O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Os problemas do "made in Brazil" sao made in Brazil: portanto...

... a solução só pode vir do próprio Brasil. Qualquer solução protecionista - de mais tarifas e maior isolamento da competição externa -- ou simplesmente cambial -- como uma desvalorizaçnao artificial da moeda brasileira -- são falsas soluções e só podem redundar em perdas para a sociedade e para a economia.
Enfrentar nossas mazelas é tarefa para a póxima presidente: veremos se ele está à altura dos desafios.
Paulo Roberto de Almeida

Pressões pelo protecionismo

Editorial O Estado de S.Paulo
21 de dezembro de 2010 | 23h 27

Aumentar o poder de competição da economia nacional será uma das principais tarefas do novo governo, se a presidente Dilma Rousseff quiser manter a produção e o emprego em crescimento. A invasão de produtos importados, o saldo comercial minguante e o crescente buraco na conta corrente do balanço de pagamentos não permitem muita hesitação. Se demorar a agir, o governo ficará perigosamente exposto a pressões de empresários e sindicalistas e terá dificuldade para evitar uma recaída do Brasil no protecionismo.
A movimentação de sindicalistas em favor de uma ação oficial contra as importações já é ostensiva, como indicou reportagem publicada segunda-feira no Estado. A presença crescente de produtos importados no mercado brasileiro é apontada como ameaça ao emprego. O risco pode ser pouco perceptível para a maioria das pessoas, neste momento, mas tende a crescer e é preciso levá-lo em conta.
Dirigentes de entidades empresariais também têm pedido socorro e tendem a articular-se com os sindicalistas na cobrança de medidas defensivas e de benefícios tributários aos produtores brasileiros.
Articulações desse tipo são perigosas. Induzem os governos a produzir respostas políticas para atender os grupos mais articulados, em vez de tomar providências mais eficazes para fortalecer a economia nacional. Protecionismo e subsídios são bons para alguns setores empresariais e para algumas categorias de trabalhadores, mas custam muito para o consumidor, para os trabalhadores de outras áreas e para os contribuintes em geral.
Para responder ao desafio, o novo governo terá de enfrentar com urgência tarefas prometidas e jamais cumpridas de forma satisfatória pelas autoridades nos últimos anos. O País dispõe oficialmente de uma Política de Desenvolvimento Produtivo, mas a ação oficial nunca foi muito além das palavras e da formulação de esquemas ambiciosos. O crescimento econômico dos últimos oito anos foi muito mais uma consequência da ação dos empresários do que das iniciativas governamentais. O ambiente internacional favorável até 2008 também ajudou muito.
Em vez de esperar pressões de sindicalistas e de empresários, a equipe do novo governo deveria examinar as deficiências da economia brasileira e pensar em como combatê-las. Pode-se encontrar um bom inventário dos problemas no estudo comparativo de competitividade publicado na sexta-feira passada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Nesse estudo, o Brasil aparece em 36.º lugar numa lista de 43 países. Esse conjunto corresponde a cerca de 90% do produto bruto global. O País subiu um degrau nessa classificação, desde o levantamento anterior, mas continuou no grupo dos países de baixa competitividade (nos outros grupos estão os de competitividade alta, satisfatória e média).
A posição brasileira seria provavelmente melhor, se a classificação fosse baseada só nos atributos das empresas. Mas o poder de competição do setor produtivo é determinado por numerosos fatores, como a carga tributária, a qualidade das finanças públicas, as condições de financiamento, a qualidade e a extensão da infraestrutura, a taxa de poupança e a oferta da mão de obra adequada. Em todos esses itens o Brasil perde para as economias desenvolvidas e para a maior parte das emergentes.
O Brasil, uma das dez maiores economias do mundo, tem hoje mais influência do que há oito ou dez anos. Mas isso não lhe assegura vantagem permanente no confronto com os competidores. Os dados são muito claros: o produtor nacional vem perdendo a corrida tanto no mercado externo quanto no interno. Sem as boas condições de preços dos produtos básicos, a receita de exportações teria crescido bem menos neste ano e as perspectivas seriam piores em 2011.
Há poucos dias o ministro da Fazenda anunciou estímulos ao financiamento de longo prazo. A medida é oportuna, mas o programa é limitado e não produzirá efeitos imediatos. Além disso, é preciso agir numa frente muito mais ampla. Se for rápido, o novo governo poderá desenvolver uma política racional e eficaz. Se for lento, ficará exposto a pressões perigosas.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

America Latina: crescimento empurrado pela Asia

A China e a India, e outros paises asiáticos, estão longe de constituir, ainda, o motor da economia mundial, e de certa forma são incapazes de sustentar a retomada do crescimento nos EUA e na Europa, inclusive porque dependem desses mercados de consumo para suas exportações.
Mas, a Asia é claramente responsável pelo crescimento da AL: em outros termos, continuamos a ser uma economia "reflexa", como já proclamava, desde os anos 1940, um economista preclaro como Eugenio Gudin...
Paulo Roberto de Almeida 

70% DO CRESCIMENTO DA AMÉRICA LATINA EM 2010 SE DEVEU À ÁSIA!
Trechos do artigo de Jorge Castro, analista e ex-ministro argentino no Clarín (19).

1. A América Latina cresceu 6% este ano, com um aumento da renda per capita de 4,8%, depois de cair -1,9% em 2009. A expansão da região ultrapassou todas as previsões, segundo a Cepal, e as únicas exceções a este crescimento generalizado são a Venezuela e o Haiti, que caíram -1,6% e -7%, respectivamente. É um crescimento heterogêneo. A América do Sul vai crescer 6,6%, enquanto o México e a América Central, 4,9%.

2. A diferença entre as duas dinâmicas é que na América do Sul estão os países exportadores de commodities (agrícolas, minerais e energia), que tiveram uma extraordinária melhora em termos de intercâmbio e um valor recorde em suas exportações. Mais de 70% do crescimento sul-americano este ano é devido à demanda de países emergentes (China / Índia).

3. Isso significa que o PIB mundial cresceu em 2010 em U$S 69.947 bilhões (poder de compra doméstico -PPP), dos quais os países avançados têm 49,3%, e os demais, 50,7%. Neste quadro, a China tem, medida em PPP, uma porcentagem maior do que a dos EUA da produção mundial (U$S 15.203 bilhões/21,7% versus U$S14.369 bilhões/20,5%). Devido a isso, o crescimento da China este ano representa 59% do total mundial, enquanto que o crescimento dos EUA equivale a 15%.
(da coluna diaria do ex-blog de Cesar Maia, 21.12.2010)

Europa: razoes das agruras economicas - Stratfor

Uma das melhores análises, que ja li, sobre as origens estruturais dos desequilíbrios europeus.
Paulo Roberto de Almeida

Europe, The New Plan
By Peter Zeihan
Stratfor, December 21, 2010

Europe is on the cusp of change. An EU heads-of-state summit Dec. 16 launched a process aimed to save the common European currency. If successful, this process would be the most significant step toward creating a singular European power since the creation of the European Union itself in 1992 — that is, if it doesn’t destroy the euro first.

Envisioned by the EU Treaty on Monetary Union, the common currency, the euro, has suffered from two core problems during its decade-long existence: the lack of a parallel political union and the issue of debt. Many in the financial world believe that what is required for a viable currency is a fiscal union that has taxation power — and that is indeed needed. But that misses the larger point of who would be in charge of the fiscal union. Taxation and appropriation — who pays how much to whom — are essentially political acts. One cannot have a centralized fiscal authority without first having a centralized political/military authority capable of imposing and enforcing its will. Greeks are not going to implement a German-designed tax and appropriations system simply because Berlin thinks it’s a good idea. As much as financiers might like to believe, the checkbook is not the ultimate power in the galaxy. The ultimate power comes from the law backed by a gun.

Europe’s Disparate Parts
This isn’t a revolutionary concept — in fact, it is one most people know well at some level. Americans fought the bloodiest war in their history from 1861 to 1865 over the issue of central power versus local power. What emerged was a state capable of functioning at the international level. It took three similar European wars — also in the 19th century — for the dozens of German principalities finally to merge into what we now know as Germany.

Europe simply isn’t to the point of willing conglomeration just yet, and we do not use the American Civil War or German unification wars as comparisons lightly. STRATFOR sees the peacetime creation of a unified European political authority as impossible, since Europe’s component parts are far more varied than those of mid-19th century America or Germany.

