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Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

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domingo, 1 de abril de 2018

Africa cria a sua primeira area de livre comercio: boa sorte...

Em 1960, quase todos os países da América Latina assinaram o primeiro tratado de Montevidéu, criando uma "Associação Latino-Americana de Livre Comércio" (Alalc), que deveria administrar a futura área de livre comércio continental. Não resultou, e em 1970 prorrogaram o prazo por mais dez anos. Não adiantou. Em 1980, assinaram o segundo tratado de Montevidéu, criando a Aladi, no nome mais ambicioso (de Integração), mas na prática uma simples zona de preferência tarifária. Também não adiantou, e continuou uma zona... Alguém pode dizer que a AL constitui hoje um espaço econômico integrado? Em todo caso, desejamos melhor sorte aos africanos...
Paulo Roberto de Almeida

http://opiniaoenoticia.com.br/economia/africa-negocia-pacto-historico-de-livre-comercio/

África negocia pacto histórico de livre comércio


No total, 44 países africanos participam do tratado. Porém, as maiores economias do continente, Nigéria e África do Sul, estão fora do pacto.

Pacto elimina tarifas impostas em 90% dos produtos comercializados (Foto: Twitter/African Union) 
Em 21 de março, 44 líderes de diferentes países africanos se reuniram em Kigali, capital de Ruanda, para assinar um documento que cria a Área de Livre Comércio Continental Africana (CFTA, na sigla em inglês).
É a primeira vez que um tratado de livre comércio envolve tantos líderes desde a criação da Organização Mundial do Comércio, em 1955. O pacto elimina tarifas impostas em 90% dos produtos comercializados, liberaliza serviços e reduz barreiras não tarifárias.
Uma segunda rodada de negociações sobre o tratado está prevista para o final deste ano, e terá como foco investimentos, concorrência e direitos sobre a propriedade intelectual. Entusiastas afirmam que o tratado vai unir o fragmentado mercado africano, estimular a industrialização e abrir novos postos de trabalho.
Porém, 11 países africanos – que juntos representam 37% do PIB do continente – optaram por ficar de fora do pacto. Entre eles, Nigéria e África do Sul, as maiores economias da África. Tal decisão leva à seguinte pergunta: por quê?
Para a África do Sul, o principal problema é o fato de o acordo ainda estar incompleto. As negociações começaram apenas em 2015 e os países participantes ainda não decidiram que bens terão as tarifas isentas. Outros anexos cruciais do tratado também não estão finalizados. Tal fato desestimula a entrada da África do Sul no acordo.
O caso da Nigéria é mais complicado. O país sediou o fórum de negociação do tratado e planeja ser sede do secretariado da CFTA. O Conselho Federal Executivo da Nigéria aprovou a assinatura do acordo. Porém, o presidente nigeriano Muhammadu Buhari cancelou seu voo para Kigali no último minuto. Haverá eleições no país no próximo ano e Buhari será candidato à reeleição. Logo, ele pretende manter os grupos de interesse poderosos a seu lado. Os sindicatos, por exemplo, classificam o tratado como uma “iniciativa radioativa de política neoliberal”.
Porém, o principal ponto de discórdia na Nigéria está na falta de entendimento em torno do tratado. Chiedu Osakwe, chefe dos Negócios do governo nigeriano, afirma que muitas das preocupações em relação ao acordo provêm do impulso anti-globalização observado no mundo nos últimos anos. Ele acredita que, com o tempo, a Nigéria retornará à mesa de negociação do tratado.


sábado, 28 de maio de 2016

Mercosul: de uniao aduaneira a zona de livre comercio? - Argentina recomenda prudencia

A pior coisa que pode acontecer na política externa de um país é ter de fazê-la por meio da imprensa, ou, então, pretender mudar determinados compromissos -- bilaterais, regionais, multilaterais -- anunciando antecipadamente sua intenção, sem antes ter "combinado com os russos", como diria Garrincha a propósito das táticas do técnico Vicente Feola sobre como ganhar a Copa do Mundo.
Em diplomacia ocorre mais ou menos o mesmo: antes de anunciar qualquer coisa, cabe perguntar a opinião da outra parte, e isso da maneira mais discreta possível. Claro, a outra parte também não pode ficar alardeando pela imprensa o que foi dito numa reunião fechada, dedicada a discussão de ideias, dedicada apenas a fazer consultas prévias.
Volto a repetir: a pior forma de fazer diplomacia é por meio da imprensa. Não que eu seja contra a imprensa, mas sou sim contra a transparência idiota que se imprime a simples ideias preliminares que ainda não amadureceram, e que ficam vagando de um lado para o outro, ao sabor de outras idiotices que vão passar a ser repetidas por gente que não entende do assunto.
Acho que fui claro...
Paulo Roberto de Almeida

