguem propor alternativas concretas para o desenvolvimento econômico e social dos povos do hemisfério? Vejamos o que diria um dos líderes naturais dessas correntes opostas ao capitalismo desenfreado e ao domínio absoluto dos mercados. Sim, consultemos o que escreveu a respeito do livre-comércio o velho Marx, quase tão atual nestes tempos de globalização triunfante quanto nos tempos em que escrevia o seu famoso Manifesto Comunista (1848), na verdade quase um hino em louvor à burguesia conquistadora.

Confrontado ao debate sobre a abolição das famosas “leis do cereal” na Inglaterra e a correspondente introdução do livre-comércio, Marx, pouco antes de redigir com Engels seu mais famoso panfleto revolucionário, produziu um pouco lido “Discurso sobre o livre-comércio”, redigido em Bruxelas no início de 1848. Ele não parece ser conhecido dos opositores atuais da Alca e menos ainda dos antiglobalizadores, pois que Marx, nesse debate, retira muito dos argumentos utilizados contemporaneamente pelos que tentam provar que o livre-comércio vai contra o interesse dos povos ou, mais particularmente, dos proletários.

Suas posições devem ser obviamente colocadas no contexto da época, mas ainda assim elas apresentam validade para os tempos que correm, pois que ele estava pensando, não na potência mais avançada da Revolução Industrial, a Grã-Bretanha, mas exatamente na Alemanha, que, atrasada industrialmente, era assim uma espécie de América Latina do continente europeu. Nessa mesma conjuntura, quando ele apóia, contra outros ideólogos do proletariado, o sistema democrático instaurado pela burguesia como o terreno indispensável para lutar contra a burguesia, Marx se pronuncia a favor do livre-comércio: assim como a supremacia econômica da burguesia era tão “necessária” quanto sua dominação política para preparar a vitória do proletariado, a livre concorrência era necessária para apressar a união dos trabalhadores e, portanto, sua emancipação política e econômica.

Marx diz explicitamente: “Sem dúvida, se o preço de todas as mercadorias cai, e esta é a conseqüência necessária do livre-comércio, eu poderei comprar, com a mesma quantidade de dinheiro, muito mais coisas do que anteriormente. E o dinheiro do trabalhador vale tanto quanto o de qualquer outro. Portanto, o livre-comércio será bastante vantajoso para o trabalhador. [...] De forma geral, em nossos dias, o sistema protecionista é conservador, enquanto que o sistema de livre-comércio é [progressista]”. È evidente que o jovem exilado alemão, ao pronunciar sua conferência perante a Associação Democrática de Bruxelas, não pretendia tão simplesmente fazer uma panegírico do sistema de livre-comércio, colocando assim uma azeitona na empada dos capitalistas interessados em diminuir o custo de reprodução da mão-de-obra e, conseqüentemente, o nível dos salários nominais. O que ele pretendia, contudo, era apressar o curso da transformação capitalista das sociedades européias como forma de acelerar a implantação futura do socialismo.

Com efeito, Marx confessa que via no livre-comércio objetivos meramente instrumentais para seus objetivos últimos: “Ele dissolve as antigas nacionalidades e leva ao extremo o antagonismo entre a burguesia e o proletariado. Numa palavra, o sistema de liberdade comercial apressa a revolução social”. E Marx termina assim seu discurso: “É apenas neste sentido revolucionário, meus senhores, que eu voto em favor do livre-comércio”. Vemos assim que o preconceito contra o livre-comércio, ou no nosso caso contra a Alca, se coloca num sentido contrário ao do progresso social, como se seus opositores, numa fórmula famosa do Manifesto Comunista, pretendessem fazer girar para trás a roda da História. Mas basta de lições de história. Vejamos a atualidade da Alca.