Northern Europe is composed of advanced technocratic economies, made possible by the capital-generating capacity of the well-watered North European Plain and its many navigable rivers (it is much cheaper to move goods via water than land, and this advantage grants nations situated on such waterways a steady supply of surplus capital). As a rule, northern Europe prefers a strong currency in order to attract investment to underwrite the high costs of advanced education, first-world infrastructure and a highly technical industrial plant. Thus, northern European exports — heavily value added — are not inhibited greatly by a strong currency. One of the many outcomes of this development pattern is a people that identifies with its brethren throughout the river valleys and in other areas linked by what is typically omnipresent infrastructure. This crafts a firm identity at the national level rather than local level and assists with mass-mobilization strategies. Consequently, size is everything.
Southern Europe, in comparison, suffers from an arid, rugged topography and lack of navigable rivers. This lack of rivers does more than deny them a local capital base, it also inhibits political unification; lacking clear core regions, most of these states face the political problems of the European Union in microcosm. Here, identity is more localized; southern Europeans tend to be more concerned with family and town than nation, since they do not benefit from easy transport options or the regular contact that northern Europeans take for granted. Their economies reflect this, with integration occurring only locally (there is but one southern European equivalent of the great northern industrial mega-regions such as the Rhine, Italy’s Po Valley). Bereft of economies of scale, southern European economies are highly dependent upon a weak currency to make their exports competitive abroad and to make every incoming investment dollar or deutschemark work to maximum effect.
Central Europe — largely former Soviet territories — have yet different rules of behavior. Some countries, like Poland, fit in well with the northern Europeans, but they require outside defense support in order to maintain their positions. The frigid weather of the Baltics limits population sizes, demoting these countries to being, at best, the economic satellites of larger powers (they’re hoping for Sweden while fearing it will be Russia). Bulgaria and Romania are a mix of north and south, sitting astride Europe’s longest navigable river yet being so far removed from the European core that their successful development may depend upon events in Turkey, a state that is not even an EU member. While states of this grouping often plan together for EU summits, in reality the only thing they have in common is a half-century of lost ground to recover, and they need as much capital as can be made available. As such variation might suggest, some of these states are in the eurozone, while others are unlikely to join within the next decade.
And that doesn’t even begin to include the EU states that have actively chosen to refuse the euro — Denmark, Sweden and the United Kingdom — or consider the fact that the European Union is now made up of 27 different nationalities that jealously guard their political (and in most cases, fiscal) autonomy.

The point is this: With Europe having such varied geographies, economies and political systems, any political and fiscal union would be fraught with complications and policy mis-prescriptions from the start. In short, this is a defect of the euro that is not going to be corrected, and to be blunt, it isn’t one that the Europeans are trying to fix right now.

The Debt Problem
If anything, they are attempting to craft a work-around by addressing the second problem: debt. Monetary union means that all participating states are subject to the dictates of a single central bank, in this case the European Central Bank (ECB) headquartered in Frankfurt. The ECB’s primary (and only partially stated) mission is to foster long-term stable growth in the eurozone’s largest economy — Germany — working from the theory that what is good for the continent’s economic engine is good for Europe.

One impact of this commitment is that Germany’s low interest rates are applied throughout the currency zone, even to states with mediocre income levels, lower educational standards, poorer infrastructure and little prospect for long-term growth. Following their entry into the eurozone, capital-starved southern Europeans used to interest rates in the 10-15 percent range found themselves in an environment of rates in the 2-5 percent range (currently it is 1.0 percent). To translate that into a readily identifiable benefit, that equates to a reduction in monthly payments for a standard 30-year mortgage of more than 60 percent.

As the theory goes, the lower costs of capital will stimulate development in the peripheral states and allow them to catch up to Germany. But these countries traditionally suffer from higher interest rates for good reasons. Smaller, poorer economies are more volatile, since even tiny changes in the international environment can send them through either the floor or the roof. Higher risks and volatility mean higher capital costs. Their regionalization also engenders high government spending as the central government attempts to curb the propensity of the regions to spin away from the center (essentially, the center bribes the regions to remain in the state).

This means that when the eurozone spread to these places, theory went out the window. In practice, growth in the periphery did accelerate, but that growth was neither smooth nor sustainable. The unification of capital costs has proved more akin to giving an American Express black card to a college freshman: Traditionally capital poor states (and citizens) have a propensity to overspend in situations where borrowing costs are low, due to a lack of a relevant frame of reference. The result has been massive credit binging by corporations, consumers and governments alike, inevitably leading to bubbles in a variety of sectors. And just as these states soared high in the first decade after the euro was introduced, they have crashed low in the past year. The debt crises of 2010 — so far precipitating government debt bailouts for Ireland and Greece and an unprecedented bank bailout in Ireland — can be laid at the feet of this euro-instigated over-exuberance.

It is this second, debt-driven shortcoming that European leaders discussed Dec. 16. None of them want to do away with the euro at this point, and it is easy to see why. While the common currency remains a popular whipping boy in domestic politics, its benefits — mainly lower transaction costs, higher purchasing power, unfettered market access and cheaper and more abundant capital — are deeply valued by all participating governments. The question is not “whither the euro” but how to provide a safety net for the euro’s less desirable, debt-related aftereffects. The agreed-upon path is to create a mechanism that can manage a bailout even for the eurozone’s larger economies when their debt mountains become too imposing. In theory, this would contain the contradictory pressures the euro has created while still providing to the entire zone the euro’s many benefits.

Obstacles to the Safety Net
Three complications exist, however. First, when a bailout is required, it is clearly because something has gone terribly wrong. In Greece’s case, it was out-of-control government spending with no thought to the future; in essence, Athens took that black card and leapt straight into the economic abyss. In Ireland’s case, it was private-sector overindulgence, which bubbled the size of the financial sector to more than four times the entire country’s gross domestic product. In both cases, recovery was flat-out impossible without the countries’ eurozone partners stepping in and declaring some sort of debt holiday, and the result was a complete funding of all Greek and Irish deficit spending for three years while they get their houses in order.

“Houses in order” are the key words here. When the not-so-desperate eurozone states step in with a few billion euros — 223 billion euros so far, to be exact — they want not only their money back but also some assurance that such overindulgences will not happen again. The result is a deep series of policy requirements that must be adopted if the bailout money is to be made available. Broadly known as austerity measures, these requirements result in deep cuts to social services, retirement benefits and salaries. They are not pleasant. Put simply: Germany is attempting to trade financial benefits for the right to make policy adjustments that normally would be handed by a political union.

It’s a pretty slick plan, but it is not happening in a vacuum. Remember, there are two more complications. The second is that the Dec. 16 agreement is only an agreement in principle. Before any Champagne corks are popped, one should consider that the “details” of the agreement raise a more than “simply” trillion-euro question. STRATFOR guesses that to deliver on its promises, the permanent bailout fund (right now there is a temporary fund with a “mere” 750 billion euros) probably would need upwards of three trillion euros. Why so much? The debt bailouts for Greece and Ireland were designed to completely sequester those states from debt markets by providing those governments with all of the cash they would need to fund their budgets for three years. This wise move has helped keep the contagion from spreading to the rest of the eurozone. Making any fund credible means applying that precedent to all the eurozone states facing high debt pressures, and using the most current data available, that puts the price tag at just under 2.2 trillion euros. Add in enough extra so that the eurozone has sufficient ammo left to fight any contagion and we’re looking at a cool 3 trillion euros. Anti-crisis measures to this point have enjoyed the assistance of both the ECB and the International Monetary Fund, but so far, the headline figures have been rather restrained when compared to future needs. Needless to say, the process of coming up with funds of that magnitude when it is becoming obvious to the rest of Europe that this is, at its heart, a German power play is apt to be contentious at best.

The third complication is that the bailout mechanism is actually only half the plan. The other half is to allow states to at least partially default on their debt (in EU diplomatic parlance, this is called the “inclusion of private interests in funding the bailouts”). When the investors who fund eurozone sovereign debt markets hear this, they understandably shudder, since it means the European Union plans to codify giving states permission to walk away from their debts — sticking investors with the losses. This too is more than simply a trillion-euro question. Private investors collectively own nearly all of the eurozone’s 7.5 trillion euros in outstanding sovereign debt. And in the case of Italy, Austria, Belgium, Portugal and Greece, debt volumes worth half or more of GDP for each individual state are held by foreigners.

Assuming investors decide it is worth the risk to keep purchasing government debt, they have but one way to mitigate this risk: charge higher premiums. The result will be higher debt financing costs for all, doubly so for the eurozone’s more spendthrift and/or weaker economies.

For most of the euro’s era, the interest rates on government bonds have been the same throughout the eurozone, based on the inaccurate belief that eurozone states would all be as fiscally conservative and economically sound as Germany. That belief has now been shattered, and the rate on Greek and Irish debt has now risen from 4.5 percent in early 2008 to this week’s 11.9 percent and 8.6 percent, respectively. With a formal default policy in the making, those rates are going to go higher yet. In the era before monetary union became the Europeans’ goal, Greek and Irish government debt regularly went for 20 percent and 10 percent, respectively. Continued euro membership may well put a bit of downward pressure on these rates, but that will be more than overwhelmed by the fact that both countries are, in essence, in financial conservatorship.

