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quarta-feira, 14 de setembro de 2022

Decisão do Parlamento Europeu preocupa exportadores brasileiros - Rosana Hessel (CB)

 A ANTIPOLÍTICA AMBIENTAL DO DESTRUIDOR DE FLORESTAS VAI ACARRETAR PREJUÍZOS AO AGRONEGÓCIO. Não poderia ser de outra forma: o capitão desafiou todos os compromissos assumidos pelo Brasil no plano internacional. Um dia as consequências chegariam; até que chegaram tarde, depois de recordes sobre recordes de devastação ambiental, florestas derrubadas.

PAULO ROBERTO DE ALMEIDA

Decisão do Parlamento Europeu preocupa exportadores brasileiros

Parlamento Europeu amplia escopo de programa que pretende barrar produtos importados provenientes de áreas desmatadas, o que afeta em cheio governo de Bolsonaro que bate recordes de desmatamento na Amazônia 

Rosana Hessel

Correio Braziliense, 13/09/2022

O Parlamento Europeu exigiu, nesta terça-feira (13/9), um plano mais rígido da União Europeia para proibir importações de produtos vindos de áreas desmatadas, incluindo no escopo de produtos, podendo chegar até ao setor financeiro. A medida tem deixado exportadores brasileiros apreensivos, além de afetar em cheio a campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL), a 19 dias das eleições.

 

O texto votado pelos representantes dos 27 países membros da UE amplia a determinação anterior, de novembro de 2021 — que impôs a proibição de importação para a UE de soja, carne bovina, óleo de palma, madeira, cacau e café e produtos associados, como couro ou mobiliário, provenientes de áreas desmatadas após dezembro de 2020. Foram incluídos à lista carne de porco e de carneiro, aves, milho, carvão vegetal, papel e celulose e borracha. Além disso, o Parlamento Europeu quer incluir as áreas desmatadas até dezembro de 2019, atingindo toda a gestão do governo Bolsonaro, que "abriu a porteira" fragilizando a fiscalização dos órgãos de proteção ambiental.

 

A determinação visa limitar o impacto das importações europeias no desmatamento global, mas deixou os exportadores brasileiros preocupados com o impacto econômico dessas medidas, que não serão restritas ao agronegócio brasileiro.

 

O projeto legislativo ainda precisa ser votado pelos parlamentos dos 27 países que integram o bloco, mas a expectativa de analistas é que possa afetar a safra de 2023. O nível de exigência cobrado dos importadores deverá variar de acordo com o risco de desmatamento na região produtora, de acordo com a agência France Presse. Na prática, informou, as empresas importadoras serão responsáveis por sua cadeia de suprimentos, podendo a rastreabilidade ser exercida por meio de dados de geolocalização de cultivos e fotos de satélite. Os infratores enfrentarão multas proporcionais aos danos ambientais. O Parlamento Europeu também votou para impor "exigências adicionais" às instituições financeiras para que seus empréstimos e investimentos não contribuam para o desmatamento.

 

Saia justa

A medida do Parlamento Europeu atinge a campanha do presidente Jair Bolsonaro, que virou um pária global ao afrouxar as políticas ambientais e permitir o aumento do desmatamento ilegal na Amazônia, que vem sendo afetada por números recordes de queimadas e de derrubadas de árvores no bioma, de acordo com especialistas.

 

Com viagem marcada para o velório da rainha Elizabeth II, eles acreditam que Bolsonaro passará por uma saia justa ao lado do rei Charles III, um fervoroso defensor do meio ambiente, assim como no encontro anual da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, onde irá na sequência.

 

“O programa de Bolsonaro é o único que não tem um plano claro de combate ao desmatamento”, destacou Virgílio Viana, professor associado da Fundação Dom Cabral e coordenador do Imagine Brasil Ambiental. “A medida do Parlamento Europeu restringindo o acesso de produtos de áreas degradadas ou desmatadas ilustra o quando o Brasil perde ao manter as altas taxas de desmatamento atuais. Isso é contra o interesse nacional. Desmatar a Amazônia, por muitas razões, afeta a imagem do Brasil no exterior e afeta a nossa economia”, frisou.