Argentina pidió prudencia ante propuesta de Brasil de cambiar el modelo del Mercosur
LA CANCILLER, SUSANA MALCORRA, CONSIDERÓ PERJUDICIAL UN CAMBIO DE MODELO EN MEDIO DE NEGOCIACIONES CON LA UNIÓN EUROPEA. EXPLICÓ QUE ARGENTINA “ESTÁ DISPUESTA Y FLEXIBLE A EVALUAR ALTERNATIVAS” PARA FLEXIBILIZAR EL ESQUEMA DE INTEGRACIÓN DEL MERCOSUR PERO “CON LA PRUDENCIA.


Telam, 27/05/2016

La canciller Susana Malcorra pidió prudencia ante el planteo del gobierno interino de Brasil de llevar el Mercosur hacia una mera zona de libre comercio y consideró perjudicial un cambio de modelo en medio de negociaciones con la Unión Europea.

La ministra explicó que Argentina “está dispuesta y flexible a evaluar alternativas” para flexibilizar el esquema de integración del Mercosur pero “con la prudencia del caso porque no se puede estar cambiando de modelos de un momento a otro”.

Malcorra confirmó que el canciller brasileño José Serra, en su primera visita oficial, el pasado lunes, planteó la idea de eliminar a largo plazo el estatus de unión aduanera del Mercosur y dejar al bloque solo con el formato de zona de libre comercio, lo que implicaría retrotraer el grado de integración económica.

El Mercosur fue creado como zona de libre comercio por el Tratado de Asunción de 1991, en el que se estableció un cronograma de desgravación en cinco años, y como unión aduanera mediante el esquema de Arancel Externo Común (AEC), varias veces flexibilizado frente a las variadas crisis económicas de los socios del bloque.

“Es factible mover el modelo que tenemos a uno más flexible, pero también es cierto que el valor de un mercado común hay que tenerlo como contrapeso de cualquier alternativa que uno decida adoptar”, indicó Malcorra en conferencia de prensa brindada en el Palacio San Martín al ser consultada sobre la propuesta de Serra.

Al respecto, relevó que uno de los grandes problemas de la región son los “bandazos de acá para allá sin solución de continuidad” en un mundo en el que “cambiar constantemente no es algo que se aprecie en las relaciones internacionales”.

“Cuando el canciller Serra planteó esta cuestión le dijimos que estamos dispuestos a pensarlo pero hay que ser evolutivos, sobre todo a la luz de que estamos ahora negociando con este modelo con la Unión Europea”, tras años de estancamiento de estas negociaciones para un acuerdo de asociación birregional que incluya el libre comercio.

En cambio, la jefa de la diplomacia argentina ponderó que “hay otras opciones para flexibilizar el modelo del Mercosur”, entre ellas cláusulas que permitan a los miembros negociar de manera unilateral acuerdos de comercio con otros países por fuera del bloque, como la que está en vigencia para el caso de México y que permitió que Uruguay tenga un TLC con ese país.

Además, resaltó la voluntad del bloque de “abrir caminos” con la Alianza del Pacífico, conformada por Chile, México, Colombia y Perú.

“Así que hay opciones para avanzar en un esquema más flexible sin desarmar” el actual modelo de integración, que si bien se “quedó corto con las aspiraciones” con las que fue creado, también “avanzó muchísimo”, por lo que “tenemos que ser cuidadosos de no apresurarnos sin estar seguros que estamos construyendo sobre valor”, insistió.

Por otra parte, Malcorra coincidió con su par uruguayo Rodolfo Nin Novoa que calificó de “decepcionantes” las propuestas intercambiadas hace dos semana en Bruselas por el Mercosur y la Unión Europea en el marco de las negociaciones para un acuerdo de asociación que incluya el libre comercio.

