O
maior diplomata brasileiro apresenta razões menores para suportar uma causa
duvidosa
Paulo Roberto de Almeida
Encontrei, num dos inúmeros sites
que trabalham apaixonadamente pela causa companheira, uma postagem em defesa do
voto na candidata do continuísmo, cuja introdução enaltece as qualidades
daquele que foi Secretário-Geral do Itamaraty nos primeiros sete anos do
governo Lula (deixando o governo para continuar servindo o regime em outras
posição). Nela ele é chamado de “maior diplomata brasileiro”, o que pode até
ser verdade – pelo menos nesse regime – mas não tenho condições de corroborar essa
afirmação comparativamente: deve ter outros que concorrem à mesma distinção
(ver a introdução neste link: http://www.ocafezinho.com/2014/10/15/maior-diplomata-brasileiro-enumera-razoes-para-votar-em-dilma/).
Mas isso não vem muito ao caso
agora, pois logo após esse panegírico inaugural, vem transcrita uma lista,
elaborada pelo dito maior diplomata brasileiro, contendo nada menos do que 31
razões que esse estupendo diplomata acredita que somente a sua candidata seria
capaz de atender, para fazer do Brasil um país mais desenvolvidos, mais
soberano, mais próspero, mais importante no mundo.
Como eu considero que a maior parte
dessas razões são ridiculamente generalistas, ou seja, podem ser cumpridas por
qualquer dirigente que tenha bom senso e uma boa equipe ministerial, vou
separar, portanto, aquelas que não apresentam nenhuma “vinculação genética” com
a candidata governista, daquelas que só ela, ou sua equipe partidária, seria
capaz de perpetrar, e submetê-las, então a breves comentários de minha parte.
Ainda assim cabem observações sobre
todas as supostas razões de sua lista. Resultou, dessa separação, que metade
das razões são de propostas que poderiam ser cumpridas por QUALQUER presidente
sensato, sendo que a outra metade, apresentada como contendo razões suscetíveis
de serem preenchidas apenas pela candidata oficialista, demanda uma avaliação
crítica, feita na lista B. Vejamos como se apresentaria a nova listagem
dividida em duas partes, mas com seus números originais.
Lista A: obrigações ou propostas que QUALQUER
presidente sensato seria capaz de cumprir (na redação dada pelo maior diplomata
brasileiro), sobre as quais algumas pequenas coisas ainda podem ser ditas (por
um diplomata menor):
01. para aumentar o emprego, que é a maior
preocupação de cada brasileiro, com carteira assinada; [caberia registrar que empregos produtivos são geralmente criados pela iniciativa
privada, uma vez que governos não criam riqueza, apenas distribuem a riqueza
criada pela sociedade]
02. para controlar a inflação sem prejuízo do
desenvolvimento; [parece que a candidata não foi
muito feliz em nenhum dos dois objetivos: a inflação só fez elevar-se, em seu
governo, passando inclusive do teto, e o crescimento desceu de elevador, para o
subsolo do PIB]
03. para aumentar o salário mínimo de que
depende a enorme maioria dos brasileiros; [salario mínimo
costuma provocar desemprego, ou pelo menos diminuir a empregabilidade daquela
fração da PEA que não possui qualificação técnica]
04. para garantir as conquistas dos
trabalhadores em termos de horário, férias, licença maternidade, previdência
social, aposentadoria; [meritório, mas os países mais
regulados nesses aspectos podem igualmente apresentar alto desemprego se a
produtividade não acompanha o nível de requerimentos legais]
06. para eliminar a pobreza e a indigência no
Brasil; [bem, os companheiros vem tentando fazê-lo
desde 2003 e não é seguro que consigam esse objetivo no horizonte previsível]
07. para reduzir cada vez mais a mortalidade
infantil; [parece que isso já vem sendo feito desde o
ancien régime, e vai continuar, em governos sensatos]
08. para aumentar a expectativa de vida de
todos os brasileiros; [parece que esse processo não
depende tanto de mandatos presidenciais, e sim de condições sistêmicas que vem
ocorrendo naturalmente desde muito tempo; não pode portanto ser apresentado
como favor governamental]
09. para eliminar o analfabetismo inclusive
funcional; [se poderia começar pela própria candidata, que
parece apresentar sérios problemas com as palavras]
10. para ampliar cada vez mais o número de
vagas nas escolas técnicas e nas universidades; [que bom]
11. para fortalecer a cultura brasileira em
todos os seus aspectos; [cultura patrocinada por burocratas
costuma ser da pior espécie; por que não deixar a sociedade livre para se
expressar espontaneamente?]
13. para reduzir a violência e o número de
homicídios; [no ritmo atual, vai exigir um mandato de 100
anos... e contando]
18. para defender os direitos humanos de todos
os brasileiros e combater toda a discriminação, preconceito e violência que
tenha como origem a raça, a orientação sexual, o gênero, o nível de renda, a
crença religiosa e a origem regional; [a mania de separar as
pessoas por raça e todos os outros quesitos listados acaba criando uma
sociedade fragmentada em direitos exclusivos de certas categorias, ao passo que
o cidadão comum se sente desamparado]
19. para demarcar as terras indígenas e
eliminar o desmatamento ilegal; [os indígenas já são os maiores
latifundiários os país; os antropólogos politicamente corretos do partido
companheiro e do governo idem pretende deixá-los eternamente numa redoma
protetora?]