That is not just a problem for the post-2013 world, however. Because investors now know the European Union intends to stick them with at least part of the bill, they are going to demand higher returns as details of the default plan are made known, both on any new debt and on any pre-existing debt that comes up for refinancing. This means that states that just squeaked by in 2010 must run a more difficult gauntlet in 2011 — particularly if they depend heavily on foreign investors for funding their budget deficits. All will face higher financing and refinancing costs as investors react to the coming European disclosures on just how much the private sector will be expected to contribute.

Leaving out the two states that have already received bailouts (Greece and Ireland), the four eurozone states STRATFOR figures face the most trouble — Portugal, Belgium, Spain and Austria, in that order — plan to raise or refinance a quarter trillion euros in 2011 alone. Italy and France, two heavyweights not that far from the danger zone, plan to raise another half-trillion euros between them. If the past is any guide, the weaker members of this quartet could face financing costs of double what they’ve faced as recently as early 2008. For some of these states, such higher costs could be enough to push them into the bailout bin even if there is no additional investor skittishness.

The existing bailout mechanism probably can handle the first four states (just barely, and assuming it works as advertised), but beyond that, the rest of the eurozone will have to come up with a multitrillion-euro fund in an environment in which private investors are likely to balk. Undoubtedly, the euro needs a new mechanism to survive. But by coming up with one that scares those who make government deficit-spending possible, the Europeans have all but guaranteed that Europe’s financial crisis will get much worse before it begins to improve.

But let’s assume for a moment that this all works out, that the euro survives to the day that the new mechanism will be in place to support it. Consider what such a 2013 eurozone would look like if the rough design agreed to Dec. 16 becomes a reality. All of the states flirting with bailouts as 2010 draws to a close expect to have even higher debt loads two years from now. Hence, investors will have imposed punishing financing costs on all of them. Alone among the major eurozone countries not facing such costs will be Germany, the country that wrote the bailout rules and is indirectly responsible for managing the bailouts enacted to this point. Berlin will command the purse strings and the financial rules, yet be unfettered by those rules or the higher financing costs that go with them. Such control isn’t quite a political union, but so long as the rest of the eurozone is willing to trade financial sovereignty for the benefits of the euro, it is certainly the next best thing.

Wikileaks-Brasil: Honduras-EUA: Itamaraty atordoado...

O Wikileaks pode ser um desastre para os diplomatas e historiadores, mas é um tesouro de trouvailles para os jornalistas.
Este relato sobre essas "liaisons dangereuses" são sempre saborosas em sua leitura retrospectiva...
Paulo Roberto de Almeida

Chegada de Zelaya a embaixada atordoou Itamaraty, revela WikiLeaks

Tensão. Missão brasileira em Honduras chegou a sofrer ameaça de bomba e ministro de Relações Exteriores insistiu com os EUA para que adotassem medidas mais duras contra o regime de facto, como a interrupção do envio de dinheiro de imigrantes

Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo
21 de dezembro de 2010 | 0h 00

Em meio à crise em Honduras, em 2009, a Embaixada do Brasil em Tegucigalpa foi ameaçada de explosão. O alerta por telefone, recebido pela embaixada em Washington, pôs a diplomacia brasileira em cooperação com o Serviço Secreto dos EUA para rastrear a fonte da ameaça. O fato foi registrado em um dos 13 telegramas enviados pela embaixada americana em Brasília ao Departamento de Estado e vazados ontem pelo WikiLeaks.
O conjunto de relatos mostra o governo brasileiro "perdido", "sem planos" e ansioso por ações mais efetivas da Casa Branca. Os telegramas vazados foram redigidos entre 4 de setembro de 2009 e 19 de fevereiro de 2010, período em que as relações entre o Brasil e os EUA foram contaminadas pela crise em Honduras. Destituído por um golpe militar e exilado em junho do ano passado, o então presidente, Manuel Zelaya, retornara a Tegucigalpa e pedira abrigo na embaixada brasileira em 21 de setembro. A autorização partira do então secretário-geral das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães, apontado em outros telegramas como um "antiamericano" e "obstrutor" da relação Brasil-EUA.
Com o título "Brasil carece de estratégia em Honduras", o texto de 2 de outubro de 2009 não traz maiores detalhes sobre a ameaça de bomba na embaixada em Tegucigalpa. O diplomata dos EUA mostra ter sido informado sobre o assunto pela Divisão de México e América Central. Também é informado que o Brasil, naquele momento, não havia uma estratégia para lidar com a crise e o Brasil esperava uma posição mais forte do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O americano conclui que esse setor do Itamaraty transformara-se em uma "sala de crise". Mas apenas para processar as informações - não para planejar uma solução.
"O Brasil parece perdido sobre o que fazer. É incrível que o governo brasileiro não tenha feito esforços para envolver a região ou para ter um papel mais decisivo na busca de uma solução", diz o telegrama. "Ao contrário, parece que o Brasil está procurando que os EUA, a OEA e a ONU salvaguardem seus interesses e espera uma solução de longo prazo", completou.
Em telegrama de 20 de novembro de 2009, o embaixador Antonio Patriota, secretário-geral das Relações Exteriores - hoje, futuro chanceler -, afirma a um diplomata americano que a situação de Honduras "não era positiva para a relação Brasil-EUA". Mas, sugere que a postergação das eleições presidenciais hondurenhas, poderia favorecer uma solução porque daria tempo para o retorno de Zelaya ao poder. Segundo Patriota, sem essa medida, o Brasil não teria como reconhecer o novo governo do país. A eleição acabou ocorrendo no dia marcado.
Pelo menos dois telegramas mostram que, tanto o chanceler Celso Amorim quanto o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, insistiram com autoridades americanas para que os EUA adotassem medidas mais duras contra Honduras. Em texto enviado em 25 de setembro de 2009, um diplomata brasileiro esclarece a um colega da embaixada britânica que o Brasil queria dos EUA o corte das remessas de dinheiro de hondurenhos ao país - o que não aconteceu.
Em conversa com o general James Jones, então conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Amorim acusou Washington de fazer concessões e "arranhões superficiais" ao governo de facto em vez de lhe causar danos. Marco Aurélio argumentou a Jones não ser Zelaya um "revolucionário perigoso" e seu retorno à presidência não provocaria "mudanças significantes". Um diplomata brasileiro, entretanto, informou que o Itamaraty estava irritado com a suspeita de que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, estava por trás das ações de Zelaya.

Universidades brasileiros: caminhos para a mediocridade

Existem, é claro, diversos caminhos pelos quais se pode contribuir, mais ou menos rapidamente, para o "afundamento" da universidade brasileira. Um deles é o de permitir sua perda total de credibilidade científica, com bancas montadas ad hoc para dar um título a quem não preenche requisitos mínimos de trabalho científico...
Paulo Roberto de Almeida

Unicamp, que doutorou Mercadante, ocupa um sofrível 248o. lugar no ranking mundial da qualidade.

O que uma coisa tem a ver com a outra? Muito. Uma universidade de um país que dá um doutorado em cima da perna para um político sem que ele tenha cumprido, na sua tese, os mínimos requisitos exigidos de uma pesquisa científica, só porque ele foi escolhido Ministro da Ciência e Tecnologia, não pode ocupar outro lugar que não seja este. Mostra um país corrupto até mesmo na produção de conhecimento. Mostra uma  academia apodrecida e venal, mais preocupada em sugar recursos públicos do que produzir resultados. E não foi por falta de dinheiro que a Unicamp não obteve uma colocação melhor no Times Higher Education, o THE da Times: recebeu R$ 248 milhões apenas para fazer pesquisa, contra R$ 300 milhões de Stanforfd, nos Estados Unidos, que ficou em sérimo lugar no conceituado ranking. 
(Coturno Noturno, 21.12.2010)

New Google Database Puts Centuries of Cultural Trends in Reach of Linguists

Interessante essa busca do conhecimento universal por meio dos instrumentos de busca do tipo Google.
Nunca antes na história do mundo -- com perdão da paráfrase -- foi possível aceder ao conhecimento pleno dos conceitos mais utilizados pelas civilizações e sociedades com tal facilidade, graças às novas "enciclopédias do saber universal" do tipo Google.

Word-Wide Web Launches
New Google Database Puts Centuries of Cultural Trends in Reach of Linguists
By ROBERT LEE HOTZ
The Wall Street Journal, December 17, 2010

(ver as imagens neste link)

Language analysts, sifting through two centuries of words in the millions of books in Google Inc.'s growing digital library, found a new way to track the arc of fame, the effect of censorship, the spread of inventions and the explosive growth of new terms in the English-speaking world.

A new report reveals how researchers are using Google's immense digital library to track cultural trends and catalogue human culture over the last 200 years. WSJ's Robert Lee Hotz discusses the cutting edge endeavor with WSJDN's Kelsey Hubbard.

In research reported Thursday in the journal Science, the scientists at Harvard University, Massachusetts Institute of Technology, Google and the Encyclopedia Britannica unveiled a database of two billion words and phrases drawn from 5.2 million books in Google's digital library published during the past 200 years. With this tool, researchers can measure trends through the language authors used and the names of people they mentioned.

