O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

Meu Twitter: https://twitter.com/PauloAlmeida53

Facebook: https://www.facebook.com/paulobooks

Mostrando postagens com marcador petroleo do pre-sal. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador petroleo do pre-sal. Mostrar todas as postagens

sábado, 4 de setembro de 2010

A politizacao da Petrobras: jogando com o dinheiro dos investidores

A largada para o pré-sal
Editorial - O Estado de S.Paulo
04 de setembro de 2010

As ações da Petrobrás subiram vigorosamente ontem, depois de anunciados os detalhes da capitalização da empresa. Se o entusiasmo dos investidores se mantiver nas próximas semanas, a empresa poderá realizar sem dificuldade a maior oferta de ações da história. Serão lançados 2,174 bilhões de ações ordinárias e 1,586 bilhão de preferenciais, mais um lote adicional e um suplementar já planejados, se a fome do mercado for muito grande. A corrida aos papéis, logo depois de conhecido o prospecto preliminar da operação, pode ser atribuída a mais de um fator.

Só neste ano a estatal perdeu cerca de 30% de valor de mercado, por causa das incertezas quanto à capitalização e aos planos de exploração do pré-sal. Eliminada boa parte das dúvidas, alguma recuperação deveria ocorrer e todos sabiam disso. Em segundo lugar, pode ser bom negócio reforçar a carteira antes da nova emissão. Em terceiro, pelo menos parte do público pode estar de fato animada com as possibilidades de ganho a longo prazo. Mas só nas próximas semanas será possível avaliar com alguma segurança a disposição da grande massa de minoritários.

O retorno de 8,83% estimado para a exploração dos 5 bilhões de barris cedidos à empresa pela União foi considerado baixo por investidores. O resultado efetivo poderá ser melhor, quando ocorrerem "ganhos de sinergia" e integração com outras áreas exploradas, disse o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli. Mas as perspectivas mais otimistas são, obviamente, para longo prazo. A taxa interna de retorno por enquanto prevista praticamente empata com o custo de capital da empresa, esclareceu o executivo.

Os investidores também levarão em conta o preço efetivo de lançamento dos papéis. Esse preço será fechado no dia 23, depois de encerrado o registro das intenções de compra. Até essa data, segundo alertou uma corretora, as cotações poderão oscilar, "em virtude do rearranjo de posições e expectativas".

Mesmo com a divulgação do prospecto, sobraram dúvidas importantes e motivos de inquietação para os investidores. A fixação do preço médio dos 5 bilhões de barris cedidos pela União à Petrobrás continua mal explicada. O valor de US$ 8,51 por barril foi apresentado, oficialmente, como a média ponderada dos valores atribuídos a produtos de vários campos. Mas esse preço, por uma notável coincidência, corresponde quase precisamente à média entre os valores extremos - muito diferentes - sugeridos por duas consultorias, uma contratada pela Petrobrás, outra, pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Mal explicada, também, continua a seleção dos campos oferecidos à Petrobrás. Inicialmente se falava de um. Finalmente foram oferecidos sete campos, mas só depois de divulgadas pela imprensa as dúvidas sobre o potencial produtivo do primeiro. Ainda não há segurança, porém, sobre o assunto, porque só um poço foi perfurado em todas essas áreas. Mas isso não é problema, de acordo com Gabrielli: se não forem achados os 5 bilhões de barris, a Petrobrás será indenizada.

Acionistas privados criticaram o valor médio proposto para os barris cedidos pela União. É muito alto, segundo eles, e por isso os minoritários terão de aplicar muito dinheiro para manter sua participação. O governo não terá desembolso. Poderá antecipar sua contribuição por meio da emissão de títulos.

Há a possibilidade, portanto, de um aumento da participação estatal na Petrobrás. Essa hipótese é mencionada no prospecto. A União detém 55,66% das ações ordinárias - isto é, do capital com direito a voto - e sua fatia poderá aumentar para 57,33%, se os minoritários não quiserem ou não puderem acompanhar toda a capitalização.

Mas o dado mais inquietante é a evidente politização do tema. Desde o início, a política do pré-sal foi subordinada não só a critérios ideológicos, mas principalmente às concepções de governo e ao projeto de poder de um grupo. A conversão da Petrobrás em instrumento de política industrial é parte desse projeto. O cumprimento das metas de nacionalização dos equipamentos e materiais será gradual. Mas isso não elimina o risco de ineficiência e de custos adicionais na exploração e na produção.

sábado, 28 de agosto de 2010

Petrobras e pre-sal: algumas acusacoes

Não sou responsável pelas acusações abaixo, e as transcrevo com o mesmo espírito com que transcrevi o artigo postado abaixo sobre o pré-sal. Informação e discussão de um assunto público relevante.
Não conheço seu autor, mas o material me foi encaminhado por pessoa de confiança.
Acredito que cabe à companhia responder às acusações, que, por serem de natureza política, não são menos reais e tocam em problemas concretos.
Paulo Roberto de Almeida

Petrobras à Deriva
Anônimo
26 de agosto de 2010

Aparelhada pelos petistas de alto a baixo, a dívida líquida da mega empresa preocupa os especialistas, e o governo pretende capitalizá-la oferecendo barris de óleo do pré-sal, cuja extração está longe de ser viabilizada e cujo preço unitário é completamente desconhecido.

Temeroso do futuro da petrolífera brasileira, o maior investidor do mundo, vendeu todas as ações da empresa. Os papeis comuns da Petrobras representavam a maior participação de uma única empresa no fundo de Soros e valiam 405 milhões de dólares no primeiro trimestre de 2010. O fundo de Soros já foi o maior investidor privado individual na Petrobras. Do início do ano até ontem, as ações preferenciais da Petrobras desvalorizaram 23%.

DESMONTANDO A PETROBRAS - O uso irresponsável da estatal para fins políticos, pelo governo Lula, abrigando companheiros sem qualificação, em postos chaves da petrolífera, numa gestão, considerada pelos investidores como temerária, acabaram por desacreditar um dos maiores patrimônios brasileiros

As incertezas sobre a capitalização da Petrobras levaram o bilionário americano George Soros a se desfazer de todas as suas ações da estatal brasileira. Em relatório enviado à Securities and Exchange Comission (SEC, a comissão de valores mobiliários americana), o Soros Fund Management declarou que em 30 de junho não tinha mais nenhum papel da companhia em sua carteira.

O fundo de Soros já foi o maior investidor privado individual na Petrobras, mas vinha reduzindo sua participação desde o início do ano. Em dezembro, tinha 36,8 milhões de ações da estatal, por meio de American Depositary Receipts (ADRs), o equivalente a 1,45% no capital social da companhia. No balanço entregue à SEC, em março, estava com 14,9 milhões de ações, o equivalente a 0,17% do capital social.

A empresa era tida também como maior aposta do fundo comandado pelo megainvestidor, diante da potencial valorização após a descoberta do pré-sal. Desde o início do ano, porém, as ações da Petrobras acumulam queda de mais de 23%, por causa de dúvidas no mercado sobre a capitalização. Na semana passada, o banco UBS rebaixou os papéis da empresa, recomendando a investidores que os vendam.
George Soros livrou-se das ações da Petrobras

PULANDO FORA - George Soros não acredita mais no futuro da Petrobras
O húngaro George Soros(foto), hoje radicado nos Estados Unidos, ficou conhecido na década de 90 pelas suas atividades enquanto especulador, e chegou a ganhar US$ 1 bilhão em um único dia apostando contra o Banco Central da Inglaterra.