3. A oposição à Alca responde aos interesses dos trabalhadores latino-americanos?

Quero deixar claro, de imediato - o que já deveria ter feito desde o início deste ensaio -, que não sou um partidário incondicional da Alca, que não acredito que ela venha sendo discutida em condições ótimas de equilíbrio de posições e de preparação negociadora por parte de todos os países e que, sobretudo, não resultará dela, caso implementada, uma mudança dramática nas condições de atraso relativo da América Latina nos planos econômico, social ou mesmo tecnológico. Caberia esclarecer, por outro lado, que uma situação inversa, de “não-Alca”, como pretendem seus opositores, tampouco redundará em melhores indicadores em quaisquer das áreas acima indicadas e que a única evidência plausível, nesse caso, seria a de que a América Latina continuaria a ostentar o perfil tradicional de economia exportadora de produtos pouco dinâmicos nos mercados mundiais, que sua velha dependência tecnológica e sua fragilidade financeira continuariam pesando em suas transações correntes e que as vergonhosas iniqüidades sociais, derivadas de uma perversa distribuição da renda e de níveis inaceitáveis de educação formal e de qualificação técnica da população, seriam mantidas pelo futuro previsível, sem grandes esperanças de mudanças espetaculares ou mesmo modestas.

Em outros termos, poder-se-ia dizer que “ruim com a Alca, pior sem ela”, já que ela representa, pelo menos, uma tênue esperança de que algumas mudanças poderão ser feitas, nem todas para um cenário mais desfavorável, como parecem acreditar - ou melhor, afirmar, sem provas e sem reflexão mais elaborada - seus opositores ideológicos. Quando digo ruim, refiro-me obviamente ao fato de que as economias latino-americanos ostentam, em geral, níveis baixíssimos de qualificação da mão-de-obra e, portanto, dos indicadores de produtividade e que elas apresentam poucas condições de disputarem faixas de mercado mais sofisticado, o que aliás continuaria ocorrendo, irremediavelmente, sem a Alca, que poderia operar, nesse particular, algumas transformações positivas no sentido da deslocalização produtiva e da transferência direta e indireta de tecnologia e know-how.

Esta não é uma impressão ou afirmação subjetiva de minha parte; é quase que uma espécie de “lei” da integração entre economias assimétricas, que soem ser, como é claro para qualquer economista de bom senso, diferentemente dotadas em fatores e portanto suscetíveis de se especializarem produtivamente na configuração própria a cada uma delas, em trabalho ou em capital. Aliás, contrariamente ao que se afirma e se realiza politicamente na região, os especialistas em economia industrial - de ordinário contrários ao second-best da liberalização restrita dos blocos comerciais - costumam recomendar que, se integração deve haver, melhor que o processo se dê entre duas economias diferenciadas entre si (isto é, uma desenvolvida, outra em desenvolvimento) do que entre países situados num mesmo patamar tecnológico (vale dizer, entre países em desenvolvimento, como hoje ocorre na América Latina). Apenas no primeiro caso, poderá operar a pleno vapor o jogo das especializações produtivas, da transferência de tecnologia e o aproveitamento intenso da melhor dotação em trabalho da economia menos desenvolvida, reduzindo os custos para as empresas dos países ricos e elevando o patamar salarial no parceiro mais pobre.

Não se trata aqui de simples teoria, e sim de evidência empírica ou histórica, que já se converteu em medidas práticas de política econômica, como qualquer conhecedor do processo de integração européia ou da experiência do Nafta poderá confirmar. Estão completamente errados, portanto, aqueles que condenam a Alca por ela pretender reunir, num mesmo esquema de liberalização comercial, economias ditas “assimétricas”, pois que será a partir dessa mesma condição que as assimetrias começarão a ser gradualmente eliminadas para, num passo seguinte, conduzir à elevação dos índices de produtividade de todas as economias envolvidas nesse tipo de relação.