It's the first time scholars have used Google's controversial trove of digital books for academic research, and the result was opened to the public online Thursday.

Analyzing the computerized text, the researchers reported that they could measure the hardening rhetoric of nations facing off for war, by tracking increasing use of the word "enemy." They also could track changing tastes in food, noting the waning appetite for sausage, which peaks in the 1940s, and the advent of sushi, the mentions of which start to soar in the 1980s. They documented the decline of the word "God" in the modern era, which falls sharply from its peak in the 1840s.

"We can see patterns in space, time and cultural context, on a scale a million times greater than in the past," said Mark Liberman, a computational linguist at the University of Pennsylvania, who wasn't involved in the project. "Everywhere you focus these new instruments, you see interesting patterns."

The digital text also captured the evolving structure of a living language, and almost a half-million English words that have appeared since 1950, partly reflecting the growing number of technical terms, such as buckyball, netiquette and phytonutrient.

"It is just stunning," said noted cultural historian Robert Darnton, director of the Harvard University Library, who wasn't involved in the project and who has been critical of Google's effort to digitize the world's books. "They've come up with something that is going to make an enormous difference in our understanding of history and literature."

All told, about 129 million books have been published since the invention of the printing press. In 2004, Google software engineers began making electronic copies of them, and have about 15 million so far, comprising more than two trillion words in 400 languages.

"We realized we were sitting on this huge trove of data," said Google Books engineering manager Jon Orwant. "We want to let researchers slice and dice the data in ways that allow them to ask questions they could not ask before."

The online library project has been hobbled by lawsuits, copyright disputes and fears over the potential for the company to have an information monopoly. "There have been computational hurdles, scientific hurdles, organizational and legal hurdles," said mathematician Erez Lieberman Aiden at the Harvard Society of Fellows, who helped create the database.

To avoid copyright violations, the scientists are making available the vast catalog of frequency patterns of words and phrases, not the raw text of books. Google Labs posted freely downloadable data sets and a special viewer at http://ngrams.googlelabs.com Thursday. These data sets consist of short phrases—up to five words —with counts of how often they occurred in each year.

Journal Community - DISCUSS
What an amazing tool for analyzing culture! Understanding ourselves better could be a tremendously postive development. The dark sides though, are the opportunities for molding thought patterns en masse and social engineering that such an understanding presents. Onward ho! May we be able to preserve original thought and free will.
—Vincent P. Emmer
They currently include Chinese, English, French, German, Russian and Spanish books dating back to the year 1500—about 4% of all books published. The database doesn't include periodicals, which might reflect popular culture from a different vantage.

By calculating how frequently famous personalities appear in Google's digitized texts, the Harvard researchers discovered that people these days become famous at a younger age than in previous eras and reach unprecedented peaks of notoriety. "The flip side is that people forget about you faster," said Harvard lead researcher J.B. Michel.

Measuring occurrences of prominent names, Mr. Michel and his colleagues found that Jimmy Carter leapt from obscurity around 1974, at the onset of his run for the U.S. presidency, to overtake Mickey Mouse, Marilyn Monroe and astronaut Neil Armstrong in published mentions. Once out of office, Mr. Carter began an equally sharp decline in mention. By contrast, the cartoon character, the astronaut and the movie star have continued their steady rise up the slope of fame.

In the same way, they identified instances of censorship by charting the abrupt disappearance of controversial figures from the written record.

Mentions of the popular Jewish artist Marc Chagall, for example, virtually disappear from German literature during the era of Nazi power between 1936 and 1944, when his work was banned, but not from English books of the same period.

Other scholars are using the new database to chart social and emotional concepts over the past 200 years.

"Empathy has shot up since the 1940s," said Harvard University cognitive scientist and linguist Steven Pinker, who is experimenting with the data in his own research. "Will power, self-control and prudence have declined."

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Cuba e o comunismo: a quadratura do circulo (e a total falta de logica)

Primeiro, a transcrição do que disse um dinossauro que não sabe que ele já está extinto.
Depois comento a falta de lógica.
Paulo Roberto de Almeida

Raul Castro defende abertura, não capitalismo, em Cuba

Em discurso na Assembleia, líder cubano diz que 'geração histórica' precisa corrigir 'erros dos últimos 50 anos'.

BBC Brasil, 19 de dezembro de 2010 | 14h 12

Castro: 'Não me elegeram presidente para restaurar o capitalismo'
O presidente de Cuba, Raúl Castro, defendeu mudanças no regime cubano, sem abrir mão do socialismo.
Em um discurso de duas horas encerrando os trabalhos da Assembleia Nacional, no sábado, Raul Castro disse que não foi eleito para "restaurar o capitalismo em Cuba", mas reconheceu que foi um erro "estatizar quase toda a atividade econômica do país".
"Temos o dever fundamental corrigir os erros que cometemos nessas cinco décadas de construção do socialismo em Cuba", afirmou o líder cubano.
Castro lembrou que tanto Karl Marx quanto Vladimir Lênin, ideólogos do comunismo, definiram que o Estado só deveria "manter a propriedade sobre os meios fundamentais de produção".
Entretanto, o presidente cubano estabeleceu o limite das mudanças. "O planejamento, e não o mercado, será o traço definitivo da economia e não se permitirá a concentração da propriedade. Mais claro que isso, nem água".
Mudanças
Em seu discurso, Castro delineou a estratégia política que seu governo continuará no ano que vem, tanto no plano econômico quanto no social e político.
Segundo o presidente, as mudanças estruturais continuarão: créditos e subsídios serão eliminados, as funções do partido e do governo serão separadas, o emprego autônomo será promovido e o governo colocará um ponto final em restrições "desnecessárias".
Entre os anúncios mais importantes feitos por Raul Castro está o de que ele pretende separar as estruturas do governo e do Partido Comunista - que atualmente se confundem em todos os níveis, dos municípios para à Presidência da República.
"O partido deve dirigir e controlar, e não interferir nas atividades de governo, em qualquer nível", disse Raúl Castro.
Presidente disse que quer separa o partido e o governo
O tema será discutido na Conferência Nacional do Partido Comunista, em meados do próximo ano, o último do qual participará o que ele chamou de "geração histórica".
Descentralização
Castro assegurou que promoverá uma descentralização do poder de Havana, "aumentando gradualmente a autoridade dos governos provinciais e municipais, dando-lhes maiores poderes para administrar seus orçamentos."
Hoje, a dependência dos governos municipais em relação a Havana é tal que os seus representantes não têm sequer autoridade para comprar ou receber um carro doado, ou para abrir uma conta bancária em Cuba.
Para o presidente cubano, estes governos devem assumir o controle real de suas regiões, cobrar impostos de empresas localizadas em sua jurisdição e até mesmo investir em projetos de desenvolvimento regional.
Para implementar algumas das novas políticas econômicas, Cuba teria de mudar a Constituição. Castro informou que as leis serão adaptadas para permitir as mudanças.
Sobre as relações com Washington, Raul Castro disse não ver sinais de distensão, porque nos EUA "não existe a menor vontade de corrigir a política contra Cuba, mesmo para eliminar os seus aspectos mais irracionais".
* Com reportagem de Fernando Ravsberg, da BBC Mundo em Havana. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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Comento:
Como é possível restaurar a economia da ilha miserável sem abandonar o socialismo, que é, justamente, o responsável pela situação deplorável ali vivida?
Mas a falta de lógica continua, de modo alucinante:
Raul Castro "reconheceu que foi um erro "estatizar quase toda a atividade econômica do país". "Temos o dever fundamental corrigir os erros que cometemos nessas cinco décadas de construção do socialismo em Cuba", afirmou o líder cubano."
Se eles querem corrigir os erros cometidos DURANTE 50 ANOS, como, então, afirmar que "O planejamento, e não o mercado, será o traço definitivo da economia..."
Ou seja, ele pretende que algo mude, mas não quer mudar nada???!!!

Mas, a maior dislexia mental, a total falta de lógica aparece nesta frase de Raúl Castro"
"O partido deve dirigir e controlar, e não interferir nas atividades de governo, em qualquer nível".
Ou seja, o partido deve dirigir e controlar, mas não vai interferir???!!!
Alguém entendeu?
Prêmio IgNóbil de falta de lógica.
Falta algum remédio no menu do gerontocrata...