Nos Estados Unidos, ficou famoso por ter doado montantes elevados para tentar que o presidente George W. Bush não fosse reeleito.
George Soros, anunciou em dezembro, que vai investir US$ 1 bilhão do seu próprio dinheiro em tecnologia de energias limpas, a fim de combater as mudanças climáticas, informou o jornal britânico "The Guardian".
Ele também vai criar uma organização para táticas sobre emissões, que vai receber um investimento anual de US$ 10 milhões nos próximos dez anos.
Apesar do porta voz da Soros Fund Management, ter se negado a comentar o assunto, para não afundar ainda mais a empresa, o sinal que o investidor está nos mandando é que a, desastrada gestão política, está pondo em risco, a maior empresa estatal do país e a quarta maior petrolífera de capital aberto do mundo.

SÍMBOLO DA NOVA PETROBRAS - O navio plataforma P-33 exibe claros sinais de corrosões, foi interditada por oferecer sérios riscos de Segurança

A deterioração da Petrobras ocorre a olhos vistos. Enquanto busca bilhões no mercado para se capitalizar, e empreender a aventura do pré-sal, as notícias sobre ela, são cada vez mais preocupantes. O jornal Valor econômico, noticiou que o nível de endividamento da Petrobras está muito perto do limite de 35% auto imposto pela companhia. Ao fim do segundo trimestre deste ano, o indicador ficou em 34,74%, conforme os dados de dívida líquida e patrimônio líquido divulgados pela estatal.

As agências de classificação de risco já disseram que o índice de 35% não é mágico. Mas os principais executivos da Petrobras usaram esse limite diversas vezes para defender a urgência da capitalização da empresa, prevista agora para setembro. O argumento é que a nota de crédito da companhia ficaria ameaçada caso essa barreira seja rompida.

Em menos de um mês, três plataformas da Petrobras instaladas na Bacia de Campos, no norte do estado do Rio de Janeiro, apresentaram problemas. O Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense informou nesta quarta que a plataforma P-31, no Campo de Albacora, tem falhas de segurança e de conservação, o que colocaria em risco a vida dos petroleiros que trabalham na unidade.

Na semana passada, a plataforma P-33 foi interditada pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e a P-35 sofreu um princípio de incêndio.

Depois de denunciar o estado de má conservação da P-31, o diretor de comunicação do Sindipetro NF, Marcos Breda, afirmou que a intenção é dar segurança aos trabalhadores e revelou que o sindicato quer a interdição da unidade.

“Há vários problemas na P-31, inclusive nas tubulações de óleo e gás, que precisam de reparos definitivos e não provisórios. Temos uma série de denúncias sobre a deterioração dos equipamentos também. O caso é semelhante ao da P-33. Além disso, existe a possibilidade de interdição da plataforma, pois o pedido do sindicato foi nesse sentido.”

Nesta segunda-feira, 12 plataformas da Petrobras aderiram à operação padrão de segurança “Chega de Contar com a Sorte”, promovido pelo Sindipetro do norte fluminense. Durante a operação, os trabalhadores fazem todos os procedimentos de segurança, antes de qualquer atividade na empresa.

Petrobras e pre-sal: alguns esclarecimentos

O Brasil real e o Brasil oficial
Crítica conjuntural das falácias governamentais
Blog Conectando Leitores - Você é aquilo que lê
Carlos U. Pozzobon

Recentemente ouvi um barulho em minha porta e acudi para saber do que se tratava. Haviam jogado um folheto tapado por um calendário de entrega da Liquigás. Inicialmente pensei que se tratasse de material publicitário, mas depois vi que por trás do calendário estava um folheto da Petrobras com a finalidade de explicar as mudanças que estavam ocorrendo na área do pré-sal.

Estranhei a panfletagem e, ao olhar para fora, vi 2 homens de macacão com o logotipo da Liquigás se afastando da minha pequena rua. Percebi que não eram entregadores de gás de botijão, mas gente com a inequívoca aparência de trabalhar em escritório e estar nas ruas por razões outras que a entrega de gás. Acrescentando-se a isso o fato de que uso gás encanado e, portanto, não tenho relações com essa empresa, a coisa foi ficando clara à medida que dei a primeira folheada no livreto de 22 páginas chamado Marco Regulatório de Exploração e Produção de Petróleo e Gás: 30 Perguntas e Respostas (tamanho 20 x 13,5 cm). Trata-se de uma clara campanha para explicar à população o que pensa a Petrobras sobre o pré-sal e as mudanças que estão sendo introduzidas na legislação. Mas por que uma campanha de esclarecimento de porta em porta? Qual a razão de se publicarem milhares de panfletos explicativos?

A resposta para isso está dada neste site e explica a razão de sua existência: trata-se da impressionante diferença que existe entre o Brasil oficial e o Brasil real.

Quando estudamos a história política do Brasil, através de seus acadêmicos, temos uma visão totalmente diferente da mesma história contada pelos analistas sociais, pois estes são pessoas que não têm um cargo universitário e que escrevem apenas como testemunhos do que viveram e perceberam nos meandros dos gabinetes, nas notícias dos jornais, nas ruas e nas repartições públicas. Enquanto o cientista social baseia suas observações nos documentos oficiais, o analista social baseia seus dados na interpretação dos documentos, no clamor da sociedade expresso pela imprensa, ou na sua própria interpretação. Assim, é muito diferente escrever sobre um assunto, por exemplo, o da segurança pública, baseado nos relatórios da polícia do que nos testemunhos de vítimas da violência urbana. São textos completamente diferentes: o primeiro é o ranço acadêmico, o segundo, a alma viva da sociedade.

O primeiro texto contém a visão oficial do Estado, o segundo, uma visão particular da sociedade. O segundo ponto diz respeito à ideologia de interpretação. A narrativa da história política baseada no legado do marxismo tem sido uma das causas do ensino de humanidades no Brasil estar completamente sucateado. Quando estudamos a história do Brasil, contada por viajantes que aqui estiveram nos séculos XVIII e XIX, começando por La Condamine, depois Saint-Hilaire, Schlichthorst, Paul Marcoy, Richard Burton, vemos que suas descrições sociais são bem diferentes daquelas feitas pelos estudiosos. Isso não é acidental: Euclides da Cunha, quando descreve a epopéia de Os Sertões, não o faz como um “scholar”, mas como um misto de escritor barroco, jornalista investigativo, analista social e expedicionário militar completamente independente das “obsoletas estruturas arcaicas” do seu tempo. Era alguém cuja formação intelectual cosmopolita e temperamento irridente lhe tinham dado o privilégio de estar acima da estrutura em que se movia, a ponto de não poupar críticas aos dirigentes de seu próprio exército na campanha de Canudos. Que intelectual em nosso meio acadêmico escreve desmistificando — à Euclides — as nossas mazelas burocráticas, o almofadismo de chefes militares, a desordem institucional?
Brasil real x oficial

Com isso, percebe-se que o pensamento da Petrobras sobre o novo marco regulatório do pré-sal se enquadra dentro daquilo que se chama ‘Brasil oficial’ em oposição ao ‘Brasil real’ — que não se enquadra na superfície dos fatos, que não se detém nas boas intenções, que revela as pretensões ocultas, a lógica dos interesses e as particularidades do “sistema”.

Para se ter uma idéia da distância que vai de um ponto de vista a outro, basta compararmos os argumentos que estão contidos neste folheto sobre o Marco Regulatório com os da realidade dos fatos. O folheto apresenta um bem organizado conjunto de 30 perguntas e respostas sobre o pré-sal dividido em 6 partes: 1. contexto e regulação do setor; 2. sistema de partilha; 3. Petro-sal; 4. fundo social; 5. cessão onerosa e 6. dúvidas gerais.

1. Contexto e regulação do setor
Inicialmente, o folheto trata de explicar as diferenças entre os sistemas de concessão e de partilha. Nas palavras do texto, sabemos que no sistema de concessão, “as atividades são realizadas pelo próprio concessionário, sem interferência ou maior controle dos governos nos projetos de exploração e produção, respeitada a regulação existente. Caso haja uma descoberta e ela seja desenvolvida, o petróleo e gás natural, uma vez extraídos, passam a pertencer aos concessionários após o pagamento de royalties e de outras participações governamentais” (p. 2).

