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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Petrobras: politizacao da companhia prejudica negocios

A politizacao da gestão da Petrobras é claramente prejudicial ao seu desempenho como companhia de petróleo (ou de energia, se quiserem). Em todo caso, a ingerência do governo nas operações da empresa são o que de pior pode acontecer para uma empresa que trabalha num setor sensível, que envolve decisões de bilhões de dólares e reações a comportamentos do mercado, que são necessariamente mutáveis.
Para satisfazer não se sabe quais objetivos políticos -- ou se sabe, mas é melhor não dizer -- o governo interfere deliberada e diretamente no funcionamento do que deveria ser, simplesmente, uma companhia de energia...


Desempenho da Petrobras é o segundo pior do setor no ano
Peter Millard, do Rio
Valor Econômico, 14/07/2010

Petróleo: Comportamento da ação da estatal brasileira só é melhor que o dos papéis da BP, que enfrenta o pior vazamento de óleo da história americana.

A Petrobras teve o segundo pior desempenho no mundo neste ano entre as companhias de petróleo, atrás apenas da BP , por conta do receio de que o governo vai forçar a empresa a pagar mais do que os investidores esperavam originalmente pelas reservas de petróleo do pré-sal.

O valor dos 5 bilhões de barris de reservas, que o governo pretende trocar por novas ações, irá determinar o tamanho da oferta de ações da estatal planejada para este ano e pode sinalizar o quanto a administração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende aumentar do controle. Um preço mais elevado pode forçar Petrobras a vender mais ações para pagar o petróleo, diluindo os acionistas minoritários, disse Max Bueno, analista da Spinelli Corretora.

"O governo quer anunciar para a população que tem um valor justo para as reservas", afirmou Ted Harper, que ajuda a gerir US$ 6,8 bilhões na Frost Investment Advisors, de Houston, EUA, em entrevista por telefone. O adiamento da venda de ações, que ficou mais perto das eleições presidenciais de outubro, "deixa as águas completamente turvas e aumenta a politização da oferta".

A Petrobras caiu 27% no primeiro semestre, seu pior início de ano desde 1995. Isso se compara a uma queda de 47% da BP, que enfrenta dezenas de bilhões de dólares em prejuízos por causa do desastre que levou ao maior derramamento de óleo na história americana. A Exxon Mobil , o maior produtor de petróleo dos EUA, e o maior da Europa, a Royal Dutch Shell, perderam 16% e 10%, respectivamente.

A Petrobras pode precisar pagar ao governo até US$ 8 por barril das reservas, ou até US $ 40 bilhões, disseram os analistas do Credit Suisse liderados por Emerson Leite em relatório a investidores em 30 de junho. No início deste ano, o banco previu que a Petrobras pagaria de US $ 5 a US$ 6 dólares por barril, ou US$ 30 bilhões em novas ações.

Procurada, a Petrobras não quis fazer comentários sobre a venda de ações ou sobre o desempenho do papel.

Em assembleia no mês passado, os acionistas autorizaram um aumento de capital total de R$ 150 bilhões (US$ 85 bilhões), incluindo ações a serem emitidas em troca de reservas. A Petrobras disse que espera levantar até US$ 25 bilhões dos acionistas minoritários.

Em 22 de junho, a estatal adiou a oferta para setembro, o que significou também o adiamento do dinheiro necessário para bancar o plano de investimento de US$ 224 bilhões para desenvolver a maior reserva de petróleo encontrada em três décadas. A empresa afirmou que precisa aguardar a avaliação das reservas pelo governo antes da oferta pública.

"O que está assombrando as ações por semanas é esse elevado nível de intervenção política. E agora ela perdeu credibilidade entre os acionistas", após o adiamento, afirmou Christopher Palmer, que supervisiona US$ 5 bilhões como chefe de mercados emergentes na Gartmore Investment Management , em uma entrevista em Londres.

"Quantos bilhões de dólares de valor para o acionista foi destruído devido a falta de credibilidade e de comunicação?", disse.

As eleições presidenciais de outubro poderão levar o governo a colocar um preço elevado nas reservas para evitar uma "reação política", disse Leite.

O ministro das Minas e Energia, Márcio Zimmermann, disse por meio de sua assessoria de imprensa em Brasília que o governo não irá interferir no preço das reservas. O processo não vai "sofrer influência eleitoral", disse ele.

Lula e Dilma Rousseff, candidata do PT, "terão dificuldades para justificar" um valor abaixo de US$ 30 bilhões, disseram os analistas da Eurasia Group liderados por Christopher Garman, em relatório de 23 de junho. A oposição pode argumentar durante a campanha que é um "negócio de pai para filho" para a Petrobras e os investidores estrangeiros, disse.

Se o governo acrescentar um dólar "ou dois" ao preço do barril terá um efeito de "bilhões de dólares" sobre o tamanho da oferta de ações e sobre o lucro por ação, disse Eric Conrads, gerente do fundo hedge Armada Capital na Cidade do México, em uma entrevista em 25 de junho.

A Petrobras subiu 7 centavos ontem, ou 0,3%, a R$ 27,30, em São Paulo. A perda da Petrobras neste ano é a segundo pior entre as 35 maiores companhias de petróleo por valor de mercado, segundo dados compilados pela Bloomberg.

A BP teve a maior alta em 20 meses em Londres anteontem por conta da especulação de que a empresa pode ter sucesso em deter o derramamento de óleo. A BP estendeu seus ganhos ontem, subindo 2,9%, para 410,35 pence.

Petrobras planeja emitir ações suficientes na operação para permitir que o governo e os investidores minoritários mantenham as suas participações. A agência reguladora do petróleo do Brasil, a ANP, contratou a Gaffney, Cline & Associates para avaliar o quanto as reservas realmente valem.

A oferta pública e a permuta fazem parte dos planos para financiar o desenvolvimento de campos, incluindo o de Tupi, a "maior descoberta de petróleo nas Américas desde Cantarell do México em 1976". A Petrobras pode ter de gastar mais de US$ 224 bilhões depois que o derramamento de BP no Golfo do México aumentou os prêmios de seguro e os custos de perfuração em águas profundas, Bueno Spinelli disse em uma entrevista por telefone de São Paulo em 8 de julho.

A preocupação de que os custos de perfuração de águas profundas cresçam está aumentando o custo da proteção contra um descumprimento de contrato por parte da Petrobras, o maior produtor de petróleo em águas abaixo de mil pés, em relação à Petróleos Mexicanos, que não tem produção em águas profundas.

(Colaboraram Tal Barak Harif , de Nova York, Andres R. Martinez, da Cidade do México, e Maria Luiza Rabello, de Brasília)

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