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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

O papel das religioes no progresso civilizatorio (se existe...) - Paulo Roberto de Almeida

Um texto da mesma época do debate sobre os cartoons dinamarqueses. Não reivindico nenhum conhecimento especializado sobre as religiões em geral, e sobre algumas religiões em particular. O que escrevi reflete meu próprio pensamento, num determinado momento. Estou aberto ao debate e ao confronto de ideias...
Paulo Roberto de Almeida
Hartford, 7 de janeiro de 2015

12 FEVEREIRO 2006

218) Sobre a intolerância


Religiões são construções humanas, profundamente humanas (no sentido social ou “societal”, da palavra). Elas podem ter sido elaboradas por algum “profeta” individual, mas são mais exatamente uma construção envolvendo mais de um ator. Como resultado de seu processo de “fabricação”, elas guardam íntima relação com os valores e as crenças normalmente partilhados por uma dada sociedade num determinado momento histórico. 
Este é o caso das grandes religiões modernas – cristianismo, islamismo, budismo –, criadas entre os últimos séculos da antiguidade (inclusive o judaismo moderno) e os primeiros séculos da “era Cristã” (não há como evitar, aqui, o padrão universal de contagem do tempo, criado pelo cristianismo, uma das mais poderosas forças sociais de todo o mundo). Excluo das presentes considerações o hinduismo, que não se tornou tão “universal” como as duas grandes religiões concorrentes, o cristianismo e o islamismo.
Todas as grandes religiões apresentam “benfeitorias”, do ponto de vista da “ideologia” e da “vida social” de uma certa época, sem o que elas não teriam tido sucesso e se disseminado de modo tão amplo. Nem todas essas benfeitorias representam, contudo, progresso absoluto do ponto de vista dos direitos humanos e dos direitos da mulher, mais especificamente, se é possível aceitar o conceito de “progresso” num sentido lato (não parece haver progresso moral da humanidade, stricto senso, como uma interpretação estritamente darwinista da vida social poderia deixar entender).
O judaismo, por exemplo, ao ressaltar os valores da vida humana, da igualdade entre os seres, da submissão a um conjunto de regras para a conduta em sociedade – como evidenciado na lei mosaica –, representou um progresso em relação às religiões de cunho vingativo então existentes. O cristianismo, por sua vez, enfatizou a fraternidade dos homens, ao amor ao próximo, o perdão e a caridade como “benfeitorias” que muito fizeram para elevar o padrão moral da humanidade. Da mesma forma, o budismo trouxe o respeito à vida humana, ou melhor, a qualquer forma de vida a um patamar certamente elevado, enfatizando, como o cristianismo, o respeito a todo ser humano, como pincípio universalmente válido. Essas três religiões me parecem assumir plenamente a tolerância como regra de conduta válida na vida social, mesmo se variantes “fundamentalistas” do cristianismo militante (“evangelizador”, ou de “conversão”) tenham conspurcado a mensagem cristã da aceitação das opiniões de terceiros. 
Em momentos diversos de suas trajetórias históricas, as sociedades que abrigaram essas três grandes religiões com vocação “universalista” passaram por processos reais de secularização e de laicização que diminuiram em muito o papel da religião (e da liturgia, isto é a forma organizada e talvez “burocratizada” da religião) na organização da vida social, na socialização das pessoas, na condução da vida diária. A religião passou à esfera do privado e a vida política e social passou a ser organizada em bases legais e racionais. Este “caminho weberiano” não parece ter sido experimentado, ainda, pelo islamismo, que permanece como um “bloco” indivisível e praticamente impermeável a variações interpretativas. Não houve, como na história do cristianismo, por exemplo, nenhuma divisão entre escolas dotadas de liturgias diferentes (como ocorreu, primeiro, com a cisão entre ortodoxia e catolicismo, depois com a divisão deste na reforma protestante). 