“Compartimos lo decepcionante del intercambio de ofertas, pero no es algo sorpresivo. La Unión europea tampoco está satisfecha con nuestra oferta y nosotros dijimos incluso antes del intercambio que íbamos a estar cortos en cuanto a las expectativas de ambas partes”, precisó.

No obstante, la canciller resaltó que lo fundamental es esta etapa de la negociación “era que se intercambiaran las ofertas”, ya que “solo se puede hacer algo mejor a partir de tener noción exacta de dónde está parado el otro”.

“Ahora tenemos que construir sobre la decisión política de haber hecho el intercambio y de ir más allá de la suma cero”, para “ver cómo se amplían las oportunidades para las dos partes en lugar de estar concentrados en los problemas”, entre ellos el capítulo de la agroindustria, y “tener una discusión más positiva hacia adelante”, opinó.

Las ofertas están en análisis de los equipos técnicos de ambas partes y, en el caso del Mercosur, habrá una primera ronda de evaluación intrabloque en junio en Montevideo.

Por último, la canciller descartó que la situación de crisis en Brasil afecte las negociaciones con otros bloques, por ser estas un proceso de largo plazo entre estados y, por ende, destinado a “ir más allá de cualquier situación puntual interna que se dé en el Mercosur o en la Unión Europea”.

“La negociación no tendría que tener ningún impacto porque los cuatro países involucrados estamos en una visión común. Además, estas negociaciones van a llevar un tiempo y van a trascender cualquier situación de crisis de corto plazo que pueda haber en alguno de los miembros”, insistió la canciller.

http://www.telam.com.ar/notas/201605/149152-susana-malcorra-cancilleria-argentina-planteo-brasil-mercosur.html

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

ZLC EUA-UE? (desculpem as letras, mas e' simples...)

Zona de Livre-Comércio entre os Estados Unidos e a União Europeia, tal como confirmada pelo discurso sobre o State of the Union do presidente Obama na noite de ontem (12/02/2013), seria a maior ZLC do mundo, mas é um acordo complicado de sair, não necessariamente por causa de tarifas altas ou protecionismo setorial, mas por causa das muitas regras específicas que regulam determinados fluxos comerciais ou de serviços, as obsessões europeias com trasnsgênicos, por exemplo, ou as preocupações americanas com propriedade intelectual e coisas do gênero. Acho que vai ser complicado, mas se sair vai ser estupendo.
Escrevi um artigo sobre isto, que deve estar sendo publicado nos próximos dias, e postarei aqui quando o for, num jornal eletrônico de nome bizarro, e que atente pelo título de O Debatedouro (enfim, tudo é possível).
Por enquanto fiquem com a visão dos congressistas americanos sobre o assunto.
Paulo Roberto de Almeida

Baucus, Hatch Outline Priorities for Potential U.S.-EU Trade Agreement

Access for U.S. Agriculture Exports, Strong Intellectual Property Protection and Dispute Settlement among Finance Leaders’ Priorities
Washington, DC – Senate Finance Committee Chairman Max Baucus (D-Mont.) and Ranking Member Orrin Hatch (R-Utah) today laid out their priorities to United States Trade Representative (USTR) Ron Kirk for a potential free trade agreement (FTA) between the U.S. and European Union (EU). In their letter to Ambassador Kirk, the senators set high-standard expectations for any FTA.

“A comprehensive U.S.-EU FTA, negotiated and implemented with the highest standards, would have a multiplier effect and would be certain to generate much needed economic growth on both sides of the Atlantic,” the Finance leaders wrote. “There is no doubt that a U.S.-EU FTA is an enticing opportunity. While there is much promise in the U.S.-European Union relationship, there are remaining barriers to free and fair trade that are long-standing and difficult to overcome.”
The senators identified several priorities ahead of any negotiation process, including:
Access for U.S. agricultural exports like beef and pork.Strong intellectual property protection. Access for U.S. services exports. Regulatory compliance. A mechanism for dispute settlement.
They also wrote that they intend to push for renewal of Trade Promotion Authority (TPA), saying it will enable the consideration and completion of a successful U.S.-EU FTA. TPA expired in 2007.
The Finance Committee has jurisdiction over international trade.
The full text of the letter is below:
February 12, 2013
Ambassador Ron Kirk
United States Trade Representative
Office of the United States Trade Representative
600 17th Street NW
Washington, DC 20508