Em tal processo, podem estar sendo criadas condições para um desenvolvimento mais sofisticado das economias latino-americanas, ainda que a Alca não possa garantir, obviamente, que esse desenvolvimento se dará em todas as dimensões sociais, de maneira a transformar dramaticamente o perfil das sociedades da região. Esta insuficiência se deve não a uma suposta perversidade intrínseca do processo da Alca, mas ao simples fato de que, sendo ela um mero esquema de liberalização comercial e de abertura aos investimentos, ela não pode garantir, por si só, o atendimento de todos os outros requisitos e condições para o desenvolvimento integral dessas sociedades, processo que depende de uma série de outras medidas, geralmente no plano educacional e no da capacitação em recursos humanos de modo geral, que estão muito longe do alcance instrumental desse tipo de acordo. Ressalte-se, entretanto, a Alca não está sendo feita para “trazer desenvolvimento”, mas para tornar mais modernas as economias da América Latina e permitir eventualmente um crescimento em bases mais estáveis do que o conhecido historicamente até aqui. O desenvolvimento só pode ocorrer, como é sabido, a partir de profundas transformações estruturais no modo de funcionamento da sociedade, o que o comércio exterior induz de forma muito progressiva e muito indireta, uma vez que atua sobre setores específicos de um sistema mais vasto.

Colocadas essas limitações intrínsecas a um acordo de livre-comércio, a quem pode interessar a Alca? Uma resposta equilibrada tenderia a dizer que ele interessa a todas as partes, ainda que de modo diferenciado, o que parece o bom senso mesmo. Não é o que pensam os opositores da Alca, para os quais as vantagens só podem estar do lado da maior potência hemisférica.

Como efeito, eles afirmam, enfaticamente: “A Alca não é somente um acordo comercial, como oficialmente pretendem vendê-lo. É um projeto que responde às necessidades da economia americana. Este país e o capitalismo internacional passam por uma crise financeira e de produção de bens. Para sair da crise precisam impor um novo padrão de acumulação de capital, baseado em novos centros hegemônicos. Para alcançar este novo padrão, estão utilizando a guerra e o combate ao terrorismo, como forma de transferir recursos públicos ao complexo industrial-militar. Também pretendem ter um domínio total do hemisfério americano, controlar o território, as potencialidades da biodiversidade, um mercado de 800 milhões de pessoas, assegurando deste modo às empresas norte-americanas um espaço protegido da competição asiática e européia.”

Trata-se, obviamente, de uma visão altamente deformada e voluntariamente enviesada do processo inicial, das negociações subseqüentes e dos eventuais resultados desse acordo comercial. Concordo em que ele não seja um “mero” acordo comercial, pois que contém diferentes instrumentos normativos que não são normalmente encontrados nas zonas de livre-comércio tradicionais. Concordo também em que ele contempla os interesses da economia americana, mas apenas em parte, pois que ele, de fato, responde muito mais às necessidades das economias latino-americanas, que poderão ter, através do acordo, um acesso garantido e consolidado ao maior mercado consumidor do planeta. A afirmação final dessa condenação da Alca, de que esse acordo assegura “às empresas norte-americanas um espaço protegido da competição asiática e européia”, é igualmente válida no caso latino-americano, cujas empresas também terão acesso privilegiado ao imenso espaço norte-americano. No caso do Brasil e do Mercosul, em particular, esses laços privilegiados serão de fato muito pouco exclusivos, pois é intenção do Cone Sul negociar outros acordos preferenciais com a UE e com terceiros mercados, diluindo assim a “reserva de caça” dos EUA. O Chile já se adiantou nesse processo, e o Mercosul caminha atrás.