O islamismo “penetra” e domina a vida individual como nenhuma outra religião de vocação universalista o faz. Ele comanda uma submissão total, ocupando não apenas os espaços da vida familiar e social, mas também, em grande medida, os campos político e econômico. Mesmo sociedades islâmicas contemporâneas que passaram por processos de relativa secularização ressentem uma enorme pressão para a aplicação da sharia, isto é, a lei costumeira dos tempos do profeta, cujos princípios parecem ser mais vingativos do que propriamente retributivos.
Essa submissão não se submete, ela mesma, ao crivo da razão, isto é, ao trabalho exegético, eventualmente contestador, que caracteriza o cristianismo como um todo. A “profissão” de teólogo, ou intérprete dos preceitos “divinos” – típica dos povos da Bíblia – praticamente inexiste no islamismo, que abriga apenas “conhecedores” da palavra do profeta. Não há propriamente um “diálogo” com deus, ou com seus “intérpretes oficiais”, uma vez que o que está escrito no livro sagrado é considerado como a própria palavra de deus, insuscetível, portanto, de interpretações ou de “aperfeiçoamentos”. 
A característica mais importante a separar essas religiões, porém, não é apenas a capacidade de interpretar a palavra divina, e sim a faculdade de contestá-la. É possível, dentro da religião cristã, contestar a palavra de Deus, o que pode levar, no máximo, à excomunhão do “incréu”, o que em outros tempos poderia resultar na fogueira. O fato histórico é que essas sociedades evoluiram ao ponto de abolir a condenação da pregação anti-religiosa. É possível ser ateu, iconoclasta, blasfemo militante e até mesmo apóstata, sem incorrer nas iras da lei ou no castigo da instituição religiosa. É possível abandonar ou trocar de religião, sem ter de temer acusação de apostasia ou de crime contra a religião.
Nada disso é possível na religião islâmica: viver à margem ou contra a religião é extremamente perigoso, proclamar publicamente apostasia ou blasfêmia constitui um grave crime contra a religião do profeta, passível da pena de morte. Mas é possível, publicamente, em terras do Islã, repudiar a religião cristã, ou qualquer outra, que não a do profeta. É possível, à esposa não muçulmana de um verdadeiro “crente”, conservar a sua fé, mas ela não poderá educar os seus filhos senão na religião do profeta. 
Trata-se de um verdadeiro “imperialismo” da religião, que assume aspectos por vezes trágico na vida individual ou no relacionamento com pessoas de outros credos. O assunto das charges dinamarquesas, no início de fevereiro de 2006, revelou, por outro lado, todo o potencial de conflito embutido numa religião que pode ser utilizada para fins de mobilização popular. O que esta questão revela é, sobretudo, a intolerância total em relação a “contestações” do sentimento religioso dos seguidores do profeta: mesmo os incréus são passíveis da “pena de morte”, na interpretação dos verdadeiros crentes. 
Não se trata, aqui, de um “conflito entre civilizações”, como muitos proclamam, mas simplesmente de um conflito entre “religião” e “sociedade”, ou seja, de uma dada configuração da estrutura mental das sociedades islâmicas, que as impede de conciliar, ou mais propriamente de separar, manifestações de pensamento e expressões da crença. Não há fissura entre ambas, daí o totalitarismo da palavra se convertendo em totalitarismo da ação. 
Isso se chama intolerância. Ela constitui, no meu modo de ver, uma das mais poderosas barreiras ao necessário processo de “aggiornamento” do islamismo, sem o qual ele será incapaz de juntar às correntes modernas de produção científica e intelectual, ou de oferecer um terreno seguro para o desenvolvimento de formas de organização políticas mais democráticas e abertas à inovação e à criatividade individuais. Essa é uma batalha que vai separar profundamente o islamismo, mas que terá de ser travada algum dia.