Dear Ambassador Kirk:
As you explore the possibility of entering into negotiations towards a free trade agreement (FTA) with the European Union (EU), we believe it is important to outline our expectations regarding the outcome of any such negotiations.
There is no doubt that a U.S.-EU FTA is an enticing opportunity. As the administration has noted, “transatlantic trade and investment constitutes the largest economic relationship in the world, creating jobs, increasing economic growth, and driving competitiveness on both sides of the Atlantic.” A comprehensive U.S.-EU FTA, negotiated and implemented with the highest standards, would have a multiplier effect and would be certain to generate much needed economic growth on both sides of the Atlantic.
While there is much promise in the relationship, there are remaining barriers to free and fair trade that are long-standing and difficult. While not a complete list, we have outlined below several elements that a successful negotiation must address.
Broad bipartisan Congressional support for expanding trade with the EU depends, in large part, on lowering trade barriers for American agricultural products. This means increased agricultural market access and firm commitments to base sanitary and phytosanitary measures on sound science. The EU has historically imposed sanitary and phytosanitary measures that act as significant barriers to U.S.-EU trade, including the EU’s restrictions on genetically engineered crops, a ban on the use of hormones in cattle, restrictions on pathogen reduction treatments in poultry, pork and beef, unscientific restrictions on the use of safe feed additives such as ractopamine in beef and pork, and other barriers to trade affecting a significant portion of U.S. agricultural exports. While we recognize the positive steps the EU has recently taken with respect to imports of beef washed with lactic acid and with respect to swine, there is still much work to be done. We urge you to resolve these and other unwarranted agricultural barriers as part of the FTA negotiations on both an individual and a systemic basis.
Congressional support will also require strong intellectual property protection. According to the U.S. Department of Commerce, intellectual property intensive industries support at least 40 million jobs and contribute more than $5.06 trillion dollars to, or nearly 34.8 percent of, U.S. gross domestic product. Intellectual property is America’s competitive advantage, underpinning a wide range of industries including manufacturing, food processing, information and communications technology, entertainment, biotech, pharmaceuticals and financial services. It is imperative that U.S. trade agreements protect U.S. innovation and allow our innovative industries to compete in global markets.
As the U.S. and EU are the two most innovative economies in the world, any successful agreement between us must promote the highest standards of intellectual property protection. While we recognize that intellectual property protection in the EU is generally of a high standard, there are certainly areas where improvement is needed and must be achieved. It is also critical that the United States strongly promote the interests of U.S. businesses, farmers, ranchers, and workers with respect to EU policies, including geographical indications, that impede their ability to compete. In addition, the agreement must meaningfully address EU measures that undermine the value of intellectual property protection, including with respect to pricing and reimbursement and regulatory transparency. Finally, it is essential to ensure that any outcome of this agreement does not undermine the ability of the United States to achieve high levels of IP protection in other negotiations and other foreign markets.
Regulatory compliance is an enormous driver of cost and inefficiency for U.S. exporters of goods and services across the globe. There would no doubt be enormous benefits to be gained from increased regulatory harmonization between the U.S. and the EU, especially as both have highly developed regulatory systems in place. However, any efforts towards these ends must not weaken regulatory commitments, such as through adoption of the so-called precautionary principle. Therefore, a high standard U.S.-EU FTA will necessarily promote greater openness and transparency in regulatory processes, prohibit practices that discriminate or create non-tariff barriers to U.S. exports, and promote acceptance of the full-range of international standards.
A U.S.-EU FTA agreement should lead the way in defining a 21st century FTA that establishes comprehensive market access by eliminating or significantly reducing tariffs without regard to product category. A high-standard agreement will provide similarly comprehensive market access and national treatment for services.
Of course, it is vital that there be a mechanism to settle any disputes which may arise under a U.S.-EU FTA. In order to be more than a paper tiger, any such dispute mechanism must contain strong and binding enforcement provisions.
A high-standard, comprehensive, U.S.-EU FTA could serve to reinvigorate the global trade agenda, setting the standard for all FTAs to follow. While there are numerous challenges to be addressed, it is our hope that the framework we have outlined above provides useful guidance as you negotiate the path forward.
Finally, as you know, Trade Promotion Authority expired in 2007. We believe its renewal will enable completion and consideration of a successful U.S.-EU FTA. Therefore, we intend to intensify efforts to ensure prompt consideration and renewal of Trade Promotion Authority. It is our hope and expectation that the Administration will join us in these efforts.
Sincerely,
Max Baucus
Chairman
Orrin G. Hatch
Ranking Member