Estudos de Defesa: encontro em Fortaleza (agosto 2011)

Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED)

V Encontro Nacional
(ENABED V)
Fortaleza, de 8 a 10 de agosto de 2011

Democracia, Defesa e Forças Armadas


A ABED informa que foi concluído o processo seletivo referente aos simpósios temáticos para o ENABED V. Os seguintes temas foram selecionados:

Simpósios Temáticos
·         Atlântico Sul: espaço estratégico de cooperação e desafios de segurança.
·         Base Logística de Defesa
·         Bloqueio Tecnológico: Indústria de Defesa, Ciência e Tecnologia, Políticas Públicas e Política Internacional
·         Cultura Estratégica e de Defesa Comparada na América do Sul
·         Defesa e a Ordem Legal
·         Defesa e Forças Armadas na Amazônia Brasileira
·         Educação e Formação Militar
·         Educação, Doutrina Militar e Regimes Políticos
·         Em busca da paz securitária: As ações do Rio de Janeiro e a utilização das forças militares em ambientes urbanos interestatais.
·         Gênero, Sociedade e Forças Armadas
·         História Militar
·         Novos conflitos internacionais: guerra e estudos estratégicos no século XXI
·         Os desafios da atividade de inteligência no século XXI
·         Política Externa estadunidense e seus reflexos para a América do Sul
·         Reconhecimento de territórios de ocupação tradicional indígena: dilemas e impasses em regiões de fronteiras nacionais ou/e em terras com alto valor comercial
·         Sociologia das Forças Armadas

OBS: As ementas serão divulgadas oportunamente. As inscrições de trabalhos serão iniciadas em janeiro, ocasião em que instruções específicas serão divulgadas

Aventuras diplomaticas de um aprendiz de feiticeiro (nao confiavel...)

Um pretendente a Richelieu, no começo do governo Lula, quis brincar de diplomacia com os americanos, que certamente não confiavam nele:

Presidente mostrou incômodo com ações radicais de Chávez
RICARDO BALTHAZAR
Folha de S. Paulo, 20 Dec 2010

WIKILEAKS OS PAPÉIS BRASILEIROS
Mensagem de temor de Lula seria repassada a líder venezuelano por Dirceu, diz diplomata em telegrama

Informes sugerem que ex-ministro da Casa Civil foi interlocutor frequente dos EUA no início do governo do PT

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou para os Estados Unidos no início de seu governo que estava incomodado com o radicalismo do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e temia os prejuízos que ele poderia trazer para o Brasil e seus vizinhos.
O recado foi transmitido com clareza em abril de 2005 pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu, num almoço com o então embaixador dos EUA, John Danilovich, segundo um telegrama diplomático americano obtido pela organização WikiLeaks.
Dirceu planejava encontrar Chávez em Caracas e resumiu assim a mensagem que levaria, segundo o embaixador: "Pare de brincar com fogo". Ele também indicou que Lula gostaria de discutir a questão com o então presidente americano, George W. Bush, para "desanuviar o ambiente".
Um mês antes do almoço, Dirceu transmitiu recado parecido ao encontrar-se em Washington com a secretária de Estado dos EUA, Condolleezza Rice, conforme telegrama obtido pelo jornal "Valor Econômico" e publicado em 2008.
Os informes obtidos pelo WikiLeaks sugerem que Dirceu foi um interlocutor frequente dos americanos no início do governo Lula, mas nem sempre os americanos acreditavam na sinceridade de Dirceu, segundo Danilovich.


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Recado para Chávez se conter
Roberto Maltchik
O Globo, 20 Dec 2010
Lula teria dito a presidente da Venezuela para "não brincar com fogo"

BRASÍLIA. Incomodado com a verborragia antiamericanista de Hugo Chávez, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teria enviado uma mensagem contundente ao colega venezuelano em abril de 2005, exortando a ele que "parasse com sua retórica provocativa e passasse a cuidar dos problemas internos da Venezuela". O portador do recado seria o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, segundo relato feito pelo próprio ex-ministro ao embaixador dos Estados Unidos em Brasília, John Danilovich, de acordo com os telegramas enviados pela diplomacia americana a Washington, obtidos pelo site WikiLeaks.
Em telegrama confidencial, assinado por Danilovich em 13 de abril de 2005, o diplomata afirma que Dirceu diria a Chávez para "parar de brincar com fogo" e que o venezuelano já tinha problemas demais em seu país, cuja solução também interessaria ao Brasil. Poucos meses depois, Dirceu caiu no rastro do escândalo do mensalão.
"As provocações de Chávez aos Estados Unidos não servem a interesses nacionais da Venezuela e são uma preocupação para o Brasil e seus vizinhos. Dirceu vai dizer ainda que não apenas o governo americano está hostil - executivos e as pessoas na rua agora veem a Venezuela como um problema para os EUA", relata Danilovich.

Desconforto com a postura de Chávez no G-15
Em mais um documento confidencial, de março de 2004, o cônsul-geral americano Patrick Duddy relata outra conversa, na qual Dirceu teria dito que o presidente brasileiro teria deixado de retornar telefonemas de Chávez, após o "comportamento dele na reunião do G-15, em Caracas". Afirmou ainda que Lula saiu mais cedo da reunião de cúpula na capital da Venezuela, pois estava "desconfortável" com a postura do colega.
"Ele (Lula) provavelmente vai retornar os contatos em breve para manter a comunicação aberta, o tanto quanto isso possa ser desagradável", teria dito Dirceu.
Até mesmo o regime cubano, segundo a análise americana das palavras de Dirceu, não estaria interessado em ficar com "suas águas mais turbulentas, em razão das provações de Chávez". Segundo o embaixador americano, Dirceu afirma que Cuba "precisa desesperadamente de um ambiente tranquilo para lidar com seus profundos problemas internos".
O ex-braço direito de Lula ainda demonstra, segundo os telegramas, profunda confiança na ampliação das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, afiançando apoio à retomada das negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), apesar da contrariedade do ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim.
Em 20 de abril de 2005, John Danilovich escreve a Washington, após nova conversa com o chefe da Casa Civil: "Dirceu aproveitou a oportunidade para expor seu desejo de que as conversações da ALCA avancem, repetindo que o Brasil deve exportar aos EUA pelo menos quatro vezes mais do que exporta hoje, acrescentando que já falou com o ministro da Fazenda Palocci sobre a inflexibilidade do ministro de Relações Exteriores em relação à ALCA".
 

Portugal encolhe sua diplomacia (mas racionalmente, espera-se)

Com a crise, com qualquer crise, os governos, como as boas famílias, precisam fazer economias. Se preciso cortando na carne, o que no caso das diplomacias significa eliminar representações, "acumular" embaixadas, sumprimir gastos "inúteis" (mas o pessoal pensa logo na cultura...) e um sem número de cortes lineares ou seletivos.
Portugal faz a sua... vamos ver:

The reform of the Portuguese diplomatic network
By Paulo Gorjao

DECEMBER 2010 -- The reform of any diplomatic network is an endless task and the situation in Portugal is no exception. A diplomatic network should be like a living body, constantly changing in order to better reflect the country's national interests. In the last few years, the Minister for Foreign Affairs, Luís Amado, has spoken about the necessary reform of the Portuguese diplomatic network. In his view, Portugal had too many embassies in the European Union, and too few in Africa, the Middle East and Asia.

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Stiglitz: ate Premio Nobel consegue ser idiota e nefasto

A julgar pelo que vi, só posso concluir que o Stiglitz é um idiota completo, aliás um energunemo, como se alguém pudesse receitar um Estado nórdico, sem NENHUM dos demais atributos dos paises nordicos, para paises pobres, corruptos e dotados de populacoes ignorantes, como sao quase todos os do Terceiro Mundo.
Um idiota completo, só posso dizer isso, pois a sua receita equivalente a receitar uma caipirinha para um internado para desintoxicao etilica.
Quanto a recomendacao ao Brasil, de se preocupar menos com a inflacao, ele só pode ser um criminoso, além de um completo idiota.
Realmente, até Premios Nobel conseguem ser estupidos absolutos.
Paulo Roberto de Almeida

Joseph Stiglitz: "O capitalismo sem controle é perigoso"
JOSÉ FUCS
Revista Época, 19/12/2010
 
Para o Nobel de Economia de 2001, o melhor sistema é o da Escandinávia. E o Brasil deveria se preocupar menos com a inflação e com o tamanho do Estado

O economista americano Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2001 e ex-comandante do departamento econômico do Banco Mundial, ganhou destaque com a explosão da crise global, em setembro de 2008. De figura marginalizada, em razão de suas críticas ao "fundamentalismo do livre mercado", ele passou a ser ouvido com atenção até por financistas que torciam o nariz para suas ideias. No livro O mundo em queda livre, recém-lançado no Brasil (editora Companhia das Letras, R$ 66), Stiglitz diz que a crença na eficiência dos mercados morreu com a crise. Segundo ele, o melhor sistema econômico é o dos países escandinavos - a carga tributária é elevada, mas o governo oferece "boas políticas" de proteção social. Para horror dos economistas mais ortodoxos, Stiglitz afirma que o Brasil deveria se preocupar menos com a inflação e o tamanho do Estado. "A inflação é importante, mas é apenas uma variável."
  ENTREVISTA - JOSEPH STIGLITZ  

Colin McPherson/Corbis QUEM É
Economista americano, de 67 anos, é professor da Universidade Colúmbia, EUA. Foi economista-chefe do Banco Mundial de 1997 a 2000. Ganhou o Nobel de Economia em 2001