Por outro lado, no sistema de partilha “a companhia ou consórcio que executa as atividades assume o risco exploratório. Em caso de sucesso, tem os seus investimentos e custos ressarcidos em óleo (o chamado óleo-custo). O lucro da atividade resulta da dedução dos investimentos e custos de produção da receita total. Convertido em óleo, esse valor é chamado de óleo-lucro, que passa a ser repartido entre a companhia (ou consórcio) e o governo, em porcentagens variáveis” (p. 2).

Havendo ainda a possibilidade de sistemas mistos, em regime de monopólio ou compartilhado, o folheto informa sobre o sistema adotado no Brasil, no caso das concessões: “no sistema adotado vence a empresa ou consórcio que obtiver a maior pontuação em três fatores: o bônus de assinatura (valor em dinheiro ofertado à União pelo direito de assinar um contrato de concessão); o índice de nacionalização das compras de equipamentos e serviços para as atividades de exploração e desenvolvimento; e finalmente, um programa de trabalho mínimo a ser seguido” (p. 4).

Um programa de trabalho não há como ser julgado. É importante para que o governo possa acompanhar o ritmo em que o poço será trabalhado, mas não tem como ser um fator quantitativo em uma avaliação de licitação. Quanto ao índice de nacionalização, não deveria ser também um fator de exigência de licitação porque pode ser manipulado facilmente. Uma rodada de licitação deve se concentrar no interesse público (representado pelo governo) para a obtenção do máximo de benefícios. Para não desnacionalizar totalmente o processo, o governo deveria estabelecer um índice percentual e depois controlar sua execução. Quanto ao bônus de assinatura, está correto e não há nada a acrescentar.

2. Sistema de partilha
O problema vem agora com o modelo de partilha em si. A pergunta que não quer calar é: como o governo, representando o interesse público, poderá fiscalizar os custos de produção representados pela fatia chamada óleo-custo? Como a Petrobras, que nunca conseguiu estabelecer para o governo o preço de custo em seus 50 anos de reinado, poderá convencer o governo de que os custos ali embutidos na exploração são verdadeiros? Eis aí a diferença entre o Brasil real e o Brasil oficial. Oficialmente sabemos, pelas denúncias da imprensa e do Congresso Nacional, que a Petrobras vinha financiando diversas entidades ligadas a parlamentares. Então cabe a pergunta realíssima de um país jovem e trigueiro: não seria o sistema de partilha o mais adequado para que a Petrobras, através de sua diretoria de ocasião (a partir de 2011), aumente a fatia de custos para repassar dinheiro a apaniguados?

Não existe nesta proposta de partilha uma possibilidade tentadora de que se turbine no Brasil um de seus mais nocivos costumes, que vem sendo combatido desde o Padre Anchieta, e que faz parte do seu DNA e que se chama corrupção? Não seria o sistema de partilha uma solução para criar receitas para as mais variadas correntes político-ideológicas dentro e fora da Petrobras? Não seria uma solução em que no jogo do esconde-esconde os amigos levam a melhor e o governo (que representa o interesse público) a pior?

Quem vai dizer que o óleo-custo do poço tal está superfaturado? E se for verdade, o que fará a Petrobras? Se no presente momento, as condenações pelo TCU dos contratos em andamento nas mais variadas refinarias estão simplesmente ignoradas, se as investigações na CPI são detonadas por políticos aliados, alguns sabidamente na lista dos “patrocínios” da estatal, e se algumas empresas contratadas não estão passando pela lei de licitação e tantas denúncias apavorantes não deram em nada, pergunta-se, por que a Petrobras seria daqui para a frente o exemplo de lisura e ética? Não seria exatamente a consolidação do que já está sendo denunciado?

Por que o modelo de concessão, que é claro e transparente, pois basta contar o total de barris e calcular os royalties, foi repudiado pela atual diretoria? Quem disse que o interesse público fica melhor representado pelo modelo de partilha? A Petrobras tenta uma explicação para modificar o marco regulatório, mas fica longe do essencial:

Quando a atual legislação que regula o setor de petróleo foi criada, em 1997, o Brasil e a Petrobras estavam inseridos num contexto de instabilidade econômica e o preço do petróleo estava baixo (US$ 19 o barril). Além disso, os blocos exploratórios tinham alto risco, perspectiva de baixa rentabilidade, e o País era grande importador de petróleo. O marco regulatório que adotou o sistema de concessão foi criado, à época, para possibilitar retorno àqueles que assumiram esse alto risco.
Hoje o contexto é outro. O Brasil alcançou estabilidade econômica, foi atingida a autossuficiência, os preços do petróleo estão significativamente mais elevados, e as descobertas no pré-sal, uma das maiores províncias petrolíferas do mundo, poderão, apenas com as áreas de Tupi, Iara, Guará e Jubarte, dobrar o volume de reservas brasileiras. Pelos testes realizados, sabe-se que o risco exploratório é baixo e a produtividade é alta nas descobertas localizadas na camada pré-sal.


Com o regime de partilha, o governo pretende obter maior controle da exploração dessa riqueza e fazer com que os recursos obtidos sejam revertidos de maneira mais equânime para a sociedade brasileira. Portanto, esse modelo é mais apropriado ao contexto atual e ao desenvolvimento social, econômico e ambiental do País (p. 7).

A princípio a Petrobras fala pelo governo, o que me parece estranho, para não dizer outra coisa. E quem tem que dizer o que melhor lhe parece para a sociedade certamente não é o que vem das palavras de um monopólio, seja este ou qualquer outro do mundo, hoje como em qualquer época histórica.

Ora se, como argumenta o folheto, hoje (31/5/2010) o barril vale US$118,00 e o risco exploratório é baixo, pelo conhecimento que se tem das perfurações bem-sucedidas na bacia de Santos, então nada indica que o sistema de royalties seja pior nem para o Brasil, nem para a Petrobras. Se diminui o risco, aumenta a oferta e portanto as licitações ganham mais vulto, o que é bom para o governo e ruim para a Petrobras, e qualquer outra, pois a disputa tende a aumentar as apostas.

Agora vem o segundo ponto: o da monopolização. Pelo sistema de partilha proposto nas áreas ainda não licitadas do pré-sal, a União poderá fazer contratos ou exclusivamente com a Petrobras, ou com outras empresas, mas com 30% garantidos para a Petrobras em consórcio. O que acontece neste caso? Que a Petrobras é sócia forçada de qualquer consórcio que vier a ser formado. O que ocorrerá imediatamente é uma desvalorização da disputa, pois não só o valor do bônus fica reduzido, como a simples negativa da Petrobras inviabiliza qualquer iniciativa das outras, já que ela se transforma em jogador e juiz da partida ao mesmo tempo, com seu poder de veto para qualquer área que lhe pareça mais recomendável “deixar para o futuro”.

Embora a Petrobras não pense e não fale nestes termos e garanta que nas licitações (questão 11, p. 10 ) “vence a empresa que oferecer o maior percentual do excedente em óleo (óleo-lucro) para a União. Caso a Petrobras não ganhe a licitação, deverá acompanhar o percentual ofertado à União pela empresa vencedora”.

O que aconteceria, apenas para especular, se fosse licitado um campo adjacente a outro onde as reservas conhecidas tenham sido anunciadas na casa dos bilhões de barris? Evidentemente que as demais empresas iriam partir para o leilão. E se a Petrobras disser “não, não quero”, o que aconteceria? As demais empresas teriam o direito de participar sozinhas à revelia da Petrobras? Poderia a Petrobras espertamente vetar e esperar mais algum tempo até assumir o bloco sozinha, já que a lei lhe faculta?