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Mercosul: uma simples zona de livre comercio? - Daboberto Lima Godoy


Marcha a ré no Mercosul
Dagoberto Lima Godoy*
Zero Hora, 15/08/2012

Se havia ainda quem acreditasse no Mercosul, a manobra empregada para permitir o ingresso da Venezuela foi a pá de cal na credibilidade porventura restante. Concordo com o que ouvi (em caráter reservado) de um amigo embaixador, com larga vivência no assunto: a grotesca suspensão política do Paraguai, sem qualquer base jurídica, acentuou o "bolivarianismo" que já vinha alterando o cunho essencialmente econômico e comercial da concepção inicial do bloco.
Nada a opor ao objetivo de buscar a estabilidade política, econômica e social da região, como determina a nossa Constituição. O que se critica é a pretensão de perseguir esse propósito por meio de organismos multilaterais, às vezes a reboque de iniciativas de outros (leia-se Chávez, Kirchner etc.), arriscando colocar o Brasil numa camisa de força insuportável. O fato de sermos a maior economia do grupo não deveria levar o nosso governo a excessos de autoconfiança e de pretensões de poder, a ponto de conduzir o país a uma posição complicada, tal como a que a Alemanha assumiu (possivelmente, não sem arrependimento), na União Europeia. O solidarismo econômico é perigoso quando aplicado a países que não atendem às exigências dos protocolos de adesão (o que, no caso, já acontece com a Venezuela, se levada a sério a "cláusula democrática", adotada em 1996).
Como união aduaneira, o Mercosul já vem fazendo água, com a sua Tarifa Externa Comum (TEC) crivada de exceções, impostas pelos atuais membros, em geral, preocupados em proteger os seus setores menos competitivos. Ora, basta examinar as economias dos novos sócios para prever as dificuldades que enfrentarão para a adoção da TEC atual (a começar pela Venezuela, cuja condição de país importador, somada à perda de competitividade decorrente da escalada de "nacionalizações", terá muito pouco interesse nessa adoção).
O senso comum ensina que, às vezes, é preciso recuar para poder avançar. Tudo faz crer que é hora de "baixar a crista" e ter a coragem de fazer o Mercosul regredir para a condição de área de livre comércio. Isso preservaria o mercado regional para as exportações brasileiras de maior valor agregado, sem onerar o Brasil com obrigações inconsequentes. Afinal, é melhor engrenar uma marcha a ré, enquanto é tempo, do que ser obrigado a pisar no freio, à beira do abismo, como acontece hoje com a União Europeia.

Membro empregador titular do Conselho de Administração da Organização Internacional do Trabalho (OIT).

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Mercosul: um debate esquizofrenico

As pessoas que debatem o Mercosul geralmente exibem um conhecimento precário sobre seu (não) funcionamento. Não tenho tempo, agora de desenvolver minhas ideias, mas estou escrevendo um trabalho sobre a sobrevivência e as mudanças no Mercosul.
Por enquanto vai um artigo que demonstra que certos "defensores" do Mercosul não conhecem o mínimo de sua estrutura e mecanismos.
Paulo Roberto de Almeida


Pé torto que dói

Claudio Salm
O Globo, Sexta-feira, 21 de maio de 2010

O senador Aloizio Mercadante tem compulsão a falar, sempre de forma afobada e aparentemente irrevogável, sobre o que não fez e o que não sabe, e este é o caso, entre outros, do Mercosul. Ao se precipitar em um artigo no GLOBO (“Tiro no pé”, em 2/5) sobre esse tema, mostrou que tem pé torto e chutou para fora.

Para começar, o senador petista não tem noção sobre a diferença entre uma Zona de Livre Comércio e uma União Aduaneira, o que resulta em grande confusão.