ONDE ESTUDOU
Formou-se em economia no Amherst College, em 1963. Fez o doutorado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), em 1967. Também foi pesquisador na Universidade de Cambridge, Inglaterra, no fim dos anos 60


O QUE PUBLICOU
O mundo em queda livre (Ed. Cia. das Letras, 2010), Livre mercado para todos (Ed. Campus Elsevier, 2006) e A globalização e seus malefícios (Ed. Futura, 2002), entre outros

ÉPOCA - Em sua visão, passados dois anos da quebra do Banco Lehman Brothers, qual foi o impacto da crise global sobre o capitalismo?
Joseph Stiglitz - Há duas formas de analisar essa questão. A primeira é que o desempenho da economia nos países desenvolvidos tem sido desanimador. Nos Estados Unidos e na Europa, o baixo crescimento, o alto desemprego e a subutilização de capacidade de produção têm sido terríveis. Mas igualmente importante é a mudança de percepção sobre o sistema capitalista. Antes da crise, as pessoas acreditavam que os mercados eram eficientes, que a desigualdade de renda poderia ser indesejável, mas era justificável pelos incentivos que oferecia ao crescimento econômico. Agora se percebeu que os mercados não são eficientes, não são estáveis, e que os altos bônus recebidos pelos executivos dos bancos representavam um prêmio às perdas recordes que aconteceram. As pessoas podem até entender que alguém inovador, que cria riqueza, seja premiado. Mas eles foram premiados por destruir riqueza - e isso minou a fé no sistema de mercado.

"Nos países escandinavos, a carga tributária chega a quase 50% do PIB, mas eles têm a melhor qualidade de vida do mundo"

ÉPOCA - De que forma essa percepção está afetando o sistema hoje?
Stiglitz - Nos EUA, embora os mercados tenham fracassado, há uma forte percepção de que o governo também falhou e deu dinheiro aos bancos que provocaram o problema. O resultado é que há uma desilusão com ambos, o mercado e o governo. Isso explica o fortalecimento do movimento Tea Party, que pode ser descrito como um movimento anti-establishment. Até acho que o governo (do presidente Barack) Obama ajudou a economia. Fez bem mais que o governo Bush. Sem os pacotes de estímulo, o desemprego estaria em 12% ou 13% (da população ativa), e não nos 9,8% em que está hoje. Mas, infelizmente, não foi o bastante. Hoje, um em cada seis americanos que buscam um emprego formal não consegue encontrar. As execuções de hipotecas estão subindo, e não caindo como se esperava. A percepção é que o governo gastou muito dinheiro, deu muito dinheiro aos bancos e não resolveu o problema. A reação é de revolta e rejeição.

ÉPOCA - Essa reação também está acontecendo em outros países?
Stiglitz - Acho que o efeito na Europa e nos mercados emergentes foi diferente.
Na Europa, a percepção é que o governo ajudou a economia, e o modelo de proteção social europeu ajudou a Europa a responder à crise. Não há um movimento antigoverno. Mas eles pensam que os pacotes de salvamento da economia tiveram um impacto tão forte nas contas públicas que agora podem ter de cortar gastos. Isso vai impedir a retomada e aumentar o risco de um novo mergulho da economia. Essa reação, de defesa de uma austeridade inapropriada para as circunstâncias, é diferente da que houve nos EUA, mas é quase igualmente irracional. O interessante é que, na Ásia, eles também adotaram políticas de estímulo keynesianas - e funcionou. É a única parte do mundo que está indo bem. A América Latina também. Mas parte do sucesso da América Latina é porque há melhor regulação dos bancos e políticas sociais melhores. E parte porque a região é grande exportadora de commodities e foi beneficiada pela alta dos preços internacionais, estimulada pelo forte crescimento da Ásia.

ÉPOCA - O Brasil foi um dos países menos afetados pela crise. Além da alta das commodities, o governo cortou impostos e aumentou os gastos públicos. Mas, agora, muitos economistas estão preocupados com o superaquecimento da economia e passaram a defender uma política fiscal mais austera. Eles estão certos?
Stiglitz - Primeiro, é preciso dizer que o Brasil está numa situação completamente diferente dos EUA e da Europa porque o crescimento está forte. O segundo ponto é que o debate não deveria ser sobre cortar ou não os gastos do governo. Essa questão inclui a discussão sobre o tamanho adequado do Estado - e isso não tem nada a ver com o superaquecimento da economia. A decisão de cortar ou não os gastos públicos depende da visão que você tem sobre o retorno dos gastos e dos investimentos governamentais. No caso do Brasil, o país ainda precisa investir muito em educação e tecnologia. É preciso, portanto, fazer uma análise mais detalhada sobre o que vai ser cortado e sobre o custo de oportunidade dos cortes.

ÉPOCA - A maior preocupação no Brasil é com o impacto dos gastos públicos na inflação. Isso não é importante?
Stiglitz - Em minha opinião, o governo não deve se concentrar excessivamente na questão da inflação. Dada a história da inflação na América Latina, é difícil não se preocupar com a inflação. Mas, em alguns países, como nos EUA, há muita discussão sobre o fato de a política monetária do Banco Central ter como alvo a inflação. Ao se concentrar na inflação, eles deixaram de lado coisas mais importantes, como a estrutura do sistema financeiro. A lição é que a inflação é importante, mas é apenas uma variavel. Se a inflação tiver componentes importados, por causa do aumento global do preço dos alimentos, a desaceleração da economia não resolverá o problema porque os preços são determinados pelo mercado internacional.

ÉPOCA - Os economistas dizem que o Brasil não pode crescer mais que 4,5% ou 5% ao ano sem aumento da inflação...
Stiglitz - Acho que esse é um jeito errado de ver as coisas. Nas economias mais dinâmicas, em que há espaço para a inovação, como no caso do Brasil, não há razão para que não se possa crescer de forma mais rápida. A China está crescendo 9%, 10%, 11%, 12% ao ano. A Índia está crescendo 9%. Antes de 1980, o Brasil crescia 5,7%, em média, por ano. Para mim, se você aumentar a produtividade, por meio da educação, da tecnologia, você poderá crescer mais rapidamente, sem aumentar a inflação. Na China, durante muitos anos, houve um debate parecido. Sempre havia alguém dizendo que o governo tinha de desacelerar o crescimento. Mas o governo chinês conseguiu estabilizar o crescimento em um patamar elevado, s e a inflação não subiu. O pessoal gritou "fogo" muitas vezes quando não havia fogo nenhum. Se eles tivessem ouvido quem estava com medo do superaquecimento, a China teria hoje uma economia 10% ou 20% menor do que tem.

ÉPOCA - O maior argumento para defender o corte de gastos é que o governo contratou milhares de funcionários públicos, em vez de investir em educação, infraestrutura...
Stiglitz - Desde o governo (do presidente Fernando Henrique) Cardoso, o Brasil se tornou muito respeitado por seus programas de proteção social. Teve grandes progressos na educação. Certamente, os retornos de alguns gastos têm sido muito positivos. Em nenhuma economia existe a eficiência absoluta. E nunca nenhum governo desperdiçou tanto dinheiro quanto o sistema financeiro americano. Nenhum governo desperdiça tanto dinheiro como o sistema privado de saúde americano. Os EUA têm desperdícios enormes no setor privado de saúde. Muito mais que no setor público.

ÉPOCA - Em geral, acredita-se que o setor privado é sempre mais eficiente...
Stiglitz - Algumas vezes, é. Outras, é muito ineficiente. Nos EUA, a área mais eficiente e mais respeitada da economia são as universidades - e a maioria não é voltada para o lucro. As escolas com fins lucrativos são terríveis. Os casos mais bem-sucedidos são fundações. Elas não são públicas. Pertencem ao Terceiro Setor. Não têm fins lucrativos.

ÉPOCA - O senhor acredita ser possível aumentar a participação do Estado na economia sem desestimular os investimentos privados e travar o crescimento?
Stiglitz - Se isso não for feito do jeito certo, você poderá ter um governo enxuto que atrapalha a economia. Não é o tamanho que importa, é o que o governo faz. Se o governo cobra impostos, mas gasta o dinheiro em educação e investimentos, torna a economia mais produtiva e estimula o crescimento. Nos EUA, a carga tributária é bem menor que na Suécia. Mas os americanos gastam 17% do PIB em saúde porque o sistema privado é muito ineficiente. Se houvesse um sistema público de saúde, seria melhor. Outro exemplo: um dos grandes serviços que o governo oferece nos EUA é a aposentadoria. Há também os planos privados de aposentadoria. A pergunta é: qual é o sistema mais eficiente? O sistema público de aposentadoria americano é muito mais eficiente que qualquer programa privado.