Nesse caso, não poderia todo o processo de exploração do pré-sal sofrer um engessamento por pura birra das demais petrolíferas, para forçar uma interrupção no processo, como aliás já vem acontecendo desde 2009, quando as notícias sobre o “mar de petróleo da bacia de Santos” contaminaram toda a nação com irrefreável otimismo?

3. Projeto Petro-sal
A Petro-sal seria uma nova estatal com capital 100% da União, criada para representar os interesses da União na partilha, como cuidar dos contratos e participar das decisões. Esta proposta nem merece ser discutida. A pergunta que cabe é: para quê mais uma empresa no processo se estas atribuições são da ANP? O que o governo tem contra a ANP? No triunvirato Ministério de Minas e Energia, Conselho Nacional do Petróleo e ANP, o governo precisa de mais um ente para cuidar de contratos e participar de decisões? Trata-se do mais puro desperdício de recursos públicos e energia humana, pois é mais um ente opinando, dando parecer, solicitando dados, enviando cartas, retardando decisões, enchendo de carimbos, certamente mais confundindo que esclarecendo pela sobreposição de atribuições que hoje são da ANP. Ou seja, uma empresa totalmente dispensável.

4. Fundo Social
Trata-se de parte da parcela obtida pela União, no processo de partilha, que seria obtida com o óleo-lucro e destinada às atividades de combate à pobreza, educação, cultura, etc. Nada a objetar, a União entretanto poderia pensar grande e imaginar que o Brasil deveria se preocupar urgentemente em ser um grande exportador de petróleo, considerando a pressão internacional cada vez maior para pesquisas de fontes energéticas alternativas, carros elétricos e por aí afora. Se o acidente com a BP no Golfo do México inquietar os EUA com suficiente desconforto em relação à exploração de Petróleo, a pressão ambiental por novos combustíveis, ou novas baterias, etc., aumentará a ponto de num horizonte não muito distante o mundo colher os benefícios de energia limpa. Nada nos impede de imaginar que em 50-80 anos o consumo de Petróleo entre em declínio cada vez maior chegando a uma situação de não se poder mais extrair petróleo, por decisões políticas impostas pela forças ambientalistas e não pelo esgotamento de jazidas. Aí não vai adiantar chorar sobre o leite derramado.

Neste caso, o pensamento deveria ser voltado para o máximo de exploração no presente, na área da bacia de Santos, com tantos participantes quanto seja o capital disponível. Os recursos obtidos pelo modelo de concessão permitiriam não só a criação de um fundo social como até uma reforma tributária que desonerasse impostos da produção e fossem aplicados na recuperação salarial e no crescimento do país como um todo. Aí sim teríamos um grande horizonte pela frente, com um novo paradigma de progresso e desenvolvimento. E nos aparelhando cada vez mais para sermos autossuficientes em biocombustíveis, em uma estratégia para o final do século XXI.

5. Cessão Onerosa de Direitos
Esse foi o nome que inventaram para a capitalização da Petrobras. Dentro dos círculos sindicalistas, existia o desconforto da Petrobras ser uma empresa de economia mista, onde a União só detém 1/3 das ações ordinárias. Queriam os sindicalistas que a parcela da União fosse 100%. Mas o que fazer com a abertura de capital para os pequenos investidores? Bem, na verdade os pequenos investidores ficam com suas ações na bolsa, e se quiserem acompanhar a Petrobras que o façam investindo mais dinheiro para se equipararem com o equivalente aos 5 bilhões de barris de petróleo de graça da fatia do governo, como forma de capitalização. Isso é no mínimo um absurdo. A Petrobras, então uma empresa de economia mista, se apropria de um patrimônio que é de todos os brasileiros com a promessa de trocar esse petróleo por títulos da dívida pública? Quem será que vai ganhar com os descontos dos títulos? Nesse ponto, a proposta que já era a pior para o povo brasileiro, se transforma em uma comédia. Mas comédia Molieresca das boas, onde não se sabe se a peça tem os personagens de Tartufo ou do Doente Imaginário. Ou quem sabe o governo não faz o papel de O Burguês Ridículo para a Petrobras? Enfim, parece uma demonstração de que o futuro será sombrio na área petrolífera, a menos que o próximo governo seja capaz de assumir os verdadeiros interesses do povo brasileiro.

6. Dúvidas frequentes
O folheto fala sobre a indecisão da proposta do pré-sal no Legislativo, mas promete grandes progressos para seus fornecedores. A Petrobras garante que o sistema de concessão poderá continuar valendo para as áreas já licitadas e para as áreas fora do pré-sal que não sejam consideradas estratégicas. Isso significa colocar nas mãos do governo o papel de árbitro. É deixar uma porta aberta no marco regulatório. Será que a Petrobras e seus sindicalistas não pensam que é muito perigoso deixar nas mãos do governo a decisão? Ou ela fez as contas e decidiu abocanhar a bacia de Santos e deixar o resto para o governo de ocasião? E se um governo qualquer que se suceda neste futuro incerto resolve definir uma área não estratégica, como por exemplo, no nordeste ou RS, e essa área se revelar muito mais promissora que todas as outras conhecidas?

Nenhuma dessas questões é mais preocupante do que a possibilidade de se criar um monstruoso sistema de suborno. Se o sistema de partilha for de fato implantado, a Petrobras pode estar abrindo mais um oleoduto para a incerteza: quem garante que num futuro não muito distante, uma nova diretoria não passe a utilizar o sistema de partilha para superfaturar despesas de investimento e usar estes recursos para contemplar a fila de políticos batendo por uma porta, a fila de sindicalistas batendo na outra, a fila de patrocínios ainda em outra, e assim sucessivamente? Tudo pago com o dinheiro que deveria ir para o óleo-lucro.

Como garantir que o país não mergulhe num sistema de favorecimentos, propinas e desperdícios — à moda getulista da fila do beija-mão —, com um sistema de custos em que o governo facilmente pode ser enganado? Quem vai conferir despesas? E se elas não fecharem com os relatórios do TCU vai ficar por isso mesmo, como está acontecendo com os presentes contratos? Não seria muito melhor que os custos fossem um assunto da própria empresa e que o governo tivesse uma participação direta e medida apenas pelo volume extraído? Não seria o sistema proposto uma contemplação da ineficiência, um dar de ombros ao desperdício, uma vez que os custos podem ser facilmente transferidos para o óleo-custo? E, vejam bem, não só pela Petrobras, pois todas as outras empresas podem fazer a mesma coisa, inclusive empresas representantes de governos estrangeiros!!! Será que não se percebe que pode haver a abertura de um propinoduto por parte das outras empresas também?

Para quem conhece a política nacional e a história do Brasil, a proposta é a pior possível, e nem sequer deveria ser considerada pelo Senado, se não estivessem parte dos nossos senadores comprometidos com as benesses da Petrobras. Em consequência, olhando para o que se conhece do nosso passado, trata-se de uma proposta extremamente cavilosa que, e ao ser distribuída de porta em porta, comprova que sindicatos agindo internamente na Petrobras já podem se dar à liberdade de servir de cabo eleitoral do partido no Poder. Em maio de 2010, a primeira fase da campanha presidencial foi a distribuição de folhetos. Quando é que os sindicalistas petroleiros vão começar a falar do aterrorizante fantasma da privatização? Afinal, eles não estão forçando esta solução? E quem — num processo eleitoral completamente acanhado — pretende enfrentar as “obsoletas estruturas arcaicas” postas em marcha pelo novo marco regulatório?