Brasília, 12 de fevereiro de 2006

P.S.: Remeto, igualmente, a meu artigo “Tradicionalismo e modernização nas sociedades islâmicas: uma impossível transição entre o fundamentalismo e a tolerância?”, Espaço Acadêmico(Ano I, nº 6, novembro de 2001;http://www.espacoacademico.com.br/06almeida_isla.htm).

domingo, 16 de março de 2014

Ateismo, agnosticismo e irreligiosidade: um agnostico indiano-americano-- S. T. Joshi

Pessoalmente, não me defino como ateu, ainda que no passado tenha tido essa pretensão. As religiões são manifestações culturais das sociedades humanas que existem desde tempos recuados e que continuarão existindo por força da natureza do ser humano: como não temos todas as explicações científicas sobre o sentido da vida, e da nossa própria existência, as pessoas necessitam apelar a crenças sem muita fundamentação lógica, e sem qualquer embasamento empírico, para se sentirem um pouco mais confortadas, mais seguras psicologicamente.
Religiões podem ser boas coisas, no plano individual, e no plano social. Elas também evoluem, e já ultrapassamos há muito tempo aquelas religiões absolutamente cruéis com os seres humanos -- exigindo sacrifícios humanos, por exemplo, ou baseadas numa versão elementar da lei do talião, do olho por olho -- para religiões mais tolerantes, mais compassivas, enfim, mais humanas.
Algumas o foram desde as origens, como o judaísmo, por exemplo -- em que pese a lei do talião, justamente, mas que não é mais aplicada há muito tempo, e não acredito que venha a ser -- que representou um enorme progresso para o seu povo, e explica, em grande medida o imenso contributo positivo que os judeus ofereceram à humanidade -- em criações, inovações, descobertas, melhorias de todos os tipos, evidenciadas nos prêmios Nobel -- em total desproporção com a participação insignificante da população judia no conjunto da humanidade.
O cristianismo, e também o budismo, representaram imensos progressos para a vida dos povos, com suas mensagens humanistas, de respeito pela vida, de fraternidade, de amor ao próximo (descontando as fases guerreiras do cristianismo, não pela doutrina, mas pela ação de alguns fundamentalistas).
Eu não diria o mesmo do islamismo, ainda que seus seguidores insistam em afirmar seu caráter pacífico, o que absolutamente não é verdade. Uma religião que consolidou a opressão da mulher -- que já existia -- não pode ser positiva para metade da humanidade.
Mas, sem fundamentalismos, considero a maior parte das religiões coisas boas, pois não temos nada melhor para colocar no lugar. A ciência ainda é um terreno reservado para uma proporção ínfima dos seres humanos, e não traz certos confortos espirituais -- ao contrário, incita dúvidas e angústias -- que as pessoas necessitam.
Por isso considero contraproducente esse ativismo ateístico de certos cientistas -- Richard Dawkins, por exemplo -- ou de certos jornalistas, como o finado Christopher Hitchens.
E por isso mesmo, não me considero um ateu, mas simplesmente um irreligioso. Não me peçam para definir. Apenas digo que para mim não existe um problema religioso, apenas um objeto de estudo, como vários outros.
Paulo Roberto de Almeida




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SEATTLE — The atheist writer S. T. Joshi, 55, born in India, raised in Indiana and now living in Seattle, has written or edited more than 200 books, including a novel of detective fiction, a bibliography of writings about Gore Vidal and numerous works about H. L. Mencken.