Livre Comércio supõe a plena isenção de tarifas e taxas entre os países integrantes, além da eliminação de barreiras não alfandegárias e de subsídios que afetem o comércio entre eles. É um processo que toma tempo. No Nafta (Canadá, Estados Unidos e México) essa transição se estendeu do início dos anos 90 e ainda não está consolidada.

O Mercado Comum Europeu, que começou a engatinhar depois da Segunda Guerra, pelo aço e pelo carvão, e tornou-se Comunidade Europeia nos anos 60, só virou União Europeia em 1992, em Maastricht, 30 anos depois.

A União Aduaneira incorpora a Zona de Livre Comércio e vai mais longe: implica tarifa externa comum para todo o fluxo de comércio dos países-membros com terceiros países, bem como a impossibilidade de que um deles firme, isoladamente, acordos de livre comércio com países de fora do bloco. Acordos, só com a aval de todos. Uma União Aduaneira implica renúncia da soberania comercial de cada um dos seus integrantes. No caso do Mercosul, qualquer membro pode implodir um acordo que o Brasil deseje negociar com a Rússia, a Índia ou a China, por exemplo.

Foi por inércia, mas também por causa disso, que durante os oito anos do governo Lula o Brasil assinou apenas um acordo de livre comércio, com Israel, ainda pendente de ratificação, e o fez no âmbito do Mercosul, enquanto no mundo foram firmados cem acordos dessa natureza. O comércio exterior brasileiro cresceu muito nos últimos anos, é verdade, mas até um vestibulando sabe, ao contrário de Mercadante, que esse crescimento não foi fruto de nenhuma política de comércio exterior, mas simplesmente da subida dos preços de nossas commodities e do crescimento da demanda internacional: no governo FH, entre 1994 e 2002, o preço médio das exportações caiu 12%, enquanto no governo petista, entre 2002 e 2008, aumentou 60%! Sem informações e conhecimento mínimos sobre o assunto, o senador Mercadante considerou que a tese de que o Mercosul deveria rever e flexibilizar o acordo em relação à União Aduaneira — para concentrarse no livre comércio e fortalecerse — equivaleria a extingui-lo! Ele nem mesmo sabe que o Brasil, 15 anos depois do Tratado, ainda não pode vender açúcar livremente para a Argentina; ignora que ainda não há livre comércio para automóveis; nunca ouviu falar nem sabe o que são as “perfurações” em matéria de Tarifa Externa Comum: trata-se de mudanças unilaterais de tarifas que ultrapassam o teto comum da TEC, como fez a Argentina durante sua última crise, nunca mais corrigiu, e continua fazendo. Aliás, a participação dos países do Mercosul no comércio brasileiro vem decaindo nos últimos anos, enquanto países como a China — apesar de tão distante — ou como o Chile (que acabou não ingressando no Mercosul por recusar a Tarifa Externa Comum) têm conosco um comércio mais dinâmico.

O ponto máximo da erudição do senador dos “aloprados” é exibido quando ele faz, sem saber, sociologia do conhecimento: segundo ele, os que defendem a extinção (sic) do Mercosul são “conservadores”.

Mal sabe que, antes da criação do Mercosul, os primeiros a defender que suas primeiras etapas se desenvolvessem como Zona de Livre Comércio, além de José Serra, provinham de horizontes ideológicos opostos, como o embaixador Roberto Campos, ícone da direita, e Paulo Nogueira Batista, outro diplomata competente e, na sua época, mais à esquerda do que quase todo o Itamaraty. Já os governos Itamar Franco, FHC e Lula, aos quais não se pode acusar de serem mais conservadores do que Sarney e Collor, endossaram a União Aduaneira total.

Esse fino raciocínio do senador atinge seu ponto mais sofisticado quando identifica, por trás da preferência pela Zona de Livre Comércio, um viés pela natimorta Alca.

Como e por quê, ele não revela. E ignora, como nenhum economista sério deveria ignorar, que o primeiro artigo crítico sobre a Alca, abrangente e de corte acadêmico, foi publicado pelo então senador Serra na revista “Política Externa” (1997).

Muito mais grave do que cometer um erro, o que é humano, é sem dúvida persistir nele, o que chega a ser desumano. Pé que nasce torto fica torto a vida inteira. E dói.