 

A decisão, inclusive, não apenas o principal adversário de Bolsonaro nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que acaba de receber apoio da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede), respeitadíssima na área ambiental. Viana destacou que os demais candidatos também estão mais preocupados com o desmatamento do que o atual presidente.

 

Impactos econômicos

O professor da Fundação Dom Cabral lembrou que, devido aos retrocessos na política ambiental do atual governo, o Brasil deixou de ser um importante interlocutor no debate, que é bastante atual, sobre as mudanças climáticas decorrentes do aumento do desmatamento que estão, inclusive, afetando o sistema de chuvas. “Manter a Amazônia é fundamental para manter o regime de chuvas que são fundamentais para a produção agrícola. O desmatamento é péssimo para os agricultores”, alertou.

 

O presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, reconheceu que a decisão do Parlamento Europeu é preocupante, porque é uma fatura que está chegando por conta do aumento do desmatamento no país, às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 27), que será realizada em novembro no Egito. “Foi uma surpresa para o Brasil, porque, mesmo com a COP 27, o país ainda tem muitos assuntos importantes para discutir. É uma notícia que não veio em um bom momento e vamos ainda avaliar o quanto o país será impactado”, afirmou.

 

Na avaliação de Wagner Parente, especialista em relações internacionais e CEO da BMJ Consultores Associados, a decisão dos parlamentares europeus é um sinal de que a fatura do desmatamento no país está chegando, ainda que a medida seja meio controversa. “É um duro golpe para o governo Bolsonaro, bem no coração da campanha”, frisou. Parente lembrou que, atualmente, o setor privado tem tomado medidas para se proteger desse tipo de retaliação que vinha sendo inevitável, pois algumas empresas europeias tinham começado a fazer boicotes de produtos brasileiros devido ao aumento do desmatamento.

 

“Antes era uma retaliação do setor privado, porque a política demora mais tempo. Agora, foi ampliado para níveis governamentais, o que é mais preocupante, pois a Europa, como na taxação do carbono, acabou inovando e foi acompanhada por outros países. O mesmo pode acontecer com essa decisão do Parlamento Europeu em relação ao desmatamento”, destacou Parente. Ele lembrou que algumas entidades de exportadores tentavam se antecipar a isso, como a moratória da soja aplicada pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove).

Parceiro comercial importante 

Vale lembrar que a União Europeia é o segundo maior das exportações brasileiras, atrás apenas da China. Em 2021, conforme dados da BMJ, os principais produtos embarcados para o continente europeu foram petróleo e soja, e, desde 2018, a balança comercial está negativa para o lado brasileiro, que importa dos europeus, principalmente, medicamentos e insumos para fertilizantes. 

Parente, da BMJ, lembrou que a Comissão Europeia vai estabelecer um programa de análise de risco classificando os países e regiões em baixo, moderado e alto risco de desmatamento na cadeia produtiva, que será divulgada até seis meses depois da entrada em vigor da nova regulação. E, como o escopo foi ampliado, vários produtos que foram incluídos sem saber a real extensão de seus impactos no mercado local e internacional. Contudo ele alertou que o bloco europeu pretende que a medida seja finalizada para a publicação antes da COP 27, em novembro. "O objetivo é reduzir o temor internacional em relação à medida, que exigirá um grande esforço da UE", destacou.

Procurados, os ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente não comentaram a decisão do Parlamento Europeu. 

A Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por sua vez, informou que a medida aprovada pelo Parlamento europeu “é falha ao ter caráter punitivo e não integrativo, com potencial de excluir diversos produtores, especialmente os pequenos e médios, que não têm neste momento a capacidade técnica ou financeira de implementar as medidas de rastreabilidade, ainda que esses sigam todas as exigentes leis nacionais”. “Como resultado, teremos a inviabilização econômica da propriedade rural sem ganho ambiental significativo”, acrescentou a entidade, em nota. 

https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2022/09/5036586-decisao-do-parlamento-europeu-preocupa-exportadores-brasileiros.html

 

sexta-feira, 23 de maio de 2014

Europeus equivocados vao votar pelo novo totalitarismo, ou pelo velho fascismo - Roger Cohen (NYT)