Passo por cima das afirmações fantasiosas de que a Alca se “explicaria” porque os EUA “e o capitalismo internacional passam por uma crise financeira e de produção de bens”, da qual só podem sair impondo “um novo padrão de acumulação de capital, baseado em novos centros hegemônicos”. Não havia nenhuma crise, financeira ou de superprodução - como diriam os velhos marxistas -, quando a Alca foi lançada, e de fato o capitalismo americano já tinha ingressado numa fase inédita de crescimento contínuo, que se manteve por praticamente oito anos. Deixo à imaginação dos leitores tentar descobrir o que seria “um novo padrão de acumulação de capital”, pois não me parece que o velho padrão tenha sido esgotado, assim como tentar adivinhar quais seriam os “novos centros hegemônicos”, uma vez que não me consta que os antigos tenham sido substituídos. Da mesma forma, beira o profetismo histórico pretender que, para “alcançar este novo padrão” - que não sabemos exatamente qual seria - os EUA estejam “utilizando a guerra e o combate ao terrorismo, como forma de transferir recursos públicos ao complexo industrial-militar”. Quem sabe a Alca foi planejada para coincidir com o renascimento desse complexo, cujo desenho já estaria embutido nas intenções dos negociadores desse tratado de comércio, em 1994?

Não bastasse a premonição militarista, se antecipa também que a Alca permitirá ao Império “ter um domínio total do hemisfério americano, controlar o território, as potencialidades da biodiversidade [e] um mercado de 800 milhões de pessoas…”, o que parece constituir o cerne dos argumentos “econômicos” dos opositores soberanistas. Trata-se de um “projeto colonial” - domínio total e controle do território - que parece ultrapassar de longe a capacidade militar (certamente respeitável) e sobretudo o interesse estratégico da principal potência planetária. Um empreendimento de tão vasto escopo deve certamente ter razões de igual magnitude, pois do contrário seria um dispêndio enorme de recursos para “controlar” um “território” no qual os “caçadores de negócios” americanos já circulam com uma certa facilidade há décadas, senão há praticamente dois séculos.

Quais seriam, pois, as razões de força maior desse “projeto neocolonialista”? Não há muitas evidências comprováveis no documento dos antialcalinos, salvo a vaga menção de que os EUA pretendem o acesso às “potencialidades da biodiversidade [e a] um mercado de 800 milhões de pessoas”. Não importa muito se a renda per capita dessas 800 milhões de pessoas seja inferior a um quarto à dos consumidores setentrionais e que os alegados recursos da biodiversidade estejam em estado bruto, necessitando de grandes investimentos em pesquisa e desenvolvimento para renderem benefícios industriais. O imaginário da América Latina sempre viveu das imagens miríficas dessas riquezas fabulosas do subsolo e das florestas impenetráveis, e de fato alguns países dispuseram, no passado, de um virtual monopólio sobre alguns produtos ditos “estratégicos”: guano, petróleo, cobre, nióbio, areias monazíticas (lembram-se?), minério de ferro, para não falar de outras riquezas produzidas pela própria mão do homem, como café, cereais, bananas, lãs e carnes, até chegar, hoje em dia, à cocaína, à salsa e à lambada, além, é claro, dos muitos candidatos à emigração.

Este último “produto de exportação”, aliás, explica mais do que qualquer outro fator, a constituição do Nafta com a incorporação do México. Se tratava, para o Império, de um vetor estratégico: tentar conter, reverter se possível, a imensa pressão de levas e levas de imigrantes clandestinos que tentam penetrar, por qualquer meio, no território imperial. O mecanismo seria obviamente a criação de empregos no próprio México, o que a Alca pode também induzir em outras partes desse riquíssimo território latino-americano. É óbvio que também existe o interesse diretamente comercial das empresas americanas, mas a Alca vai também provocar um gigantesco processo de deslocalização produtiva cujos principais beneficiários serão os países ao sul do Rio Grande. Quer queiram ou não os opositores da Alca, e sobretudo os sindicalistas e políticos provinciais do Norte, é por esse vetor que a Alca entra no planejamento estratégico das empresas.