Nota:
Parece que este novo marco regulatório tem suas origens exatamente no sistema de distribuição de benefícios criados pela Petrobras nesta última gestão. O OESP — de 31/5/2009, quando se falava na convocação da CPI da Petrobrás, uma matéria de página inteira com o título “PT controla repasses da Petrobras para ONGs” — informava que a área de comunicação da Petrobras movimentava em torno de 1 bilhão anual (em 2008), aplicando em repasses para ONGs, programas ambientais, patrocínios culturais, programas sociais e propaganda institucional, muitos deles sem licitação, mas claramente um instrumento que financiava os mais simpáticos ao Partido, como por exemplo, os prefeitos ligados ao partido ou à base aliada nas festas juninas da Bahia. Ora, esta área é toda comandada por sindicalistas. O jornal informa ainda que a CUT recebe benefícios da Petrobras porque seu sindicato, a Federação Única dos Petroleiros (FUP), é filiado à CUT. Com um patrocínio de 1.178 projetos sociais, projetos culturais e esportivos, o aporte da empresa em 2007 chegou a R$534 milhões. Estes dados são creditados na contabilidade da Petrobras. Com o sistema de partilha proposto, a contabilidade poderá não mais refletir o dinheiro transacionado. Nesse caso, o Brasil deixa de se inspirar na Ásia para caminhar célere na direção da África.

Leia mais sobre pré-sal na seção de Artigos e em O Desperdício do Capital Social no menu DNABrasil deste site.
Contato

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Petrobras: politizacao da companhia prejudica negocios

A politizacao da gestão da Petrobras é claramente prejudicial ao seu desempenho como companhia de petróleo (ou de energia, se quiserem). Em todo caso, a ingerência do governo nas operações da empresa são o que de pior pode acontecer para uma empresa que trabalha num setor sensível, que envolve decisões de bilhões de dólares e reações a comportamentos do mercado, que são necessariamente mutáveis.
Para satisfazer não se sabe quais objetivos políticos -- ou se sabe, mas é melhor não dizer -- o governo interfere deliberada e diretamente no funcionamento do que deveria ser, simplesmente, uma companhia de energia...


Desempenho da Petrobras é o segundo pior do setor no ano
Peter Millard, do Rio
Valor Econômico, 14/07/2010

Petróleo: Comportamento da ação da estatal brasileira só é melhor que o dos papéis da BP, que enfrenta o pior vazamento de óleo da história americana.

A Petrobras teve o segundo pior desempenho no mundo neste ano entre as companhias de petróleo, atrás apenas da BP , por conta do receio de que o governo vai forçar a empresa a pagar mais do que os investidores esperavam originalmente pelas reservas de petróleo do pré-sal.

O valor dos 5 bilhões de barris de reservas, que o governo pretende trocar por novas ações, irá determinar o tamanho da oferta de ações da estatal planejada para este ano e pode sinalizar o quanto a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende aumentar do controle. Um preço mais elevado pode forçar Petrobras a vender mais ações para pagar o petróleo, diluindo os acionistas minoritários, disse Max Bueno, analista da Spinelli Corretora.

"O governo quer anunciar para a população que tem um valor justo para as reservas", afirmou Ted Harper, que ajuda a gerir US$ 6,8 bilhões na Frost Investment Advisors, de Houston, EUA, em entrevista por telefone. O adiamento da venda de ações, que ficou mais perto das eleições presidenciais de outubro, "deixa as águas completamente turvas e aumenta a politização da oferta".

A Petrobras caiu 27% no primeiro semestre, seu pior início de ano desde 1995. Isso se compara a uma queda de 47% da BP, que enfrenta dezenas de bilhões de dólares em prejuízos por causa do desastre que levou ao maior derramamento de óleo na história americana. A Exxon Mobil , o maior produtor de petróleo dos EUA, e o maior da Europa, a Royal Dutch Shell, perderam 16% e 10%, respectivamente.

A Petrobras pode precisar pagar ao governo até US$ 8 por barril das reservas, ou até US $ 40 bilhões, disseram os analistas do Credit Suisse liderados por Emerson Leite em relatório a investidores em 30 de junho. No início deste ano, o banco previu que a Petrobras pagaria de US $ 5 a US$ 6 dólares por barril, ou US$ 30 bilhões em novas ações.

Procurada, a Petrobras não quis fazer comentários sobre a venda de ações ou sobre o desempenho do papel.

Em assembleia no mês passado, os acionistas autorizaram um aumento de capital total de R$ 150 bilhões (US$ 85 bilhões), incluindo ações a serem emitidas em troca de reservas. A Petrobras disse que espera levantar até US$ 25 bilhões dos acionistas minoritários.

Em 22 de junho, a estatal adiou a oferta para setembro, o que significou também o adiamento do dinheiro necessário para bancar o plano de investimento de US$ 224 bilhões para desenvolver a maior reserva de petróleo encontrada em três décadas. A empresa afirmou que precisa aguardar a avaliação das reservas pelo governo antes da oferta pública.

"O que está assombrando as ações por semanas é esse elevado nível de intervenção política. E agora ela perdeu credibilidade entre os acionistas", após o adiamento, afirmou Christopher Palmer, que supervisiona US$ 5 bilhões como chefe de mercados emergentes na Gartmore Investment Management , em uma entrevista em Londres.

"Quantos bilhões de dólares de valor para o acionista foi destruído devido a falta de credibilidade e de comunicação?", disse.

As eleições presidenciais de outubro poderão levar o governo a colocar um preço elevado nas reservas para evitar uma "reação política", disse Leite.

O ministro das Minas e Energia, Márcio Zimmermann, disse por meio de sua assessoria de imprensa em Brasília que o governo não irá interferir no preço das reservas. O processo não vai "sofrer influência eleitoral", disse ele.

Lula e Dilma Rousseff, candidata do PT, "terão dificuldades para justificar" um valor abaixo de US$ 30 bilhões, disseram os analistas da Eurasia Group liderados por Christopher Garman, em relatório de 23 de junho. A oposição pode argumentar durante a campanha que é um "negócio de pai para filho" para a Petrobras e os investidores estrangeiros, disse.

Se o governo acrescentar um dólar "ou dois" ao preço do barril terá um efeito de "bilhões de dólares" sobre o tamanho da oferta de ações e sobre o lucro por ação, disse Eric Conrads, gerente do fundo hedge Armada Capital na Cidade do México, em uma entrevista em 25 de junho.

A Petrobras subiu 7 centavos ontem, ou 0,3%, a R$ 27,30, em São Paulo. A perda da Petrobras neste ano é a segundo pior entre as 35 maiores companhias de petróleo por valor de mercado, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A BP teve a maior alta em 20 meses em Londres anteontem por conta da especulação de que a empresa pode ter sucesso em deter o derramamento de óleo. A BP estendeu seus ganhos ontem, subindo 2,9%, para 410,35 pence.

Petrobras planeja emitir ações suficientes na operação para permitir que o governo e os investidores minoritários mantenham as suas participações. A agência reguladora do petróleo do Brasil, a ANP, contratou a Gaffney, Cline & Associates para avaliar o quanto as reservas realmente valem.

A oferta pública e a permuta fazem parte dos planos para financiar o desenvolvimento de campos, incluindo o de Tupi, a "maior descoberta de petróleo nas Américas desde Cantarell do México em 1976". A Petrobras pode ter de gastar mais de US$ 224 bilhões depois que o derramamento de BP no Golfo do México aumentou os prêmios de seguro e os custos de perfuração em águas profundas, Bueno Spinelli disse em uma entrevista por telefone de São Paulo em 8 de julho.

A preocupação de que os custos de perfuração de águas profundas cresçam está aumentando o custo da proteção contra um descumprimento de contrato por parte da Petrobras, o maior produtor de petróleo em águas abaixo de mil pés, em relação à Petróleos Mexicanos, que não tem produção em águas profundas.