Poor Angry Magnetic Europe
MAY 22, 2014

BERLIN — Europe at the centenary of the war that devoured it is voting in elections for the European Parliament that will no doubt reflect the anger, disillusionment and boredom of people inclined to cast their ballots for an array of protest parties, many from the xenophobic right, some from the pander-to-Putin left.
Political sentiment across the Continent has converged at a grumpy and small-minded nadir. There is anger about high unemployment. There is pessimism over the future. There is irritation at immigration. There is alienation from the European Union. What, the chorus goes, has Brussels ever done for me? The answer, of course, is that it has brought peace, removed borders and spread once unimaginable prosperity. But this achievement is no longer enough or no longer deemed relevant.
In some ways Europe’s mood resembles America’s. Focus has narrowed and solidarity atrophied. Europe, like America, does not want to die for anyone else. It has turned inward, wanting its own problems solved, and damn the Libyans and Syrians and Ukrainians and whoever else may be making demands through their plight.
Anyone who believes the spread of freedom, democracy and the rule of law matters is a “warmonger.” The sharing economy is in vogue because it affords a better deal on a car ride or a room. Sharing politics is not because it may involve sacrifice for faraway people with strange names.
So the National Front in France, and the U.K. Independence Party in Britain, and Jobbik in Hungary and Die Linke (the Left) in Germany — parties from right and left that have expressed varying degrees of admiration for President Vladimir Putin and his homophobic irredentism (Russian-speaking gays need not apply for admission to the imperium) — are all likely to benefit from a diffuse anger, in which anti-Americanism mingles with general spleen.
Never have the idea and the ideal of the 28-member European Union been so weakened, at least within its borders, to the point that several fringe parties take Putin’s Eurasian Union with its promise of good times in Belarus seriously. Just outside the Union it is a different story. Europe is magnetic still. The dissonance between the Union as perceived by many of its more than 500 million citizens, and the Union as it is idealized and ached for by millions on its fringes or in faraway lands, is complete.
The European Parliament election coincides with a critical election Sunday in Ukraine, where Putin has created havoc by annexing Crimea, dispatching thugs to stir unrest in the eastern part of the country, and inventing a “fascist” threat in Kiev to conceal his own growing affinities with such politics (his beloved, much lamented Soviet Union of course allied with Nazi Germany in 1939 before Hitler tore up the pact in 1941; attraction to fascism is nothing new in Moscow).
On Kiev’s Independence Square, known as the Maidan, where Ukrainians died in numbers to escape the rule of an incompetent kleptomaniac backed by Putin, the European Union flag flies in several places. It is equally visible on surrounding streets. It is draped down the facade of the Ukrainian Foreign Ministry. It stands for something important in Kiev, something that seems almost unimaginable to Europeans in the confusion of their bile: the glowing possibility of freedom and dignity and pluralism, the possibility of a normal life.
 “Europe is a promise of liberty,” said Nataliya Popovych, an activist in the Maidan movement. “As for Putin’s Eurasian Union, we have been in that cage before. Why would we go back? Through Maidan Ukrainians killed Homo Sovieticus in themselves. In Russia and some parts of the east of Ukraine, Homo Sovieticus is still alive.”
It is not dead in Western Europe, either. As my colleague Andrew Higgins noted, Aymeric Chauprade, the National Front’s top European Parliament candidate for the Paris region, trooped off to Moscow last year to declare that, “Russia has become the hope of the world against new totalitarianism.” We live in a time when sentences need to be turned on their heads. The “new totalitarianism” is of course emanating from Moscow.
But Europe is suddenly full of what Germans now call the Putinversteher — literally someone who understands Putin, more loosely a Putin apologist. Europeans of different stripes see him standing up to America, incarnating “family values,” countering a loathed European Union, and just being tough. Germans in surprising numbers are discovering their inner sympathy for Russia, a complex emotion in which anti-Americanism, romanticism, guilt and gratitude for Moscow’s acceptance of unification all play a part. The old temptation in Germany to look eastward is not entirely overcome after all.
Europeans would do well to lift their gaze from the small world of their current anger toward those blue and gold flags fluttering on the Maidan, the better to recall what freedom means and with what sacrifice it has been attained.

A version of this op-ed appears in print on May 23, 2014, in The International New York Times.