24. para construir mais ferrovias, mais
rodovias, mais portos e aeroportos; [cabe continuar
tentando, mas pela experiência acumulada até aqui em matéria de obras públicas,
a fatura sempre vai ser três vezes maior do que o planejado, senão mais, e
ainda tem os 3% do partido companheiro]
25. para expandir o transporte urbano público e
gratuito; [só um dirigente maluco, ou que pretende
repassar a conta para todos os brasileiros, inclusive os que não usam
transporte público, poderia prometer uma irracionalidade econômica como o
transporte gratuito]
26. para fazer a reforma agrária, fortalecer a
agricultura familiar e expandir a produção e a exportação agrícola; [parece que os companheiros não gostam do agronegócio]
Lista B: obrigações ou propostas que o maior
diplomata brasileira acredita que só a sua candidata seria capaz de cumprir (na
redação dada por ele), mas sobre as quais permanecem fundadas dúvidas (daí os comentários
adicionais do diplomata menor, aqui DM: ):
05. para
expandir o programa Minha Casa, Minha Vida que atende a aspiração fundamental
da casa própria;
DM:
O programa constitui uma enorme propaganda governamental, com subsídios pouco transparentes,
num esquema que diminui a capacidade dos mercados de ajustar a oferta da
construção civil à demanda existente; só não ocorreu ainda uma bolha
imobiliária porque o governo é incompetente até para licenciar o número de
casas potencialmente no programa.
12. para
dobrar o investimento público em ciência e tecnologia;
DM:
Impossível fazê-lo, a despeito das intenções; caberia, sim, aperfeiçoar o
ambiente produtivo para estimular mais investimento privado em inovação.
14. para
fazer a reforma política, com ampla participação popular, eliminar a influência
do poder econômico e criar uma verdadeira democracia;
DM:
Quando alguém começa a falar em “verdadeira democracia” deve ser porque já tem
problemas com a democracia sem adjetivos ou condições; a reforma política dos
companheiros representaria uma deformação legal tendente a assegurar-lhes o
reforço de sua hegemonia e monopólio sobre o poder.
15. para
lutar de forma legal contra a corrupção, punindo tanto os corruptos como os
corruptores;
DM: Deve ser uma grande piada!
16. para
democratizar os meios de comunicação e garantir a possibilidade e a liberdade
de expressão para todos os brasileiros;
DM:
A palavra “democratizar’, como no vocabulário orwelliano, significa exatamente
o contrário; trata-se de uma velha obsessão companheira com o controle do que
chamam de “mídia”.
17. para
ampliar radicalmente as oportunidades de mulheres, negros e pobres em todas as
esferas da sociedade e do Estado;
DM:
O que os companheiros mais fizeram foi fragmentar a sociedade em categorias
especiais, criando várias tribos que reivindicam “direitos” específicos.
20. para
reduzir as desigualdades entre as regiões do Brasil;
DM:
Outra tarefa impossível, ou muito difícil de ser feita pelo governo, por
qualquer governo; normalmente, as regiões são adquirindo suas dinâmicas
ricardianas e se desenvolvem naturalmente de acordo com processos únicos e
exclusivos; a pretensão de moldar regiões e estruturas econômicas é própria de
engenheiros sociais, ou de regimes autoritários vocacionados para o estatismo e
o intervencionismo, duas doenças tipicamente companheiras.
21. para
fortalecer a soberania do Brasil;
DM:
Pura retórica vazia, como sempre foi feita; na prática, os companheiros
alienaram a soberania brasileira para regimes bolivarianos e em benefício de
Cuba.
22. para
promover a integração e a cooperação com os vizinhos da América do Sul e da
África;
DM:
Qualquer governo poderia fazer isso, mas no caso dos companheiros virou uma tal
de diplomacia míope orientada para o chamado Sul, uma obsessão
geográfico-ideológica que consiste em andar com uma perna só.
23. para
defender a paz, a auto determinação, a não intervenção, e a solução pacífica de
controvérsias como os princípios fundamentais da ação internacional do Brasil;
DM:
Mais retórica vazia, que na prática não se aplica; intervenção nos assuntos
internos de outros países é o mais foi praticado durante todos os anos de
diplomacia companheira, a exemplo de Honduras, Paraguai e outros casos.
27. para
alcançar a autonomia energética;
DM:
Objetivo ilusório; um país aberto ao comércio e aos investimentos vai
diversificar sua matriz energética de maneira mais eficiente do que excesso de
intervenção governamental no setor, como aliás ocorreu com etanol, com
biodiesel, petróleo, gás, nuclear, todos eles em total desequilíbrio em relação
aos dados do mercado atualmente; o Brasil exibe um custo da energia dos mais
elevados.
28. para
reconstruir a indústria brasileira;
DM:
Bem, até agora o que ocorreu foi uma destruição pouco reconstrutora; duvidoso
que se consiga fazer coisa melhor; aqui existe apenas um artigo de fé.
29. para
tornar o sistema tributário mais justo e menos concentrador de riqueza;
DM:
Mas, se era essa a intenção, por que nada se fez em 12 anos; nesse período, a
carga fiscal aumentou 4 pontos do PIB e só uma quarta parte disso foi para as
chamadas camadas mais modestas; o resto foi para quem já é rico.
30. para
reduzir as taxas de juros e democratizar o credito;
DM:
Os juros estão mais altos agora do que no início do governo, e os consumidores
muito mais endividados.
31. para
realizar uma Olimpíada ainda melhor do que a Copa.
DM:
Deve ser outra piada...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 18 de outubro de 2014.