ÉPOCA - No Brasil, a carga tributária é de quase 40% do PIB. O senhor não acha que o peso do governo na vida dos indivíduos e das empresas já é excessivo?
Stiglitz - A questão não é tanto o nível da carga tributária quanto sua estrutura. Nas economias mais dinâmicas, como a da Escandinávia (Dinamarca, Suécia, Finlândia e Noruega), a carga tributária é próxima de 50% do PIB - e lá eles têm a melhor qualidade de vida do mundo. Eles dizem que isso é possível porque o governo é forte e oferece boas políticas de proteção social e uma educação de qualidade. Então, a resposta depende das circunstâncias de cada país.

"No Brasil, o debate não deveria ser sobre cortar ou não gastos públicos. Isso não tem nada a ver com o superaquecimento da economia"

ÉPOCA - Considerando isso, o senhor acha que, no futuro, o sistema capitalista será muito diferente do que antes da crise?
Stiglitz - Sim. Mais uma vez, gostaria de responder à pergunta sob o ponto de vista de diferentes países. Acredito que, nos mercados emergentes, o debate sobre o Consenso de Washington (conjunto de medidas liberais para promover o ajuste de economias em dificuldades) morreu. Ninguém mais o leva a sério. Daqui para a frente, os países em desenvolvimento terão uma visão muito mais balanceada do papel do governo na economia. Nos EUA e na Europa, o debate é um pouco diferente. Há uma percepção de que o capitalismo sem controle é perigoso e é preciso regular os bancos. Há muita discussão a respeito da criação de um imposto sobre transações financeiras. Antes da crise na Europa, muita gente pensava que eles deveriam seguir o exemplo americano, mais dinâmico. Agora, você não escuta mais isso.

ÉPOCA - Há algum modelo a seguir?
Stiglitz - Hoje, na Índia, na Europa, em todo lugar, o que mais se fala é do modelo escandinavo. Há um reconhecimento de que é um modelo que funcionou e provoca inveja no resto do mundo. A questão é: será que ele vai funcionar para a Índia, o Brasil e outros países? É claro que terá de ser adaptado, assumir formas diferentes, mas é provável que sim.

ÉPOCA - O que chama a atenção é que eles conseguiram isso com uma economia aberta, sem restrições à competição de produtos estrangeiros...
Stiglitz - Eles argumentam que é porque têm um bom sistema de proteção social que podem obter o apoio político para promover a abertura econômica. E é graças aos altos tributos que eles podem oferecer uma educação de qualidade e desenvolver uma tecnologia que lhes permita responder com confiança à competição estrangeira.

"Em 2011, haverá uma desaceleração do crescimento global. Os mercados emergentes vão continuar a crescer, mas não terão força para puxar a Europa e os EUA"

ÉPOCA - Qual a sua previsão para o desempenho da economia global em 2011? Ainda há muito a temer?
Stiglitz - Sim. É provável que as medidas de austeridade tomadas na Europa levem a uma desaceleração da economia e que as dificuldades financeiras de alguns países provoquem um aumento na instabilidade financeira global. A desaceleração européia terá um efeito negativo nos EUA, que esperavam aumentar suas exportações para puxar o crescimento econômico. Os EUA esperavam que um dólar fraco iria aumentar suas exportações. Mas, por causa da instabilidade na Europa, o dólar vai se fortalecer -- e não cair -- em relação ao euro. Estou relativamente confiante de que a Ásia terá condições para continuar a crescer, mas não terá força para puxar a retomada da Europa e dos EUA.

ÉPOCA - Qual deverá ser o impacto das crises na Grécia, Irlanda e em outros países europeus na economia global no ano que vem?
Stiglitz - Acredito que isso é algo que deve trazer alguma preocupação, mas os EUA provavelmente não sofrerão tanto, porque a Ásia continuará a crescer. Os mercados emergentes, como China e Índia, que têm enormes mercados internos, também não deverão ser muito afetados. Eles estão reestruturando suas economias para estimular o consumo interno e para depender menos dos países desenvolvidos. O Brasil também tem um grande mercado interno. Esses países serão capazes de sustentar o crescimento de suas economias, apesar da fraqueza nos EUA e nos EUA. Hoje, vários países asiáticos que eram voltados para exportação, principalmente para os EUA, estão reorientando suas economias em direção à própria Ásia.

ÉPOCA - Em termos globais, o senhor acredita que a taxa de crescimento de 2011 será menor que a de 2010?
Stiglitz - A maioria da previsões prevê uma desaceleração significativa do crescimento global em 2011. Isso deverá acontecer principalmente porque a Europa e os Estados Unidos não irão bem.

ÉPOCA - O senhor acredita que, hoje, o dólar está perdendo a sua função de reserva de valor global?
Stiglitz - Claramente, a importância do dólar está diminuindo. Eu defendo a criação de de um sistema global de reservas. É uma idéia que recebeu apoio da China, da França, da Rússia. Acho que é algo que temos de fazer. O que me preocupa é que, em vez de criarmos um sistema global de reservas, a gente passe para um sistema que tenha o dólar, o euro, o iene, o iuan. Isso será muito instável. Em uma hora o dólar será forte, em outra será o euro. E, quando os investidores mudarem seus portfólios, isso criará muita volatilidade.

ÉPOCA - O que senhor pensa do crescimento da importância do G-20 (o grupo que reúne os maiores países desenvolvidos e emergentes).
Stiglitz - Eu me preocupo com a falta de representatividade política do G-20. Acho que isso deveria ser feito no âmbito da ONU. Eu defendo um conselho global de economia na esfera da ONU.

ÉPOCA - Qual a sua opinião sobre o aumento do peso dos países emergentes no Banco Mundial e no Fundo Monetário Internacional (FMI)?
Stiglitz - É muito bom que eles tenham mais voz. Acho que eles deveriam exercitar suas vozes de forma mais ativa.

ÉPOCA - Qual é sua opinião sobre o pacote de US$ 600 bilhões do FED (Federal Reserve, o banco central americano), que desagradou tantos países?
Stiglitz - Acho que as reclamações estão certas. É pior do que isso. Eu tenho sido um crítico pesado do relaxamento monetário. Para mim, o possível benefício desse pacote para os EUA é muito pequeno. As grandes empresas americanas não precisam de dinheiro. Elas têm uns dois trilhões de dólares em caixa hoje. E as pequenas empresas não receberão muito mais dinheiro, porque o sistema bancário não se ajustou ainda. Elas estão com falta de capital, não conseguem ter acesso ao crédito, mas reduzir as taxas de juro de longo prazo não vai resolver esse problema. Nós já reduzimos as taxas de curto prazo para zero e não aconteceu nada. Em 2001, a política monetária funcionou para criar a bolha imobiliária e não para estimular investimentos reais, que tornam a economia mais produtiva. Por que imaginar que isso vai funcionar agora? Se funcionar, isso acontecerá principalmente por causa da desvalorização relativa do dólar. O presidente (Barack) Obama disse que é do interesse do mundo que os EUA cresçam de forma mais rápida - e ele está certo. Mas não é do interesse do mundo que os EUA cresçam mais rápido à custa de outros países. Se ele estimulasse a economia com medidas fiscais, seria uma coisa boa. Mas estimular a economia com uma política que prejudica outros países é uma política ruim. A política de relaxamento monetário vai continuar a provocar reações adversas em todo o mundo, no Brasil, na China. E o resultado é que isso levará a novas medidas de controle de capital, aumento de impostos, intervenções governamentais, que é exatamente o contrário do que os EUA têm defendido por décadas.

"A nova legislação bancária aprovada pelo Congresso dos EUA não é suficiente para evitar a repetição de uma crise global como a que vivemos hoje"

ÉPOCA - Em seu último livro, o senhor critica o "fundamentalismo do livre mercado". O senhor diz que o sistema financeiro tem muita influência em Washington e que os grandes bancos foram os grandes responsáveis pela crise. Isso não é uma visão ideológica do problema?
Stiglitz - Essa é uma descrição empírica. Ninguém discorda de que os bancos administraram mal os riscos, aplicaram mal seu capital, fazendo maus empréstimos, que levaram à bolha imobiliária. Eles tiveram também um papel central na crise de crédito que aconteceu depois do calapso do banco Lehman Brothers e que levou à retração da economia global e à redução do fluxo de crédito. Então, os bancos falharam em fazer o que deveriam fazer. Não há dúvida sobre isso. Se não fosse pela operação-salvamento do governo, os bancos teriam morrido. Agora, há muita discussão sobre por que os bancos fracassaram. Acho que parte foi porque eles já fizeram isso várias vezes -- e foram salvos repetidamente. O retrospecto deles é terrível. Por isso, temos de ter controles, criar regulações, que foram desenhadas para parar com esse tipo de mau comportamento. Mas os reguladores falharam - e isso, sim, foi ideológico. Isso aconteceu porque a ideologia de que os mercados poderiam poderiam se auto-regular, contra todas as evidências, predominou. Foi essa ideologia que levou à lona a economia global. A grande lição da crise é descartar essa ideologia. Os mercados oferecem serviços importantes, mas eles falham. Temos de tentar aproveitar os benefícios, mas também corrigir os erros.