Entramos aqui no âmago da discussão do projeto da Alca, um aspecto ignorado por todos os manifestantes antialcalinos que se espalham agora do Alasca à Terra do Fogo (com uma certa preferência por algumas metrópoles mais sofisticadas). A bem da verdade, a questão é aflorada sob o disfarce aparentemente humanitário da “cláusula social” ou dita “laboral”, ou seja, o respeito a um certo número de direitos básicos dos trabalhadores que se encontram consubstanciados em convenções da OIT (às quais o Império nunca aderiu, diga-se de passagem). Essa agitação em torno da “cláusula social” nada mais é, contudo, senão uma cortina de fumaça atrás da qual as corporações sindicais do Norte do hemisfério pretendem esconder sua luta defensiva contra a exportação de empregos para o Sul. Este o nó estratégico do debate hemisférico, que explica por que, justamente, são observadas as mais heteróclitas coalizões de opositores da Alca, ao Sul e ao Norte do hemisfério. De fato, essas reuniões de antiglobalizadores e antialcalinos representam uma babel ainda não de todo unificada em seu discurso alternativo (tarefa quiçá impossível).

Supondo-se que ambos os lados não podem ter razão ao mesmo tempo - pois apenas o Império seria beneficiado com a Alca, segundo nossos opositores em causa -, deveria haver algo que explicasse essa curiosa mistura de ambientalistas, sindicalistas, políticos, grandes e pequenos agricultores e industriais de vários matizes nessa pouco santa aliança contra a Alca, ao sul e ao norte do Rio Grande. Aliás, o brancaleônico exército de opositores não apenas apresenta uma certa simetria social - pelo menos uma - em cada lado da “barreira”, como reproduz, igualmente, as mesmas forças sociais que já se tinham mobilizado quando do debate sobre o Nafta, numa certa impressão de déjà vu, again.

Por que será que isso ocorre? Seriam os políticos dos EUA um bando de néscios, opondo-se com tanto denodo à expansão do “capital monopolista americano”? Seriam os bem equipados e modernos agricultores americanos reticentes à perspectiva de invadir um mercado de 800 milhões de pessoas com sua fabulosa produção de cereais, carnes e verduras geneticamente modificados? Estariam os operários americanos sinceramente preocupados com a visão dantesca do desmantelamento das indústrias latino-americanas, deixando seus irmãos proletários ao sul do Rio Grande em plena rua da amargura, sem os generosos benefícios sociais das economias mais avançadas?

E os “brancaleones” meridionais? O que os agita tanto? Segundo a explicação oferecida, se o acordo da Alca “entrar em vigor, a soberania dos países e povos ficará seriamente comprometida, pois, sob as regras do jogo que se pretende impor, o poder de decisão será transferido para as empresas e investidores privados globais americanos. A sub-região será condenada a ser exportadora de produtos primários e semimanufaturados, intensivos na exploração da mão-de-obra e dos recursos naturais não renováveis [e os recursos da biodiversidade?], pois estará se intensificando a brecha do conteúdo tecnológico das exportações e importações”.

Esse quadro catastrófico não é confirmado nem pela moderna teoria do comércio internacional, nem registrado pela experiência histórica - do Nafta, por exemplo - dos processos de integração econômica, envolvendo países em patamares distintos de industrialização. Com efeito, os investidores americanos (e europeus) dominam há décadas vários setores industriais - e também minerais, comerciais, de serviços e bananais - dos países latino-americanos sem que o processo decisório tenha mudado muito no continente. Continuamos a ter líderes reformistas, alguns caudilhos militares (hoje bem menos) e vários tipos de populistas que, vez por outra, ameaçam mudar as regras do jogo econômico, em prol do desenvolvimento econômico e do bem-estar social da maioria. Por outro lado, esses investimentos tem servido, justamente, para reduzir a dependência de um número restrito de commodities, como qualquer observador mais isento poderá confirmar. Por essa mesma via, a brecha tecnológica diminui um pouco, mas não muito, porque, como sabe também qualquer economista de bom senso, indústrias estrangeiras produzem efeitos em cadeia que paulatinamente induzem a economia receptora ao catch-up tecnológico, ainda que o essencial desse esforço deva mesmo ser realizado internamente.

