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quinta-feira, 15 de julho de 2010

Contra todos os corporativismos, sobretudo os dos jornalistas

Todos os que me lêem, ou que me conhecem, sabem que eu sou virulentamente -- quase escrevo violentamente, o que não é um caso, pois sou um cidadão pacífico, só perdendo a paciência com a burrice e a desonestidade intelectual, que infelizmente são muito frequentes por aqui -- contra todos os espíritos de guilda, todas as corporações de ofício, todas as máfias sindicais e sobretudo contra TODAS as regulamentações desnecessárias, inúteis, custosas, dispensáveis.
Sou também contra todos os diplomas, inclusive diplomas de qualquer tipo mesmo para diplomata, inclusive diploma de alfabetizado ou de curso primário. Se dependesse de mim, o Instituto Rio Branco organizaria concursos para selecionar diplomatas sem qualquer exigência prévia, sequer de nacionalidade brasileira (mas aí alguém ainda vai me acusar de traidor da pátria). Se o candidato em questão sabe escrever, sabe línguas, se desempenha bem em "n" matérias consideradas requisitos essenciais para ser um bom diplomata (e aí vocês podem escolher a que quiserem, economia, literatura, culinária, whatever...), então ele pode ser um diplomata, mas eu também o submeteria a uma banca dotada de poderes para barrar malucos em geral, autistas em perticular, psicóticos em especial (acho que é o mínimo que se pode exigir de um diplomata que ele não seja um desequilibrado, desses capazes de decorar um lista telefônica, ou todo o programa do concurso, para passar "brilhantemente" por provas impessoais...).
Sou ESPECIALMENTE CONTRA diplomas e até faculdades de jornalismo, a coisa mais idiota que posso imaginar para alguém que pretenda trabalhar em jornal. Acredito que elas possam existir, pois sou pela liberdade de mercados, e existem técnicas que podem ser aprendidas, entre outras, nessas escolinhas de comunicações.
O que eu sou contra mesmo é essa exigência de diploma de jornalismo como requisito obrigatório para exercer a profissão. TODOS, inclusive um agricultor, podem ser jornalistas, sabendo escrever e tendo aptidão para aprender as tecnicalidades, o que via de regra exige apenas duas ou três semanas de redação. O resto é experiência...
Por isso me permito repetir aqui o post de um conhecido jornalista que é contra os diplomas e as reservas de mercado para jornalistas...
Paulo Roberto de Almeida

JORNALISMO REQUER APTIDÃO, TALENTO E ALGUMA TÉCNICA, QUE SE APRENDE EM DOIS MESES; EXIGÊNCIA DE DIPLOMA FERE O ARTIGO 5º DA CONSTITUIÇÃO, O MAIS IMPORTANTE DELES
Reinaldo Azevedo, 14.07.2010

Ah, o odor nauseabundo que emana do corporativismo bocó, mas muito eficaz em manter os próprios aparelhos e privilégios. No post abaixo, vocês lêem que uma comissão especial da Câmara aprovou a obrigatoriedade do diploma para jornalista. A proposta é inconstitucional. Já chego lá. Antes, algumas considerações.

O presidente da Federação Nacional dos Jornalistas, Sérgio Murilo, afirma que algumas pessoas que pediram registro de jornalista nunca pisaram numa redação. É mesmo? Se for assim, então elas já podem disputar a direção da Fenaj. Afinal, a maioria dos dirigentes sindicais não saberia a diferença entre um lead e uma touceira, não é mesmo?

À diferença do que sustentam alguns energúmenos, sou jornalista “depromado”. Até hoje, não há uma miserável coisa que eu tenha feito na minha profissão — e não posso reclamar da minha escolha — que me tenha sido dada ou ensinada pelo curso de jornalismo: NADA! ZERO! Já o curso de Letras, penso eu, foi essencial para mim — como é o de medicina, arquitetura, direito, culinária etc para outros jornalistas. Sempre destacando que há os que não cursaram coisa nenhuma e fazem um trabalho brilhante.

Jornalismo requer duas coisas, além de formação intelectual — que os cursos de jornalismo não fornecem porque passam boa parte do tempo ocupados em “desconstruir” os grandes veículos onde a meninada vai trabalhar depois… Jornalismo requer talento para a narrativa — mesmo a narrativa jornalística tem de ter noção de enredo — e um conjunto de procedimentos técnicos, alguns deles ligados à ética da profissão. É precisa de algo parecido com intuição, mas que é só questão de inteligência: saber onde está a notícia. Vale dizer: cedo ou tarde, um jornalista tem de ler A Cartuxa de Parma, de Stendhal — ou vai acabar tratando um evento histórico como buraco de rua. Quem ensina isso? A faculdade de jornalismo???

Talento, lamento!, não se ensina. No máximo, ele pode ser lapidado. Nem todo mundo tem aptidão para a pintura, a música ou a dança. Com o texto, é a mesma coisa. Há gente que não nasceu para viver da escrita — e um jornalista tem de saber escrever, o que a faculdade não ensina. A lapidação se dá no exercício. O que as faculdades têm feito, aí sim, é distorcer a profissão. As faculdades de jornalismo, com raras exceções, se transformaram em extensões do “partido”. Professores se dedicam mais a falar do “outro mundo possível” do que a ensinar como se faz um lead neste nosso muindinho imperfeito mesmo.

Qual, afinal, é o objeto de um curso de jornalismo? Economia? Política? Sociologia? Semiótica? O quê? Resposta: um pouco de tudo isso e nada disso, mas com muitas virgulas entre sujeito e predicado… Se a exigência do diploma já era, do ponto de vista democrático, estúpida, agora se tornou incompatível também com as modernas tecnologias a serviço da informação. Quem poderá impedir, sem violentar a Constituição, um veículo jornalístico de abrigar, por exemplo, um blogueiro que tenha o que dizer, seja ele jornalista “depromado” ou não? Vão plantar batatas para colher Imposto Sindical!!!

Que a Fenaj defenda essa excrescência, eis uma coisa que faz sentido. A entidade lutou arduamente pela criação do Conselho Federal de Jornalismo, que era um verdadeiro órgão de censura. Poderia até, imaginem!, cassar a licença de um jornalista. E se apresentou, espertos os caras!, para compor a primeira diretoria do órgão… O amor dessa gente pela profissão me comove. Contenho aqui uma furtiva lágrima…

Inconstitucional
Só para lembrar: o STF derrubou a exigência do diploma porque ele foi considerado incompatível com o princípio da liberdade de expressão assegurado pela Carta. No caso, tratava-se de uma lei que afrontava o dispositivo constitucional; agora, é uma emenda.

E a proposta não deixa de ser inconstitucional porque emenda — afinal, o Artigo 5º da Carta continua lá, a saber:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(…)
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
(…)
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

Com alguma ironia, observo que, freqüentemente, tenho dúvidas se o jornalismo é mesmo uma “atividade intelectual”, mas tenho a certeza de que é uma “atividade de comunicação”. E não depende de “censura ou LICENÇA”.

Fim de papo.

*PS - Se a Constituição, agora, vai abrigar regulamentação de profissão, por que só jornalismo? E as outras? O Ministério do Trabalho tem um código específico até para a prostituição, destacando os, digamos, requisitos para tal atividade. Imagino a questão tratada naquele que deve ser o nosso documento com sentido de permanência, naquela linguagem decorosa do legalismo: “O exercício das atividades intrafemurais obedece aos princípios do… Sei lá: “do contratante da mão-de-obra”? A boçalidade brasileira é ainda mais extensa do que suas praias…

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