ÉPOCA - O senhor acredita que mesmo depois da crise os bancos mantiveram sua influência em Washington?
Stiglitz - Absolutamente. A lei aprovada pelo Congresso americano claramente não protege os EUA de outra crise. Foi uma iniciativa na direção certa, mas ela é cheia de exceções e exclusões. Os bancos poderão continuar a fazer certos tipos de operações de alto risco. Não sabemos ao certo muitos pontos, porque eles foram delegadas aos reguladores. Dependendo das regulamentações que eles definirem e de como eles vão fiscalizá-las é que vamos saber como as coisas irão. Algumas pessoas que idealizaram a lei são as mesmas que estavam no comando da economia antes da crise. O (Ben) Bernanke (presidente do Fed, o banco central americano) ainda está lá. A pergunta que todo mundo se faz hoje é por que devemos imaginar que eles farão um trabalho melhor agora do que fizeram antes.

ÉPOCA - Se o senhor tivesse de dar um conselho para o Brasil, hoje, qual seria?
Stiglitz - O Brasil fez muitas coisas certas. Agora, se quiser continuar a crescer, terá de baixar os juros reais (acima da inflação), que estão entre os mais altos do mundo. Não dá para ter um setor privado vibrante com juros reais tão altos. Além disso, é preciso ampliar os investimentos em educação. A política industrial, com o apoio do BNDES, também é importante, assim como as políticas de proteção social. Há 20 anos, quando começou a desenvolver suas políticas sociais, o Brasil tinha altos índices de desigualdade. Hoje, melhorou bastante, mas ainda há muito a ser feito. Não dá para deixar isso para trás. Esse é um longo caminho, mas é preciso persistir nele para alcançar os resultados desejados.

Leia os comentários
  • Haroldo | CE / Eusébio | 20/12/2010 15:00
    Cobertor curto
    Stiglitz foi premio Nobel e fica difícil corrigi-lo.É muito provável que se acerte muito mais concordando do que discordando, mas nós falamos como brasileiros e portanto com o coração também.Sem dúvida que os mercados internos serão a tábua de salvação de muitos países, como foi o nosso caso em decorrência da recente crise e que ainda incomoda muita gente de muitos países.Uma concordância nossa é legislação prudencial chamaria de regulamentação, porque fica a cargo do Banco Central).No Brasil fizemos o saneamento do SFN e obedecemos ao acordo de Basiléia.Pode-se chamar de legislação ao que consta de nossa Lei Complementar número 101/2000, ou Lei de Responsabilidade Fiscal, que estabeleceu contingenciamento de crédito ao setor público. Esses três elementos nos deixaram menos vulneráveis ao alcance das crises.Junte-se ao volume de Reservas de Lula (próximos de US$300 bi) além do Plano Real de FHC. Pronto, estamos vacinados, certo? Não errado. As vacinas têm prazo! A nossa está precisando de outras doses: Entre elas baixar JUROS, como? Reduzindo a necessidade de ir ao mercado tomar dinheiro para colocar/renovar títulos da dívida (interna). Poderíamos trocar essa dívida interna que for vencendo por capiatis que sobram no mundo e que nos procuram, desde que: A transação se dê por prazos ALONGADOS! Ninguém dispensa capitais/recursos a Longo Prazo. Os juros só poderãpo ser reduzidos à medida que se faça poupança ou redução de gastos. A Copa de 2014 e as Olimpiadas 2016 estão à vista
  • vicente de paulo rodrigues de arruda | GO / Quirinópolis | 20/12/2010 08:52
    ÁGUA GELADA!
    Se esta entrevista não foi um balde de água gelada na turminha pseudocapitalista de plantão - naturalmente derrotista e contra a política do atual (e futuro) Governo, acostumada à estagnação - então eu não sei o que é. Para certas pessoas e segmentos o Estado só é bom quando injeta ($US) trilhões pelo mundo todo para encobrir incompetência e falcatruas, sem contar a ambição, desse sistema capitalista falido. Eu, como aposentado - 65 anos - nunca me senti tão bem e respeitado como no governo Lula. Esses jovens sem vivência alguma teem muita coisa para aprender. Hoje, em minha pequena cidade, faltam trabalhadores, tal a quantidade de vagas abertas, mesmo com o Sebrae, Senac e outros atuando a pleno vapor. E tem gente que consegue ser infeliz ainda. Pobrezinhos!
  • eder | PR / Foz do Iguaçu | 20/12/2010 01:38
    capitalismo
    Passei minha infância em favela e digo que as políticas sociais e um grandiosíssimo investimento em educação são quem levam um País para frente. Não a corrupção, sim a educação, não a hipocrisia, sim ao trabalho e vamos decapitar o jeitinho brasileiro, vamos abraçar o trabalho e vamos nos respeitar enquanto seres humanos. E mais: Vamos deletar o puxa-saquismo, alô patrões, valorizem o trabalho, expurguem os puxa-sacos!!!!!! Viva a verdadeira educação!!!!! (Xô corrupção!!!!)

As temperaturas do paraiso e do inferno...

Pausa para... conhecimento inútil (ou talvez útil, para quem pretende se candidatar a um dos dois lugares, ou preferencialmente ao primeiro, como soe acontecer).
De minha parte, eu preferiria ficar no limbo, mas o diabo (ops!) é que o Vaticano eliminou, alguns anos atrás, essa categoria especial das possibilidades materiais para um cético como eu, o que já suscitou minha reclamação à época (mas pretendo reclamar outra vez).
Em todo caso, fiquem com uma historinha científica que me foi repassada pelos suspeitos de sempre, esses cientistas agnósticos, que tudo querem submeter às regras da investigação baconiana.
Não se respeita mais as alegorias, que diabo (ops!, again).
Paulo Roberto de Almeida 

Repassando, para os físicos de plantão:

O Paraíso é mais quente que o Inferno
via Bule Voador por Pedro Almeida em 17/12/10
Fonte: Radiação de Fundo
Editor: Pedro Almeida

A temperatura do Paraíso pode ser calculada de forma até que bem precisa. Nossa fonte e autoridade é a Bíblia, citando Isaías 30:26, que diz sobre o Paraíso o seguinte:

E a luz da lua será como a luz do sol, e a luz do sol sete vezes maior como a luz de sete dias (…)”

Portanto, o Paraíso recebe da Lua tanta radiação quanto a Terra recebe do Sol, e, ainda por cima, recebe também 7 x 7 vezes mais radiação do que a Terra recebe do Sol (sete dias vezes sete vezes a radiação, igual a 49 vezes mais radiação). Somando, dá-se que o Paraíso recebe destes astros 50 vezes mais radiação que a Terra recebe, no total.

A luz que recebemos da Lua na Terra é 1/10.000 do que recebemos do Sol, portanto podemos ignorar esta parte, assumindo só recebermos radiação do Sol. Com estes dados, podemos calcular a temperatura do Paraíso: a radiação que é absorvida pelo Paraíso vai aquecê-lo até o ponto em que ele entrar em equilíbrio e o calor emitido por irradiação for igual ao calor recebido por irradiação, por unidade de tempo. Em outras palavras, o Paraíso perde 50 vezes mais calor que a Terra perde, por irradiação térmica. Isto implica que sua temperatura é maior que a da Terra, e pode ser calculada pela lei de quarta potência de Stefan-Boltzmann para radiação emitida/recebida por um corpo negro, em determinada temperatura, aplicada aos dois lugares e racionalizadas:

onde TP é a temperatura absoluta do Paraíso e TT é a temperatura absoluta da Terra, em Kelvins; jP e jT são os fluxos radiantes respectivos (em watts), que no caso do Paraíso é 50 vezes o da Terra, como mencionado pelo profeta (jP=50.jT).

A temperatura na Terra pode ser dita como sendo 300 K, aproximadamente (27° C). Resolvendo para TP, o valor de temperatura no Paraíso encontrado é de 798 K, ou 525° C.

A temperatura exata do Inferno não pode ser computada de forma similar, mas deve ser menos que 444,8° C, a temperatura na qual o enxofre vaporiza-se, transformando-se de líquido para gás. Para tal asserção, tomemos Apocalipse, 21:8, que diz:

Mas, quanto aos medrosos, e aos incrédulos, e aos abomináveis, e aos homicidas, e aos adúlteros, e aos feiticeiros, e aos idólatras, e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda morte.”

Note que esta bela passagem inclui os ateus. Mas retomando nosso ponto, para que um lago seja constituído de enxofre derretido, é obviamente necessário que ele se encontre ainda na forma líquida e, portanto, abaixo de sua temperatura de ebulição, que é 444,8 ° C. Acima deste valor, haveria uma nuvem de vapor, e não um lago de enxofre.

Temos desta forma uma temperatura no Paraíso de 525° C. A temperatura no Inferno é inferior a este valor, 445° C aproximadamente.

Portanto, o Paraíso é mais quente que o Inferno.
Quod erat demonstrandum!