Decididamente, algo não parece fechar na lógica dessa oposição conjunta à Alca, ainda que o raciocínio a esse respeito não seja de todo desprovido de fundamento. De fato, se diz que a “sub-região será condenada a ser exportadora de produtos primários e semimanufaturados, intensivos na exploração da mão-de-obra e dos recursos naturais”, o que é em parte verdade. A América Latina não será “condenada” às exportações primárias - algo que ela já é, há praticamente quatro séculos - mas é certo que suas vantagens comparativas (com o “mercado”, outro conceito horrível aos ouvidos desses opositores) estão claramente no que se chama de labor-intensive production, no que não vai nenhuma vergonha, muito pelo contrário. Eventualmente, mas não obrigatoriamente, essa produção se fará com recursos naturais, mas a região também apresenta boas condições em produtos manufaturados simples, como calçados e têxteis, outros um pouco mais complexos, como siderúrgicos, e outros ainda verdadeiramente sofisticados, como aviões e softwares (ainda que poucos acreditem nisso).

Este, volto a insistir, é o ponto central de todo o debate - embora ainda obscuro - em torno da Alca, que opositores do Norte e do Sul hesitam em mencionar, sob risco de caírem em contradições insanáveis de interesses, imediatos, mediatos e mais longínquos. O que a Alca pode verdadeiramente trazer, repito, é um processo contínuo de deslocamento e de criação de novos empregos, que seguirão a deslocalização produtiva de muitas indústrias do Norte. Seus efeitos diretamente comerciais serão obviamente registrados na garantia de acesso a mercados para os produtores mais dinâmicos da região, entre os quais se incluem, também, indústrias de suco de laranja, de aço, de calçados, de têxteis e de uma infinidade de outros bens brasileiros, sobretudo agrícolas, que podem passar a ter condições privilegiadas no abastecimento do maior mercado planetário.

A contrapartida também existe, sob a forma de serviços e outros bens mais sofisticados altamente competitivos vindos do Norte, mas tudo é uma questão de barganha bem medida na mesa de negociações. Apenas um complexo de inferioridade freudiano talvez poderia explicar (mas não justificar) o temor de negociar um acordo comercial com a principal potência planetária, como se todas as vantagens devessem, por algum mandamento de inspiração divina, ficar apenas de um lado da mesa. Se isto fosse verdade, o Congresso americano não teria votado uma autorização negociadora - o TPA - tão cheia de condicionalidades, como se observou no caso de produtos agrícolas e outras normas relativas a defesa comercial. Ainda assim, algo está excluído da barganha negociadora? Não consta, o que talvez explique, uma vez mais, a crescente agitação dos “brancagliones” do Norte e do Sul.

Em relação à posição dos opositores, parece ter ocorrido um processo de “colonização mental”, pelo qual os slogans, argumentos e bandeiras do Norte - mas não os verdadeiros motivos - são sutilmente transferidos para seus “irmãos” do Sul, que assumem essas propostas sem maior espírito crítico, ou sem refletir devidamente onde estão os reais interesses dos trabalhadores latino-americanos. Com efeito, não basta querer “bloquear a Alca” - o que de toda forma seria um procedimento tremendamente autoritário, pois que não respondendo a qualquer tipo de consulta popular ou a algum debate democrático por parte da representação eleita da população -, pois seria preciso explicar claramente porque se pretende fazê-lo.

Alguns setores julgam ter a chave explicativa. Para Dom Demétrio Valentini, da CNBB, a razão é muito simples: “Na verdade, o que está em jogo é a soberania dos países da América Latina. Com o Nafta e a Alca se pretende desencadear um processo de recolonização, valendo-se dos tentáculos da dependência financeira, da submissão tecnológica e da impotência militar.” Alguém acredita mesmo que um acordo comercial tem todo esse poder? E justo agora, que o México acaba de denunciar, contra a vontade do Império, o Tiar, essa “relíquia da Guerra Fria”, nas palavras de seu presidente? Como a justificativa da “defesa da soberania” carece de qualquer fundamento real - e é de fato frágil, teórica e empiricamente -, caberia demonstrar que a Alca se opõe aos interesses dos trabalhadores da América Latina, potencialmente o setor mais numeroso e supostamente o centro dos interesses dos militantes antialcalinos.