(Colaboraram Tal Barak Harif , de Nova York, Andres R. Martinez, da Cidade do México, e Maria Luiza Rabello, de Brasília)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Balance Énergétique du Brésil - Paulo R. Almeida à Radio France Internationale

Notes prises pour interview donné à France Culture, pour l'émission "Les Enjeux Internationaux", sous la direction du journaliste et professeur, auteur de nombreux ouvrages de relations internationales, Thierry Garcin (Radio France Internationale)
link : http://www.franceculture.com/emission-les-enjeux-internationaux.html

Balance Énergétique du Brésil
Paulo Roberto de Almeida
Balance Énergétique du Brésil : interview à France Culture

Questions soulevées:

1) Le Brésil et sa politique énergétique, compte tenu de ses richesses, de ses réserves et de ses besoins

L’offre d’énergie au Brésil, comme pour beaucoup d’autres pays, présente encore une bonne partie de combustibles fossiles, mais elle est très diversifiée et intègre d’autres sources naturelles, surtout de la biomasse. Aujourd’hui, cette balance énergétique este composée de 46% de renouvelables – dont l’hydraulique et les dérives de la canne à sucre font 15% chacun – et de 54% des non-renouvelables, dont le pétrole répond encore pour 37%. Ce mix est en train de se déplacer graduellement vers les renouvelables, mais la découverte de nouveaux gisements de pétrole peut modifier la matrice vers la « mauvaise » direction dans les prochaines dix années.
Dans le passé, lors de la deuxième crise du pétrole, près de 95% des automobiles brésiliens sont arrivés à rouler à l’alcool (éthanol) ; aujourd’hui, la presque totalité des véhicules sortent des usines avec des moteurs flex-fuel, ce qui les habilite à rouler avec n’importe laquelle combinaison d’alcool ou d’essence. Ceci est un bon exemple pour le monde et un signe que le Brésil peut offrir des solutions inventives aux problèmes de la pollution urbaine et de la surconsommation de pétrole.
Le Brésil a une matrice énergétique essentiellement propre dans le domaine de l’électricité, basée, pour la majeure partie, sur des ressources hydrauliques, qui sont énormes. Il y en a encore quelques grands fleuves à exploiter, soit en Amazonie, soit ailleurs, que ce soit par le système de construction de grands barrages, ou alors par des projets plus amiables au point de vue de l’environnement, basés sur les courants des fleuves. Mais, on approche, peut-être, des limites physiques à la continuité de l’énergie retirée des eaux, surtout en fonction des nouvelles préoccupations d’ordre écologique. Toutefois, il ne faut pas renoncer à cette possibilité qui, il faut insister, est propre, en dépit d’un certain dégât à des petites parties de la forêt vierge.
Mais le Brésil a su également diversifier sa matrice, aussi bien en direction des énergies fossiles, que de celles renouvelables. L’énergie fossile, en dépit de tous le préjugés à son encontre, est toujours nécessaire, pas tant au point de vue électricité, étant donné que le Brésil a très peu de thermiques au charbon ou au pétrole, mais au point de vue combustible et en tant que matière première industrielle, surtout à l’industrie pétrochimique et chimique (mais aussi pour beaucoup d’autres).
Or, le Brésil a toujours manqué, dans son histoire passée, aussi bien de charbon que de pétrole, ce qui a en partie retardé son développement industriel. Son charbon a toujours été insuffisant et de mauvaise qualité pour l’industrie sidérurgique, et il a dû importer beaucoup de charbon au cours de son histoire industrielle (il le fait encore, mais le charbon ne représente que 6% de l’offre totale d’énergie). Quant au pétrole, il a toujours manqué en terre, jusqu’au jour où il a été possible de le rechercher dans la mer, avec des plateformes off-shore, à partir des années 1970. Le monopole étatique en faveur de Petrobras a beaucoup retardé l’exploitation et le développement de l’industrie du pétrole du Brésil, mais le changement de législation, sous le gouvernement Fernando Henrique Cardoso, en 1997, a permis d’augmenter énormément les recherches et l’exploitation, en mettant des entreprises étrangères en coopération avec Petrobras. Depuis lors, la croissance de la production, surtout off-shore, a été constante. Récemment, on a découvert des immenses gisements de pétrole, dans les couches dites du pré-sel, à plus de 5kms de profondeurs, ce qui met le Brésil, pour la première fois de son histoire marginale du pétrole, dans la catégorie des pays à grandes réserves, et peut-être un jour, dans celle des grandes exportateurs.
Mais, a part cela, le Brésil est aussi potentiellement riche en d’autres sources d’énergie, surtout celles renouvelables, bien que les conditions technologiques ne soient tout à fait au point pour l’ensemble des possibilités. Les ressources le plus intéressantes, bien sur, ce sont celles de la biomasse ; ici le Brésil a toutes les conditions pour exceller dans le domaine : il a beaucoup de terres disponibles pour l’agriculture, même sans toucher à l’Amazonie ou à d’autres zones de protection ; il a une abondance d’eau, et du soleil, qui est gratuit, bien sur. La principale forme des renouvelables, mais plutôt comme combustible, que pour d’autres utilisations, est l’éthanol de canne à sucre, tout à fait prouvé, rentable et présentant le meilleur rapport possible entre énergie utilisée pour sa production et l’énergie produite. En plus, les résidus de la canne servent à produire l’électricité, dans des usines thermiques.
D’autres formes de combustibles sont aussi en essai au Brésil, dont le biodiesel, soit à partir du soya, aussi très fréquent, et bon marché au Brésil, soit à partir de palmacées et d’autres huiles végétales. Mais les technologies et les bases de production ne sont pas encore au point pour dire que le Brésil sera un grand producteur de biodiesel. Il faut attendre encore un peu dans ce domaine.
D’autres formes d’énergie, soit la nucléaire, soit l’éolienne ou la solaire, sont encore marginales au Brésil, bien que les possibilités soient immenses dans chacun de ces secteurs, surtout l’énergie des vents ; pour le nucléaire, le Brésil développe à cet effet ses sources d’uranium, qui sont aussi suffisantes. Contradictoirement, avec plein d’énergie solaire facilement disponible, le Brésil n’a pas encore un industrie de panels solaires ou photovoltaïques rentables et bon marché, pour que cette possibilité soit compétitive par rapport à la biomasse ou l’électricité des sources hydriques.

2) L'autosuffisance en matière de pétrole
L’autosuffisance est un concept ambigu, et cette réalité, bien que potentielle et même certaine à l’avenir, est encore très relative actuellement. Disons que le Brésil est arrivé à une situation de production suffisante pour ses besoins, au point de vue simplement arithmétique, mais que l’autosuffisance n’est pas encore assurée en raison des caractéristiques de la production de pétrole et de l’état actuel des raffineries au Brésil. Sur le papier, on est déjà là, soit : une production de 1,75 million de barils par jour, pour une consommation de 1,73 mb/j; mais cela ne se passe pas comme ça dans la réalité, car il faut examiner toute la filière de la production et de la consommation, par types de produits en fonction des besoins de l’industrie, des transports, et autres.
Le Brésil a été dépendant, pour très longtemps, du pétrole importé du Moyen Orient, plus léger, dit Arabian light. Ses raffineries ont été donc adaptées à cette circonstance. Or, le pétrole extrait au Brésil, est beaucoup plus lourd, donc peut convenable à la structure de la production des dérivés industriels. Il arrive, donc, qu’il exporte beaucoup de pétrole cru, plus lourd, et qu’il est obligé d’importer toujours du pétrole plus léger, ainsi que du diesel, très consommé au Brésil en fonction d’un réseau de transport surtout basé sur des gros camions de route (et très peu sur le rail ou la navigation de côtes ou intérieure). Le Brésil exporte aussi de l’essence, car la production est en excès de ses besoins pour le parc automobile.
En résumé, l’autosuffisance est beaucoup plus un procès en cours, qu’une réalité du moment, bien que, avec ses nouvelles découvertes, le Brésil pourra acquérir son indépendance pétrolière dans un avenir de moyen terme. Dans l’offre totale d’énergie, le Brésil est capable de subvenir a plus de 90% de ses besoins sur le plan domestique.