He edits four periodicals, including Lovecraft Annual, the major review of scholarship about the horror writer H. P. Lovecraft; The American Rationalist, a journal for unbelievers; and The Weird Fiction Review, which is what it sounds like. He once spent years scanning into his computer — and typing what could not be scanned — every word ever written by Ambrose Bierce, about six million total.
And this month Mr. Joshi got a call from a friend who works for Barnes & Noble, asking if he could edit a new edition of “The King in Yellow,” the 1895 collection of supernatural stories by Robert W. Chambers. It seems that the book was a major inspiration for “True Detective,” the popular HBO series. “I am one of maybe three people in the world who knows anything about Robert W. Chambers,” Mr. Joshi said, by way of explanation. His new edition will be out in April.
One of the strange, wonderful facts about many atheists is their eccentricity and intellectual omnivorousness. Christopher Hitchens, author of “God Is Not Great: How Religion Poisons Everything” (2007), was a literary critic, a journalist in several war zones and a biographer of George Orwell. Sam Harris, who wrote “The End of Faith” (2004), also writes about free will and about lying; his next book promises to expand on his case for psychedelic drugs. Several professional magicians, like James Randi and the illusionists Penn and Teller, work to promote atheism on the side.
Perhaps because many academic philosophers take atheism to be a given, the only common-sense position, it is left to these quirky, freelance amateurs, with their large cabinets of obsessions, to make the public case against God. And none of them seems to be as quirky, or as obsessive, as Mr. Joshi. On Thursday, he held forth at his kitchen table about the ingredients that went into his own intellectual stew. It began, he said, with his father, an economist.
“My father insisted that I and my sisters not be indoctrinated into any religion at any age,” Mr. Joshi said, as his three cats padded quietly about. “We were allowed to investigate the matter for ourselves if we felt like it. My mother to this day is a devout Hindu — believes in reincarnation, the whole bit — but has never forced that down anybody’s throat. You might say I was a passive atheist through my teenage years.”
As a teenager, Mr. Joshi discovered Lovecraft, the American author who died young and largely unknown in 1937, but who was beginning to win a posthumous fame. “Initially I discovered him as a great writer of horror stores,” Mr. Joshi said. “But it turns out Lovecraft wrote thousands of letters, to friends and whoever, in which he expressed a forthright and vigorous atheism.”
Mr. Joshi began to read those letters, widely available for the first time. “He never published much on the subject, and he had no reputation in his day anyway, had no influence,” Mr. Joshi said. “But these letters started getting published in the 1960s, and I read them even in high school.”
Mr. Joshi attended Brown University for its collection of Lovecraft papers, and he majored in classics — the better to understand Lovecraft, who adored Latin. Reading classics exposed Mr. Joshi to thinkers like Epicurus, whose teachings about the finality of death continue to inspire contemporary atheists. After graduation, Mr. Joshi worked at Chelsea House, a small publisher then in New York, but in 1995, with some financial help from his mother, he set out as a freelance writer. He moved to Seattle to be with his wife at the time, and he now lives with his fiancée, whom he met online, on Match.com. They plan to marry in July.
Mr. Joshi does not teach, and he rarely lectures. For money, he writes. He keeps to a rigorous schedule, working every day from about 9 to 5, scheduling periodic breaks for refreshment. “I am sort of a tea addict,” he said. “I structure my day by cups of tea. If you don’t enforce that kind of discipline as a freelancer, you won’t get anything done.”
In 2000, after years writing about and editing Lovecraft and other “weird fiction,” Mr. Joshi published “Atheism: A Reader.” It was his first book with Prometheus, the major free-thought publisher, and it began a fruitful relationship that has led to many more books, including what is probably the best resource on agnosticism, the belief that one cannot know if there is a God or not.
It was his editors at Prometheus who suggested “The Agnostic Reader” (2007). At first, Mr. Joshi was skeptical — even as he said yes to the contract. “I was not certain what material was out there,” he said. “I may have had a prejudice against agnosticism as a body of thought: sort of a fence-sitting theory, where you can’t make up your mind one way or another.”
But when he read up on agnosticism, he liked what he found: “You go back to T. H. Huxley, who coined the term, what he said — and I came to believe he is right — is that agnosticism asserts not only that he himself didn’t know if there was a God or not, but that nobody could know. Fundamentally, I think he’s right about that.”
Mr. Joshi said that he did not see any natural crossover between his fiction interests and his writings. But a quick perusal of “The Agnostic Reader” makes the case for some durable linkage. Among the authors Mr. Joshi pulled together were Isaac Asimov, the great science fiction author; Leslie Stephen, George Eliot’s biographer (and Virginia Woolf’s father); and a Joshi favorite, Mencken.
The Mencken excerpt that Joshi chose quotes a letter from a young Jewish man toying with unbelief, who wishes to know what he should do. “I advise him to give his new skepticism six months’ trial,” Mencken writes. “If, at the end of that time, he finds that its effects upon him are still indistinguishable from those of a bad case of cholera morbus, I advise him to go to the nearest Orthodox rabbi, tell his troubles, pay his fine (if fines are levied in such cases), and reconcile himself to the faith of his fathers.”
Which, of course, is precisely what Mr. Joshi, as the young son of an atheist economist, did for himself.

sábado, 29 de dezembro de 2012

As religioes do mundo - The Economist

Daily chart

Faiths and the faithless

The Economist, Dec 18th 2012, 14:45 by Economist.com


The world's religious make-up
RELIABLE data on the age and whereabouts of the religious and irreligious are hard to come by, which makes a new report on the topic from the Pew Research Centre welcome. Among its many findings is that Jews and Buddhists make the biggest religious minorities, in the sense of living in a country where another religion is dominant. Asia has by far the largest number of people who claim not to believe in any religion, something that is explained by China's official godlessness. Despite this, though, China has the world's seventh-largest Christian population, estimated at 68m. The report also contains data on people who call themselves religious but do not adhere to any of the Abrahamic religions, Hinduism or Buddhism. Here again Asia is dominant, largely thanks to the popularity of Shintoism in Japan.

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