Sabemos as razões que motivam os mais ferrenhos opositores da Alca ao norte do hemisfério: a ameaça da perda de emprego, o que de certa forma legitima a luta dos seus representantes sindicais e dos políticos eleitos nos distritos do “velho capitalismo” ou das áreas protegidas por altas tarifas e subvenções estatais. Mas o que justificaria a oposição de militantes ditos progressistas ao sul do continente? Seria apenas o desejo de contrariar os desígnios do Império? Algum motivo mais nobre, de natureza positiva, por exemplo, e não apenas negativa?

Gostaria sinceramente de encontrar motivos racionais, devidamente justificados, que possam motivar a tremenda “batalha campal” contra a Alca que se avizinha, da parte dos vários exércitos brancaleônicos que se mobilizam ao sul e ao norte do hemisfério. Como tenho absoluta certeza de que as tropas ao Norte querem mesmo é defender os seus empregos ameaçados, fico-me perguntando por qual razão, exatamente, as milícias do Sul contribuem para o eventual sucesso dessa postura defensiva, contra os interesses dos trabalhadores da região, supostamente beneficiados por essa “captura” de empregos?

Em última instância, na verdade, quem vai determinar o êxito ou o fracasso do projeto da Alca não são nem os negociadores diplomáticos, nem os seus opositores pouco diplomáticos, mas essencialmente o “punhado” - um grande punhado - de protecionistas do Congresso americano. Está com eles a chave do sucesso ou da frustração desse processo, e até agora o cenário está mais para a segunda do que para a primeira hipótese. Isso não impede, porém, que o debate seja conduzido em todos os quadrantes de nossas sociedades, segundo as boas regras do velho método socrático: questionar, perguntar, inquirir, ver onde estão as evidências e depois tentar chegar a alguma conclusão na qual todos os contendores possam encontrar fundamentos lógicos e razoabilidade empírica.

Quero crer, também, que uma “outra América é possível”, uma que não seja dominada, no horizonte previsível, pela praga do subdesenvolvimento social e educacional, pela iniqüidade na distribuição de renda, pela corrupção generalizada e pela perda geral de esperança em um futuro melhor. Tampouco acredito que esteja em poder de uma eventual Alca trazer esse futuro “radioso”, pois ela não tem essa missão histórica. Mas tenho razões para suspeitar que o “não à Alca” representa, sim, a certeza de que nada de importante vai ocorrer no cenário latino-americano em termos de, pelo menos, promessas de mudança. Seria essa a perspectiva que nos apontam os antialcalinos?

Gostaria, por fim, como eles, de “propor a construção de novos caminhos de integração continental, baseados na democracia, na igualdade, na solidariedade, no respeito ao meio ambiente e nos direitos humanos.” Creio que se trata de objetivos nobres, razoáveis e de fato desejáveis para todos os povos do hemisfério, embora alguns deles desfrutem desses valores em melhores condições e com maior intensidade do que outros. Trata-se, portanto, de melhorar a “repartição” desses “bens intangíveis”, ou mais propriamente de criá-los, pois em muitos lugares eles ainda não existem.

Não sei em que a luta contra a Alca nos aproxima desses objetivos, ou talvez sua implementação não represente, de fato, quaisquer mudanças decisivas nesses campos. Não temos certeza do que pode ou não ocorrer com a hipotética e malfadada Alca. Uma certeza, porém, se poderia ter, desde já, observando-se o registro do passado: a preservação dos mesmos cenários de “autonomia soberanista” e de “modelos econômicos não dependentes” na América Latina não apresenta um bom resultado histórico em termos de promoção daqueles valores. Quem sabe não estaria na hora de mudar um pouco o velho discurso que nos acompanha há várias décadas? Com a palavra os antialcalinos (mas, por favor, com explicações mais credíveis, desta vez).

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Paulo Roberto de Almeida é escritor e diplomata em Washington.
Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.