3) Les espoirs mis dans les nouvelles réserves trouvées en mer (difficultés de leur exploitation)
Justement, le Brésil a découvert des gisements immenses à des très grandes profondeurs, ce qui pose des problèmes techniques, d’investissements, de planning de ce qu’il faut faire pour bien gérer cette manne pétrolière. Tout d’abord, il s’agit des ressources potentielles, pas encore réelles : il faut mesurer et établir les conditions de son exploitation, ce qui ne dépend pas seulement de la volonté du Brésil, mais surtout du marché international du pétrole. Avec les technologies d’aujourd’hui, et tenant compte des difficultés d’exploitation, il est possible que ce pétrole ne soit rentable qu’à un prix international du baril supérieur à 60 dollars. Il est de plus nécessaire de faire des très gros investissements, ce qui Petrobras est incapable de faire seule.
Or, le gouvernement vient de modifier la loi du pétrole de 1997, dans le sens de lui donner la part du lion dans ces nouvelles ressources du pré-sel, au lieu de conserver le régime de concessions à des industries privées, comme c’était le cas jusqu’ici, avec une agence d’État pour vendre aux enchères les blocs d’exploitation. Désormais, Petrobras a la priorité dans toute cette zone et doit être présente à 30% même pour des gisements accordés à d’autres entreprises, ce qui renchérit énormément son cahier de charges. Elle doit donc avoir des ressources. Comme le gouvernement a une vision très étatique de l’exploitation du pétrole, il a commencé a financer Petrobras avec des ressources publiques, en d’autres termes, en ayant recours à l’endettement national, ce qui va certainement peser sur les comptes publiques et dévier des ressources qui pourraient être dirigés vers des domaines sociaux.
En synthèse, les gisements sont là, leur exploitation est très difficile, très couteuse, et le gouvernement a choisi la voie de l’entreprise d’État – celle qui était autrefois monopoliste – pour la mise en pratique de la production. Il ne pas certain que ce soit la bonne voie ou la seule voie pour le faire, surtout parce que le gouvernement a, en même temps, choisi d’ouvrir la boite de Pandora de la distribution des profits et des royalties du pré-sel aux états et municipalités, ce qui a excité la gourmandise des politiciens et perturbé énormément les débats autour du changement du régime du pétrole. Il en a résulté, de ce populisme énergétique, une énorme confusion au Congrès brésilien, les actuels états producteurs faisant lobby pour maintenir leur position et les autres états voulant établir une division équitable de la rente pétrolière.

4) La biomasse et les énergies renouvelables
Déjà l’énergie tirée de la canne à sucre pour en faire de l'éthanol est devenue la deuxième source énergétique au Brésil, avec plus de 16% du total, après le pétrole, qui occupe encore la première place (avec 36%). L’énergie hydraulique se situe autour de 15% du total (mais est très importante pour l’électricité).
La biomasse est destinée à accroître sa participation dans la matrice énergétique du Brésil, de manière graduelle mais constante au cours de l’avenir prévisible. Les ressources naturelles sont évidemment abondantes au Brésil, mais il a toujours besoin de ressources financières et parfois des technologies pour exploiter toutes ces possibilités. Il y a aussi un grand rôle pour les politiques publiques, car dans le domaine de la matrice énergétique rien ne peut se faire sans que des lignes directrices soient tracées par l’État, car il y va de la sécurité nationale. Bien sur, le secteur privé a une énorme responsabilité dans toute la chaîne, et en fait tout le secteur de l’éthanol au Brésil fonctionne selon les lois du marché, sans aucun type de subside étatique (mais selon des règles établies par l’État).
Dans toute son histoire économique, le Brésil s’est contenté de fournir au monde des produits primaires, dits de dessert : sucre, café, cacao, et quelques autres. Bien qu’un fournisseur important de ces produits, et à certaines époques un véritable monopolisateur de certains d’entre eux – comme dans le cas du café – cette condition du Brésil ne lui a jamais donné aucune emprise sur l’économie mondiale, à vraie dire aucune importance au point de vue stratégique. Pour la première fois dans son histoire, avec les énergies renouvelables de la biomasse, le Brésil peut faire une différence dans l’économie mondiale, et ceci en contribuant avec les efforts pour combattre les émissions nuisibles, car le rapport écologique de la biomasse brésilienne, surtout de l’éthanol, est largement positif.
Il faut dire très clairement que la production d’éthanol ne se fait pas dans la région amazonienne ; la canne à sucre est cultivée dans les zones côtières et tempérées du Nord-Est jusqu’au Sud, mais pas en Amazonie. De même, la production du biodiesel à partir du soya n’implique pas d’agression à l’environnement et possède aussi un rapport économique des plus favorables au point de vue effets de serre.

Shanghai, 1er Juillet 2010.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Pre-Sal: uma campanha ditada pelos interesses politicos do governo

Este engenheiro entrevistado pela Folha de S.Paulo confirma o que já se sabia desde o começo: o governo vem fazendo política com uma coisa muito séria, que é a exploração de petróleo.
Ele vem ditando um ritmo acelerado nos investimentos do pré-sal, fazendo uma confusão dos diabos no regime de exploração (que ele mudou completamente para satisfazer suas necessidades de demagogia política, jogando os estados uns contra os outros), estatizando projetos que poderiam tranquilamente ser realizados ao abrigo do antigo regime de concessão, retirando dinheiro necessário a investimentos sociais muito mais importantes para a coletividade do que essa necessidade febril de dar recursos à companhia (que, num regime normal de exploração, prospecção e produção, poderia conseguir esses recursos no mercado internacional de créditos), distorcendo a agenda financeira do Tesouro e do BNDES, enfim, manipulando politicamente a voracidade sempre manifesta dos políticos por novos recursos para gastar. Uma vergonha.
Paulo Roberto de Almeida
(Shanghai, 18.06.2010)

Campanha do pré-sal terá de ser revista, diz especialista
AGNALDO BRITO
Folha de S.Paulo, 13/06/2010

DE SÃO PAULO - Crítico da correria imposta pelo governo Lula à Petrobras, Newton Monteiro, ex-funcionário da estatal e ex-diretor de exploração da ANP (Agência Nacional do Petróleo), afirma que atual campanha para o investimento no pré-sal será revista pelo próximo presidente.

Para ele, simplesmente é impossível cumprir um programa com investimentos de US$ 200 bilhões a US$ 220 bilhões em cinco anos, com os recursos financeiros e humanos à disposição do país. Ele defende novas concessões, principalmente em terra, onde a exploração é mínima.

Monteiro diz que a pressa do governo brasileiro para o pré-sal é uma questão meramente política. "O grupo técnico da Petrobras tem a noção perfeita de quanto tempo esse processo [da descoberta ao início da produção] leva", diz.

A seguir, os princípios tópicos da entrevista
Ritmo
O volume de recurso para o pré-sal está muito acima do nível que a Petrobras estava acostumada a trabalhar. A companhia está numa escala fora do que costuma fazer.

Tempo
Há uma coisa que nós não estamos levando muito em consideração nessa equação toda do pré-sal, que é o tempo. Os projetos para prospecção e exploração de petróleo não estão nas prateleiras. O projeto em águas profundas não apareceu da noite para o dia. A diferença é que naquela época não havia essa pressa que há hoje em ter essa receita.

Retorno
Vai levar pelo menos 10 anos para alguém começar a ter receita com o pré-sal. Não é com os testes que vai se obter isso. Não é colocando um navio para produzir 100 mil barris por dia que você terá esse recurso do pré-sal. Se fizer assim, vai levar 170 anos para obter o retorno.

Gente
De uns anos para cá, a Petrobras perdeu grande parte do pessoal especializado. Segundo a turma do recursos humanos, quase 50% do pessoal da Petrobras tem cinco anos de experiência. São caras competentes, mas falta a vivência. Em petróleo, há muito de empirismo e de experiência.

Volta ao passado
Nos anos 60, quando a gente entrava na Petrobras, precisávamos fazer um curso intensivo de inglês para poder falar com os chefes. Não vamos ter gente para tocar tanto projeto. Caso contrário vamos voltar ao passado, quando entravamos numa plataforma da Petrobras e só tinha gringo. Nós substituímos esses caras. Vamos voltar a essa situação?

Limites
Quando se produz petróleo em terra, como no Iraque, na Arábia Saudita ou na Rússia, é possível começar a produzir em até seis meses. Se não houver um oleoduto, é possível produzir e transportar o óleo por caminhão. Isso é impossível no mar. Lá só se produz quando tudo, rigorosamente tudo estiver pronto.

A política
Acho que o pré-sal segue o viés político, algo complicado. Grupos técnicos da Petrobras têm perfeita noção do tempo desse processo [da descoberta ao início da produção]. Vários amigos meus que estão na Petrobras estão preocupados com isso.

Pré-sal revisto
A campanha para a exploração do pré-sal terá de ser revista. Até porque, é necessário saber o que vai ocorrer no Brasil. Se o país continuar a crescer e o pré-sal continuar com projeções para dez anos, corremos o risco de perder a autossuficiência.

Candidatos
Qualquer governante que assumir a Presidência da República em 2001 terá de pensar na revisão da campanha do pré-sal. Isso vai ser revisto, para o bem ou para o mal. Pode ser o [José] Serra (PSDB), a Marina [Silva] (PV), qualquer um terá de ter a própria visão. Acho que até o PT. Eles vão ficar quatro, oito anos. Essa situação atual sobre a Petrobras será revista.

Inexplorado
O Brasil tem hoje uma área de 6 milhões de quilômetros quadrados com potencial petrolífero. A exploração on shore (em terra) é hoje de 500 mil quilômetros quadrados. A dúvida no Brasil hoje é a seguinte: vamos sair da era do petróleo sem aproveitar esse grande potencial que nós temos? A Petrobras está no mar. Tudo bem, mas e o resto?

Desde Cabral
Desde Cabral até 2008, o Brasil furou 24 mil poços de petróleo. Nesse mesmo período, os Estados Unidos furaram 4,5 milhões. A Rússia furou no mesmo período 550 mil poços. Como se vê, falta muito coisa a fazer. Nossa área é quase do tamanho da dos Estados Unidos, mas furamos pouquíssimo.

Preço do petróleo
A tendência é de estabilidade. Sem ruído, o preço ficará estável. O mundo está consumindo entre 80 e 90 milhões de barris por dia, não mais do que isso. Mas as previsões de preço e de produção de petróleo estão sempre erradas. A questão é que se negocia diariamente cinco a seis vezes a produção do mundo. É muito difícil avaliar isso.

Acidente no Golfo
Acho que está vazando lá entre 20 e 30 mil barris por dia. A Petrobras tem muito mais experiência do que a BP na exploração em águas profundas. A exploração em águas profundas no Golfo do México está começando agora. A Petrobras, o Ibama estão lá para ver como é a situação.

domingo, 9 de maio de 2010

Descaminhos do pre-sal -- Rogerio Werneck

Nunca é tarde para se transcrever um artigo de qualidade:

Descaminhos do pré-sal
Rogério Werneck (PUC-RJ)
O Estado de S.Paulo, 26.03.2010

Os projetos do pré-sal têm agora de passar pelo Senado, onde a discussão não promete ser fácil. Na Câmara, houve um incidente grave, perfeitamente previsível, mas que não havia sido contemplado pelos grandes estrategistas da Comissão Lobão-Rousseff, que concebeu os projetos do pré-sal. Qualquer pessoa minimamente familiarizada com as tensões do federalismo fiscal brasileiro sabia que a idéia de reabrir a caixa de Pandora da distribuição de royalties, em pleno ano eleitoral, era desavisada.

Açulado o vespeiro federativo, o governo perdeu o controle da situação e deixou a Câmara aprovar uma regra de distribuição de royalties que deflagrou clima de revolta nos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo. O incidente deixou em pé de guerra não só os governadores Sérgio Cabral e Paulo Hartung, como os seis senadores dos dois Estados, todos da base governista. O que sugere que a tramitação dos projetos do pré-sal no Senado será ainda mais difícil do que o governo temia. Mas isso talvez permita que a questão do pré-sal seja afinal discutida com a seriedade que merece. E que os equívocos dos projetos do governo sejam explicitados e, quem sabe, até corrigidos em alguma medida.

A concepção de como regular e estruturar a exploração do pré-sal e repartir os ganhos envolvia um desafio de ação coletiva que deveria ter sido enfrentado num plano suprapartidário, como questão de Estado. O governo, contudo, preferiu partidarizar a questão e brandi-la como trunfo eleitoral, certo de que sua base de sustentação no Congresso lhe permitia prescindir da oposição.

O que o governo quer extrair do Senado é a aprovação de um arranjo indefensável, que concede a uma empresa com mais de 60% do capital detido por acionistas privados – a Petrobrás – o monopólio de operação nos campos do pré-sal e uma participação de pelo menos 30% em cada consórcio que vier a explorar tais campos. Alega-se que, sem tais privilégios, a Petrobrás não poderá atingir a escala necessária para cumprir a “missão” que lhe teria sido atribuída: a de desenvolver a indústria de equipamentos para o setor petrolífero no País.

O que se contempla é a formação de um grande cartório para distribuição de benesses a produtores de equipamentos, em que a Petrobrás deteria “o cofre das graças e o poder da desgraça”. Uma espécie de coronelismo industrial. Caso essa idéia prospere, pode-se imaginar o tamanho da conta. Basta ter em mente, por exemplo, que a Petrobrás está licitando nada menos que 28 sondas marítimas de perfuração de alta tecnologia e exigingo que todas elas sejam produzidas no País. Salta aos olhos que tal exigência deverá implicar enorme e injustificável encarecimento do programa de investimento no pré-sal. Parte substancial do excedente da exploração, a que o governo poderia dar destino mais nobre, será alegremente dilapidada na satisfação de fantasias acalentadas na Avenida Chile sobre as virtudes nirvânicas da autosuficiência do País na produção de equipamentos.

O pior é que um equívoco leva a outro. Desnecessariamente sobrecarregada com o monopólio da operação, a obrigação de deter 30% de cada consórcio e a “missão” de desenvolver a indústria de equipamentos, a Petrobrás teria de ser capitalizada pelo Tesouro. O aporte do Tesouro, da ordem de US$ 40 bilhões, seria feito por meio da entrega à Petrobrás, sem licitação, de reservas de 5 bilhões de barris no pré-sal pertencentes à União. Argúi-se que, feito dessa forma, o aporte não traria grande ônus ao Tesouro.

O argumento não faz sentido. Se de fato os 5 bilhões de barris valem o que se alega, o governo poderia licitá-los e obter US$ 40 bilhões. Teria então de decidir se o melhor uso que o Tesouro poderia dar aos US$ 40 bilhões seria destiná-los à capitalização da Petrobrás, para que a empresa possa arcar com os investimentos com que o próprio governo a quer desnecessariamente sobrecarregar. Não falta quem olhe em volta e consiga enxergar usos bem mais nobres para US$ 40 bilhões de dinheiro público. É disso que se trata.